30 outubro 2022

Nessa árvore de verde à nossa espera

Pedro Tamen

Nessa árvore de verde à nossa espera
há um fato perfeito pra vestirmos,
há uma lua mansa filoxera
iluminando a hora em que sairmos.

Há um telhado certo e uma cama,
lençóis em breves aspas para nós,
há o minuto, o dia e a semana
como garganta feita para a voz.

Uma estrada que havemos de cruzar,
um largo construído como o pão
que havemos de perder e de ganhar.

Uma ternura aberta, um sono chão,
um sol votado para o pé do mar
e a concha que haverá na tua mão.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1973.

29 outubro 2022

Preservation of natural diversity

John Terborgh

Preserving diversity in a world of rapidly shrinking land resources will require a prompt and universal response based on an appropriate application of ecological knowledge. Every nation should posses an inventory of its biological endowment. Agencies in charge of parks and wildlife should consciously adopt policies that are designed to minimize the pace of extinctions. The common practice of declaring parks in remote or unused portions of the landscape, or around scenic attractions, may fail to serve this purpose. Large reserves are needed to preserve natural vegetation formations, animals at the top of the trophic pyramid, and widespread species with sedentary habits and poor colonizing ability. Endemics or rare habitat types can frequently be protected with a relatively small investment in land, provided appropriate tracts can be identified and sequestered in time. The nesting grounds of colonial species can be spared with even less land withheld from production as they are usually located on offshore islets that are unsuitable for agriculture. Migratory species present more difficult problems in that appropriate action often requires international cooperation.

Fonte: Terborgh, J. 1976. In: Smith, R. L. The ecology of man: An ecosystem approach, 2nd ed. NY, Harper & Row.

28 outubro 2022

O metabolismo das cidades

Abel Wolman

As necessidades metabólicas de uma cidade podem ser definidas como todos os materiais, serviços e comodidades indispensáveis para assistir seus habitantes em casa, no trabalho e na recreação. Durante certo período essas necessidades incluem até mesmo os materiais de construção com os quais a cidade é edificada. O ciclo metabólico não se completa até que os desejos da vida cotidiana tenham sido removidos e eliminados. À medida que o homem percebe que a [Terra] é um sistema ecológico fechado, os métodos empíricos que antes pareciam satisfatórios para a eliminação do esgoto e do lixo, hoje já não são mais aceitáveis. Ele tem a evidência cotidiana diante dos seus olhos e do seu nariz para convencê-lo de que seu planeta não pode assimilar eternamente sem tratamento os detritos de sua civilização.

Fonte: Wolman, A. 1977 [1967]. In: Vários. Cidades: A urbanização da humanidade. RJ, Zahar.

25 outubro 2022

Bituca, 80 anos – Clube da Esquina 3

F. Ponce de León

Comecei a ouvir música com regularidade em meados da década de 1970. Não ouvi tudo o que apareceu desde então. (Em compensação, ouvi e ouço coisas produzidas em décadas anteriores.)

Uma das razões de não ter sequer tentado ouvir tudo é que eu não sou um profissional da área, não sou um crítico musical – diferente, portanto, do crítico literário Wilson Martins (1921-2010), autor de História da inteligência brasileira (Cultrix, 7 v., 1977-8), que se obrigou a ‘ler tudo’. Assim é que sempre fui um ouvinte seletivo e sistemático, para não dizer preconceituoso: nem todos os LPs produzidos no país (nunca colecionei CDs) são bem-vindos aqui em casa [1].

Daquilo que eu já ouvi e conheço, notadamente no âmbito da chamada música popular, nada me impressionou e me agradou tanto como o álbum Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento & Lô Borges.

Um parêntesis. Em maio de 2022, 162 ‘especialistas’ (entre os quais, além de ‘influenciadores’ e ‘bajuladores profissionais’, presumo que havia gente que de fato sabe do que está falando) escolheram o álbum Clube da Esquina como o número 1 dos álbuns da história da música popular brasileira (ver aqui). Trata-se de uma notícia alvissareira, sobretudo para quem se preocupa com a reputação dos nossos críticos [2].

Sobre o álbum em si, claro, eu não tenho dúvida em dizer que se trata do crème de la crème da discografia brasileira, ao menos no universo da música popular. De minha parte, para ser sincero, sou adepto da tese de que as únicas comparações dignas de nota devem levar em conta outros álbuns assinados pelo próprio Milton, como Minas (1975), Geraes (1976) e Clube da Esquina 2 (1978) [3].

Aniversário de 80 anos.

Centro de gravidade daquele que talvez seja o mais generoso e, por isso mesmo, o mais rico e o mais interessante de todos os movimentos musicais brasileiros [4], Milton Nascimento completará amanhã, quarta-feira, 26 de outubro, 80 anos de idade.

Como muitos leitores já devem saber, o artista está na reta final de uma turnê mundial, A última sessão de música, feita para marcar a sua despedida dos palcos. Ao menos como cantor. A derradeira apresentação está marcada para 13 de novembro. Será no Mineirão, em BH. (O estádio, infelizmente, é finito e inelástico: nele, portanto, não cabem todos os que gostariam de estar lá...)

Na impossibilidade de encontrar pessoalmente com o aniversariante, ou mesmo de ir ao Mineirão, decidi render aqui as minhas homenagens. Para tanto, lancei mão das poucas ferramentas que tenho ao meu alcance. Por ora, decidi organizar a coletânea que apresento a seguir.

Uma coletânea idiossincrática.

No que segue, listo as 27 canções que integrariam um álbum imaginário. A rigor, um álbum duplo, o qual, ousadamente, estou a rotular aqui de Clube da Esquina 3.

18 dessas 27 canções foram compostas por Milton Nascimento, 17 das quais em parceria. (Os ouvintes mais jovens talvez não saibam, mas as letras das canções do Bituca quase sempre são de autoria do parceiro.) As 9 canções restantes (letra e melodia) são de outros autores, oito das quais ele gravou ao menos uma vez. Uma delas [n. 3], porém, não é dele e, salvo melhor juízo, ele jamais gravou. Foi incluída na lista como uma espécie de homenagem a uma série de canções que o Milton não chegou a gravar, embora, arrisco dizer, ele bem poderia tê-lo feito. (No fim das contas, não cabe tudo em um álbum!)

Arranjadas por mim em 9 grupos de três, as 27 canções foram então distribuídas em dois discos, lembrando que o nosso álbum imaginário seria um álbum duplo. As canções estão listadas na ordem em que apareceriam nos discos 1 e 2. Entre parêntesis, cito o nome e o ano de produção do álbum de onde foram extraídas as referidas versões de cada canção. (Observe que os álbuns de onde tais versões foram extraídas nem sempre são álbuns dele.) Clicando no título de cada canção, o leitor poderá ouvir a referida versão. (Sempre que possível, procurei recorrer a uma fonte oficial.)

Eis as 27 canções que integrariam o álbum Clube da Esquina 3:

Disco 1.

[1] Pai grande (Milton, 1970), de Milton Nascimento. Voz: Milton Nascimento.

[2] Dança dos meninos (Yauaretê, 1987), de Milton Nascimento & Marco Antônio Guimarães. Voz: Milton Nascimento.

[3] Vale do pavão (Espelho das Águas, 1981), de Flávio Venturini & Márcio Borges. Voz: 14 Bis.

[4] Cais (Clube da Esquina, 1972), de Milton Nascimento & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento.

[5] Benke (Txai, 1983), de Milton Nascimento & Márcio Borges. Voz: Milton Nascimento & Leonardo Bretas.

[6] Mistérios (Clube da Esquina 2, 1978), de Joyce & Maurício Maestro. Voz: Milton Nascimento & Boca Livre.

[7] Milagre dos peixes (Milagre dos Peixes, 1974), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Milton Nascimento.

[8] Um gosto de sol (Ao Vivo, 1983), de Milton Nascimento & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento & Gal Costa.

[9] Sueño com serpientes (Sentinela, 1980), de Silvio Rodrigues. Voz: Mercedes Sosa & Milton Nascimento.

[10] Ponta de areia (Nana Caymmi, 1975), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Nana Caymmi.

[11] Cio da terra (Journey to Dawn, 1979), de Milton Nascimento & Chico Buarque (inglês: Jim Webb). Voz: Milton Nascimento.

[12] Meu menino (Clube da Esquina 2, 1978), de Danilo Caymmi & Ana Terra. Voz: Milton Nascimento.

[13] Gran Circo (Minas, 1975), de Milton Nascimento & Márcio Borges. Voz: Milton Nascimento (vocalizo: Fafá de Belém).

[14] Sentinela (Sentinela, 1980), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Nana Caymmi & Milton Nascimento.

[15] Olho d’Água (Clube da Esquina 2, 1978), de Paulo Jobim & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento.

Disco 2.

[16] Fé cega, faca amolada (Minas, 1975), de Milton Nascimento & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento & Beto Guedes.

[17] Clube da esquina 2 (A Via-Láctea, 1979), de Milton Nascimento, Lô & Márcio Borges. Voz: Lô & Solange Borges.

[18] Minas Geraes (Geraes, 1976), de Novelli & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento.

[19] Promessas do sol (Geraes, 1976), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Milton Nascimento.

[20] Léo (Clube da Esquina 2, 1978), de Milton Nascimento & Chico Buarque. Voz: Milton Nascimento.

[21] Beijo partido (Nana Caymmi, 1975), de Toninho Horta. Voz: Nana Caymmi.

[22] Menino (Geraes, 1976), de Milton Nascimento & Ronaldo Bastos. Voz: Milton Nascimento.

[23] Caxangá (Elis, 1977), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Elis Regina.

[24] Um girassol da cor do seu cabelo (Clube da Esquina, 1972), de Lô & Márcio Borges. Voz: Lô Borges.

[25] Maria solidária (Maria Maria + Último Trem, 2010), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Fafá de Belém, Nana Caymmi, Beto Guedes & Milton Nascimento.

[26] Boca a boca (Renascer, 1976), de Milton Nascimento & Fernando Brant. Voz: Nana & Dori Caymmi.

[27] Tudo o que você podia ser (Clube da Esquina, 1972), de Lô & Márcio Borges. Voz: Milton Nascimento.

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Feliz aniversário, Bituca. Um forte e carinhoso abraço.

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Notas.

[1] Além de ouvinte preconceituoso, sou um colecionar de poucas posses. Razão pela qual não tenho todos os álbuns que gostaria de ter. (Ainda guardo comigo uma lista de LPs que pretendo adquirir... Só falta o dinheiro.)

[2] Entre nós, brasileiros, crítica e jornalismo são como azeite e água: não se combinam. Isso vale, obviamente, para outros segmentos do nosso universo cultural. Muito do que a crítica literária faz hoje em dia, por exemplo, é mera propaganda. E de quinta categoria.

[3] Falando mais claramente: Milton Nascimento assina não apenas aquele que seria o melhor álbum da história da música popular brasileira, mas sim os quatro melhores.

[4] Para uma breve introdução ao chamado Clube da Esquina, cujos integrantes costumam rejeitar o rótulo de ‘movimento musical’, ver o livro Os sonhos não envelhecem (Geração Editorial, 1996), de Márcio Borges.

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24 outubro 2022

A evolução humana e a cultura

S. L. Washburn & F. Clark Howell

Em meados da última glaciação, há cerca de trinta e cinco mil a quarenta mil anos, homens estruturalmente idênticos a nós (Homo sapiens), se espalharam rapidamente pelo Velho Mundo. Esta forma de homem, particularmente na Europa e no sudoeste da Ásia, onde os testemunhos são mais completos, está associada a mudanças muito aceleradas, evidentemente devidas tanto aos efeitos cumulativos da cultura, como à biologia peculiar do Homo sapiens. A cultura material modificou-se rapidamente e houve extraordinárias diferenças regionais, sem dúvida relacionadas com adaptações ecológicas específicas. [...] A arte surgiu tanto sob a forma naturalista como sob a forma estilizada, com o entalhamento, a escultura (tanto em baixo como em alto relevo), a pintura (monocrômica e a seguir, policrômica), a decoração pessoal e o adorno. Em apenas vinte mil anos houve maior progresso técnico do que no meio milhão de anos precedentes. Isto, naturalmente, é a marca da cultura, como sabemos. É a demonstração da presença de um criador incansável, o Homo sapiens.

Fonte: Washburn, SL & Howell, FC. 1978. In: G Mussolini, org. Evolução, raça e cultura. SP, Nacional.

21 outubro 2022

Preconceito e sectarismo

Milton Rokeach

Descobri que o modo fundamental de definir o preconceito era igualmente questionável. O caminho tradicional que os cientistas sociais têm desenvolvido para medir o preconceito é descobrir como as pessoas se sentem a respeito deste ou daquele grupo étnico ou racial, quanto as pessoas gostam de judeus, negros, mexicanos, japoneses. Quanto mais você disser que não gosta deles, mais preconceituoso você será. E, todavia, encontrei o fenômeno do preconceito entre pessoas que nunca seriam surpreendidas com alguma afirmação anti-semita, ou com alguma afirmação contra os negros; havia uma outra forma de fanatismo, que simplesmente fugia à atenção. E, por isso mesmo, conceitualizei esse fenômeno do fanatismo, não em termos de quanto você gosta ou não gosta de um grupo étnico ou racial, mas em termos de quanto você gosta de pessoas que concordam ou discordam de você, sejam elas quais forem. E gostar de alguém porque este alguém concorda com você é também uma manifestação de preconceito, porque aí existe uma sequência classificatória inerente; é o mesmo que desgostar de pessoas porque elas discordam de você. Assim, inventei este teste, a que chamei de ‘Teste de Sectarismo’, com frases como ‘Só um louco completo diria que há um Deus’ e ‘Só um louco completo diria que não há Deus’. E o que eu esperava da pessoa tolerante era que ela discordasse veementemente de ambas, a fim de qualificá-la como tolerante; se ela concordasse com uma ou outra, eu considerava uma manifestação de preconceito. Tratava-se da mesma estratégia estrutural de chegar ao preconceito, independente do seu conteúdo. Daí, é claro, passei para toda a questão de haver duas espécies de preconceito, ou uma só. [...] O que acontece se você opõe uma variável racial a uma variável de crença? Como você se sente a respeito de uma pessoa branca que é ateia e de uma pessoa negra também ateia, ou uma pessoa branca que acredita em Deus e outra negra que também acredita em Deus? Através do planejamento sistemático de estudos desse tipo, fomos capazes de começar a perguntar: Quanto a pessoa gosta de outra, baseada na similaridade de crença mais do que na similaridade racial? Isso tem levado a algumas controvérsias de pesquisa interessantes.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

19 outubro 2022

Polichinelo


Ernest Meissonier (1815-1891). Polichinelle. 1860.

Fonte da foto: Wikipedia.

17 outubro 2022

A expansão da pandemia em terras brasileiras está no patamar mais baixo desde o início da crise

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 10 e 16/10, as taxas ficaram em 0,0122% (casos) e 0,0063% (mortes). Em relação aos valores da semana anterior, ambas tornaram a cair, atingindo agora o patamar mais baixo desde o início da crise. São notícias auspiciosas. Mas não significam que a pandemia esteja no fim. (Na Alemanha, por exemplo, mais de 68 mil casos estão a ser registrados diariamente; já nos EUA, mais de 400 mortes estão a ser registradas todos os dias.) Máscaras e vacinas devem continuar na ordem do dia, sobretudo no interior de recintos fechados.

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1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas obtidas na noite de ontem (16/10) [1], eis um resumo da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 624.690.670) e 69% das mortes (de um total de 6.567.445) [3].

(B) – Nesses 20 países, 449 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 97% dos casos. Em escala global, 609 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (i) em números absolutos, a lista está a ser liderada pela Alemanha, com 1,93 milhão de novos casos; (ii) entre os cinco primeiros da lista, estão ainda a França (1,3 milhão), Estados Unidos (1,28), Taiwan (1,21) e o Japão (1,11). O Brasil (177 mil) está agora na 12ª colocação; e (iii) a lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (11,4 mil); em seguida aparecem Rússia (2,82 mil), Alemanha (2,49), Japão (2,23) e Brasil (1,94).

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 10-16/10.

Ontem (16/10), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 380 casos e 2 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 34.749.058 casos e 687.155 mortes.

Na semana encerrada ontem (10-16/10), foram registrados 29.551 casos e 304 mortes. Em relação aos números da semana anterior, ambos caíram (3-9/10: 39.974 casos e 531 mortes).

3. O RITMO DA PANDEMIA EM TERRAS BRASILEIRAS.

Para monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia, sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,0165% (3-9/10) para 0,0122% (10-16/10) (ver a figura que acompanha este artigo) [4].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0110% (3-9/10) para 0,0063% (10-16/10).

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 16/10/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

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4. CODA.

As taxas de casos e mortes tornaram a cair, atingindo agora os valores mais baixos desde o início da crise.

São notícias auspiciosas. Mas não significam que a pandemia esteja no fim. (Na Alemanha, por exemplo, mais de 68 mil casos estão a ser registrados diariamente; já nos EUA, mais de 400 mortes estão a ser registradas todos os dias.)

Máscaras e vacinas devem continuar na ordem do dia, sobretudo no interior de recintos fechados. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 11 grupos: (a) Entre 95 e 100 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 35 e 40 milhões – França; (d) Entre 30 e 35 milhões – Brasil e Alemanha; (e) Entre 25 e 30 milhões – Coreia do Sul; (f) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido, Itália, Japão e Rússia; (g) Entre 15 e 20 milhões – Turquia; (h) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (i) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã e Austrália; (j) Entre 8 e 10 milhões – Argentina e Países Baixos; e (k) Entre 6 e 8 milhões – Irã, Taiwan, México e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

[4] Para conferir os valores numéricos, ver aqui (entre 27/12/2021 e 26/6/2022) e aqui (semanas anteriores).

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15 outubro 2022

Véu úmido e ruidoso

Poh Pin Chin

Ainda não experimentei
Algo mais prazeroso e inspirador
Que uma manhã
De sábado chuvosa

Sozinho, de pé, na varanda,
Aprecio e saúdo a chegada
Desse véu úmido
A abraçar as montanhas

Véu úmido e ruidoso
Cujas gotas mansas polvilham
As folhas ainda arqueadas
Pelo sono noturno

13 outubro 2022

“Todos abaixo de mim, eu acima de deus” – diz o rei canibal

F. Ponce de León

Em um arquipélago muito, muito distante vivem dois povos, os canibais e os esquálidos.

Os canibais não cultivam a terra. Vivem da caça e, principalmente, da pilhagem. Têm noções de metalurgia. Sabem confeccionar lanças, flechas e outros artefatos. Usam as armas que fabricam para caçar, mas principalmente para atacar e matar os vizinhos, de quem pilham os víveres.

Promovem conflitos periódicos. Matam sem piedade, mas sempre levam consigo alguns sobreviventes, sobretudo mulheres e crianças. Os sobreviventes se tornam escravos. Fazem as tarefas duras do dia a dia. As mulheres também são usadas para fins reprodutivos.

Os canibais têm uma forma própria de religião. Adoram uma divindade guerreira. Os sacerdotes ensinam que, entre todos os povos do mundo, eles constituem o que há de melhor. São os escolhidos e foram abençoados. Estão no topo. E o mundo inteiro um dia se curvará a eles.

Mas o mundo não lhes será dado como um presente que se recebe em tempos de paz. Não. Será uma conquista, fruto da maior de todas as pilhagens. Haverá guerra. Jorrará sangue.

Chegará então o dia em que os canibais instituirão as leis. E a vontade deles, enfim, cairá como uma espada sobre a cabeça de recalcitrantes e ignaros.

Nessa cruzada santa, tão aguardada, os canibais serão liderados por um rei megalomaníaco. Um líder sem freios na língua. Um líder que já grita a plenos pulmões: “Todos abaixo de mim, eu acima de deus”.

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12 outubro 2022

Aniversário de 16 anos

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/10, o blogue Poesia contra a guerra completa 16 anos no ar (2006-2022).

Nos últimos 12 meses, foram publicados aqui pela primeira vez textos de 82 novos autores, além de textos de autores que já haviam sido publicados antes – ver ‘Aniversário de 15 anos’ e balanços anteriores.

Eis a lista dos estreantes:

Afrânio do Amaral, Alceo Magnanini, Alison Jolly, Álvaro Vieira Pinto, Ana Paula Ferreira, Ângela Alves Crispim, Anthony D. Bradshaw, Arthur O. Lovejoy & Aylthon Brandão Joly;

Bert Bolin, Blaise Pascal & Brian T. Bunting;

Carlos Renato Rezende Ventura, Carlos Rodrigues Brandão e Cezio Pereira;

David Gates, David M. Davis, David Premack, David Western, Denise Emmer, Donaldo Mello & Dora Ann Lange Canhos;

Fernando V. Agarez & Francis Thompson;

G. F. Gause, Gérard Monnier & Ghillean Tolmie Prance;

Hans Aebli, Hans Blumenfeld, Henrique Couto Teixeira, Henrique Lins de Barros & Humberto Maturana;

Isaac Deutscher;

Jacob Needleman, James Mourilyan Tanner, Joe Kamiya, John Cohen, John R. Grehan, José Contreiras, José Eduardo Degrazia, José Santos Chocano, Joseph Addison & Joseph Banks Rhine;

Kamau Brathwaite;

Luciana Zaterka, Luciane Maria Pereira Passaglia & Luiz Carlos de Lima Silveira;

Marcel Blanc, Marlene Freitas da Silva, Moacir Gadotti, Murilo Araújo & Murray R. Spiegel;

Napoleão Valadares, Nelson Goodman, Nelson Pedro Silva & Norbert Elias;

Paul Virilio, Paulo Benzzoni, Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Pedro W. Gonçalves, Peter Calow, Pierre Auger, Pierre de Ronsard, Pierre-Louis Moreau de Maupertuis, Pierre Thuillier & Preston Gralla;

Raymond Gras, Ricardo Massato Takemoto, Robert Lowell, Roberto Perez Xavier & Rogério Freitas;

Solange Terezinha de Lima, Sören Kiergegaard & Stéphane Hénin;

T. Geoffrey Taylor, T. McNeilly & Toninho Horta;

Vanderlei Perez Canhos;

Wanderbilt Duarte de Barros, Wilfred Owen & William J. Long; e

Yna Beta.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras de 29 pintores, a saber: Achille-Etna Michallon; Bon Boullogne; Carolus-Duran, Charles de La Fosse, Charles-Joseph Natoire & Cosimo Tura; Émile Claus, Emilio Sala & Évariste Carpentier; François Lemoyne; Henrique Pousão & Hubert Robert; Jean-André Rixens, Jean-François de Troy, Jean Jouvenet, o Grande, Jeanne Montigny, Joseph-Marie Vien, João António Correia, João Marques de Oliveira, Joaquín Agrasot, José Júlio de Souza Pinto & Joseph-Noël Sylvestre; Louis-François Cassas; María Blanchard; Nicolas Lancret; Pierre-Henri de Valenciennes, Plácido Francés y Pascual; Théodore Chassériau; e Zacharie Astruc.

10 outubro 2022

A morte de Cleópatra


Jean-André Rixens (1846-1925). La mort de Cléopâtre. 1874.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 outubro 2022

Goodbye girl

David Gates

All your life you’ve waited
For love to come and stay
And now that I have found you
You must not slip away

I know it’s hard believing
The words you’ve heard before
But darlin’ you must trust them
Just once more

’Cause baby, goodbye doesn’t mean forever
Let me tell you goodbye doesn’t mean we’ll never be together again
If you wake up and I’m not there, I won’t be long away
’Cause the things you do, my goodbye girl, will bring me back to you

I know you’ve been taken
Afraid to hurt again
You fight the love you feel for me
Instead of giving in

But I can wait forever
A-helping you to see
That I was meant for you
And you for me

So remember goodbye doesn’t mean forever
Let me tell you goodbye doesn’t mean we’ll never be together again
Though we may be so far apart you still will have my heart
So forget your past, my goodbye girl, ’cause now you’re home at last.

Fonte: VHS do filme A garota do adeus [The goodbye girl] (1977), dirigido por Herbert Ross.

05 outubro 2022

Os ciclos de sobe e desce nos números seriam tão somente frutos de erros amostrais?


RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 26/9 e 2/10, as taxas ficaram em 0,0195% (casos) e 0,0107% (mortes). Ambas tornaram a subir em relação aos valores da semana anterior, caracterizando assim um segundo ciclo de sobe e desce nos números. Talvez em razão de erros amostrais. Fato é que a pandemia ainda não acabou. Máscaras e vacinas seguem na ordem do dia.

*

1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da manhã de hoje (3/10) [1], eis um resumo da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 618.169.169) e 69% das mortes (de um total de 6.547.254) [3].

(B) – Nesses 20 países, 444 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 98% dos casos. Em escala global, 604 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (i) em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelo Japão, com 1,69 milhão de novos casos; (ii) entre os cinco primeiros da lista, estão ainda os Estados Unidos (1,63 milhão), a Rússia (1,3), a Coreia do Sul (1,22) e a Alemanha (1,14). O Brasil (216 mil) está na 10ª colocação; e (iii) a lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (11,81 mil); em seguida aparecem Japão (3,5 mil), Rússia (2,72), Alemanha (2,3) e Brasil (1,8).

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 26/9-2/10.

Ontem (2/10), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 1.023 casos e 66 mortes [4]. Teríamos chegado assim a um total de 34.679.533 casos e 686.320 mortes.

Na semana encerrada ontem (26/9-2/10), foram registrados 47.313 casos e 515 mortes. Os dois totais subiram em relação aos números da semana anterior (19-25/9: 45.173 casos e 429 mortes).

3. O RITMO DA PANDEMIA EM TERRAS BRASILEIRAS.

Para monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia, sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Após uma breve estagnação, ambas tornaram a cair em relação aos valores da semana anterior.

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0186% (19-25/9) para 0,0195% (26/9-2/10) (ver a figura que acompanha este artigo) [5].

A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,0089% (19-25/9) para 0,0107% (26/9-2/10).

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FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 2/10/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

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4. CODA.

As taxas de casos e mortes tornaram a subir. Olhando para as quatro últimas semanas, não é difícil perceber a ocorrência de dois ciclos sucessivos de sobe e desce nessas taxas.

Na ausência de informações adicionais, eu não saberia dizer o que exatamente poderia estar gerando essa dinâmica. Mas deixo aqui o melhor palpite explicativo que consigo formular neste momento: Os ciclos de sobe e desce seriam fruto de um mero erro de amostragem. (Vale registrar que estamos a lidar com números absolutos cada vez mais baixos. Felizmente. Na maioria das unidades federativas, por exemplo, as somas semanais de mortes estão abaixo de 30.)

Fato é que a pandemia ainda não acabou. Máscaras e vacinas seguem na ordem do dia, sobretudo no interior de recintos fechados. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 9 grupos: (a) Entre 95 e 100 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 30 e 35 milhões – França, Brasil e Alemanha; (d) Entre 20 e 25 milhões – Coreia do Sul, Reino Unido, Itália, Japão e Rússia; (e) Entre 15 e 20 milhões – Turquia; (f) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (g) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã e Austrália; (h) Entre 8 e 10 milhões – Argentina e Países Baixos; e (i) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México, Taiwan e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

[4] Esses valores, infelizmente, são subestimativas. Explico: 18 unidades federativas (AC, AL, AP, CE, DF, ES, MA, MG, MT, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RR, SE e TO) não divulgaram as estatísticas de ontem (2/10).

[5] Para conferir os valores numéricos, ver aqui (entre 27/12/2021 e 26/6/2022) e aqui (semanas anteriores).

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03 outubro 2022

The Kingdom of God

Francis Thompson

In No Strange Land

O world invisible, we view thee,
O world intangible, we touch thee,
O world unknowable, we know thee,
Inapprehensible, we clutch thee!

Does the fish soar to find the ocean,
The eagle plunge to find the air –
That we ask of the stars in motion
If they have rumour of thee there?

Not where the wheeling systems darken,
And our benumbed conceiving soars! –
The drift of pinions, would we hearken,
Beats at our own clay-shuttered doors.

The angels keep their ancient places; –
Turn but a stone and start a wing!
’Tis ye, ’tis your estrangèd faces,
That miss the many-splendoured thing.

But (when so sad thou canst not sadder)
Cry; -- and upon thy so sore loss
Shall shine the traffic of Jacob’s ladder
Pitched betwixt Heaven and Charing Cross.

Yea, in the night, my Soul, my daughter,
Cry, – clinging to Heaven by the hems;
And lo, Christ walking on the water,
Not of Gennesareth, but Thames!

Fonte (v. 1-2, 19-20, 23-24): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 1, 4ª ed. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1913.

01 outubro 2022

Sopro de vida

José Contreiras

Na sua acepção corrente, a respiração é entendida nos animais como a acção de inspirar e expirar o ar. Dentro dum critério mais amplo, mas ainda alheio ao fulcro do processo, o termo engloba também os mecanismos envolvidos na obtenção do oxigênio do ar e na eliminação do dióxido de carbono, assim como a condução destes gases do exterior para os tecidos e destes para o exterior.

O facto de na sua acepção vulgar a respiração incluir o acto de expirar ou seja uma exalação ou sopro, que é o mais óbvio sinal de vida no homem, teve como consequência que, desde os tempos pré-históricos, se estabeleceu uma associação mental entre vida e respiração ao ponto de no grego antigo, no latim e no hebreu a palavra que inicialmente denotava sopro viria mais tarde a significar vida e, subsequentemente ainda, princípio de vida, alma e também espírito.

Fonte: Contreiras, J. 1992. Fisiologia e bioquímica da respiração das plantas superiores. Lisboa, Calouste Gulbenkian.

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