31 janeiro 2023

Após um início de ano algo errático, as taxas (casos e mortes) tornaram a cair simultaneamente

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas (mundiais e nacionais) a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). Em escala planetária, já foram registrados 670 milhões de casos e 6,82 milhões de mortes; em escala nacional, 36,79 milhões de casos e 696,8 mil mortes. No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 23 e 29/12, as taxas ficaram em 0,0296% (casos) e 0,0103% (mortes). Ambas caíram em relação aos valores da semana anterior. Máscaras e vacinas seguem sendo as nossas principais armas para frear a pandemia e puxar de vez as estatísticas para baixo.

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1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas obtidas na manhã de hoje (30/1) [1], eis um resumo da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 670.400.456) e 68% das mortes (de um total de 6.824.235) [3].

(B) – Nesses 20 países, 480 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 96% dos casos. Em escala global, 647 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (a) Em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelo Japão, agora com 3,16 milhões de novos casos; (b) Entre os cinco primeiros da lista, estão ainda os Estados Unidos (1,50 milhão), a Coreia do Sul (1,02), Taiwan (611 mil) e o Brasil (463); e (c) A lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (14,6 mil); em seguida aparecem Japão (10,13 mil), Alemanha (3,98), Brasil (2,91) e Itália (2,19). Sem esquecer que houve um recrudescimento na China e que as estatísticas de lá deram um salto: nas últimas quatro semanas, foram anotadas mais 74.112 mortes.

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 23-29/1.

Ontem (29/1), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 483 casos e 2 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 36.794.261 casos e 696.759 mortes.

Na semana encerrada ontem (23-29/1), foram registrados 76.208 casos e 502 mortes. As duas estatísticas caíram em relação aos números da semana anterior (16-22/1: 89.954 casos e 914 mortes).

3. O RITMO DA PANDEMIA EM TERRAS BRASILEIRAS.

Para monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia, sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas estão a recuar. Eis os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,0350% (16-22/1) para 0,0296% (23-29/1) (ver a figura que acompanha este artigo) [4].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0188% (16-22/1) para 0,0103% (23-29/12).

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 19/6/2022 e 29/1/2023. (Para resultados anteriores, ver aqui.)

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4. CODA.

A pandemia não acabou. As estatísticas – tanto aqui como em vários outros países – ainda são vergonhosas.

Em âmbito nacional, porém, a boa notícia é que, após um início de ano algo errático, as taxas (casos e mortes) tornaram a cair simultaneamente (ver a figura que acompanha este artigo).

Máscaras e vacinas seguem sendo as melhores armas que nós temos para impedir novas escaladas e puxar de vez as estatísticas para baixo. Em qualquer lugar do mundo. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 11 grupos: (a) Entre 100 e 110 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 35 e 40 milhões – França, Alemanha e Brasil; (d) Entre 30 e 35 milhões – Japão e Coreia do Sul; (e) Entre 25 e 30 milhões – Itália; (f) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido e Rússia; (g) Entre 15 e 20 milhões – Turquia (estatísticas congeladas); (h) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (i) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã, Austrália e Argentina; (j) Entre 8 e 10 milhões – Taiwan e Países Baixos; e (k) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

[4] Para conferir os valores numéricos, ver aqui (entre 27/12/2021 e 26/6/2022) e aqui (semanas anteriores).

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29 janeiro 2023

Love bade me welcome

George Herbert

Love bade me welcome: yet my soul drew back,
   Guiltie of dust and sinne.
But quick-ey’d Love, observing me grow slack
   From my first entrance in,
Drew nearer to me, sweetly questioning,
   If I lack’d any thing.

A guest, I answer’d, worthy to be here:
   Love said, You shall be he.
I the unkinde, ungratefull? Ah my deare,
   I cannot look on thee.
Love took my hand, and smiling did reply,
   Who made the eyes but I?

Truth Lord, but I have marr’d them: let my shame
   Go where it doth deserve.
And know you not, sayes Love, who bore the blame?
  My deare, then I will serve.
You must sit down, sayes Love, and taste my meat:
  So I did sit and eat.

Fonte (v. 17-18): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 2, 4ª ed. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1633. Referido também como ‘Love (III)’, este é o terceiro de três poemas publicados com o título de ‘Love’.

27 janeiro 2023

Dentadas, ideias e a craniologia

Thomas H. Huxley

[N]enhum homem racional, bem informado, acredita que o negro médio seja igual, e muito menos superior, ao branco médio. E, se isto for verdade, é simplesmente inadmissível que, uma vez eliminadas todas as incapacidades de nosso parente prógnato, este possa competir em condições justas, sem ser favorecido nem oprimido, e esteja habilitado a competir com êxito com seu rival de cérebro maior e mandíbula menor em um confronto em que as armas já não são as dentadas, mas as ideias.

Fonte: Gould, S. J. 1991 [1981]. A falsa medida do homem. SP, Martins Fontes. Extrato de artigo originalmente publicado em 1865.

25 janeiro 2023

Náufrago sem boia

Poh Pin Chin

O temporal chegou.
Veio abraçar a tarde
e inaugurar a noite.

As éguas,
no pasto de cima,
se abrigam na baia.

As vacas,
no pasto de baixo,
se escondem sob um
gigantesco arbusto,

o mesmo que segura
a trilha tortuosa e frágil
que divisa o terreno.

Dentro de casa,
entre éguas e vacas,
tal qual náufrago sem boia,

vejo a poça que se junta
lá fora e me cerca. Enfim,
me deito, já com o cheiro
de chuva a subir pelas paredes.

23 janeiro 2023

Uso e gerenciamento de recursos pelos ianomâmis

Kenneth I. Taylor

O uso e gerenciamento de recursos naturais pelos ianomâmi incluem a caça, a pesca e a coleta de recursos da fauna, a coleta e reunião de recursos florais e o cultivo itinerante de bananas, mandioca, diversas variedades de tubérculos como a batata e várias outras plantações menores. [...] [A] floresta fornece em abundância tudo de que precisam para se alimentarem bem e terem uma vida saudável e gratificante. Até hoje, não há evidência de que eles tenham usado seus recursos excessivamente ou que, de alguma forma, tenham degradado o ambiente. [...]

Uma aldeia ianomâmi é uma clareira aberta na floresta com um ou mais tipos de casas usadas pelos seus diversos subgrupos. Diretamente associada ao lugar, há uma fonte permanente de água num riacho ou rio vizinho. Saindo da aldeia há várias trilhas que levam aos campos que estão sendo utilizados no momento, aos campos abandonados, à caça, à pesca e a locais de coleta, de acampamento e a outras aldeias. [...]

Essa rede de trilhas complexa e sempre em mudança e os lugares que elas ligam não são, é claro, distribuídos uniformemente num círculo na floresta. Na área ianomâmi, quando se viaja pela floresta, mesmo que por alguns poucos minutos, uma das coisas mais impressionantes que se nota é a sua extraordinária diversidade.

Fonte: Taylor, K. I. 1997 [1988]. In: Wilson, E. O., ed. Biodiversidade. RJ, Nova Fronteira.

20 janeiro 2023

Sono é um pouco da morte represada

Daniel Mazza

Sono é um pouco da morte represada
Nas comportas da noite intermitente.
E o operário-dia terminada
A faina logo as fecha prontamente.

É que a morte não pode livremente
Como um rio correr, ilimitada.
Pois chegando à sua foz rapidamente
O mar da vida seca na enxurrada.

A água em silêncio, represada,
De um rio prisioneiro é dependente
De qualquer mão que a deixe libertada.

Mas a morte transborda interiormente,
O tempo chove as horas e a extravasa
Um pouco a cada noite... Sempre e sempre...

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 2007.

18 janeiro 2023

Metade das mortes está concentrada hoje em quatro países: EUA, Japão, Alemanha e Brasil

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas (mundiais e nacionais) a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). Em escala planetária, já foram registrados 667 milhões de casos e 6,72 milhões de mortes; em escala nacional, 36,63 milhões de casos e 695,3 mil mortes. Nas últimas quatro semanas, foram registradas em todo o mundo 56,8 mil mortes, 51% delas em apenas quatro países (Estados Unidos, Japão, Alemanha e Brasil).

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1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas mundiais obtidas no início da manhã de hoje (16/1) [1], eis um resumo da situação.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 667.061.789) e 69% das mortes (de um total de 6.723.944) [3].

(B) – Nesses 20 países, 476 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 96% dos casos. Em escala global, 643 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (a) Em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelo Japão, agora com 4,3 milhões de novos casos; (b) Entre os cinco primeiros da lista, estão ainda os Estados Unidos (1,72 milhão), a Coreia do Sul (1,61), o Brasil (759) e a Alemanha (659); e (c) A lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (12,11 mil); em seguida aparecem Japão (9,4 mil), Alemanha (4,04), Brasil (3,53) e França (2,99). Preocupa saber que, em quatro desses cinco países (a exceção é o Brasil), o número de mortes aumentou em relação aos números da semana anterior.

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 9-15/1.

Ontem (15/1), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 3.385 casos e 5 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 36.628.099 casos e 695.343 mortes.

Na semana encerrada ontem (9-15/1), foram registrados 132.949 casos e 868 mortes. Em relação aos números da semana anterior, a primeira subiu e a segunda caiu (2-8/1: 132.949 casos e 868 mortes).

3. ESTATÍSTICAS VERGONHOSAS.

A pandemia não acabou. Nenhum país, portanto, está livre do problema. Assim, soa estranho perceber que boa parte da imprensa parece ter varrido o assunto para debaixo do tapete. Ainda que o desleixo e a preguiça sejam mais comuns em certos lugares e menos comum em outros.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o New York Times segue a reportar diariamente as taxas de crescimento (casos e mortes). Grande parte da imprensa brasileira, no entanto, abandonou a pauta. O Jornal Nacional, por exemplo, que reportava diariamente as estatísticas brasileiras, parece ter se cansado e passou a ignorar o assunto (já lá se vão várias semanas).

Ocorre que as estatísticas – tanto aqui como em vários outros países – ainda são vergonhosas. Olhando, por exemplo, para os quatro países onde a doença mais mata atualmente, a conclusão seria a seguinte: estão a morrer, todos os dias, 432 estadunidenses, 334 japoneses, 144 alemães e 126 brasileiros.

4. CODA.

Máscaras e vacinas seguem sendo as melhores armas que nós temos para frear as escaladas e puxar as estatísticas para baixo. Em qualquer lugar do mundo. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 10 grupos: (a) Entre 100 e 110 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 35 e 40 milhões – França, Alemanha, Brasil e Japão; (d) Entre 25 e 30 milhões – Coreia do Sul e Itália; (e) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido e Rússia; (f) Entre 15 e 20 milhões – Turquia; (g) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (h) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã, Austrália e Argentina; (i) Entre 8 e 10 milhões – Taiwan e Países Baixos; e (j) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

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16 janeiro 2023

Ponte sobre o rio


Pierre Adolphe Valette (1876-1942). Windsor Bridge on the Irwell. 1909.

Fonte da foto: Wikipedia.

14 janeiro 2023

“Se me dei bem!” – disse o rei para a sunga

F. Ponce de León

Em um reino tão, tão distante, chamado Reino da Gambiarra, vivia uma gente triste e infeliz. O reino era comandado por um rei mau, muito mau. Mau e preguiçoso. Seu nome era Desmiolado.

Todas as propriedades do reino haviam sido confiscadas pelo rei. Não à toa, além de infeliz, o povo do lugar vivia doente e esfomeado.

Os estrangeiros que visitavam o reino saíam de lá com uma péssima impressão. Sobretudo por causa do rei. O que mais impressionava os visitantes era a sensação de vazio transmitida por ele.

Há quem diga que o vazio é pior do que a maldade. Talvez porque o vazio seja a antessala da maldade – e o vazio total, a antessala da maldade absoluta. Seja como for, o fato é que mentes normais costumam relatar algum tipo de mal-estar quando estão diante de uma mente vazia. (O problema, claro, não se restringe ao Reino da Gambiarra.)

Os anos se passaram. Até que o povo se cansou e decidiu destronar o rei. Além de perder a coroa, Desmiolado foi levado a julgamento – inúmeras acusações pesavam contra ele.

Ao final dos trabalhos, ele foi declarado culpado. A pena incluía o confisco dos bens que ele havia pilhado e o degredo para o Reino da Idiotia. Antes, porém, de a pena ser aplicada, os juízes submeteram o réu a um teste final: O teste da cela vazia.

Estudiosos defendiam a ideia de que a comprovação final de que estamos diante de uma mente vazia depende da realização do teste da cela vazia. E assim foi feito.

Desmiolado foi colocado em uma cela vazia, vestindo apenas una sunga de banho e tendo a companhia apenas e tão somente de uma bolinha de gude. Do lado de fora da cela, a equipe monitorava o que se passava lá dentro.

Pois a equipe não precisou aguardar mais do que 30 minutos. Foi o tempo que Desmiolado levou para ver a bolinha de gude. Assim que a viu, ele a apanhou e a engoliu. Deu uma risadinha sarcástica para si mesmo e, olhando para a sunga, disse orgulhoso: “Se me dei bem!”

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13 janeiro 2023

A cordilheira do Himalaia

A. John de Boer

A região do Himalaia, que serve de lar a mais de 45 milhões de pessoas, estende-se por grandes partes da Índia, Paquistão, Nepal, [Butão] e China. É a fonte de muitos dos maiores sistemas fluviais do mundo – incluindo o Ganges, o Indus, o Brahmaputra, o Mekong, o Sallween e o Yangtze – e, portanto, direta e indiretamente, afeta mais de um terço da população do mundo que vive nessas grandes baciais fluviais. Os Himalaias constituem a maior e a mais recente cordilheira do mundo, estendendo-se por [2.500 km] ao longo do eixo Leste-Oeste e cobrindo mais de 0,5 milhão de quilômetros quadrados. A largura da cordilheira varia de 325 a 425 km. A combinação de alta precipitação pluviométrica sazonal e grande altitude torna essas montanhas uma usina de força, de tipo na maior parte renovável, uma vez que seu vasto potencial de geração de energia hidrelétrica permanece subdesenvolvido.

Fonte: Boer, A. J. 1992. In: H. J. Leonard, org. Meio ambiente e pobreza. RJ. Jorge Zahar.

12 janeiro 2023

16 anos e três meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quinta-feira, 12/1, o Poesia Contra a Guerra completa 16 anos e três meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘16 anos e dois meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Adolf Remane, Aldo Palazzeschi, Colombo C. G. Tassinari e R. H. Lowe-McConnell. Além de textos de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Berlinghiero Berlinghieri, L. S. Lowry, Latuff e Marie Lucas-Robiquet.

10 janeiro 2023

“Fígado com jiló e croissant sem recheio” – O desabafo de um homem de bem

F. Ponce de León

Terroristas reunidos em Brasília, oriundos dos quatro cantos do país, invadiram e vandalizaram instalações do Estado brasileiro (Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto). Um crime sem precedente na história do país. Isso foi no domingo, 8/1 (ver aqui). Contaram para tanto com a conivência ou mesmo com a colaboração de algumas autoridades, tanto locais como federais.

A reação do governo federal teve início no mesmo dia. E promete ser dura, como bem exige a situação. Os golpistas, claro, se veem agora como vítimas injustiçadas, indefesas e perseguidas. E o pior: Ainda que a maioria da opinião pública esteja a condenar o que houve – descrito por muitos observadores como uma tentativa de golpe –, gente de má-fé já começou a relativizar e a soltar fumaça em torno do episódio. Quando digo gente de má-fé estou a me referir, entre outras coisas, a alguns delinquentes que ganham a vida como ‘jornalistas’. Um desses delinquentes bem poderia ter escrito o texto a seguir.

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Democratas brasileiros foram detidos ontem e anteontem (8-9/1) pela polícia política da ditadura bolivariana que se instalou no país. Do mesmo modo como agiam os romanos, dois mil anos atrás, entre 1,2 e 1,5 mil cristãos estão amontoados em prisões construídas pelo PT. Onde? Em vias subterrâneas que acompanham a W3 Norte e a L2 Sul, em Brasília.

Quem conhece o lugar conta que as instalações são úmidas e escuras. O ar condicionado não funciona direito. O sinal de internet é fraco e o 5G foi cortado. Há quem diga também que as conversas telefônicas estão a ser grampeadas. Assim como estariam sendo grampeadas – e plagiadas – as aulas de ioga e boas maneiras que o grupo promove nos dias de semana. (Além de arrecadar fundos para o movimento, as aulas têm um propósito político nobre e explícito: Sensibilizar corações e mentes que ainda não foram capturados e corroídos pelo ateísmo militante imposto aos brasileiros pelo novo governo.)

Nem todos os presos políticos, porém, se intimidaram por completo diante dos verdugos. Sem receio de colocar a própria vida em perigo, alguns democratas resolveram denunciar as torturas a que estão sendo submetidos. Contando com a solidariedade de amigos e parentes, alguns deles conseguiram fazer com que documentos importantes ganhassem a luz do dia. Esse material atesta justamente o que estou a dizer aqui.

Um dos documentos, em especial, me chamou muito a atenção. Trata-se de um bilhete escrito com sangue em uma folha de papel sulfite. A grafia é trêmula, mas legível. O que é descrito ali não tem paralelo na história da humanidade, nem mesmo entre as tiranias mais cruéis. Segundo o autor, as condições de vida lá dentro são ultrajantes e beiram a senzala. Ao descrever o tipo de coisa que está sendo obrigado a ingerir na hora das refeições, o nosso homem de bem desabafou: “Isca de fígado com jiló, arroz com brócolis e – acredite se quiser – croissant sem recheio”.

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07 janeiro 2023

Indo para o trabalho


L. [Laurence] S. [Stephen] Lowry (1887-1976). Going to work. 1943.

Fonte da foto: Wikipedia.

05 janeiro 2023

Puzzle

Carlos de Oliveira

1.
O sono
cresce como
se
uma anestesia
ténuescura
se
propagasse
do cérebro
pela rede nervosa
friamente
até aos dedos
e o tacto
dos homens
esquecesse

2.
as mulheres
em que o sangue
transporta
com
leveza
o esquema interior
duma árvore
à procura
de poros e ar
para florir
o sono
fazendo-as
esquecer
os homens

3.
e assim
as peças
do puzzle
deslembradas
de entrar
umas
nas outras
transformam-se
em rios paralelos
correm
lado a lado
toda a noite
no mesmo leito
estéril.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1968.

02 janeiro 2023

O desgoverno chegou ao fim, a pandemia ainda não

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas (mundiais e nacionais) a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso brasileiro, embora o governo de extrema direita tenha chegado ao fim, a crise sanitária ainda não chegou. A campanha de vacinação deve ser acelerada. Assim como o uso de máscara em recintos fechados deve ser incentivado. Não custa lembrar: Máscaras e vacinas são as armas que nós temos para frear as escaladas e puxar as estatísticas para baixo.

*

1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas mundiais obtidas na manhã de hoje (2/1) [1], eis um resumo da situação.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 660.830.826) e 69% das mortes (de um total de 6.691.458) [3].

(B) – Nesses 20 países, 471 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 96% dos casos. Em escala global, 637 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (a) Em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelo Japão, agora com 4,1 milhões de novos casos; (b) Entre os cinco primeiros da lista, estão ainda a Coreia do Sul (1,81 milhão), os Estados Unidos (1,75), a França (1,32) e o Brasil (994 mil); e (c) A lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (10,9 mil); em seguida aparecem Japão (7,2 mil), Brasil (3,8), Alemanha (3,4) e Itália (2,9).

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 26/12-1/1.

Ontem (1/1), de acordo com números extraoficiais (aqui), foram registrados em nove estados mais 2.846 casos e 8 mortes. (18 unidades da federação não divulgaram suas estatísticas: AC, AL, AP, DF, MA, MG, MS, MT, PB, PE, PI, RJ, RN, RO, RR, SE, SP e TO.) Teríamos chegado assim a um total de 36.357.101 casos e 693.949 mortes.

Na semana encerrada ontem (26/12-1/1), foram registrados 185.947 casos e 1.015 mortes. Números (artificialmente) inferiores aos da semana anterior (19-25/12: 269.176 casos e 1.051 mortes).

3. CODA.

Embora o governo de extrema direita tenha chegado ao fim (e.g., aqui), a pandemia ainda não chegou. (E não irá chegar tão cedo, sobretudo agora com o fim da política de ‘Covid Zero’ na China. Variantes novas emergirão e substituirão as antigas.)

A situação, portanto, ainda é preocupante. Razão pela qual a campanha de vacinação deve – e presumo que vá – ser acelerada. Assim como o uso de máscara em recintos fechados deveria ser incentivado.

Não custa lembrar: Máscaras e vacinas são as armas que nós temos para frear as escaladas e puxar as estatísticas para baixo. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 10 grupos: (a) Entre 100 e 110 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 35 e 40 milhões – França, Alemanha e Brasil; (d) Entre 25 e 30 milhões – Japão, Coreia do Sul e Itália; (e) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido e Rússia; (f) Entre 15 e 20 milhões – Turquia; (g) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (h) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã e Austrália; (i) Entre 8 e 10 milhões – Argentina, Taiwan e Países Baixos; e (j) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

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