Rio das Garças
Da Costa e Silva
Na verde catedral da floresta, num coro
Triste de cantochão, pelas naves da mata,
Desce o rio a chorar o seu perpétuo choro...
E o amplo e fluído lençol das lágrimas desata...
Caudaloso a rolar, desde o seu nascedouro,
Num rumor de orações no silêncio da oblata.
Ao sol – lembra um rocal todo irisado de ouro,
Ao luar – rendas de luz com vidrilhos de prata.
Alvas garças a piar, arrepiadas de frio,
Seguem de absorto olhar a vítrea correnteza.
Pendem ramos em flor sobre o espelho do rio...
É o Parnaíba, assim carpindo as suas mágoas,
– Rio da minha terra, ungido de tristeza,
Refletindo o meu ser à flor móvel das águas.
Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1908.