A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
06 dezembro 2023
Constituinte, para quem?
Ricardo Antunes
Um retrospecto da história política brasileira mostra que nos momentos mais agudos e críticos, os setores dominantes souberam encontrar alternativas conciliadoras, sempre ‘pelo alto’, superando as fissuras e os desentendimentos existentes entre as várias frações que participavam do bloco do poder, excluindo, porém, qualquer possibilidade efetiva de atuação autônoma das massas trabalhadoras. Assim foi com a Independência, com a proclamação da República, com a chamada Revolução de 1930, com a ‘democratização’ de 1946 e, mais recentemente, com a crise de abril de 1964, para citar alguns eventos mais significativos. Fonte: Antunes, R. 1985. Crise e poder, 2ª ed. SP, Cortez & Autores Associados.
Encerra-te com um amigo dentro do maior camarote sob o convés de um grande navio e leva contigo moscas, borboletas e outros insetos que voam; municia-te também de um grande recipiente cheio d’água e com peixinhos; peque também um pequeno balde cuja água vaze gota a gota por um pequeno orifício em outra vasilha colocada abaixo. Quando o navio estiver parado, observa cuidadosamente como os pequenos animais que voam vão com a mesma velocidade em todas as direções da cabine; veem-se os peixes nadar indistintamente por todos os lados, e as gotas que caem entram todas no recipiente colocado abaixo; se jogares alguma coisa ao teu amigo, não terás necessidade de atirar mais forte numa direção que noutra quando as distâncias são iguais. [...] Quando tiveres observado cuidadosamente tudo isso [...] faze o navio navegar com a velocidade que desejares; desde que o movimento seja uniforme, sem balançar num sentido ou noutro, não perceberás a menor mudança em todos os efeitos que acabamos de apontar; nada permitirá que percebas que o navio está em marcha ou parado. Fonte: Sokal, A. & Bricmont, J. 1999. Imposturas intelectuais. RJ, Record. Excerto de libro originalmente publicado em 1632.
Lê. Mas lê com vagar. A estrofe comovida é a torrente veloz que o Artista mal subjuga: ora, crespa, referve; ora é um cristal sem ruga; sempre à comtemplaçâo e ao sonho nos convida.
Não busques o lavor que a emoção, flama erguida, a uma vã rigidez das expressões conjuga: é a torrente, é o rolar da agua liberta, em fuga, espelhando, a tremer, as paisagens da Vida.
Voga! Não ha temer nem remoinho nem frágua. Olha lá dentro o céu de pérola e turqueza! Olha as nuvens do azul vagando dentro da água!
Olha as ribas em f1or! E o salgueiral tristonho! E a colina! Aqui tens em verdade e em beleza, No infinito da Vida a imensidão do Sonho! Fonte (v. 3, 7 e 8): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em 1918.
Eis-me de volta à minha cidade. São estas as minhas velhas lágrimas, minhas pequenas veias, as glândulas inchadas da infância.
Então estás de volta. Clara amplidão. Aspira o óleo de peixe das lâmpadas ribeirinhas de Leningrado.
Abre os olhos. Conheces esse dia de dezembro, gema de ovo com o breu terrível batido em si?
Petersburgo! Não quero morrer ainda! tens o número de meu telefone.
Petersburgo! Guardo ainda os endereços; posso consultar a vozes desaparecidas.
Vivo clandestinamente e o sino, que arranca os nervos e todo o resto, reboa em minhas têmporas.
Espero até amanhã por convidados que amo e faço retinir as correntes da porta. Fonte: Berman, M. 1986. Tudo que é sólido desmancha no ar. SP, Companhia das Letras. Poema datado de 1930.
Para morrer contra a folhagem dúbia A luz suportam Então esfriam Sortílega força Cerca na fronte a estrela do desastre Sob incidência fixam na água O surto das imagens A espada austera O brilho Dessa existência finitas sombras são Assim chorado Linos Soube pela morte o que é ser Da solidão Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1990.
Os hemicordados são animais exclusivamente marinhos, encontrados desde a região litorânea até os fundos oceânicos. Os adultos são bentônicos, sendo que as formas solitárias (classe Enteropneusta) vivem em galerias escavadas no sedimento, em espaços sob pedra, entre talos de algas, ou ainda, sobre o substrato, no caso de espécies de profundezas. As espécies coloniais ou gregárias (classe Pterobranchia) habitam tubos de material secretado pelos zooides, aderidas a superfícies consolidadas. Fonte: Shimizu, R. M. 2016. In: Fransozo, A. & Negreiros-Fransozo, M. L., orgs. Zoologia dos invertebrados. RJ, Roca.
A distinção entre matemáticas e ciências empíricas (‘de factos’, ou ‘reais’), a distinção entre os seus objectos (qualquer que seja a interpretação que a estes se dê), os seus métodos e os seus critérios de verdade constituem hoje um lugar comum. Verdadeiro quer dizer, em matemática, ‘de acordo com os axiomas’, integrado num sistema dedutivo coerente; nas ciências empíricas, ‘de acordo com os factos’. [...] Borrón, J. C. G. 1988 [1987]. A filosofia e as ciências. Lisboa, Teorema.
Os problemas de transporte urbano não são fenômenos [oriundos do] mundo moderno. No século I AD, o Governo municipal de Roma foi forçado a aliviar o congestionamento de suas vias restringindo o tráfego de veículos (com exceção dos veículos do Estado) a um horário noturno. Roma era então a única verdadeiramente ‘grande’ cidade do mundo ocidental; e por muitos séculos seu problema de transportes foi a exceção e não a regra. Foi apenas quando o processo de industrialização já ia adiantado no século XIX que o tráfego de veículos começou a apresentar um problema sério para as cidades. Atualmente, as descrições das condições de transporte nas cidades expressam o alarme do observador com palavras como ‘sufocação’ e ‘estrangulamento’. Não apenas existem atualmente mais cidades grandes; algumas delas estão tendendo a consolidar-se em uma gigantesca malha megalopolitana com problemas muito mais complexos dos que as dificuldades comparativamente pequenas enfrentadas pelos romanos. Fonte: Dyckman, J. W. 1977 [1967]. In: Vários. Cidades: A urbanização da humanidade. RJ, Zahar.
The platform of the deep ecology movement: A formulation
Arne Naess
1. “The flourishing of human and nonhuman life on Earth has inherent value. The value of nonhuman life forms is independent of the usefulness of the nonhuman world for human purposes.” The great majority indicated their agreement.
2. “Abundance and diversity of life forms are values in themselves and contribute to the flourishing of human and nonhuman life on Earth.” The great majority agree.
3. “Humans have no right to reduce this abundance and diversity except to satisfy vital needs.” The great majority tend to agree. Many comment on the term “vital”.
4. “The flourishing of human life and cultures is compatible with a substantially decrease in the human population, and the flourishing of nonhuman life requires such a decrease. The great majority agree.
5. “Present human interference with the nonhuman world is excessive, and the situation is rapidly worsening.” The great majority agree.
6. “Policies must therefore be changed. These changes in policies affect basic economic, technological, and ideological structures. The resulting state of affairs would be deeply different from the present and would make possible a more joyful experience of the connectedness of all things.” The great majority tend to agree. Some find the last sentence rhetorical and doubtful.
7. “The ideological change is mainly that of appreciating life quality rather than adhering to an increasingly higher standard of living. There will be a profound awareness of the difference between big and great.” The great majority tend to agree.
8. “Those who subscribe to the foregoing points have an obligation, directly or indirectly, to participate in the attempt to implement the necessary changes.” The great majority agree. Fonte: Naess, A. 1986. In: Soulé, ME, org. Conservation biology. Sunderland, Sinauer.