23 maio 2018

Índice

Viriato Gaspar

(A Ferreira Gullar)

O homem é a matéria do meu canto,
qualquer que seja a cor do que ele sente.
E não importa o motivo do seu pranto,
é um homem, meu irmão, e estou doente

de sua dor, e é meu o seu espanto
do mundo e desta hora incongruentes.
Na trincheira do Verbo me levanto
contra o que contra o homem se intente.

O homem é o objeto e o objetivo
de quanto sei cantar, e o canto é tudo
que pode me explicar porque estou vivo.

Às vezes sou ateu, noutras sou crente,
em outras sou rebelde, em algumas mudo:
– sou homem, e canto o homem no presente.

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1984.

21 maio 2018

Vestígios da criação

Robert Chambers

[p. 160] [T]udo que a geologia nos diz sobre a sucessão das espécies parece natural e inteligível. A vida orgânica faz pressão, como se tem observado, onde haja espaço e encorajamento, sendo as formas sempre de maneira a adaptar-se às circunstâncias e em certa relação a elas como, por exemplo, onde os mares que formam pedras calcárias produzem abundância de corais, crinoides e moluscos. [...]

[p. 222-3] A ideia que faço do progresso da vida orgânica sobre a [T]erra – e a hipótese aplica-se a todos os [semelhantes] teatros de [seres vitais] – é, portanto, que o tipo mais simples e mais primitivo, sob uma lei a que está subordinada a produção do semelhante, deu [origem] ao tipo imediatamente superior, que produziu o superior seguinte, e assim por diante até ao mais alto, sendo os estágios de adiantamento, em todos os casos, muito pequenos – isto é, de uma espécie somente para outra, de [modo] que o fenômeno [sempre] foi de caráter simples e modesto. [...] Por conseguinte, a produção de novas formas, conforme [vemos] nas páginas do registro [geológico], nunca foi nada mais que novo estágio de progresso em gestação, um evento tão simplesmente natural e tão pouco acompanhado de circunstâncias de espécie maravilhosa ou surpreendente [como] o progresso silencioso de uma mãe comum de uma semana para outra [em sua gravidez].

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População,evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. O trecho acima integra um livro publicado originalmente em 1844.

19 maio 2018

Antes da metralha...

Tomaz Kim

Antes da metralha e do dedo da morte...
Antes dum corpo jovem, anónimo,
apodrecer, esquecido, à chuva...
Ou singrar, boiando nas águas mansas...
Ou se despedaçar contra o céu indiferente...

Antes do pavor e do pranto e da prece...
Um adeus longo e triste
aos poemas amontoados no fundo da gaveta
e à renúncia ao teu amor brando
e às noites calmas e ao sonho inacabado...

Antes da morte sem mistério...
Um adeus longo e triste
à luta de que não se partilhou!

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1943. ‘Tomaz Kim’ é pseudônimo de Joaquim Fernandes Tomaz Ribeiro-Grillo.

17 maio 2018

Flores sobre pano rosa


Roderic O’Conor (1860-1940). Mixed flowers on pink cloth. ~ 1916.

Fonte da foto: Wikipedia.

15 maio 2018

Before the beginning of years

Algernon Charles Swinburne

Before the beginning of years
   There came to the making of man
Time, with a gift of tears;
   Grief, with a glass that ran;
Pleasure, with pain for leaven;
   Summer, with flowers that fell;
Remembrance fallen from heaven,
   And madness risen from hell;
Strength without hands to smite;
   Love that endures for a breath;
Night, the shadow of light,
   And life, the shadow of death.

And the high gods took in hand
   Fire, and the falling of tears,
And a measure of sliding sand
   From under the feet of the years;
And froth and the drift of the sea;
   And dust of the labouring earth;
And bodies of things to be
   In the houses of death and of birth;
And wrought with weeping and laughter,
   And fashioned with loathing and love,
With life before and after,
   And death beneath and above,
For a day and a night and a morrow,
   That his strength might endure for a span
With travail and heavy sorrow,
   The holy spirit of man.

From the winds of the north and the south
   They gathered as unto strife;
They breathed upon his mouth,
   They filled his body with life;
Eyesight and speech they wrought
   For the veils of the soul therein,
A time for labour and thought,
   A time to serve and to sin;
They gave him light in his ways,
   And love, and a space for delight,
And beauty, and length of days,
   And night, and sleep in the night.
His speech is a burning fire;
   With his lips he travaileth;
In his heart is a blind desire,
   In his eyes foreknowledge of death;
He weaves, and is clothed with derision;
   Sows, and he shall not reap;
His life is a watch or a vision
   Between a sleep and a sleep.

Fonte (estrofe 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. O trecho acima integrada uma obra mais extensa, intitulada Atalanta in Calydon (1865).

13 maio 2018

Mamãe faz (sempre) o melhor?

Felipe A. P. L. Costa

Os insetos da ordem Lepidoptera (~ 150 mil espécies, das quais uns 10 % são borboletas e os 90% restantes, mariposas) são ditos holometábolos. Insetos holometábolos exibem um ciclo de vida complexo, durante o qual atravessam estágios distintos: ovo, larva (chamada lagarta, no caso dos lepidópteros), pupa e adulto. Em muitas espécies de lepidópteros, o estágio adulto é relativamente breve, enquanto a duração somada dos estágios imaturos (ovo, larva, pupa) chega a ocupar mais de 75% de todo o ciclo de vida.

O estágio larval é a principal fase de alimentação e crescimento; em alguns casos, parte do alimento estocado pela larva é gasto pelo adulto, sendo este incapaz de se alimentar (adultos podem ser desprovidos de aparelho bucal). Larvas de lepidópteros são majoritariamente folívoras, alimentando-se de tecidos foliares de determinadas espécies de plantas; os adultos costumam ingerir alimentos líquidos (e.g., néctar) ou pastosos (e.g., frutos em decomposição).

O xis da questão aqui seria o seguinte: como as larvas são relativamente imóveis, não podendo percorrer grandes distâncias, principalmente quando recém-eclodidas, são as fêmeas grávidas que devem colocar seus ovos sobre uma planta hospedeira adequada – i.e., uma planta que ela mesma não consome, mas que deve servir de alimento e abrigo temporário para a sua prole. A distribuição dos imaturos na vegetação, portanto, é determinada em boa medida pelo comportamento de oviposição das fêmeas grávidas.

Sítios de oviposição

De modo geral, as evidências sugerem que as mães procuram e selecionam ativamente por sítios de oviposição adequados para a sobrevivência e o crescimento da prole. Em alguns casos, porém, há certo descompasso entre as plantas escolhidas pela mãe e o desempenho dos imaturos, o que gerou uma série de controvérsias e, o mais importante, motivou uma série de estudos e abordagens novas sobre o assunto.

A sequência de comportamentos que leva uma fêmea grávida à oviposição pode ser dividida em três etapas: (1) procura de um hábitat adequado; (2) procura de plantas hospedeiras potenciais; e, por fim, (3) avaliação da ‘capacidade de suporte’ de hospedeiras individuais.

A visão parece desempenhar o papel mais importante nas duas primeiras etapas, tanto na avaliação de características gerais do hábitat como para guiar a fêmea em direção a objetos de cores e formas particulares. Fêmeas de algumas espécies formam imagens de procura da planta hospedeira, concentrando assim sua atenção apenas em uma ou outra espécie mais abundante. Isso encurta o tempo de procura e avaliação, elevando as chances de a fêmea encontrar plantas mais vulneráveis na população de hospedeiras. A importância da química foliar, durante a etapa final de avaliação, parece ser um fenômeno geral e bem-estabelecido, embora seu papel nas duas primeiras etapas ainda não esteja muito claro.

Após o encontro de uma hospedeira potencial, a decisão final de colocar ou não ovos sobre a planta pode ainda ser influenciada por uma série de fatores, incluindo o porte da planta, o grau de senescência ou depauperação de suas partes, a vegetação circundante, a presença de coespecíficos, a presença de inimigos naturais ou a presença de parceiros mutualistas. Ademais, o comportamento de oviposição pode ser afetado também por fatores internos, como a experiência pregressa e a quantidade de oócitos maduros que as fêmeas carregam.

Uma combinação particular desses fatores vai determinar o grau de adequabilidade de uma planta hospedeira para uma fêmea em particular. Duas ou mais espécies de plantas quase sempre diferem entre si quanto ao grau de adequabilidade como hospedeiras para os descendentes de uma mesma borboleta e, por isso, podem ser classificadas em uma hierarquia de adequabilidade. Se essas diferenças são consistentes e afetam de modo significativo o crescimento e a sobrevivência dos imaturos, elas então podem ser convertidas em pistas confiáveis, as quais então passarão a ser utilizadas pelas fêmeas grávidas no processo de seleção do sítio de oviposição.

Coda

As diferenças nas preferências de oviposição entre populações de uma mesma espécie ou até entre borboletas de uma mesma população podem ser grandes e significativas. Tal variabilidade, no entanto, abrange ao menos dois componentes: (1) diferenças na ordem hierárquica de aceitação das plantas hospedeiras, que é a ordem em que as plantas são aceitas quando uma fêmea grávida procura por sítios de oviposição; e (2) diferenças nos limites de aceitação das plantas hospedeiras (= especificidade), que podem ser quantificados pelo intervalo de tempo durante o qual uma planta é aceita, em detrimento de plantas em níveis hierárquicos inferiores.

A ordem hierárquica e a especificidade podem ser consideradas como os componentes pré-pouso da preferência. No cômputo final, os componentes pré-pouso, interagindo com o comportamento pós-pouso das fêmeas e mais a distribuição e a abundância relativa de diferentes espécies de hospedeiras, determinam o uso efetivo das plantas presentes em um hábitat.

Como se vê, a vida de uma mãe – mesmo quando estamos a falar de borboletas – é repleta de demandas, muitas das quais conflitantes entre si...

Fonte (extraído e adaptado de): Costa, F. A. P. L. 2004. Plantas hospedeiras, insetos folívoros e o terceiro nível trófico. (Manuscrito disponível aqui.)

12 maio 2018

Onze anos e sete meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/5, o Poesia contra a guerra completa 11 anos e sete meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Onze anos e meio no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Ariano Suassuna, David Savold, John Dryden, John Hersey, José Nilo Tavares, Michael Robbins, Oswaldo de Camargo, Thomas Carew e William Ernest Henley. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: George Hitchcock e Jean-Victor Bertin.

11 maio 2018

A reportagem sobre o general

José Nilo Tavares

Eu era pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) e repórter político do Binômio. Em novembro de 1961, trocando opinião com o chefe de reportagem do jornal, Guy de Almeida, meu amigo e ex-colega de turma na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, ficou resolvido que eu faria uma matéria sobre a atuação do general João Punaro Bley, comandante da ID-4 de Belo Horizonte, e, portanto, comandante de todas as unidades militares federais sediadas na capital, que tinha sido francamente hostil à posse do vice-presidente, João Goulart no lugar do ex-presidente Jânio Quadros, quando este renunciara poucos meses antes. O ex-interventor do Estado Novo no Espírito Santo já estava em plena campanha golpista contra o Governo Goulart e o ‘perigo comunista’, o que resultaria no movimento de 64.

Tomei o avião para o Rio e ali me encontrei com alguns amigos militares e também visitei o grande historiador Nélson Werneck Sodré, um especialista em história militar. A partir desses contatos comecei a levantar a chamada ‘vida pregressa’ do general, tendo obtido endereços de pessoas no estado do Espírito Santo, contemporâneas da interventoria de Bley e testemunhas das violências praticadas por ele contra seus adversários políticos, principalmente [os] de posições progressistas.

Em Vitória entrevistei várias daquelas pessoas, pesquisei os arquivos públicos da cidade, li jornais da década de 30 e alguns livros importantes para meu trabalho, como o recém-editado Vargas, o maquiavélico, do escritor Afonso Henriques. Retornei ao Rio, conferi as informações e ainda ouvi outras fontes comprovando o passado antidemocrático do general.

Retornando a Minas, acertei com o Guy os detalhes da reportagem, tendo tido toda a liberdade para sua redação. Ficou acertado também que, por resguardo de minha integridade pessoal, a matéria não seria assinada.

Principiei o trabalho evocando trecho da fala do general Bley numa conferência pronunciada na Associação Comercial, em Belo Horizonte, na qual – junto com clara pregação golpista – ele afirmava que a memória do povo era curta, referindo-se ao movimento comunista de 1935. Reptei, observando que não era tão curta assim, tanto que o povo capixaba, passados vinte anos da ditadura estado-novista, lembrava-se perfeitamente das arbitrariedades cometidas por ele contra seus adversários políticos.

As consequências da reportagem, de repercussão internacional, estão registradas pela história. Se me fosse dado retornar ao passado, aos idos de 1961, reescreveria aquela matéria, que resultou em anos de exílio para os responsáveis pelo Binômio e dura clandestinidade para o repórter depois do golpe de 64? Creio que sim, como creio que a luta pela verdade e pelo direito de livre manifestação do pensamento e das ideias sempre vale a pena ser travada.

Fonte: Rabêlo, J. M. 1997. Binômio: edição histórica. BH, Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.

09 maio 2018

To Saxham

Thomas Carew

   Though frost and snow lock’d from mine eyes
That beauty which without-door lies,
Thy gardens, orchards, walks, that so
I might not all thy pleasures know,
Yet, Saxham, thou within thy gate
Art of thy self so delicate,
So full of native sweets, that bless
Thy roof with inward happiness,
As neither from, nor to, thy store
Winter takes aught, or Spring adds more.
   The cold and frozen air had starved
Much Poor, if not by thee preserved,
Whose prayers have made thy table blest
With plenty, far above the rest.
The season hardly did afford
Coarse cates unto thy neighbours’ board,
Yet thou had’st dainties: as the sky
Had only been thy Votary;
Or else the birds, fearing the snow
Might to another Deluge grow,
The pheasant, partridge, and the lark
Flew to thy house, as to the Ark.
The willing ox of himself came
Home to the slaughter, with the lamb;
And every beast did thither bring
Himself, to be an offering.
The scaly herd more pleasure took,
Bathed in thy dish, than in the brook;
Water, earth, air, did all conspire
To pay their tribute to thy fire,
Whose cherishing flames themselves divide
Through every room, where they deride
The night and cold aboard: whilst they,
Like suns, within, keep endless day.
   Those cheerful beams send forth their light
To all that wander in the night,
And seem to beckon from aloof
The weary Pilgrim to thy roof;
Where, when refresh’d, if he’ll away,
He’s fairly welcome; but, if he stay,
Far more; which he shall hearty find
Both from the master and the hind:
The Stranger’s Welcome each man there
Stamp’d on his cheerful brow doth wear.
Nor doth his welcome or his cheer
Grow less, ’cause he stays longer there.
There’s none observes, much less repines,
How often this man sups or dines.
   Thou hast no Porter at thy door
To examine or keep back the Poor;
Nor locks nor bolts: thy gates have been
Made only to let strangers in.
Untaught to shut, they do not fear
To stand wide open all the year,
Careless who enters, for they know
Thou never did’st deserve a foe:
   And as for thieves, thy bounty’s such,
   They cannot steal, thou givest so much.

Fonte (versos 21-26): Dawkins, R. 1998. A escalada do monte improvável. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1640.

07 maio 2018

Na Ilha de França


Jean-Victor Bertin (1767-1842). Vue d’Île-de-France. 1810-3.

Fonte da foto: Wikipedia.

04 maio 2018

Hiroshima

John Hersey

Quase à meia noite, na noite anterior ao lançamento da bomba, um locutor de uma estação de rádio da cidade dizia que cerca de duzentos B-29 estavam se aproximando ao sul de Honshu, e aconselhava à população de Hiroshima que se recolhesse a suas ‘áreas de segurança’. A sra. Hatsuyo Nakamura, a viúva do alfaiate, que vivia no bairro chamado Nobori-cho, e que há muito tinha o hábito de fazer o que lhe mandavam, tirou da cama seus três filhos – um menino de dez anos, Toshio, uma menina de oito anos, Yaeko, e uma menina de cinco anos, Myeko –, vestiu-os e dirigiu-se com eles para a área militar conhecida como Campo do Nascente, localizada no limite norte da cidade. Lá desenrolou algumas esteiras, sobre as quais as crianças se deitaram. Dormiram até cerca de duas horas, quando foram despertadas pelo ronco dos aviões que sobrevoavam Hiroshima.

Assim que os aviões acabaram de passar, a sra. Nakamura voltou com as crianças para casa. Chegaram em casa um pouco depois das duas e trinta, e ela imediatamente ligou o rádio, que, para sua tristeza, estava começando a divulgar um novo aviso. Quando olhou para as crianças, e as viu tão cansadas, e quando se lembrou do número de viagens que haviam feito nas últimas semanas, todas sem propósito, ao Campo do Nascente, decidiu que, apesar das instruções dadas pelo rádio, simplesmente não poderia começar tudo outra vez. Colocou as crianças nas esteiras, sobre o assoalho, e deitou-se também, às três horas, dormindo logo em seguida, e tão pesadamente que não acordou quando os aviões passaram novamente mais tarde.
[...]

Fonte: Wallace, B. 1979 [1972]. Biologia social, v. 2. SP, EPU & Edusp. Trecho de livro publicado originalmente em 1946.

02 maio 2018

Em maio

Oswaldo de Camargo

Já não há mais razão para chamar as lembranças
e mostrá-las ao povo
em maio.
Em maio sopram ventos desatados
por mãos de mando, turvam o sentido
do que sonhamos.
Em maio uma tal senhora Liberdade se alvoroça
e desce às praças das bocas entreabertas
e começa:
“Outrora, nas senzalas, os senhores...”
Mas a Liberdade que desce à praça
nos meados de maio,
pedindo rumores,
é uma senhora esquálida, seca, desvalida,
e nada sabe de nossa vida.
A Liberdade que sei é uma menina sem jeito,
vem montada no ombro dos moleques
ou se esconde
no peito, em fogo, dos que jamais irão
à praça.
Na praça estão os fracos, os velhos, os decadentes
e seu grito: “Ó bendita Liberdade!”
E ela sorri e se orgulha, de verdade,
do muito que tem feito!

Fonte (versos 1-3): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições. Poema publicado em livro em 1984.

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