29 novembro 2020

Without why

Angelus Silesius

The rose is without why.
It blows because it blows.
It thinks not of itself,
And no display it shows.

Fonte (português): Buzzi, A. R. 1978. Introdução ao pensar, 7ª ed. Petrópolis, Vozes. Poema publicado em livro em 1657. A versão acima é de Paul Carus e foi publicada em 1909. Angelus Silesius é pseudônimo de Johann Scheffler.

28 novembro 2020

Zoraptera

José Albertino Rafael

Insetos hemimetábolos, terrestres, medindo menos de 4 mm de comprimento. [...] Os zorápteros [ocorrem] em todas as regiões biogeográficas, com exceção da Austrália. São mais comuns nas regiões tropicais e subtropicais. É a terceira menor ordem do mundo, com 34 espécies descritas, sendo a menor ordem de insetos na região Neotropical, com 18 espécies descritas. Somente Grylloblattaria e Mantophasmatodea possuem número menor de espécies, mas nenhuma ocorre na região Neotropical. No Brasil, são conhecidas seis espécies. A Reserva Ducke, em Manaus, é o local com maior número de espécies, quatro. Possuem corpo mole e são muito semelhantes a alguns psocópteros, diferenciando-se pela antena com nove artículos, moniliforme (filiforme em psocópteros), e cerco com um artículo (ausente em psocópteros).

Fonte (adaptado): Rafael, J. A. 2012. In: Rafael, J. A. & mais 4, eds. Insetos do Brasil. Ribeirão Preto, Holos.

25 novembro 2020

Fuga para o Egito de barco


Giambattista Tiepolo (1696-1770). Fuga in Egitto in barca. 1764-70.

Fonte da foto: Wikipedia.

23 novembro 2020

Da superstição à ciência

Fernando Dias de Ávila-Pires

Em cada uma das hipóteses propostas, existe algo de razoável e muito de especulação. Mas não resta dúvida de que no fundo de cada superstição existe a ignorância: o homem que crê no poder de comandar os fenômenos naturais, como a chuva, a seca e as epidemias, ignora os mecanismos que regulam os fenômenos meteorológicos, biológicos e ecológicos. Para ele, fazer chover por fórmulas químicas ou mágicas é a mesma coisa, uma vez que não compreende a natureza de nenhum dos dois métodos. Para ele, os medicamentos adquirem uma feição ou função mítica, e ele acredita na sua ação – que deve ser imediata.

Fonte: Ávila-Pires, F. D. 2000. Princípios de ecologia médica, 2ª ed. Florianópolis, Editora da UFSC.

21 novembro 2020

O trem

Alan Viggiano

Sai o trem
e a terra
treme.
Treme a terra
e se atreve
o trem.
Deus move!
Treme
o trem.

Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em libro em 2003.

19 novembro 2020

Ley de conservación de materia e energía

Siegfried Wiechowski

La observación de los fenómenos de desintegración radioactiva mediante el desarrollo de gran cantidad de energía y la comprobación teórica del equivalente másico de la energía, nos obligan a pensar y formular con mayor precisión dos leyes fundamentales del siglo XIX. Se trata de la ley de la conservación de la masa (o del peso) y la ley de la conservación de la energía, que en el siglo XIX se expresaban separadamente como sigue:

“La suma de las masas (pesos) de las substancias que participan en un proceso químico permanece constantemente antes y después de la reacción”, y, formulada aparte:

“En todos los fenómenos naturales en los que se producen modificaciones y transformaciones de energía, la suma de todos los tipos de energía que participan en el proceso es invariable”.

Hoy, cuando la transformación de materia en energía es una realidad comprobada, tiene ambas leyes una formulación única. La ley de conservación de materia y energía dice:

“En un sistema cerrado la suma de las masas de todas las partículas atómicas y de las masas de todas las formas de energía permanece invariable”, o, expresado más brevemente: “La suma de masa y energía permanece constante en todo sistema cerrado”.

Fonte: Wiechowski, S. 1966 [1963]. Historia del átomo. Barcelona, Labor.

17 novembro 2020

Autorretrato com o retrato da irmã


Rosalba Carriera (1675-1757). Autoritratto con il ritratto della sorella. 1715.

Fonte da foto: Wikipedia.

15 novembro 2020

Origem e evolução das cidades

Gideon Sjoberg

O que é uma cidade? É uma comunidade de dimensões e densidade populacional consideráveis, abrangendo uma variedade de especialistas não agrícolas, nela incluída a elite culta. Tenho fortes razões para mostrar a importância do papel da elite culta na vida urbana. Embora a linguagem escrita tenha levado séculos em sua evolução, sua presença serve como um meio conveniente de distinguir as comunidades genuinamente urbanas das outras que mesmo de grandes dimensões e alta densidade de população devem ser consideradas quase urbanas ou não urbanas. [...]

Sabe-se que as primeiras cidades formaram-se por volta de 3500 aC, no vale compreendido pelo Tigre e o Eufrates. [...]

Essas primeiras cidades eram muito parecidas [...]. Tinham uma base cultural e técnica semelhante. O trigo e a cevada eram os produtos agrícolas, o bronze [era] o metal, o arado era acionado por tração animal e havia veículos usando rodas. O líder da comunidade representava ao mesmo tempo o poder secular e o religioso; o tributo do campo ao deus da cidade era armazenado nos templos. [...]

Apesar da considerável diversidade cultural entre os povos do Oriente Próximo, da Ásia e do Novo Mundo, as primeiras cidades em todas essas regiões tinham em comum certas formas de organização. A dominante era a teocracia – apenas um líder acumulava as funções de rei e chefe espiritual. A elite morava na cidade; e mais, ela e seus dependentes congregavam-se particularmente no centro da cidade. [...] Tal concentração tinha uma dupla importância: em uma época em que a comunicação e o transporte eram rudimentares, a proximidade entre os membros da elite incentivava o intercâmbio de ideias; e, ao mesmo tempo, dava à classe dominante a máxima proteção contra ataques externos.

A uma distância maior desse núcleo urbano encontravam-se as lojas e residências dos artesãos – pedreiros, carpinteiros, ferreiros, joalheiros, ceramistas – muitos dos quais serviam à elite. A divisão do trabalho em ofícios, aparente nas primeiras cidades, tornou-se mais complexa com o decorrer do tempo. [...] Os mais pobres viviam nos arrabaldes da cidade, como alguns dos trabalhadores agrícolas; e, finalmente, suas habitações penetravam pelo campo.

A cidade, desde o seu início como residência de especialistas, tem sido contínua fonte de inovação. De fato, o próprio aparecimento das cidades acelerou fortemente a transformação social e cultural; usando um termo do arqueólogo inglês V. Gordon Childe, podemos dizer que a revolução urbana foi tão importante como a revolução agrícola que a precedeu e a revolução industrial que a segui. A cidade, de diversas maneiras, funcionava como um incentivo ao progresso.

Fonte: Sjoberg, G. 1977 [1967]. In: Vários. Cidades: A urbanização da humanidade. RJ, Zahar.

13 novembro 2020

Como e quando a vitória de Biden sobre Trump se tornou previsível

Felipe A. P. L. Costa [*]

A votação presencial para escolha do próximo presidente dos Estados Unidos ocorreu no dia 3/11.

Dois dias depois, na falta de resultados oficiais conclusivos, já tinha gente por aqui reclamando que a apuração estava lenta. Cheguei a ouvir jornalista dizendo que o sistema eleitoral dos Estados Unidos estava a anos-luz do sistema brasileiro...

Antes de tudo, não custa lembrar: o pleito envolveu uma porção de coisas, além da presidência do país. (Os eleitores também votaram em candidatos a deputados federais e senadores, por exemplo. Além disso, teve estado que fez consulta sobre temas e problemas locais.)

Falar em lerdeza dois dias após a eleição foi um exagero. Ou talvez tenha sido apenas um exercício de retórica visando instigar a audiência ou preencher o vazio criado pela desinformação e pelo desconhecimento.

Breve recapitulação.

Em artigo escrito na tarde do dia 4, e publicado neste GGN no mesmo dia (ver Os números que levam à Casa Branca), eu já alertava para o fato de que o candidato democrata, Joseph ‘Joe’ Biden, estava virando os resultados iniciais (desfavoráveis a ele) e deveria vender a corrida eleitoral. E tudo indicava que seria uma vitória relativamente folgada.

Eis o que escrevi no dia 4 (no artigo publicado no GGN e/ou em comentário publicado à noite, em outro lugar):

Segundo o The New York Times, seis estados ainda não seriam capazes de apontar um vencedor. (Segundo o britânico The Guardian seriam cinco.) São eles (entre parênteses, o número de delegados a serem eleitos em cada estado): Alasca (3), Nevada (6), Arizona (11), Pensilvânia (20), Carolina do Norte (15) e Geórgia (16).

Joe Biden lidera em dois desses estados (Nevada e Arizona). Caso se mantenha na liderança, obterá mais 17 delegados. Somados aos 253 que já tem, ele alcançaria os 270. Exatamente o número mínimo que precisa para vencer.

Ocorre que Biden está a avançar na Geórgia e na Pensilvânia. E o avanço é suficientemente rápido para levar a uma virada. O que deverá ser verificado (em um ou em ambos os estados) nas próximas horas. Com essa dupla virada, seriam mais 36 delegados. Salvo melhor juízo, portanto, o resultado final seria: 306 (Biden) x 232 (Trump).

Monitorando a Pensilvânia.

Não tenho bola de cristal. Nem foi um mero golpe de sorte. (Embora, a rigor, ainda estejamos longe dos resultados finais.)

O que aconteceu, então? Apenas decidi acompanhar de perto o que estava se passando.

No dia 4, eu passei a monitorar os resultados de dois estados, a Geórgia e, sobretudo, a Pensilvânia [1].

Neste último caso, logo percebi que o percentual de votos destinados ao candidato democrata crescia à medida que aumentava o total de votos apurados (ver a figura que acompanha este artigo). E não era uma relação frouxa ou errática. Ao contrário, era uma relação estreita e consistente, a ponto de permitir que se calculasse como e quando o candidato democrata ultrapassaria o republicano. E não deu outra...

Como diria um vizinho aqui de casa, um miligrama de matemática dissolvido em água costuma ser mais útil do que uma tonelada de conversa fiada e perdigotos.

*


FIGURA. Estreita relação existente entre o número de votos apurados no estado da Pensilvânia (eixo horizontal) e o percentual de votos destinados ao candidato democrata (eixo vertical). Observe como a linha tracejada toca ou passa perto de quase todos os pontos, um sinal de que a relação é bastante significativa e nada tem de aleatória. Joe Biden assumiu a liderança na tarde do dia 6 (ponto em vermelho escuro).

*

Coda.

Diante da inevitável derrota, a respeito da qual, aliás, deve ter sido informado já no dia 4 (ou mesmo no dia anterior), restou a Donald Trump fazer beicinho e gerar confusão.

Como já tive chance de escrever em artigos anteriores, ele não quer largar o osso. Está quebrado e endividado. E é um sonegador. Os cães estão esperando por ele do lado de fora e os petiscos acabaram. Tem medo do que o espera: a sarjeta ou o xilindró.

Enquanto isso, os EUA seguem a bater recordes sucessivos no número de novos casos de Covid-19.

O atual presidente dos EUA despreza todo mundo, a começar pelos seus próprios compatriotas. Porém, ainda que a custa de muito fórceps, ele será enxotado de Washington.

*

Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Estou a acompanhar os resultados das eleições estadunidenses com base nos números divulgados por dois jornais, The Guardian e The New York Times.

* * *

12 novembro 2020

14 anos e um mês no ar

F. Ponce de León

Nesta quinta-feira, 12/11, o Poesia contra a guerra completa 14 anos e um mês no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Aniversário de 14 anos’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Clifford C. Furnas, J. Z. Young, Manuel Leote Esquível, Pierre Reverdy, Platão, R. J. Palacio, Robert Hayden, Salvador Luria e Stanley Coren. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: John Russell, Paul Sandby e Thomas Girtin.

10 novembro 2020

O cântaro quebrado

Eduardo Guerra Carneiro

Foi então que vi luzir no firmamento
as claraboias da minha salvação. Era negra
a Lua e as sete estrelas marcavam a estrada,
nítido caminho por onde iria navegar 
até ao zero do infinito. Pedi a um Deus
distante as provas evidentes e aí estavam,
na aparição vinda do eclipse.

Falavas tu de um cântaro quebrado
mas o que pretendias era outra taça
onde guardar o tesouro dos segredos.
Misturavas no barro estrelas e vulcões
e sobrava-te apenas o lixo que escorria
pelas fendas desse cântaro tão usado.
Agora sim: aí tens almofariz.

Não sabes, talvez, usar esta ânfora
encontrada, preciosa, que tens tu de encher
de novidades, sorrisos até, esquecendo
as lágrimas. Não me fales de cantarização!
Teu cântaro rachado nada vale!
Olha-me de frente o sete-estrelo e parte
ao encontro das novas galáxias.

Não era nas veredas medonhas dos subúrbios
que podias encontrar as trovas. Bastava,
vê lá tu!, olhar mais céu e céu
e em noite de eclipse saberes que a Terra
era essa sombra a enegrecer a Lua.
Depois sentias um abraço, outro e outro,
e respiravas agora nessa paz.

Vai então, contador de histórias, e constrói
a nave dos milagres. Procura tudo e todos
nos mínimos sentidos, no lírio das bermas,
na nuvem secreta, nas formigas, no bosque
que se forma ao virar da esquina.
É no real que encontras o sentido último
do mais profundo e mágico mundo novo.

Navegador do infinito: és meu príncipe.
E no princípio de tudo saberás que o fim
também está. Um caldeirão imenso agora
tens para a mistura e não o cântaro.
quebrado que teimavas usar. Desculpas
de poeta, eu sei!, mas o barro mal tratado
desfazia-se em negrume nos teus dedos.

Deita para trás os vícios da linguagem
e apega-te, lusíada, aos versos.
Mas de outra forma, pois tens
o mote, vindo lá do fim de tudo.
que sabes ser princípio. No caos
entraste para lhe descobrires a harmonia.
Ele deu-te as leis – procura usá-las.

Não temas que te acusem do pior
se a verdade é esta e a queres doar
doa a quem doer. Insiste, abusa,
faz, refaz e torna a fazer.
A divindade das palavras está
na solene repetição. Foi então
que vi luzir no firmamento as claraboias...

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1993.

09 novembro 2020

Extraordinário

R. J. Palacio

Sei que não sou um garoto de dez anos comum. Quer dizer, é claro que faço coisas comuns. Tomo sorvete. Ando de bicicleta. Jogo bola. Tenho um Xbox. Essas coisas me fazem ser comum. Por dentro. Mas sei que as crianças comuns não fazem outras crianças comuns saírem correndo e gritando do parquinho. Sei que os outros não ficam encarando as crianças comuns aonde quer que elas vão.

Se eu encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse fazer um desejo, pediria para ter um rosto comum, em que ninguém nunca prestasse atenção. Pediria para poder andar na rua sem que as pessoas me vissem e depois fingissem olhar para o outro lado. Sabe o que eu acho? A única razão de eu não ser comum é que ninguém além de mim me enxerga dessa forma.

Fonte: Palacio, R. J. 2013. Extraordinário. RJ, Intrínseca. R. J. Palacio é pseudônimo de Raquel Jaramillo.

07 novembro 2020

A face da Lua


John Russell (1745-1806). The face of the Moon. 1793-7.

Fonte da foto: Wikipedia.

05 novembro 2020

Middle passage

Robert Hayden

1.
Jesús, Estrella, Esperanza, Mercy:

  Sails flashing to the wind like weapons,
  sharks following the moans the fever and the dying;
  horror the corposant and compass rose.

Middle Passage:
 voyage through death
    to life upon these shores.

  “10 April 1800 –
  Blacks rebellious. Crew uneasy. Our linguist says
  their moaning is a prayer for death,
  ours and their own. Some try to starve themselves.
  Lost three this morning leaped with crazy laughter
  to the waiting sharks, sang as they went under.”

Desire, Adventure, Tartar, Ann:

  Standing to America, bringing home
  black gold, black ivory, black seed.

    Deep in the festering hold thy father lies,
    of his bones New England pews are made,
    those are altar lights that were his eyes.

Jesus Saviour Pilot Me
Over Life’s Tempestuous Sea

We pray that Thou wilt grant, O Lord,
safe passage to our vessels bringing
heathen souls unto Thy chastening.

Jesus Saviour

  “8 bells. I cannot sleep, for I am sick
  with fear, but writing eases fear a little
  since still my eyes can see these words take shape
  upon the page & so I write, as one
  would turn to exorcism. 4 days scudding,
  but now the sea is calm again. Misfortune
  follows in our wake like sharks (our grinning
  tutelary gods). Which one of us
  has killed an albatross? A plague among
  our blacks – Ophthalmia: blindness – & we
  have jettisoned the blind to no avail.
  It spreads, the terrifying sickness spreads.
  Its claws have scratched sight from the Capt.’s eyes
  & there is blindness in the fo’c’sle
  & we must sail 3 weeks before we come
  to port.”

    What port awaits us, Davy Jones’
    or home? I’ve heard of slavers drifting, drifting,
    playthings of wind and storm and chance, their crews
    gone blind, the jungle hatred
    crawling up on deck.

Thou Who Walked On Galilee

  “Deponent further sayeth The Bella J
  left the Guinea Coast
  with cargo of five hundred blacks and odd
  for the barracoons of Florida:

  “That there was hardly room ’tween-decks for half
  the sweltering cattle stowed spoon-fashion there;
  that some went mad of thirst and tore their flesh
  and sucked the blood:

  “That Crew and Captain lusted with the comeliest
  of the savage girls kept naked in the cabins;
  that there was one they called The Guinea Rose
  and they cast lots and fought to lie with her:

  “That when the Bo’s’n piped all hands, the flames
  spreading from starboard already were beyond
  control, the negroes howling and their chains
  entangled with the flames:

  “That the burning blacks could not be reached,
  that the Crew abandoned ship,
  leaving their shrieking negresses behind,
  that the Captain perished drunken with the wenches:

  “Further Deponent sayeth not.”

Pilot Oh Pilot Me

2.
Aye, lad, and I have seen those factories,
Gambia, Rio Pongo, Calabar;
have watched the artful mongos baiting traps
of war wherein the victor and the vanquished

Were caught as prizes for our barracoons.
Have seen the nigger kings whose vanity
and greed turned wild black hides of Fellatah,
Mandingo, Ibo, Kru to gold for us.

And there was one – King Anthracite we named him –
fetish face beneath French parasols
of brass and orange velvet, impudent mouth
whose cups were carven skulls of enemies:

He’d honor us with drum and feast and conjo
and palm-oil-glistening wenches deft in love,
and for tin crowns that shone with paste,
red calico and German-silver trinkets

Would have the drums talk war and send
his warriors to burn the sleeping villages
and kill the sick and old and lead the young
in coffles to our factories.

Twenty years a trader, twenty years,
for there was wealth aplenty to be harvested
from those black fields, and I’d be trading still
but for the fevers melting down my bones.

3.
Shuttles in the rocking loom of history,
the dark ships move, the dark ships move,
their bright ironical names
like jests of kindness on a murderer’s mouth;
plough through thrashing glister toward
fata morgana’s lucent melting shore,
weave toward New World littorals that are
mirage and myth and actual shore.

Voyage through death,
    voyage whose chartings are unlove.

A charnel stench, effluvium of living death
spreads outward from the hold,
where the living and the dead, the horribly dying,
lie interlocked, lie foul with blood and excrement.

  Deep in the festering hold thy father lies,
  the corpse of mercy rots with him,
  rats eat love’s rotten gelid eyes.

  But, oh, the living look at you
  with human eyes whose suffering accuses you,
  whose hatred reaches through the swill of dark
  to strike you like a leper’s claw.

  You cannot stare that hatred down
  or chain the fear that stalks the watches
  and breathes on you its fetid scorching breath;
  cannot kill the deep immortal human wish,
  the timeless will.

    “But for the storm that flung up barriers
    of wind and wave, The Amistad, señores,
    would have reached the port of Príncipe in two,
    three days at most; but for the storm we should
    have been prepared for what befell.
    Swift as the puma’s leap it came. There was
    that interval of moonless calm filled only
    with the water’s and the rigging’s usual sounds,
    then sudden movement, blows and snarling cries
    and they had fallen on us with machete
    and marlinspike. It was as though the very
    air, the night itself were striking us.
    Exhausted by the rigors of the storm,
    we were no match for them. Our men went down
    before the murderous Africans. Our loyal
    Celestino ran from below with gun
    and lantern and I saw, before the cane-
    knife’s wounding flash, Cinquez,
    that surly brute who calls himself a prince,
    directing, urging on the ghastly work.
    He hacked the poor mulatto down, and then
    he turned on me. The decks were slippery
    when daylight finally came. It sickens me
    to think of what I saw, of how these apes
    threw overboard the butchered bodies of
    our men, true Christians all, like so much jetsam.
    Enough, enough. The rest is quickly told:
    Cinquez was forced to spare the two of us
    you see to steer the ship to Africa,
    and we like phantoms doomed to rove the sea
    voyaged east by day and west by night,
    deceiving them, hoping for rescue,
    prisoners on our own vessel, till
    at length we drifted to the shores of this
    your land, America, where we were freed
    from our unspeakable misery. Now we
    demand, good sirs, the extradition of
    Cinquez and his accomplices to La
    Havana. And it distresses us to know
    there are so many here who seem inclined
    to justify the mutiny of these blacks.
    We find it paradoxical indeed
    that you whose wealth, whose tree of liberty
    are rooted in the labor of your slaves
    should suffer the august John Quincy Adams
    to speak with so much passion of the right
    of chattel slaves to kill their lawful masters
    and with his Roman rhetoric weave a hero’s
    garland for Cinquez. I tell you that
    we are determined to return to Cuba
    with our slaves and there see justice done. Cinquez –
    or let us say ‘the Prince’ – Cinquez shall die.”

The deep immortal human wish,
the timeless will:

    Cinquez its deathless primaveral image,
    life that transfigures many lives.

Voyage through death
      to life upon these shores.

Fonte (v. 1-7): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Poema publicado em livro em 1962. (Uma primeira versão foi publicada em 1945.)

03 novembro 2020

Son de cloche

Pierre Reverdy

  Tout s’est s’éteint
    Le vent passe
En chantant
  Et les arbres frissonnent
Les animaux sont morts
Il n’y a plus personne
      Regarde
Les étoiles ont cessé de briller
    La terre ne tourne plus
Une tête s’est inclinée
  Les cheveux balayant la nuit
Le dernier clocher resté debout
  Sonne minuit

Fonte (v. 1-5, 8-13): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1918.

01 novembro 2020

O resfriado comum

Clifford C. Furnas

O resfriado comum custa à nação dois bilhões de dólares por ano. O tempo de produção perdido, por causa do resfriado, sobe a cerca de 100 milhões de dias de trabalho por ano. As dores de cabeça, o mau humor, a eficiência diminuída, a debilidade geral, a melancolia contagiosa, causados por esta doença pestífera, não podem ser avaliados em dinheiro, mas todos pagariam de bom grado para evitá-los.

As epidemias que matam são as que chamam mais a atenção do público e são vistas com o maior alarma, mas sociologicamente o resfriado comum traz um prejuízo muito maior nos anos normais do que qualquer das outras doenças infectuosas.

Fonte: Furnas, C. C. 1942 [1936]. Os próximos cem anos. SP, Nacional.

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