10 novembro 2025

Garota alsaciana


Jean-Jacques Henner (1829-1905). Fille alsacienne. 1873.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 novembro 2025

O muro

Alberto de Oliveira

É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E num pouco de musgo em cada fenda.

Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão se estrela
Toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.

Fonte (primeira estrofe): Bosi, A. 2013. História concisa da literatura brasileira, 49ª ed. SP, Cultrix. Poema publicado em livro em 1912.

07 novembro 2025

El último lugar salvaje

Mike Tomkies

La vieja casa de piedra era fría y poco acogedora. Tiritando por primera vez en un rincón de su interior frío y húmedo, rodeado por los restos de mi vida anterior, fui presa de un súbito pánico. Calado hasta los huesos, estaba agotado después de una larga jornada dedicada a transportar haces de leña y bultos de equipaje en una barca de una orilla a otra del lago, de aguas grises como el acero, bajo el azote de la lluvia, que caía con fuerza. Después de vivir siete años en plena naturaleza, primero en una costa remota del oeste del Canadá y luego en una vieja cabaña de madera junto al Atlántico en una isla escocesa, mis acariciadas esperanzas de que este nuevo lugar se convirtiera en la base para nuevas experiencias naturalistas, más intensas que ninguna de las anteriores, parecían no ya presuntuosas, sino decididamente temerarias. Nadie había vivido allí de modo permanente desde 1912. Al quedar fuera de servicio el viejo vapor que en otro tiempo había surcado el lago, había desaparecido también de sus orillas toda vida humana.

Fonte: Tomkies, M. 1988 [1984]. El último lugar salvaje. Barcelona, Martínéz Roca.

05 novembro 2025

O destino das colônias

Adam Smith

A colônia de uma nação civilizada que toma posse de um território desocupado ou tão tenuamente habitado que os nativos facilmente cedem lugar aos novos colonos progride mais rápido para a riqueza e a grandeza do que qualquer outra sociedade humana.

Fonte: Crosby, A. W. 1993. Imperialismo ecológico. SP, Companhia das Letras. Excerto de livro originalmente publicado em 1776.

02 novembro 2025

O Assinalado

Cruz e Sousa

Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco...

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1905.

31 outubro 2025

A velha mesquita de azulejos azuis


Edwin Lord Weeks (1849-1903). The old blue-tiled mosque outside of Delhi, India. 1885.

Fonte da foto: Wikipedia.

26 outubro 2025

A psalm of life

Henry Wadsworth Longfellow

WHAT THE HEART OF THE YOUNG MAN SAID TO THE PSALMIST.

Tell me not, in mournful numbers,
  Life is but an empty dream!
For the soul is dead that slumbers,
  And things are not what they seem.

Life is real! Life is earnest!
  And the grave is not its goal;
Dust thou art, to dust returnest,
  Was not spoken of the soul.

Not enjoyment, and not sorrow,
  Is our destined end or way;
But to act, that each to-morrow
  Find us farther than to-day.

Art is long, and Time is fleeting,
  And our hearts, though stout and brave,
Still, like muffled drums, are beating
  Funeral marches to the grave.

In the world’s broad field of battle,
  In the bivouac of Life,
Be not like dumb, driven cattle!
  Be a hero in the strife!

Trust no Future, howe’er pleasant!
  Let the dead Past bury its dead!
Act, – act in the living Present!
  Heart within, and God o’erhead!

Lives of great men all remind us
  We can make our lives sublime,
And, departing, leave behind us
  Footsteps on the sands of time;

Footsteps, that perhaps another,
  Sailing o’er life’s solemn main,
A forlorn and shipwrecked brother,
  Seeing, shall take heart again.

Let us, then, be up and doing,
  With a heart for any fate;
Still achieving, still pursuing,
  Learn to labor and to wait.

Fonte (sétima estrofe, em port.): Davies, P. 1999. O enigma do tempo. RJ, Ediouro. Poema publicado em livro em 1839.

23 outubro 2025

Depois de despacho com S. Exa. o governador em Lahane – 1951-1956

Ruy Cinatti

Atiro ao sol as montanhas
e fujo, deliro,
perseguido por palavras falsas.

Adiro à terra, ao cavalo
pastoreando no verde
sombrio vale.
Galopo, galopo até ao mar.

Na praia, os rochedos ferem.
Eu quero ser,
só o que sou.

Aos Timorenses chamo meus haveres.
Celebro ritos. Calo
Timor aos deuses.

Melhor que qualquer palavra
é o silêncio.

Melhor o contrato:
sangue aceite.

São braços levantados
frente ao Ocidente.

O sol-posto
nasce.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1970.

22 outubro 2025

The appropriate boundaries

Seymour B. Sarason

When one becomes aware of and accepts a set of new ideas, there is the tendency to overgeneralize their significance, i.e., to perceive the world in terms of the new ideas, to restructure perceptions, to reinterpret past experience, and to see an altered future. It is a mixed blessing. On the one hand, there is the possibility that the ideas have validity, if only to the extent that other people feel compelled to take them seriously; on the other hand, they may be so idiosyncratic (however compelling to you) that you are unaware you are applying them far beyond their merit and appropriate boundaries.

Fonte: Taylor, R. J. 1984. Predation. Londres, Chapman. Trecho de livro publicado em 1977.

20 outubro 2025

Eu estou aqui!

Dilercy Adler

Eu estou aqui!
ocupando o meu espaço
designado neste mundo...
com amor imenso e profundo...

eu estou aqui
neste espaço limitado
que sinto meu
– embora nem sempre seja! –

eu estou aqui!
dividindo e somando
multiplicando e diminuindo
usufruindo e aplicando
todas as operações possíveis
superando o improvável
buscando o bendito
e abençoado amor de cada um
por esta terra tão linda!...

eu estou aqui!
ocupando o meu espaço designado
limitado
às vezes invadido
às vezes ampliado
me fazendo sentir inútil e bem-aventurado!

é certo – bem certo –
que eu estou aqui!

Fonte: publicado em livro em 2023, o poema acima foi enviado pela própria autora, a quem agradeço pela cortesia.

eXTReMe Tracker