18 fevereiro 2025

Rio das Garças

Da Costa e Silva

Na verde catedral da floresta, num coro
Triste de cantochão, pelas naves da mata,
Desce o rio a chorar o seu perpétuo choro...
E o amplo e fluído lençol das lágrimas desata...

Caudaloso a rolar, desde o seu nascedouro,
Num rumor de orações no silêncio da oblata.
Ao sol – lembra um rocal todo irisado de ouro,
Ao luar – rendas de luz com vidrilhos de prata.

Alvas garças a piar, arrepiadas de frio,
Seguem de absorto olhar a vítrea correnteza.
Pendem ramos em flor sobre o espelho do rio...

É o Parnaíba, assim carpindo as suas mágoas,
– Rio da minha terra, ungido de tristeza,
Refletindo o meu ser à flor móvel das águas.

Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1908.

17 fevereiro 2025

Abundância de espécies

Anne E. Magurran

Em nenhum ambiente, seja ele tropical ou temperado, terrestre ou aquático, todas as espécies são igualmente comuns. Em vez disso, o que ocorre universalmente é que algumas são muito abundantes, outras apenas moderadamente comuns, e o restante – frequentemente a maioria – raras. [...]

A observação de que espécies variam em abundância levou ao desenvolvimento de modelos de abundância de espécies. [...] Em alguns casos uma ou duas espécies dominam, com as restantes sendo pouco frequentes ou raras. Em outras situações as abundâncias das espécies são mais similares, ainda que nunca totalmente uniformes.

Fonte: Magurran, A. E. 2011. Medindo a diversidade biológica. Curitiba, Editora da UFPR.

15 fevereiro 2025

Vaidade


Frank Cadogan Cowper (1877-1958). Vanity. 1907.

Fonte da foto: Art UK.

13 fevereiro 2025

Herói anônimo

António Manuel Couto Viana

Concerta a rede da faina,
Como quem tece uma vida,
Ora agreste, ora florida,
Se o mar se encrespa ou se amaina.

Homem da minha Ribeira,
Busca o pão, dia após dia,
Ao Sol quente, à noite fria,
A bordo de uma traineira.

Vida rude! Nunca a deixe.
Sem ele, que é dele, o peixe?
Que é de nós? Miséria e fome.

Vendo-o a lidar, sem cansaço,
Louvo-o nos versos que faço.
... E nem sequer sei seu nome!

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1998.

12 fevereiro 2025

220 meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/2, o Poesia Contra a Guerra está a completar 220 meses (18 anos e quatro meses) no ar.

Desde o balanço anterior – ‘18 anos e três meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alvar Ellegård, Colin Spedding, Eloi de Souza Garcia, Fay Weldon, G. V. Ustimenko-Bakumovsky, Henri Moniot, Jonathan Adams, P. G. N. Digby, P. G. Wodehouse, Paul J. Greenwood, Paulo de Bessa Antunes, R. A. Kempton, Robert Herrick, Roger Tory Peterson e Steven Lukes. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Nicolaes Pickenoy, Otto Dix e Paulus Potter.

11 fevereiro 2025

Ecological correlates of sex

Paul J. Greenwood & Jonathan Adams

The origins and maintenance of sex are still a matter of debate. Some insights may be gained by comparing the patterns of sexuality and asexuality in the Plant and Animal Kingdoms. Asexuality is probably commoner among plants than animals. Most parthenogenetic strains are almost certainly derived from sexual forebears. They occur relatively infrequently and tend not to replace their sexual ancestors throughout their range. This suggests, firstly, that such species are subject to a high rate of extincton and, secondly, that when they do arise they are comparatively unsuccessful in competition with sexual forms.

Unpredictable and complex environments should favour sex while simple communities with greater predictability and fewer predators or pathogens should have a higher frequency of asexual species. This appears to be the case. Biologically complex habitats such as tropical rain forests with a myriad of interspecific interactions have relatively few asexual species. Simpler or impoverished habitats, such as those at high altitudes and high latitudes, tend to have relatively more.

Fonte: Greenwood, P. J. & Adams, J. 1987. The ecology of sex. Londres, Arnold.

10 fevereiro 2025

Nível de resolução

Eloi de Souza Garcia

Em 1959, Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, em uma célebre conferência no Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos, propôs a construção de máquinas mínimas, nos limites possíveis da resolução, que respeitassem as leis da Física. Surpreso, ele mesmo observou que não havia nada nas leis da mecânica quântica que impossibilitasse a criação de máquinas do tamanho de um vírus.

Para testar essa ideia, Feynman ofereceu um prêmio de mil dólares para a primeira pessoa que reduzisse 25 mil vezes as informações contidas numa página de livro, ficando as letras suficientemente legíveis para serem lidas em um microscópio eletrônico. A redução por um fator de 25 mil é suficiente para colocar toda a informação contida na Enciclopédia Britânica em uma cabeça de alfinete. Poucos anos depois, Feynman pagou o prêmio desde desafio.

Fonte: Garcia, E, S. 2003. Um olhar sobre a ciência. RJ, Interciência.

08 fevereiro 2025

Tropas avançam através do gás


Otto Dix (1891-1969). Sturmtruppe geht unter Gas vor. 1924.

Fonte da foto: Wikipedia.

06 fevereiro 2025

Multivariate analysis of ecological communities

P. G. N. Digby & R. A. Kempton

The development of statistical methods in field biology has, until recently, been dominated by the requirements of agricultural scientists working with highly controlled systems of experiments. Here the experimental factors (e.g. plant variety or nutrient level or site) generally cover only a limited range, while the variation in uncontrolled factors is made as small as possible, for example, by spraying to control disease. In consequence, the range of measured responses and the unexplained error in those responses are also fairly small. This has led to the development of a large statistical theory in which the pattern of response, possibly after transformation, is described by the effects of addictive factors and a residual response whose distribuition approximates to some known mathematical form (e.g. a normal distribution).

Fonte: Digby, P. G. N. & Kempton, R. A. 1987. Multivariate analysis of ecological communities. Londres, Chapman.

04 fevereiro 2025

A história dos povos sem história

Henri Moniot

Havia a Europa, e nisso se resumia a história. Por cima e à distância algumas ‘grandes civilizações’ que seus textos, suas ruínas, às vezes seus laços de parentesco, de trocas, de herança com a Antiguidade Clássica, nossa mãe, ou a amplidão das massas humanas, que eles opuseram aos poderes e à atenção dos europeus, faziam com que fossem admitidas à margem do império de Clio, aos bons cuidados do orientalismo apaixonado pela filologia e pela arqueologia monumental, e comumente consagrado à ostentação das ‘invariantes’ espirituais. O que resta: povoações sem história, sobre o que estavam de acordo o homem da rua, os manuais e a Universidade.

Tudo isso foi mudado. Há dez ou quinze anos, por exemplo, a África negra entra forçosamente no campo dos historiadores. O que se passou e como isso foi possível?

Fonte: Moniot, H. 1979. In: Le Goff, J. & Nora, P., orgs. 1979. História: novos problemas, 2ª ed. RJ, Francisco Alves.

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