30 maio 2019

30 de maio

F. Ponce de León

Hoje, 30 de maio (#30M), a luta nas ruas do país é contra o retrocesso e o obscurantismo.

Mais LIVROS, menos ARMAS!

Mais ESTUDANTES, menos PRESIDIÁRIOS!

Mais INTELIGÊNCIA, menos ESTUPIDEZ!

28 maio 2019

Ao mestre, com carinho


Universidade pública só tem maconheiro. O bom é estudar no shopping, à noite. Ou então em casa, via celular, com as bençãos do guru de nossa preferência.

Graças ao meu generoso e sábio mestre, eu agora sei que
... 2 + 2 = 22.
... o Sol gira em torno da Terra.
... a Terra é o centro do Universo.
... a Terra é plana e foi criada há 5,99 mil anos.
... a Lua é feita de queijo.
... ratos e baratas nascem da madeira em decomposição.
... o esterco de vaca (mas não o de cavalo) é bom para estancar sangramentos, inclusive na cabeça.
... a população humana está crescendo cada vez mais depressa.
... à medida que a população humana cresce, o planeta fica mais pesado.

E o mais importante:
... os 10 mandamentos foram atualizados e agora são 11.

Obrigado, mestre.

Vossa sabedoria e vossa temperança nos inspiram.

25 maio 2019

True ease in writing comes from art, not chance

Alexander Pope

True ease in writing comes from art, not chance,
As those move easiest who have learn’d to dance.
’Tis not enough no harshness gives offense,
The sound must seem an Echo to the sense:
Soft is the strain when Zephyr gently blows,
And the smooth stream in smoother numbers flows;
But when loud surges lash the sounding shore,
The hoarse, rough verse should like the torrent roar:
When Ajax strives some rock’s vast weight to throw,
The line too labours, and the words move slow;
Not so, when swift Camilla scours the plain,
Flies o’er th’ unbending corn, and skims along the main.
Hear how Timotheus’ varied lays surprise,
And bid alternate passions fall and rise!

Fonte (versos 1 e 2): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 2. Brasília, Senado Federal. Fragmento de uma peça maior, os versos acima – referidos às vezes como ‘Sound and sense’ – foram publicados em livro em 1711.

23 maio 2019

Capela de San Gennaro


Giacinto Gigante (1806-1876). Cappella di San Gennaro al duomo durante il miracolo del sangue. 1860.

Fonte da foto: Wikipedia.

21 maio 2019

O que é darwinismo


Poucos assuntos científicos rivalizam com a evolução em termos do grau de interesse que despertam entre leitores e o público em geral. É compreensível, portanto, que a literatura sobre o assunto seja das mais expressivas.

Muita gente gosta de palpitar, incluindo repórteres e escritores, em especial quando se está a discutir a evolução humana – e.g., quem somos nós, de onde viemos, para onde vamos?

Até aí, nada demais.

Afinal, a diversidade autoral é sempre bem-vinda.

O que em geral preocupa é a superficialidade, o sensacionalismo e a proliferação de erros e mal-entendidos conceituais.

Não é à toa que tantos leitores (sobretudo os mais jovens ou aqueles que não têm acesso à literatura técnica) vejam a biologia evolutiva como uma babel – um lugar onde todos falam, mas ninguém se entende. E isso não é verdade.

*

teoria da evolução por seleção natural – talvez a mais influente de todas as teorias científicas – foi inicialmente proposta pelos naturalistas britânicos Charles Darwin e Alfred Russel Wallace. Isso foi em 1858.

Separadamente, cada um deles havia formulado uma versão própria da teoria. Foi uma coincidência e tanto, não há dúvida, a ponto de ilustrar o que filósofos e historiadores da ciência chamam de descoberta simultânea.

Mas não foi uma coincidência absurda...

Em 1855, Wallace já havia publicado um primeiro artigo sobre transmutação. Darwin leu esse artigo. Curiosamente, porém, não parece ter visto ali qualquer indício de que o jovem naturalista estivesse a trilhar o mesmo caminho que ele.

Wallace conhecia e admirava as obras do seu colega. E mais: ele sabia – Darwin havia lhe dito em carta – que o veterano naturalista preparava um livro sobre a transmutação e a origem da diversidade.

*

Evoluçãoseleção natural e darwinismo não são sinônimos e, portanto, não devem ser confundidos entre si. Um dos objetivos deste livro é definir e caracterizar cada um destes termos. Paralelamente, o livro traça um esboço da história do darwinismo, ressaltando os aspectos mais notáveis de cada um dos seus principais períodos – o darwinismo primordial, o neodarwinismo e a síntese evolutiva.

* * *

Obs.: A apresentação acima foi extraída das orelhas da capa do livro O que é darwinismo, cujos exemplares devem estar disponíveis para compra ainda em maio. Houve um problema e a impressão está atrasada. (A previsão inicial era que o livro estivesse disponível na primeira quinzena do mês.)

19 maio 2019

12, 13 e 14 de maio

José Alberto

12 de maio chicotearam
13 de maio alforriaram...
14 de maio assolaram

No 12 de maio, minha mulher não era minha
nem meu filho era meu, podíamos descansar
            só na noite
A espera do outro dia e do açoite

No 13 de maio pulamos de alegria
Pois tinha chegado a alforria
Pensávamos ter terminado a escravidão
Mas iniciava neste momento mais uma
            escuridão

No 14 de maio saímos correndo
Até que notamos, já estávamos morrendo
Caímos na armadilha
Mas estávamos alegre por sair da
            rotina

Fonte: Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições. Poema publicado em 1980.

17 maio 2019

Outono


A passo lento eis já chegado o outono.

Cabeça baixa, desce mendicante
O armento esparso. Vem pastar no verde
Murcho como um vestido desbotado.

Ondeiam duvidosas largas cítaras
Sobre os campos. No sulco que se fecha,
Como grave semente a sombra aninha-se.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.

14 maio 2019

A morte de Girardot


Cristóbal Rojas (1857-1890). La muerte de Girardot en Bárbula. 1883.

Fonte da foto: Wikipedia. A obra alude a Manuel Atanasio Girardot Díaz (1791-1813).

12 maio 2019

Doze anos e sete meses no ar

F. Ponce de León

Neste domingo, 12/5, o Poesia contra a guerra completa 12 anos e sete meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Doze anos e meio meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Claudio Fragata, Éle Semog, Fernando de Andrade Quintanilha Ribeiro, Giovanni Della Casa, Gonçalves de Magalhães, J. B. S. Haldane, Laila Alves Nahum, Patrick Matthew e Tertuliano. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Arturo Michelena e Gonzalo Bilbao.

11 maio 2019

As bênçãos das catástrofes

Tertuliano

A maior testemunha é a vasta população da terra para qual somos uma carga, e ela apenas pode suprir nossas necessidades; enquanto crescem nossas exigências, nossas queixas contra as deficiências da natureza são ouvidas por todos. Os flagelos da peste, da fome, das guerras e os terremotos passaram a ser considerados bençãos pelas nações superpovoadas, pois servem para podar o pródigo crescimento da raça humana.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. O autor viveu de 155 a 220 dC.

09 maio 2019

O presidente que engolia bolinhas de gude


JB – e temo que nem toda a imprensa tenha se dado conta disso – é o personagem mais oco e grotesco da história republicana brasileira.

Ele não tem noção de absolutamente nada.

Imagine o seguinte experimento.

Mantenha JB em um quarto absolutamente vazio, tendo como companhia apenas uma bolinha de gude. Coloque a bolinha no chão, bem no centro do quarto. E coloque JB em um dos cantos. Saia e tranque o quarto. Volte 15 minutos depois; observe e anote o comportamento do nosso querido presidente. O que será que irá acontecer?

Pois eu aposto todos os meus iates e todas as minhas fazendas no seguinte resultado: JB irá engolir a bolinha. E mais: ao entrarmos no quarto, ele estará eufórico, saltitante e aos berros: “Eu ganhei, eu ganhei! Ela se lascou!”

É isso! O sujeito simplesmente adora engolir bolinhas de gude.

07 maio 2019

Gota de água


Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1956. ‘António Gedeão’: pseudônimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho.

05 maio 2019

O paradoxo do valor C

Laila Alves Nahum

A definição de genoma (do inglês, genomegenes + chromosomes) foi proposta originalmente por Winkler (1920) para designar o somatório dos genes de uma célula haploide de um organismo. As sequências de DNA não codificante foram evidenciadas posteriormente, sendo então incluída nessa definição.

A biologia e evolução moleculares cresceram de forma extraordinária nos últimos anos e, atualmente, o genoma é tratado como um sistema dinâmico no qual se considera seus aspectos estruturais, funcionais e evolutivos. [...]

Em 1986, Roderick propôs o termo genômica (genomics) para descrever os estudos de mapeamento, sequenciamento e análise dos genomas, além de nomear uma nova revista científica na época [...].

O tamanho do genoma é medido em função do valor C, que define a quantidade de DNA por genoma haploide. A variação no tamanho dos genomas não pode ser explicada pela diferença de complexidade (genotípica ou fenotípica) dos organismos, o que é conhecido como o paradoxo do valor C [...].

Fonte: Nahum, L. A.  2001. In: Matioli, S. R., org. Biologia molecular e evolução. Ribeirão Preto, Holos.

03 maio 2019

Miranda em La Carraca


[Francisco] Arturo Michelena [Castillo] (1863-1898). Miranda en La Carraca. 1896.

Fonte da foto: Wikipedia.

01 maio 2019

A minha lira

Gonçalves de Magalhães

Quando o sol era o meu astro,
E a minha mente inspirava,
No enlevo do estro inflamado
Alegre a lira eu vibrava.

Co’a Grécia, e Roma sonhando,
Colhendo flores da história,
À minha Pátria querida
Hinos tecia de glória.

No fogo da mocidade,
Nessa estação da alegria,
Cantava gratas mentiras,
Amores qu’eu não sentia.

Às vezes também chorava;
E tu, oh lira pressaga,
Já teu destino previas,
E o pranto que ora te alaga.

Qual na rosa que emurchece
Seca o orvalho que a aljofrava,
Assim secou-se em meus lábios
O riso que os enfeitava.

Minha voz enrouqueceu-se,
Meu coração enlutou-se,
E o astro que me aclarava
Em densa treva nublou-se.

Antes que o sopro do tempo
Murchasse a flor de meu rosto,
A palidez já o tinge,
Causada pelo desgosto.

A folha na primavera,
Se pelo inseto é roída,
Assim perde o verde esmalte,
Assim murcha, e cai sem vida.

Deixei a prezada Pátria,
Deixei a mãe carinhosa;
Perdeu então minha lira
Sua voz harmoniosa.

Ao som das vagas do Oceano
Foi minha lira aprendendo
A suspirar quando choro,
A ir comigo gemendo.

Companheira de meu fado,
Pelo mundo vagueando,
Juntos os Alpes subimos,
Estranhas terras pisando.

Nos Alpes, como n’um trono
Que me alçava além do mundo,
A glória do Onipotente
Entoei venerabundo.

Entre góticas pilastras,
Arroubado no infinito,
Cantei a vida futura,
Consolo de um peito aflito.

Sentado sobre ruínas,
Achei um eco na lira;
E sobre o nada da vida,
Deu-me sons qu’eu nunca ouvira.

Entre campas, e ciprestes,
Sozinho n’um cemitério,
Chorando a sorte de um vate,
Na lira achei refrigério.

Solitário entre os viventes,
Do mundo desconhecido,
Como a planta errante d’água
Apenas tenho vivido.

A glória, esperança vária,
Sonho falaz do acordado,
Febre que os Gênios inspira,
Só me não tem inspirado.

Amiga melancolia,
Consumidora saudade,
Vós envolveis os meus dias
Desta triste suavidade.

Em cada estação ostenta
Diverso aspecto a Natura;
Ora de cristais se adorna,
Ora de fresca verdura.

As aves também renovam
Seu canto co’a Natureza;
Tudo muda, só minha alma
Conserva sua tristeza.

Único bem qu’eu possuo,
Oh minha estimada lira,
Companheira de infortúnios.
Comigo chora, e suspira.

Fonte (versos 42-44): Ferreira, A. B. H. 2009. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, 4ª ed. Curitiba, Positivo. Poema publicado em livro em 1836.

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