30 dezembro 2018

Todos os grãos escorrem


As paredes da banheira
são lisas e frias
e os grãos de areia escorregam,
um atrás do outro,
até o ralo.

A torneira às vezes é aberta
e o jato d’água
arrasta consigo qualquer grão
que se atreva
a aderir às paredes.

Logo todos os grãos escorrem.
Todos desaparecem.

28 dezembro 2018

Balada apocalírica n° 1

Arnaldo Xavier

coração que coração te fez coração
foi Jualê a serpente alada negra
que sonhou com todas as cores
Hey Jualê
na primeira vez
que saiu um pássaro do seu corpo
ela se viu caminho
e o voo se fez de lágrimas

negro que negro se fez negro
foi Jualê a serpente Alda negra
que sonhou com todas as cores
Hey Jualê
na primeira vez
que saiu um caminho de seu corpo
ela se abriu em portas
e luou-se para que as lágrimas
entrassem como ventos

coração que coração te fez coração
foi Jualê a serpente alada negra
que sonhou com todas as cores
Hey Jualê
na primeira vez
que saiu uma porta de seu corpo
ela soluçou em chaves
vestida de chamas

negro que negro te fez negro
foi Jualê a serpente negra
que sonhou com todas as cores
Hey Jualê
na primeira vez
que saiu chamas do seu corpo
nos acendemos em sonhos

Fonte: Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições.

26 dezembro 2018

A vida na copa da floresta

Donald Perry

Lá pelo meio-dia, o tempo começou a mudar. Imensas nuvens cúmulo-nimbus se aproximavam, vindas do litoral do Caribe. Pensei em ir embora, mas não podia deixar de ver os polinizadores, que provavelmente chegariam mais no fim da tarde ou mesmo durante a noite. Não se sabia, até essa ocasião, que após meados de julho era raro encontrar abelhas no dossel, mesmo havendo flores em abundância para atraí-las. Examinei o toldo de proteção contra a chuva e torci para que a rede correspondesse às minhas expectativas; então relaxei e fiz um lanche tirando de minha mochila um sanduíche de pasta de amendoim com geleia e suco de fruta.

À medida que a tempestade se aproximava, comecei a duvidar da sensatez de permanecer na árvore. A nuvem que chegava era esmagadora. Cobria uma área de muitos quilômetros quadrados e deslizava sobre as terras baixas aspirando o ar quente saturado de umidade evaporada da floresta, que subia a milhares de metros, era resfriado e condensado em gotículas.
[...]

Ao contrário da crença popular, uma chuva tropical não é quente, e meu lago arbóreo parecia um banho de gelo. Temendo que a água acumulada pudesse quebrar o galho, furei com a ponta da faca o teto de nylon, tentado drená-la. Os furos, porém, não foram suficientes para competir com a água que caía e eu não ousava aumentar o seu diâmetro porque isso poderia destruir a rede. Subi no ramo, despejei a água e reatei os cordões do toldo. Ficar de pé no vento aumentou o frio que eu sentia. Minha roupa estava ensopada, eu tremia de frio, meus dedos estavam brancos e duros. Com isto o trabalho ficava extremamente difícil e até o meu raciocínio ficou embotado.
[...]

Fonte: Perry, D. 1991 [1986]. A vida na copa da floresta. SP, Interação.

24 dezembro 2018

Descanso durante a fuga


Joachim Patinir (1480-1524). Rust tijdens de vlucht naar Egypte. 1518-20.

Fonte da foto: Wikipedia.

23 dezembro 2018

A primeira madrugada ninguém esquece

Geraldo Mayrink

Binômio, vermelho e branco, chegava a Juiz de Fora nas manhãs de domingo. No dia 18 de agosto de 1960 eu fui o primeiro a comprá-lo. Lá estava, em quase meia página, o roteiro dos filmes da semana, assinado por mim. Na primeira página havia uma chamada sobre a nova seção. Com o meu nome, nos dois lugares. Levei o jornal para casa e o exibi para a família, com escassa repercussão. Tinha 18 anos. Esta é a história no seu começo.

O que se seguiu determinou minha vida. Eu não me decidia sobre que vestibular fazer, trabalhava num escritório e à noite ia fanaticamente ao cinema. Tínhamos um cine-clube, pomposamente chamado Centro de Estudos Cinematográficos de Juiz de Fora. A cidade tinha quatro jornais diários e nenhuma crítica de cinema que prestasse. A gente não se conformava. Éramos muito metidos. Trilíngues, embora macarrônicos, líamos os Cahiers du CinémaSight and Sound e Bianco e Nero. Um dia criamos coragem e fomos ao Binômio, bravo jornal de oposição municipal, estadual e nacional, e entregamos o texto de uma crítica ao filme ‘Quero viver’, no qual protestávamos veementemente contra a instituição de pena de morte. Com sua elegância e verve, o redator-chefe do jornal, Fernando Zerlottini, recebeu-nos à porta do jornal, na célebre rua Halfeld. Estava com pressa para ouvir em casa o noticiário do meio-dia e meia da rádio JB, mas teve tempo de dar uma olhada no catatau e proclamar: “Mas é grande demais. Agora vocês vão ver o que é problema de espaço em jornal!”

Quer dizer, estava contratado. E ganhando uns trocados. Depois, me chamaram para ser repórter. Larguei o emprego no escritório para poder dormir até tarde. Aí, peguei minhas primeiras madrugadas de redação (que me acompanham até hoje), às quintas-feiras, coroadas com as primeiras farras pós-fechamento no restaurante Rio-Lima, que não existe mais. Em seu lugar está o Brasão, frequentado por Itamar Franco, cujo escritório de engenharia ficava ao lado das duas salinhas do Binômio. Itamar era informante político do jornal. Vivendo e aprendendo desde pequeno.

O resto é o resto. Uma lição: minha primeira reportagem, sobre a praça da Estação, foi considerada péssima pelo Zerlottini (“Não passa de um relatório, um rol de dados”, ele disse), mas fui salvo pelo Zé Pedro, que observou: “Agora você já sabe que é possível sempre fazer a mesma coisa de outro jeito”. E uma certeza: não esqueci o conselho. Não tenho feito outra coisa na vida profissional a não ser procurar fazer tudo igual de outro jeito. Ainda não fui apanhado.

Fonte: Rabêlo, J. M. 1997. Binômio: edição histórica. BH, Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.

21 dezembro 2018

Romagna

Giovanni Pascoli

a Severino

Sempre un villaggio, sempre una campagna
mi ride al cuore (o piange), Severino:
il paese ove, andando, ci accompagna
l’azzurra vision di San Marino:

sempre mi torna al cuore il mio paese
cui regnarono Guidi e Malatesta,
cui tenne pure il Passator cortese,
re della strada, re della foresta.

Là nelle stoppie dove singhiozzando
va la tacchina con l’altrui covata,
presso gli stagni lustreggianti, quando
lenta vi guazza l’anatra iridata,

oh! fossi io teco; e perderci nel verde,
e di tra gli olmi, nido alle ghiandaie,
gettarci l’urlo che lungi si perde
dentro il meridïano ozio dell’aie;

mentre il villano pone dalle spalle
gobbe la ronca e afferra la scodella,
e ’1 bue rumina nelle opache stalle
la sua laborïosa lupinella.

Da’ borghi sparsi le campane in tanto
si rincorron coi lor gridi argentini:
chiamano al rezzo, alla quiete, al santo
desco fiorito d’occhi di bambini.

Già m’accoglieva in quelle ore bruciate
sotto ombrello di trine una mimosa,
che fioria la mia casa ai dí d’estate
co’ suoi pennacchi di color di rosa;

e s’abbracciava per lo sgretolato
muro un folto rosaio a un gelsomino;
guardava il tutto un pioppo alto e slanciato,
chiassoso a giorni come un birichino.

Era il mio nido: dove, immobilmente,
io galoppava con Guidon Selvaggio
e con Astolfo; o mi vedea presente
l’imperatore nell’eremitaggio.

E mentre aereo mi poneva in via
con l’ippogrifo pel sognato alone,
o risonava nella stanza mia
muta il dettare di Napoleone;

udia tra i fieni allor allor falciati
da’ grilli il verso che perpetuo trema,
udiva dalle rane dei fossati
un lungo interminabile poema.

E lunghi, e interminati, erano quelli
ch’io meditai, mirabili a sognare:
stormir di frondi, cinguettío d’uccelli,
risa di donne, strepito di mare.

Ma da quel nido, rondini tardive,
tutti tutti migrammo un giorno nero;
io, la mia patria or è dove si vive;
gli altri son poco lungi; in cimitero.

Così più non verrò per la calura
tra que’ tuoi polverosi biancospini,
ch’io non ritrovi nella mia verzura
del cuculo ozïoso i piccolini,

Romagna solatía, dolce paese,
cui regnarono Guidi e Malatesta,
cui tenne pure il Passator cortese,
re della strada, re della foresta.

Fonte (estrofe 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1891.

19 dezembro 2018

Evitando o jugo da agricultura

Marston Bates

Nunca saberemos como e porque deram esses primeiros passos para a agricultura, o que deixa um campo esplêndido para conjeturas. O processo foi, certamente, lento e irregular. É provável que nossos ancestrais selvagens estivessem longe de considerar a agricultura como grande benção porque logo envolveu aspectos desagradáveis tais como hábitos regulares e trabalho pesado. No entanto, a agricultura é tarefa insidiosa. Uma vez desenvolvida ou adotada, permite que bem maior número de pessoas viva em certa área de terra, e, dados os hábitos de procriação do homem, surge logo o aumento da população. A tribo fica, depois, sob o jugo da agricultura para sempre, pois os processos antigos não podem fornecer alimento suficiente para o número maior. [...]

Alguns povos caçadores recorrem à agricultura em certas emergências, quando levados a tal ação drástica pela prolongada escassez da caça. Isso mostra que tais povos poderiam ser de agricultores, se quisessem; evitam, porém, essa necessidade desistindo da agricultura logo que as condições da caça voltam ao normal e antes que a população tenha progredido. Alguns dos índios das planícies da América do Norte conseguiram, por acaso da sorte, escapar ao ramerrão da agricultura; adotaram o uso dos cavalos quando estes apareceram por ocasião da invasão espanhola, e, quando descobriram que a população podia ser mantida por esse método mais eficiente de caçar, abandonaram imediatamente a agricultura. [...]

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. O excerto acima integra obra publicada originalmente em 1952.

17 dezembro 2018

Natureza morta com tabuleiro


Lubin Baugin (1612-1663). Nature morte à l’échiquier. 1631.

Fonte da foto: Wikipedia.

15 dezembro 2018

História contemporânea


Enquanto a Europa ardia,
nós apodrecíamos.
(Heil Hitler, galhardetes, mocidade
e os VV da liberdade)
Fantochadas!

Mil novecentos e quarenta.
(Não esqueçam)
Amávamos a pátria com delírio.

Eu apanhei uma sova
por causa da Inglaterra,
porque era parvo, fiel
e lusitano.
A Espanha era ibérica...
(Não esqueçam)

Entretanto, outros e outros,
de antes e depois,
assumiam postos.
Repetiam passos dados.
Condenados.

E nós de Peniche ao Porto,
a pé,
novos peregrinos. (Não esqueçam)

Social, o colectivo
é o mote do dia
(repetido).

O indivíduo
esse não (senão
quando habitar arbitrários
lugares vários).

Era doutrina encerrada
em discursos
com as patas no ar
em vez de apertos de mão.

Ó meritória
condição a nossa
de novos Amadizes!

Outrora havia prodígios.
Aos quinze,
era a Índia.
Aos dezassete, o Japão.
Aos trinta
tínhamos dado a volta ao mundo
e voltado à terra, entre
Almada e a Caparica,
para escrever um livro:
Peregrinação!

Agora há que ver a vida
como ela é. (Não esqueçam)
Eu quis ir ao México.
Quis ir a Paris.
Era proibido.

Consegui tarde Timor,
ilha perdida.

Mas tanta sublimação
do super ego
no ego.
Mas tanta fastidiosa
inibição, intervenção...

Foi preciso ter pecado,
unir-me a mim próprio, todo,
para descobrir o mundo.

Há que ver a vida
como ela é. (Não esqueçam)

E merda para a Inglaterra,
bêbeda invertida,
maga, soleníssima,
terra onde nasci. (Não esqueçam)

Mas nós somos portugueses.
Não esqueçamos.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1971.

13 dezembro 2018

Miranda Ribeiro e o darwinismo no Brasil

Terezinha Alves Ferreira Collichio

No final de sua obra A filosofia no Brasil, Sylvio Romero emite a respeito de Miranda Azevedo e suas ‘Conferências sobre o Darwinismo’, a seguinte opinião: “Não falei também dos Pequenos Ensaios Positivistas e das Conferências sobre o Darwinismo, respectivamente de Miguel Lemos e Miranda Azevedo porque não passam de ligeiras tentativas ainda pouco firmes, e destituídas de originalidade. Conquanto seus autores sejam moços de grande talento e que fundamentam justas esperanças, os dois produtos a que me refiro não são mais do que reproduções quase servis, de ideias alheias”.

Não obstante à referência cáustica, a análise quanto à originalidade não pode ser contestada, como já vimos. [...]

Fonte: Collichio, T. A. F. 1988. Miranda Azevedo e o darwinismo no Brasil. BH, Itatiaia & Edusp.

12 dezembro 2018

Doze anos e dois meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/12, o Poesia contra a guerra completa 12 anos e dois meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Doze anos e um mês no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Antonio Roberval Miketen, Bruno Bettelheim, Carlos Ruiz Zafón, Charles Simic, Dinaw Mengestu, Dirceu Quintanilha, Donald W. Lathrap, Geoff Dyer e Roberto Lent.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Charles-Antoine Coypel e Noël Nicolas Coypel.

09 dezembro 2018

Jeff em Veneza, morte em Varanasi

Geoff Dyer

Numa tarde de junho de 2003, quando, por um breve instante, a invasão do Iraque parecia não ter sido tão má ideia afinal, Jeffrey Atman saiu de seu apartamento para dar uma volta. Teve de deixar o apartamento porque agora que o alívio pelo quadro geral tinha se esgotado – alívio porque Saddam não tinha voltado suas armas de destruição em massa inexistentes para Londres e o mundo não tinha mergulhado numa conflagração –, a miríade de irritações e frustrações de seu quadro particular estava de volta com força de vingança. O trabalho da manhã tinha sido uma merda. Precisava escrever um ‘artigo-cabeça’ de mil e duzentas palavras (que devia exigir zero de pensamento da parte do leitor e pouco mais que isso do escritor, mas que, mesmo assim, de alguma forma, estava além de suas forças), porém chegara a um tal grau de tédio que passara meia hora olhando para o e-mail de uma única linha a ser enviado ao editor que encomendara o texto:

“Simplesmente não consigo mais fazer essa merda. Abs J.A.”

A tela oferecia uma alternativa simples: Enviar ou Deletar. Simples assim. Clicar Enviar, e fim da história. Clicar Deletar, e ele estaria de volta ao ponto de partida. [...]

Fonte: Dyer, G. 2010. Jeff em Veneza, morte em Varanasi. RJ, Intrínseca.

07 dezembro 2018

A escarradeira do rei


Eis que a imprensa divulgou ontem (6/12) uma célere decisão do nosso querido STJ. Diz respeito a uma antiga reivindicação envolvendo a nobilíssima – digo esta e as próximas palavras dobrando o tronco e abaixando a cabeça – família Orleans e Bragança (ver aqui).

Os tataranetos dos tataranetos de Pedro Álvares Cabral reivindicavam a restituição e o reconhecimento do domínio deles sobre o Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro.

Não sei se entendi bem a história, mas seria mais um daqueles casos de apropriação privada de bens públicos. (A propósito, essa molecada monarquista, cujos integrantes se julgam herdeiros do trono, se trono houvesse, já usufruem de mamatas vergonhosas, como a abominável taxação sobre transações de compra e venda de imóveis situados no centro urbano de Petrópolis RJ, em terras que outrora foram de dom Pedro II – ver aqui.)

Uma sugestão

Pois eu deixo aqui uma sugestão, caso a decisão do STJ seja de fato para valer e definitiva.

Mais fechado do que aberto há quase 10 anos (ver aqui), o Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora MG) – o “segundo maior acervo imperial do país” (ver aqui) – abriga uma preciosidade: uma escarradeira de louça que teria sido usada por algum antepassado dos tataranetos dos tataranetos de Pedro Álvares Cabral.

Minha sugestão é esta: que esse pessoal da Casa de Petrópolis reivindique agora para si o domínio de tal relíquia. Mais que um consolo, uma escarradeira parece ser uma urgente necessidade, sobretudo para quem outro dia andou alardeando que gostaria de brincar de guerra na Venezuela (ver aqui).

Postura e pretensões abomináveis.

Cospe fora, moleque, cospe!

05 dezembro 2018

Uma vida para seu filho

Bruno Bettelheim

Este livro sintetiza o esforço de toda a minha vida para descobrir e testar tudo o que uma criação de filhos bem-sucedida envolve e requer – i.e., a criação de um filho que pode não ser necessariamente um sucesso aos olhos do mundo, mas que, pensando bem, está satisfeito com a maneira pela qual foi criado e, no conjunto, está contente consigo mesmo, apesar das deficiências que atingem todos nós. Acredito que outra indicação de ter sido bem criado é sua capacidade de enfrentar razoavelmente as infindáveis vicissitudes, as muitas agruras e as sérias dificuldades que, muito provavelmente, encontrará pela frente, e fazer isso sobretudo porque se sente seguro. Embora nem sempre livre de dúvidas sobre si mesmo – pois só os tolos arrogantes escapam inteiramente disso –, essa pessoa bem criada, independentemente do que aconteça em sua vida externa, possui uma vida interior rica e gratificante, com a qual está, consequentemente, satisfeita. Por fim, embora certamente não menos importante, crescer numa família onde sempre são mantidas relações boas, íntimas entre os pais, e entre eles e seus filhos, torna um indivíduo capaz de estabelecer relações duradouras, satisfatórias, íntimas com os outros, o que confere sentido à sua vida e à dos outros. Também será capaz de encontrar sentido e satisfação em seu trabalho, achando-o digno dos esforços que faz realizá-lo, porque não ficará satisfeito com um trabalho destituído de significado intrínseco.

Fonte: Bettelheim, B. 1988. Uma vida para seu filho. RJ, Campus.

03 dezembro 2018

As belas coisas que é do céu contê-las

Dinaw Mengestu

1.
Às oito horas, Joseph e Kenneth entraram na loja. Vinham até aqui quase toda terça-feira; Aquilo tinha se tornado um hábito para nós três, mesmo que não oficialmente assumido. Às vezes, um deles vinha sozinho. Às vezes, nenhum dos dois aparecia. Ninguém perguntava nada porque não havia nada combinado. Há dezessete anos, nós três éramos imigrantes recém-chegados, trabalhando como camareiros no hotel Capitol. Segundo a placa que ficava na porta principal, o prédio pretendia ser uma espécie de cópia da casa da família Médicis na Itália. Nos fins de semana, os turistas faziam fila para subir até o terraço e ver os atiradores encarapitados no telhado da Casa Branca. Foi ali que Kenneth se tornou Ken, o queniano, e Joseph, Joe do Congo. Eu era mais magro do que sou agora, e, como dizia o gerente, não precisava de um apelido para ele se lembrar que eu era etíope.

Fonte: Mengestu, D. 2008. As belas coisas que é do céu contê-las. RJ, Nova Fronteira.

01 dezembro 2018

A educação da Virgem


Charles-Antoine Coypel (1694-1752). L’éducation de la Vierge. 1735-7.

Fonte da foto: Wikipedia.

eXTReMe Tracker