30 março 2025

El empresariado científico

Joseph Ben-David

La relación entre la investigación científica y el crecimiento tecnológico ha sido considerada de dos maneras. Todo el mundo está de acuerdo en que la ciencia puede beneficiar a la tecnología; pero, según cierta concepción, tales beneficios son fortuitos, y por ende los gastos de investigación son considerados como consumo, y no como inversión. La otra concepción, más favorable, juzga demonstrada la existencia de una relación sistemática entre el crecimiento científico y el tecnológico, por lo que pone el rubro de las inversiones los gastos destinados a la ciencia. Sostendremos aquí que la existencia o ausencia de una relación positiva sistemática entre el crecimiento científico y el tecnológico no es algo dado e inherente a la naturaleza del caso, sino un estado determinado por la actividade empresarial y ciertas otras condiciones que aún es necesario identificar.

El supuesto de la importancia económica de la investigación deriva de cálculos que muestran que, si se desea explicar la producción de diferentes economías nacionales en términos de todos los inputs conocidos de los factores de producción tradicionales, aún queda un gran residuo sin explicar. […] Se supone que esto representa la contribución hecha por el crecimiento del conocimiento útil. Este conocimiento, sin embargo, puede consistir en mejoras técnicas y organizativas o en la calidad y extensión de la educación. Hay una multitud de ejemplos que dan soporte a esta afirmación. La revolución industrial en Inglaterra o el rápido desarrollo industrial de Bélgica y los Estados Unidos en el siglo pasado y de Japón en éste, no fueron precedidos por ningún incremento notable en la investigación científica, fundamental o aplicada. La industria japonesa se las ha arreglado muy bien, pese el balance adverso de ella en conocimientos tecnológicos prácticos. Un estudio reciente de las patentes en Estados Unidos realizado por Schmookler (1966 […]) ha aportado pruebas muy sólidas y sistemáticas de que las innovaciones tecnológicas en cuatro industrias importantes, los ferrocarriles, la agricultura, la refinación del petróleo y la fabricación de papel se produjeron como respuestas a la demanda económica, y no como resultado de la investigación fundamental.

Fonte: Ben-David, J. 1980 [1972]. El empresariado científico y la utilización de la investigación. In: Barnes, B., ed. Estudios sobre sociología de la ciencia. Madri, Alianza. Excerto de artigo originalmente publicado em 1962.

29 março 2025

Quem é que manda aqui?

Pratap Singh

Sei que você é o príncipe de Gales e você sabe que é o príncipe de Gales, mas o javali não sabe que você é o príncipe de Gales.

Fonte: Conniff, R. 2004. História natural dos ricos. RJ, Zahar. Palavras dirigidas por Pratap Singh (1854-1930), marajá de Orchha, ao seu convidado, o futuro rei Eduardo VIII (1894-1972). Durante a visita (1921), o inglês, segundo Conniff, “fizera uma perigosa estupidez ao cutucar javalis com uma vara, quando cavalgava na Índia”.

26 março 2025

Ser o mundo

Kori Bolivia

Ser estrela coroada ao meio-dia,
ser vento
que singre violento
tua pele e teus lábios,
ser sino
cantando matutino
uma oração bendita.
Ser o mundo estranho dos teus sonhos
e anoitecer em tuas mãos.
Ser esperança sem desmaios
e que minha tristeza
imóvel agonize
no meio do caminho.
Então, retornar com a alegria
de um copo de cristais
esparzidos na brisa.

Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1997.

25 março 2025

Do mangue ao manguezal

Flávia Rebelo Mochel

Manguezais são ecossistemas costeiros, estuarinos, sujeitos a inundações periódicas pelas marés e por águas doces. São sistemas abertos no tocante à entrada e saída de matéria e energia. Geralmente, ocorre nos manguezais entrada de sedimentos, água doce e nutrientes, e saída de água e matéria orgânica para os estuários [...].

A palavra mangue possui duplo significado: (1) é usada para designar a formação fitológica tropical estuarina e (2) é usada para designar uma espécie dessa formação, geralmente a Rhizophora mangle. Alguns autores usam os termos ‘mangal’, ‘comunidade de mangue’ ou ‘formação de mangue’ ao se referirem à formação supracitada e apenas ‘mangue’ ao designarem uma única espécie [...].

A distribuição dos manguezais é restrita às regiões tropicais e subtropicais do mundo, onde formam comunidades arbustivas e arbóreas, perenifólias, halófitas e que atingem seu maior desenvolvimento em latitudes mais baixas, chegando a alcançar 50 metros de altura no Equador [...].

No Brasil, os manguezais estendem-se desde a foz do rio Oiapoque, no Amapá (4° N), até Laguna, em Santa Catarina (28°30’ S).

Fonte: Mochel, F. R. 1995. Endofauna do manguezal. São Luís, EDUFMA.

22 março 2025

Dançando na calçada


Frederick Brown (1851-1941). An impromptu dance – a scene on the Chelsea Embankment. 1883.

Fonte da foto: Wikipedia.

21 março 2025

Markovian model of succession

Paul Colinvaux

Horn (1974, 1976) has applied the mathematics of Markov chains to forest data to predict future states. The initial data set is an estimate of the probability that any one tree in a forest will be replaced by one of its own kind or one of another kind. These data most easily could be derived by mapping every tree in a forest and than remapping the same forest at some future year, say, 50 years off. A more practicable way to get usable data is from estimates of replacement probabilities made from measures of saplings actually under trees in the forest, supplemented by measures of relative shade tolerance.

When a matrix of probabilities of individual replacement for all species of a forest is known, fairly straightforward calculations allow extrapolations to the future composition of a forest. The only data going into these calculations, therefore, are present composition of a forest and measured probabilities of individual replacements. The method has been applied to early succession data in New Jersey forests and predicts the composition of future climax communities to be closely similar to that existing in a virgin New Jersey stand now (Horn, 1975).

Fonte: Colinvaux, P. 1986. Ecology. NY, Wiley.

19 março 2025

Sistemas genitais, gametas e a santa camisinha

Felipe A. P. L. Costa [*]

APRESENTAÇÃO. – A despeito do sexo genético que herdam, os mamíferos iniciam a vida embrionária em uma rota sexualmente neutra. É a presença do cromossomo Y que promove o desenvolvimento dos testículos. Estes, por sua vez, liberam hormônios que fazem com que os tecidos do corpo sigam a rota masculina. Na ausência do cromossomo Y, os testículos não se desenvolvem e o embrião segue a rota feminina. Nas primeiras semanas, a aparência externa nada revela a respeito do sexo do embrião. Os traços que denunciam se o embrião é macho ou fêmea só se tornam evidentes a partir da sétima semana, lembrando que gravidez demora em média 40 semanas [1].

*

Uma exclusividade óbvia do sistema genital masculino é a presença do pênis; uma exclusividade óbvia do sistema genital feminino é a presença do útero. No que segue, vamos nos debruçar um pouco sobre as particularidades de cada um dos dois sistemas [2].

1. SISTEMA GENITAL MASCULINO.

O sistema genital masculino consiste no funículo espermático e escroto, testículos e epidídimos, ductos deferentes, próstata, glândulas seminais e pênis. O pênis é atravessado pela uretra. Lembrando aqui que a uretra masculina serve como via de saída tanto da urina (micção) como do sêmen (ejaculação).

Como ocorre com outros mamíferos, o início da idade reprodutiva coincide com o momento em que as glândulas sexuais (testículos) começam a produzir gametas. Quando o menino tem entre 12 e 13 anos de idade, o corpo começa a produzir espermatozoides, um processo chamado de espermatogênese e que é desencadeado pela ação combinada de alguns hormônios. A espermatogênese abrange ao menos quatro fases ou processos, multiplicação, crescimento, maturação e espermiogênese.

Na primeira fase, as células germinativas primordiais – um tipo de célula que tem origem ainda no estágio embrionário – dão origem por mitose às espermatogônias, células que também se proliferam por mitose. Na fase de crescimento, as espermatogônias param de se dividir, crescem e se transformam em espermatócitos de primeira ordem (ou citos I), células diploides cujos 46 cromossomos estão duplicados. Em seguida, na fase de maturação, os citos I passam pela primeira divisão meiótica, dando origem aos espermatócitos de segunda ordem (citos II), células haploides com 23 cromossomos duplicados. Após dois ou três dias, os citos II passam pela segunda divisão meiótica, dando origem às espermátides, células haploides com 23 cromossomos simples. Por fim, na fase de espermiogênese, as espermátides se transformam em espermatozoides. Toda a espermatogênese ocorre nos túbulos seminíferos, dentro dos testículos; o processo tem início na puberdade e se estende até o final da vida do homem [3].

O fluído (sêmen) que sai pela uretra durante a ejaculação não contém apenas espermatozoides. Trata-se, na verdade, de um complexo de secreções, contendo (i) substâncias nutritivas – abastecem e nutrem os espermatozoides; (ii) lubrificantes – facilitam a navegação dos gametas dentro do trato reprodutivo feminino; e (iii) neutralizadores de pH – neutralizam a acidez típica da uretra.

Com um volume médio de 3-3,5 mL de sêmen, o ejaculado de um adulto humano pode conter entre 40 milhões e 1 bilhão de espermatozoides [4]. Muitos desses espermatozoides, diga-se, não são viáveis – i.e., não são capazes de fecundar o óvulo [5].

2. SISTEMA GENITAL FEMININO.

O sistema genital feminino consiste no trato genital inferior (vulva e vagina) e no trato genital superior (útero e cérvice, com as tubas uterinas e os ovários). Nas fêmeas humanas, não custa repetir, o sistema genital tem uma via própria para o exterior, de modo que pela uretra feminina passa apenas urina.

Como anotaram Hildebrand & Goslow (2006, p. 293):

Nos mamíferos térios, o septo embrionário continua para trás até que um reto dorsal esteja completamente separado das estruturas urogenitais que, então, se abrem na frente do ânus. Nos machos, urina e esperma são liberados por uma uretra comum. Nas fêmeas da maioria dos mamíferos, os tratos urinário e genital se abrem por um seio urogenital comum. Nos primatas e em alguns roedores, no entanto, a eversão fetal da passagem comum elimina o seio urogenital pela separação da abertura, cranial, de uma uretra da abertura vaginal, caudal.

A vagina – um canal musculoso, recoberto por uma mucosa pregueada, rica em glândulas secretoras de muco – recebe o pênis durante a cópula e serve como o canal do parto, pois está ligada ao útero, uma bolsa musculosa situada acima e mais atrás.

O início da idade reprodutiva coincide com o momento em que as glândulas sexuais (ovários) começam a liberar gametas. A liberação periódica de óvulos (ovulação) é acompanhada de um segundo ciclo, a menstruação, cujo papel, aliás, ainda é motivo de discussão (ver Apêndice 3).

Quando a menina está com uns 12 anos de idade, é retomada a maturação dos seus óvulos (oogênese), um processo que teve início lá na vida embrionária. Assim como no caso da espermatogênese, a oogênese é controlada por vias hormonais. O processo todo ocorre no ovário e pode ser dividido em três fases: multiplicação, crescimento e maturação.

Na primeira fase, as células germinativas primordiais dão origem por mitose às oogônias, células que também se dividem por mitose. Na fase de crescimento: as oogônias crescem e acumulam reservas, dando origem aos oócitos primários (citos I), células diploides com os 46 cromossomos duplicados. O desenvolvimento do oócito primário é suspenso logo no início da primeira divisão meiótica (prófase I) e assim permanece durante anos. Mais adiante, na fase de maturação, os citos I concluem a primeira divisão meiótica – cada cito I dá origem ao um oócito secundário (cito II), células haploides com 23 cromossomos duplicados, e a um glóbulo polar. O cito II inicia a segunda etapa da meiose, mas para na metáfase II, continuando a partir daí apenas se for fecundado por um espermatozoide viável.

2.1. O ato sexual.

Como o leitor talvez já saiba, os dois sistemas genitais referidos acima são complementares. Não é de estranhar. Afinal, desde que a fecundação é interna e cruzada, machos e fêmeas devem se envolver em atos sexuais (ou cópulas).

Na caracterização de Berne (1988, p. 44, 48, 55-6):

O vigor sexual masculino tem três elementos: potência, força e impulso. A potência é mostrada pela firmeza de sua ereção, a força pelo ardor de sua penetração, e o impulso pela velocidade inicial de sua ejaculação. [...]
  O macho e a fêmea se complementam, e o vigor dela tem três elementos correspondentes: profusão, força e garra. A profusão é representada pela lubrificação, a força se manifesta na contrapenetração e a garra aparece nas contrações musculares. [...]
  Recapitulemos os acontecimentos biológicos. A ereção máxima e a lubrificação máxima asseguram a penetração máxima, ajudada pelo empuxo e pela contrapenetração. No momento crítico, o impulso máximo é reforçado pelo aperto máximo. Tudo isso faz com que a quantidade máxima de sêmen percorra o maior trajeto possível, e esta é a melhor situação para assegurar a fecundação. Como já foi notado, o contraste seria uma pequena quantidade de sêmen escorrendo para fora de uma vagina seca, o que daria pouca chance ao óvulo de ser fertilizado [...]. [...]
  Algo para ser lembrado, todavia, é que mesmo sem a ereção, sem lubrificação, e sem penetração, a probabilidade de fecundação é maior do que zero. É possível a qualquer ejaculação na região dos órgãos sexuais femininos produzir, mais ou menos raramente, um rebento perfeitamente saudável, ou até gêmeos. (É possível ter gêmeos, como aprendeu o bem-intencionado clérigo, para sua grande surpresa, mesmo que só se tenha sido desobediente uma única vez.)

Além de noviços e clérigos desobedientes, a gravidez indesejada é um fantasma que assombra muitos jovens. A principal dúvida em geral é a seguinte: ‘É possível evitar a gravidez sem ter de abrir mão de uma vida sexual ativa?’. É uma pergunta perfeitamente válida e compreensível. A resposta, como muitos de nós já sabemos, é um sonoro sim – ‘Sim, é possível’.

3. CODA.

Ocorre que não há método anticoncepcional inteiramente seguro e confiável, com exceção, talvez, da abstinência. Em outras palavras, para reduzir a zero as chances de uma fecundação, só há um jeito: não transar. Como esse tipo de recomendação não costuma se sustentar por muito tempo, sobretudo entre homens e mulheres em idade reprodutiva (digamos, entre 20 e 40 anos), há uma forte e compreensível demanda por métodos anticoncepcionais que possam ser usados por quem ainda está em idade fértil.

Entre os vários métodos disponíveis (físicos, químicos etc.), o uso da camisinha masculina talvez seja o mais simples e recomendável de todos. Em primeiro lugar, por ser bastante eficiente como anticoncepcional. (Lembrando apenas que é necessário vestir o pênis corretamente; caso contrário, a camisinha poderá se romper durante a cópula.) Em segundo lugar, por ser uma barreira tremendamente efetiva contra a disseminação de infecções sexualmente transmissíveis (e.g., uretrite, gonorreia, sífilis, verrugas genitais e herpes genital) [6]. E é aqui que deveria então entrar a voz do seu anjo da guarda: “Casais recém-formados jamais deveriam transar – em qualquer de suas modalidades – sem que o pênis do parceiro esteja devidamente vestido com uma santa camisinha.”

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NOTAS.

[*] Artigo extraído e adaptado do livro Por que envelhecemos? – Alguns tópicos de biologia que o seu médico deveria ter estudado (no prelo). Sobre a campanha Pacotes Mistos Completos (por meio da qual é possível adquirir, sem despesas postais, pacotes com os quatro livros do autor), ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para adquirir o pacote ou algum volume específico, ou para mais informações, faça contato pelo endereço felipeaplcosta@gmail.com. Para conhecer outros artigos ou obter amostras dos livros, ver aqui.

[1] Para detalhes, ver Standring (2010).

[2] O significado dos termos sistema e aparelho não é uma unanimidade. Na opinião de muitos autores, o termo sistema deve ser usado em alusão a um coletivo de órgãos, de mesma origem e estrutura, cujas funções se integram para realizar funções ainda mais abrangentes e complexas. O corpo humano, por exemplo, teria ao menos 11 sistemas de órgãos (Dangelo & Fattini 2007): sistema esquelético, s. articular, s. muscular, s. circulatório, s. linfático, s. respiratório, s. digestório, s. urinário, s. genital, s. nervoso e s. tegumentar; além das glândulas endócrinas e dos órgãos dos sentidos (outrora sistema endócrino e s. sensorial, respectivamente). Alguns desses sistemas trabalham de modo intimamente integrado, tanto em termos físicos como funcionais. Seria o caso do aparelho locomotor (reunindo os sistemas esquelético, articular e muscular) e do aparelho urogenital (reunindo os sistemas urinário e genital). Para detalhes, ver, e.g., Dangelo & Fattini (2007), Hickman et al. (2004), Hildebrand & Goslow (2006) e Standring (2010).

[3] A ejaculação costuma ocorrer com o pênis ereto e na forma de uma sucessão de jatos fortes e rápidos. Embora a ereção involuntária do pênis se manifeste desde os primeiros dias de vida do menino, a ejaculação só ocorre após os 12-13 anos, quando ele passa a produzir espermatozoides. A primeira ejaculação costuma ocorrer no início da adolescência, na forma de uma polução noturna. Eis a descrição de Baker (1997, p. 126-7): “Para um em cada cinco homens, o primeiro orgasmo ocorre espontaneamente. Na maioria das vezes, essa primeira ocorrência é uma polução noturna, mas para alguns pobres meninos a ejaculação acontece em lugar público. Geralmente, isso se deve a um estímulo subliminar (como ver um filme, subir numa árvore) ou a um momento de profundo estresse (ler na frente da turma). Porém, depois de umas poucas vezes, quase todas as ejaculações espontâneas acontecem em particular, à noite, quando estão dormindo – na forma de polução noturna. Em algum momento da vida, 80% dos homens passam por esse evento noturno. [...] Uma polução noturna pode ocorrer em qualquer momento da vida, mas é mais comum [da] adolescência aos vinte e poucos anos, geralmente após longos períodos de abstinência de relações sexuais ou de masturbação. Mas é somente na adolescência que ela ocorre com freqüência suficiente para ser tomada como uma substituta direta de outras formas de ejaculação. [...] Mais tarde, acontecem muito raramente [...]. Dos vinte e cinco anos, mais ou menos, para a frente, mesmo que um homem deixe de ejacular através da masturbação ou de relações sexuais por vários dias e até semanas, pode ser que não ocorram poluções noturnas. Ele vai continuar tendo ereções noturnas durante o sono REM (do tipo mais profundo) e nos sonhos, mas o corpo parece inibir a ejaculação. Os seres humanos não são, de maneira alguma, as únicas espécies que ejaculam espontaneamente. Ratos, gatos e provavelmente a maioria dos mamíferos volta e meia irão ejacular durante o sono, especialmente na época da puberdade.”

[4] Para detalhes, ver Barlow (2016).

[5] Para detalhes, ver Higginson & Pitnick (2011); em port., Baker (2009).

[6] Para exemplos adicionais e detalhes, ver Tortora et al. (2005).

*

REFERÊNCIAS CITADAS.

+ Baker, RR. 1997 [1996]. Guerra de esperma. RJ, Record.
+ Barlow, PW. 2016. Why so many sperm cells? Not only a possible means of mitigating the hazards inherent to human reproduction but also an indicator of an exaptation. Communicative & Integrative Biology 9 (4): e1204499.
+ Berne, E. 1988 [1970]. Sexo e amor, 2ª ed. RJ, J Olympio.
+ Dangelo, JG & Fattini, CA. 2007. Anatomia humana: sistêmica e segmentar, 3ª ed. SP, Atheneu.
+ Hickman, CP, Jr & mais 2. 2004. Princípios integrados de zoologia, 11ª ed. RJ, G Koogan.
+ Higginson, DM & Pitnick, S. 2011. Evolution of intra-ejaculate sperm interactions: do sperm cooperate? Biological Reviews 86: 249-70.
+ Hildebrand, M & Goslow, G. 2006 [2004]. Análise da estrutura de vertebrados, 2ª ed. SP, Atheneu.
+ Standring, S, ed. 2010 [2008]. Gray’s, anatomia, 6ª ed. RJ, Elsevier.
+ Tortora, GJ & mais 2. 2005 [2004]. Microbiologia, 8ª ed. P Alegre, Artmed.

* * *

18 março 2025

Penetração

Alex Comfort

Há alguma coisa no fato de ela ter que deixá-lo entrar – não só no seu território ou na sua proximidade, mas realmente no seu próprio corpo. Não há muitas diferenças intrínsecas identificáveis entre homem e mulher, mas esta é uma delas e influencia a mente feminina. No homem, o sexo é exterior, localizado numa península como a Flórida, e ele o faz avançar; na mulher é interno – uma visita ou uma invasão por alguma coisa que lhe é exterior. Isto não quer dizer que as mulheres consideram a cópula uma violação; o fato de ter um homem dentro de si pode ser terno, bom e revigorante, mas para todos os efeitos ele não passa de um intruso, como diriam os advogados.

Estas emoções são complicadas e os homens não as intuiriam facilmente. Sensações positivas ou negativas sobre o ‘ser penetrado’ desempenham um papel bastante importante no padrão das reações reais das mulheres, e algumas feministas convictas sugeriram que os homens deviam deixar-se penetrar pelo menos uma vez, para saberem como é. Temos dúvidas de que isso daria bom resultado – a penetração anal não está realmente programada e não é a mesma coisa.

Um efeito adicional é que as mulheres tendem cada vez mais a encarar o lugar em que vivem como um segundo corpo, enquanto que os homens encaram o deles como um território. O fato de uma mulher detestar convidar alguém para ir ao seu apartamento que dizer alguma coisa – como a mulher que diz: “Ele devia sentir-se feliz comigo, doutor, preparei-lhe uma linda casa, toda acarpetada.” Ela realmente está se referindo ao seu corpo.

Ser profundamente penetrada por um homem que você ama e em quem confia, que a trata como um igual e lhe retribui todo amor, é uma das melhores experiências femininas – marca o fim de ansiedades com relação a quem está penetrando quem. Nesta altura, o pênis é uma propriedade conjunta e muitos dos medos estão resolvidos.

Fonte: Comfort, A. 1987. Mais prazeres do sexo. SP, Martins Fontes.

15 março 2025

Genética do sexo

G. Ainsworth Harrison

De início o embrião é anatomicamente neutro, as gônadas consistem em córtex e medula, os ductos de Muller e Wolff estão delineados e a genitália externa não é distinta. Se, contudo, o embrião é de constituição XX, a região cortical da gônada prolifera, os ductos de Muller se diferenciam em vagina, útero e ovidutos, enquanto os ductos de Wolff degeneram e a genitália externa se desenvolve na forma característica de uma fêmea. Reciprocamente, se o embrião é de constituição XY, só a região medular da gônada persiste e se diferencia, e os ductos de Wolff se desenvolvem no elaborado sistema dos ductos de espermatozoides, enquanto os ductos de Muller se tornam vestigiais, e são formados um pênis e um escroto, para o qual descem os testículos. Finalmente, na adolescência, as gônadas e os sistemas reprodutivos acessórios completam sua maturação e crescimento diferencial, afetando particularmente as glândulas mamárias, [a] pélvis e os pelos que produzem as diferenças na aparência dos sexos.

Fonte: Harrison, G. A. et al. 1971 [1964]. Biologia humana. SP, Nacional & Edusp.

13 março 2025

Rodopio

Mário de Sá-Carneiro

Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas torres de marfim.

Ascendem hélices, rastros...
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, faróis,
Upam-se estátuas d’heróis,
Ondeiam lanças e mastros.

Zebram-se armadas de cor,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor...

Cristais retinem de medo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços...
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segredo.

Luas d’oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lírios;
Contorcionam-se círios,
Enclavinham-se delírios.
Listas de som enveredam...

Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.

Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos d’ansiantes...

(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas –
Um lenço, fitas, dedais...)

Há elmos, troféus, mortalhas,
Emanações fugidias,
Referências, nostalgias,
Ruínas de melodias,
Vertigens, erros e falhas.

Há vislumbres de não-ser,
Rangem, de vago, neblinas;
Fulcram-se poços e minas,
Meandros, pauis, ravinas
Que não ouso percorrer...

Há vácuos, há bolhas d’ar,
Perfumes de longes ilhas,
Amarras, lemes e quilhas –
Tantas, tantas maravilhas
Que se não podem sonhar!...

Fonte (quarta estrofe): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1914.

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