30 outubro 2020

Balanço final


Perdi os cabelos
... e os dentes.
Acumulei riquezas,
mas não fiz amigos.
Desperdicei a vida.

28 outubro 2020

O meteoro de 1783


Paul Sandby (1731-1809). The 1783 Great Meteor, as seen from the East Angle of the North Terrace, Windsor Castle. 1783.

Fonte da foto: Wikipedia.

26 outubro 2020

No ritmo atual, o país irá contabilizar ao menos 5,9 milhões de casos e 166 mil mortes até o fim de novembro


Ontem (25), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados mais 13.493 casos e 231 mortes em todo o país. Teríamos chegado assim a um total de 5.394.128 casos e 157.134 mortes.

A média semanal da taxa de crescimento no número de casos [1] subiu de 0,39% (12-18/10) para 0,43% (19-25/10).

Por sua vez, a média correspondente para o número de mortes caiu de 0,32% (12-18/10) para 0,3% (19-25/10). Este último valor é o mais baixo desde o início da crise (ver Fig. 1).

*


FIGURA 1. Comportamento das taxas de crescimento diário no número de novos casos (curva em azul) e no número de óbitos (curva em vermelho) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 21/3 e 25/10. (Valores acima de 10% não são mostrados.) Há muita oscilação nos valores diários (por conta de desarranjos metodológicos). Para reduzir os ruídos provocados por tal oscilação, tenho calculado médias semanais para os valores das duas séries (casos: pontos em azul; óbitos: pontos em vermelho) [1]. Testes estatísticos (não mostrados) indicam que as trajetórias descritas pelas duas séries não são aleatórias e estão correlacionadas.

*

Setembro e outubro.

Considerando o número de casos, nós talvez possamos resumir o que ocorreu nas últimas 12 semanas (3/8-25/10) da seguinte maneira: (1) entre 3/8 e 13/9, a média semanal do número de novos casos seguiu uma trajetória predominantemente declinante, caindo de 43.106 (3-9/8) para 27.562 (7-13/9); e (2) entre 14/9 e 25/10, no entanto, a tendência não foi tão nítida, visto que os valores oscilaram dentro de uma faixa mais estreita (ver a Fig. 2).

Este último resultado indica que estamos mais ou menos estagnados. E por quê? Porque o ritmo de queda na taxa está mais vagaroso. A tendência de queda não é tão nítida como antes.

Vejamos.

Entre 13/9 e 25/10, a média semanal da taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,65% (7-13/9) para 0,43% (19-25/10).

No mesmo período, a média correspondente para o número de mortes caiu de 0,55% (7-13/9) para 0,3% (19-25/10).

Em ambos os casos, a média semanal está a cair algo como 0,05% por semana (ver Fig. 1). Mantido esse ritmo de queda (-0,05% por semana), chegaremos à última semana de novembro (23-29/11) com médias semanais em torno de 0,15% (casos) e 0,05% (mortes).

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FIGURA 2. Comparação entre os valores esperados para as médias diárias no número de novos casos (eixo vertical) em cinco cenários diferentes (a taxa cai 0,05%, 0,075%, 0,1%, 0,15% ou 0,2% por semana), entre 3/8 e 25/10. No pior cenário, LENTO (linha vermelho escuro), a média seguiria aumentando até o fim de outubro – a rigor, até a primeira semana de dezembro (não mostrado), quando só então atingiria o seu máximo (111.521) e começaria a declinar. O gráfico mostra também os valores observados nas últimas 12 semanas (Real; linha alaranjada). Entre 3 e 13/9, os resultados observados concordaram razoavelmente bem com a trajetória prevista para um cenário RÁPIDO. A partir de então (retângulo em linha tracejada), no entanto, as médias declinaram de modo muito mais lento e um tanto quanto errático.

*

Coda.

Levando em conta os resultados observados até aqui, finalizo este artigo oferecendo duas projeções para as próximas semanas.

Projeção pessimista. Caso as médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) permaneçam estagnadas nos valores atuais (0,43% e 0,3%, respectivamente), os números esperados para o último domingo de novembro (29/11) seriam os seguintes: 6.263.273 casos e 174.324 mortes.

Projeção otimista. Caso as médias semanais sigam caindo -0,05% por semana, os números esperados para o último domingo de novembro (29/11) seriam mais baixos, a saber: 5.886.685 casos e 165.596 mortes.

*

Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Para detalhes metodológicos, ver qualquer um dos três volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui e aqui).

* * *

24 outubro 2020

O my dear Cleinias, I am quite ashamed

Platão

And very unlike a divine man would he be, who is unable to count one, two, three, or to distinguish odd and even numbers, or is unable to count at all, or reckon night and day, and who is totally unacquainted with the revolution of the sun and moon, and the other stars. [...]

All freemen, I conceive, should learn as much of these branches of knowledge as every child in Egypt is taught when he learns the alphabet. In that country arithmetical games have been invented for the use of mere children, which they learn as a pleasure and amusement. [...]

O my dear Cleinias, I, like yourself, have late in life heard with amazement of our ignorance in these matters; to me we appear to be more like pigs than men, and I am quite ashamed, not only of myself, but of all Hellenes.

Fonte (português): Sagan, C. 1998 [1996]. O mundo assombrado pelos demônios. SP, Companhia das Letras. Trecho extraído do Livro 7 d’As Leis. A versão para o inglês é de Benjamin Jowett (1817-1893). Platão (427?-347? aC).

22 outubro 2020

A serenata


À D. Olga de Suckow.

Plenilúnio de Maio em montanhas de Minas!
Canta, ao longe, uma flauta e um violoncelo chora.
Perfuma-se o luar nas flores das campinas,
sutiliza-se o aroma em languidez sonora.

Ao doce encantamento azul das cavatinas,
nessas noites de luz mais belas do que a aurora,
as errantes visões das almas peregrinas
vão voando a cantar pela amplidão afora...

E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta.
Das montanhas, cantando, a névoa se levanta,
banhada de luar, de sonhos, de harmonia.

Com o profano rumor, porém, desponta o dia,
e na última porção da névoa transparente
a flauta e o violoncelo expiram lentamente.

Fonte (v. 6-8): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1892.

21 outubro 2020

Dúvida e certeza na ciência

J. Z. Young

Em seu laboratório, ele [o cientista] não consome muito do seu tempo pensando em leis científicas. Ele está atarefado com outras coisas, tentando fazer com que algum aparelho funcione, procurando um meio de medir mais exatamente alguma coisa ou realizando uma dissecação que mostre mais claramente as partes de um animal ou planta. Podemos desconfiar que ele mal sabe que lei está tentando provar. Ele está continuamente observando, mas o seu trabalho é, por assim dizer, um tatear no escuro. Quando pressionado para dizer o que está fazendo, talvez apresente um quadro de incerteza ou dúvida, até de verdadeira confusão.

Fonte: Kneller, G. F. 1980 [1978]. A ciência como atividade humana. RJ, Zahar & Edusp. Trecho extraído de livro publicado em 1951.

20 outubro 2020

Repertório comunicativo

Stanley Coren

[Meus] cães de estimação têm uma linguagem receptiva de aproximadamente 65 palavras ou frases e mais ou menos 25 sinais ou gestos, formando um vocabulário receptivo total de aproximadamente noventa itens. Eles possuem uma linguagem produtiva de mais ou menos 25 vocalizações e aproximadamente 35 gestos corporais, formando um vocabulário produtivo total de cerca de sessenta itens. Eles não mostram qualquer indício de sintaxe ou gramática. Se fossem crianças, estariam demonstrando o nível de linguagem habitual encontrado por volta dos 18 aos 22 meses de idade. [Bonobos] que aprenderam uma linguagem [mímica ou outra linguagem simbólica] podem atingir [em compreensão] marcas equivalentes às de uma criança de mais ou menos trinta meses de idade.

Fonte: Calvin, W. H. 1998 [1996]. Como o cérebro pensa. RJ, Rocco. Trecho extraído de livro publicado em 1994.

18 outubro 2020

Minha sombra

Jorge de Lima

De manhã a minha sombra
com meu papagaio e o meu macaco
começam a me arremedar.
E quando eu saio
a minha sombra vai comigo
fazendo o que eu faço
seguindo os meus passos.

Depois é meio-dia.
E a minha sombra fica do tamaninho
de quando eu era menino.
Depois é tardinha.
E a minha sombra tão comprida
brinca de pernas de pau.

Minha sombra, eu só queria
ter o humor que você tem,
ter a sua meninice,
ser igualzinho a você.

E de noite quando escrevo,
fazer como você faz,
como eu fazia em criança:
Minha sombra
você põe a sua mão
por baixo da minha mão,
vai cobrindo o rascunho dos meus poemas
sem saber ler e escrever.

Fonte: Lima, J. 1997. Jorge de Lima: Poesia, 5ª ed. RJ, Agir. Poema publicado em livro em 1929.

16 outubro 2020

A casa branca em Chelsea



Thomas Girtin (1775-1802). The white house at Chelsea. 1800.

Fonte da foto: Wikipedia.

14 outubro 2020

O boi da paciência

António Ramos Rosa

Noite dos limites e das esquinas nos ombros
noite por de mais aguentada com filosofia a mais
que faz o boi da paciência aqui?
que fazemos nós aqui?
este espectáculo que não vem anunciado
todos os dias cumprido com as leis do diabo
todos os dias metido pelos olhos adentro
numa evidência que nos cega
até quando?
Era tempo de começar a fazer qualquer coisa
os meus nervos estão presos na encruzilhada
e o meu corpo não é mais que uma cela ambulante
e a minha vida não é mais que um teorema
por demais sabido!

Na pobreza do meu caderno
como inscrever este céu que suspeito
como amortecer um pouco a vertigem desta órbita
e todo o entusiasmo destas mãos de universo
cuja carícia é um deslizar de estrelas?
Há uma casa que me espera
para uma festa de irmãos
há toda esta noite a negar que me esperam
e estes rostos de insónia
e o martelar opaco num muro de papel
e o arranhar persistente duma pena implacável
e a surpresa subornada pela rotina
e o muro destrutível destruindo as nossas vidas
e o marcar passo à frente deste muro
e a força que fazemos no silêncio para derrubar o muro
até quando? até quando?

Teoricamente livre para navegar entre estrelas
minha vida tem limites assassinos
Supliquei aos meus companheiros: Mas fuzilem-me!
Inventei um deus só para que me matasse
Muralhei-me de amor
e o amor desabrigou-me
Escrevi cartas a minha mãe desesperadas
colori mitos e distribuí-me em segredo
e ao fim e ao cabo
recomeçar
Mas estou cansado de recomeçar!
Quereria gritar: Dêem-me árvores para um novo recomeço!
Aproximem-me a natureza até que a cheire!
Desertem-me este quarto onde me perco!
Deixem-me livre por um momento em qualquer parte
para uma meditação mais natural e fecunda
que me limpe o sangue!
Recomeçar!

Mas originalmente com uma nova respiração
que me limpe o sangue deste polvo de detritos
que eu sinta os pulmões com duas velas pandas
e que eu diga em nome dos mortos e dos vivos
em nome do sofrimento e da felicidade
em nome dos animais e dos utensílios criadores
em nome de todas as vidas sacrificadas
em nome dos sonhos
em nome das colheitas em nome das raízes
em nome dos países em nome das crianças
em nome da paz
que a vida vale a pena que ela é a nossa medida
que a vida é uma vitória que se constrói todos os dias
que o reino da bondade dos olhos dos poetas
vai começar na terra sobre o horror e a miséria
que o nosso coração se deve engrandecer
por ser tamanho de todas as esperanças
e tão claro como os olhos das crianças
e tão pequenino que uma delas possa brincar com ele

Mas o homenzinho diário recomeça
no seu giro de desencontros
A fadiga substituiu-lhe o coração
As cores da inércia giram-lhe nos olhos
Um quarto de aluguer
Como preservar este amor
ostentando-o na sombra?
Somos colegas forçados
Os mais simples são os melhores
nos seus limites conservam a humanidade
Mas este sedento lúcido e implacável
familiar do absurdo que o envolve
com uma vida de relógio a funcionar
e um mapa da terra com rios verdadeiros
correndo-lhe na cabeça
como poderá suportar viver na contenção total
na recusa permanente a este absurdo vivo?

Ó boi da paciência que fazes tu aqui?
Quis tornar-te amável ser teu familiar
fabriquei projectos com teus cornos
lambi o teu focinho acariciei-te em vão

A tua marcha lenta enerva-me e satura-me
As constelações são mais rápidas nos céus
a terra gira com um ritmo mais verde que o teu passo
Lá fora os homens caminham realmente
Há tanta coisa que eu ignoro
e é tão irremediável este tempo perdido!
Ó boi da paciência sê meu amigo!

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1960.

13 outubro 2020

Concepto de gen

Salvador Luria

Hay dos formas de considerar un gen. La primera es pensar en la secuencia de ADN que programa, por medio del ARNm, la secuencia de los aminoácidos de una cierta proteína. Este concepto estaba contenido en la regla ‘un gene, una enzima’, formulada por Beadle y Tatum en 1941, que luego pasó a ser ‘un gen, una cadena de polipéptidos’ (ya que una enzima puede constar de más de un tipo de cadenas polipeptídicas). Esta definición bioquímica del gen era consecuencia de la idea, basada en experimentos con microorganismos, de que las mutaciones genéticas alteraban el funcionamiento de enzimas individuales, modificando la estructura de las proteínas enzimáticas. El otro concepto de gen, el clásico, ignoraba las funciones primarias y definía un gen como un factor hereditario que afecta a un carácter identificable de un organismo. Este era el concepto de Mendel, contenido en su famoso estudio de la herencia de los guisantes.

Fonte: Luria, S. E. 1977 [1975]. 36 lecciones de biología. H. Blume, Madri.

12 outubro 2020

Aniversário de 14 anos

F. Ponce de León

Nesta segunda-feira, 12/10, o Poesia contra a guerra completa 14 anos no ar (2006-2020).

Nos últimos 12 meses, foram publicados aqui pela primeira vez textos de 80 novos autores, além de textos de autores que já haviam sido publicados antes – ver ‘Aniversário de 13 anos’ e balanços anteriores.

Eis a lista de estreantes:

A. V. Hill, Albert Samain, Alfredo Luis Mateus, Altino Caixeta de Castro & Arthur Schopenhauer;

Cézar Henrique Barra Rocha, Charles Galton Darwin, Charles J. Krebs & Colin R. Townsend;

Darcy Monteiro, David H. Wise & Duglas Teixeira Monteiro;

Eduardo Langagne, Eduardo Viveiros de Castro, Edward S. Deevey Jr., Edwin Arlington Robinson & Erwin Schrödinger;

François-René de Chateaubriand;

George L. Clarke & Gordon Bottomley;

H. G. Andrewartha & Han Fei-Tzu;

J. M. Rubio Recio, J. Mayone Stycos, James Herndon, Jean-Yves Sgro, Jeremy J. Burdon, John Freeman, John L. Harper, José Carlos Limeira, José da Silva Lisboa, José Hélder de Souza & Julia Ward Howe;

Karl Sax;

Leo W. Buss, Londa Schiebinger, Louis Agassiz & Lourdes Teodoro;

Macfarlane Burnet, Marcelo R. L. Oliveira, Marcos Nascimento Magalhães, Maria Teresa de Freitas, Mark Selikowitz, Maya Pines, Merval Rosa, Michael Begon, Michael Bulmer, Michael J. Wade, Michael Renner & Miriam Alves;

Nei Lopes & Noémia de Sousa;

Patrick Cooke, Paul W. Ewald, Pedro Ignácio Schmitz & Pedro Luiz Mais;

R. Alan Wilson, Rémy Chauvin, Ricardo Arnt, Ricardo B. Medeiros, Richard Blackmore, Richard Brewer, Richard C. Francis, Rita de Cássia Pereira Carvalho & Roberto Bellarmino;

Sergio Antônio Vanin, Sheldon Ross, Shyima Hall, Sinclair Lewis, Susan Kalisz & Suzana Smith Cavalli;

Theresa Catharina de Góes Campos, Thomas Burton Bottomore & Thomas Hood;

Vittorio Alfieri;

W. H. Thorpe, Waldemar Lopes, Willard L. Sperry & William Whewell; e

Yone Rodrigues.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras de 31 pintores, a saber: Alexandre Thomas Francia e Anton Raphael Mengs; Camille Flers, Carle Vernet, Carlo Arienti, Carlo Carrà e Charles Le Brun; Duccio di Buoninsegna; Eleuterio Pagliano; Félicien Rops e František Kupka; George Stubbs, Gerolamo Induno e Giovanni Battista Biscarra; Honoré Daumier; Jacques-Émile Blanche, Jacques Raymond Brascassat, James Seymour, Jean-Louis Forain e John Wootton; Karl Wilhelm Diefenbach; Louis Hersent; Mariquita Jenny Moberly e Max Klinger; Nicolas-Toussaint Charlet; Paul-César Helleu, Paul Huet, Paul Nash, Peter Tillemans e Pieter Mulier de Jonge; Vincenzo Camuccini; Zach Weinersmith & três colegas dele (Maggie Koerth, Laura Bronner e Jasmine Mithani).

Outro registro digno de nota: em 8/9, foi feita a 3.000ª (terceira milésima) postagem. Em tempo: a 2.500ª foi feita 14/11/17; a 2.000ª, em 15/3/15; a 1.500ª, em 9/8/12; a 1.000ª, em 8/12/09; e a 500ª, em 26/12/07. A primeira postagem, não custa lembrar, foi ao ar em 12/10/06.

11 outubro 2020

História natural da moléstia infecciosa

Macfarlane Burnet

Se tomarmos como padrão de importância o maior mal ao maior número, não há dúvida de que a malária é a mais importante de todas as moléstias infecciosas. Em todas as zonas tropicais e subtropicais, onde haja congregação de gente, floresce a malária. Na Índia, calcula-se que cerca de cem milhões de pessoas estão infectadas pelo parasita responsável, e que cerca de dois milhões de mortes por anos são diretamente devidas à malária. A influência desse mal [se] estende muito além de suas óbvias atividades como causa de morte e de séria doença. É o grande desvitalizador dos trópicos – grande parte de atraso do camponês hindu é atribuída à malária – é, ainda, o agente principal da mortalidade infantil. Se a malária pudesse ser subitamente eliminada do globo, as consequências raciais, econômicas e políticas seriam tremendas dentro de poucos anos.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Trecho de livro originalmente publicado em 1953.

09 outubro 2020

Regresso da pesca


Alexandre Thomas Francia (1815-1884). Retour de pêche. s/d.

Fonte da foto: Wikipedia.

07 outubro 2020

Sperar, temere, rimembrar, dolersi

Vittorio Alfieri

  Sperar, temere, rimembrar, dolersi;
Sempre bramar, non appagarsi mai;
Dietro al ben falso sospirare assai,
Nè il ver (che ognun l’ha in se) giammai godersi:

  Spesso da più, talor da men tenersi,
Nè appien conoscer se, che in braccio a’guai:
E, giunto all’orlo del sepolcro omai,
Della mal spesa vita ravvedersi:

  Tal, credo, è l’uomo; o tale almen son io:
Benchè il core in ricchezze, o in vili onori,
Non ponga; e Gloria e Amore a me sien Dio.

  L’un mi fa di me stesso viver fuori;
Dell’altra in me ritrammi il bel desio:
Nulla ho d’ambi finor, che i lor furori.

Fonte (v. 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 2. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1789.

06 outubro 2020

Hungry spiders

David H. Wise

A predator is food limited if a shortage of prey limits population density. […]

Several attributes of spiders are consistent with the hypothesis that a shortage of prey has been a major selective factor over evolutionary time. Spiders can survive long periods of starvation, primarily by waiting for prey rather than by actively searching for it, and also by lowering their basal metabolic rate in the absence of enough prey to support growth and reproduction. Foraging patterns appear to have evolved under pressure from food limitation. For example, phenologies of orb weavers often coincide with the availability of insect prey in a way that appears to maximize energy input throughout the life cycle. Within a season, spatial foraging patterns of spiders appear to have been molded by prey shortages. It has been proposed that the sit-and-wait strategy of many spiders is an adaptation to a shortage of prey. When spiders change foraging sites they often re-locate in microhabitats of higher prey abundance. […]

Food is most likely not a limiting factor for all spider populations in all years or habitats. However, accumulating evidence, both indirect and direct, makes it clear that spiders are frequently hungry, to the point of exhibiting rates of growth and reproduction considerably below what is physiologically possible.

Fonte: Wise, D. H. 1993. Spiders in ecological webs. Cambridge, CUP.

04 outubro 2020

One truism of plant pathology

Jeremy J. Burdon

One truism of plant pathology is that most plants are resistant to most pathogens. Thus potatoes are not attacked by Puccinia graminis tritici, the causal organism of stem rust of wheat, nor is wheat attacked by Phytophthora infestans, the causal organism of potato late blight. Although some plant pathogens possess remarkably wide host range (for example, Pythium and Rhizoctonia species responsible for seedling damping-off diseases), the majority tend to be restricted to a few closely related host species. Even within individual host species, however, causal observation and rigorous experimental investigation have often found some resistant individuals within otherwise apparently uniformly susceptible species. The aim of this chapter is to develop an understanting of the extent and genetic basis of such disease resistance mechanisms in plants.

Fonte: Burdon, J. J. 1987. Diseases and plant population biology. Cambridge, CUP.

02 outubro 2020

Chafariz

Pedro Luiz Masi

Chafariz de carrancas
do Largo do Dirceu.
Quantas vezes mitigaste a sede
dos negros de Chico-Rei
na penosa subida para a igreja
do Alto da Cruz?

Talvez poetas
em noites boêmias
bebessem tuas águas frescas.

Hoje, carrancas,
feias, entupidas,
tentam chorar saudades.

Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus.

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