F. Ponce de León
Na última quinta-feira (17/12), recebi da gráfica os
exemplares impressos do livro Poesia contra a guerra. A publicação – em
comemoração ao aniversário de 9 anos – traz uma amostra do universo literário
presente neste blogue.
São 100 poemas, arranjados em três grupos, de acordo com a
data de nascimento dos poetas: os nascidos antes de 1501 (10 autores, de João Soares
de Paiva a Sá de Miranda); entre 1501 e 1800 (24, de Luís de Camões a Almeida
Garrett) e após 1800 (66, de Correia de Almeida a Ascânio Lopes).
Além de poetas ou poemas relativamente bem conhecidos, o
livro abriga algumas preciosidades que são menos familiares ao leitor
brasileiro de hoje. Nesse sentido, aliás, cabe reproduzir aqui as palavras –
atualíssimas, ainda que escritas no início do século passado – de Carolina
Michaëlis de Vasconcelos (1910, p. x-xi):
Daria por bem empregados os meus esforços, se conseguisse dois intuitos:
que cada leitor, embora leia indiferente e por alto dezenas de poesias, pare
comovido diante de algumas; e que pouco a pouco a opinião pública se fixe
naquelas que merecem, de facto, a qualificação de obras-primas da lírica
portuguesa. Até hoje o aplauso unânime dos cultos ainda não consagrou senão
certos nomes de reputação universal.
Critérios
A regra de ouro do blogue sempre foi a de publicar apenas e
tão somente textos (poemas, trechos de artigos etc.) extraídos de alguma obra
que eu tivesse em mãos. Trocando em miúdos, não bastava querer publicar esse ou aquele texto; era necessário também ter uma
testemunha material – e.g., um livro
no qual o poema (ou versos dele) estivesse presente. (As únicas exceções têm
sido os textos que me são enviados pelos próprios autores.)
Na preparação dessa coletânea, adotei três critérios
adicionais: i) publicar apenas poemas originalmente
escritos em português (ou em idioma afim, como o galego); ii) selecionar um poema de cada autor (vários autores
já tiveram mais de um poema publicado); e iii) incluir apenas autores cuja obra
esteja em domínio público (i.e,
autores falecidos há mais de 70 anos).
Fontes
Organizar uma coletânea de poesia implica em dois níveis de
escolhas: os autores e os poemas. No que diz respeito aos primeiros, tive
acesso a uma variedade relativamente ampla de nomes; com relação aos últimos,
porém, isso nem sempre aconteceu. Basta dizer que, no âmbito dos cem autores
incluídos, dos 38 livros usados como fonte inicial, apenas 16 lidam com um
autor específico, oferecendo assim uma amostra algo significativa da obra de
cada um deles. Com acesso a um acervo tão restrito, não seria de estranhar que
muita poesia de primeira ficasse de fora; ainda assim, no entanto, arrisco
dizer que a amostra reunida no livro, além de única e, até certo ponto,
representativa, inclui algumas obras-primas. Seja como for, o livro não deve
ser visto como uma coletânea do tipo ‘melhores poetas’ ou ‘melhores poemas’.
Nem todas as fontes secundárias são igualmente confiáveis –
às vezes, a quantidade de erros e mal-entendidos presentes é bem superior ao
que poderíamos chamar de ‘acidental’ ou ‘desprezível’. Uma explicação para isso
estaria no fato de elas muitas vezes deixarem as fontes primárias de lado,
transcrevendo versões encontradas em outras fontes secundárias. Tentei não
cometer o mesmo erro. Para isso, cotejei a versão de cada poema presente nas
fontes até então usadas pelo blogue com versões encontradas em obras mais
específicas, incluindo, se possível, os originais. Algumas vezes, contudo, tive
de me contentar com versões presentes em trabalhos de terceiros, conforme
indico em cada caso.
Alguns versos
Alguns versos presentes no livro devem ser familiares ao
leitor:
Os dias,
na esperança de um só dia,
Passava,
contentando-se com vê-la
Oh! que
saudades que tenho
Da
aurora da minha vida
E a
fonte, sonora e fria,
Cantava,
levando a flor
Triste,
a escutar, pancada por pancada,
A
sucessividade dos segundos
Perdi-me
dentro de mim
Certos autores, contudo, estão representados por versos menos
óbvios:
Ó
cousas, todas vãs, todas mudáveis!
Tanto
era bela no seu rosto a morte!
A tarde
morria! Nas águas barrentas
As
sombras das margens deitavam-se longas
No ar
sossegado um sino canta,
Um sino
canta no ar sombrio...
Sou filha da charneca erma e
selvagem
Um terceiro e mais numeroso grupo reúne autores e versos
pouco familiares; entre estes, no entanto, o leitor também poderá encontrar
muitas gemas preciosas. Como estas, talvez:
Fermoso
Tejo meu, quão diferente
Te vejo
e vi, me vês agora e viste
Se acaso
aqui topares, caminhante,
Meu frio
corpo já cadáver feito
Não, não
é louco. O espírito somente
É que
quebrou-lhe um elo da matéria
Os
jardins, e, por entre as árvores, a gente,
Da qual
a brisa traz as vozes, confundidas
A dor,
deserto imenso,
Branco
deserto imenso,
Resplandecente
e imenso,
Foi um
deslumbramento
Olhos,
que eu adorei cheios de álacre e vário
luzir, –
hoje da cor do lírio roxo orlados
Estrelas
fulgem da noite em meio
Lembrando
círios louros a arder...
E eu
tenho a treva dentro do seio...
Poeta
fui e do áspero destino
Senti
bem cedo a mão pesada e dura
Os meus olhos brilharão
como os da fera
que
defende a entrada de seu fojo
Como adquirir o livro
Por via postal (como impresso
registrado, com seguro), o livro será comercializado em seis opções
de
pacotes, com 1, 2, 4, 10, 20 ou 40 exemplares. O preço unitário é
inversamente proporcional ao tamanho do pacote, variando entre R$ 30
(pacotes com 40 exemplares) e R$ 40 (1 exemplar).
O
leitor interessado em obter informações adicionais, pode entrar em
contato comigo pelo endereço meiterer[arroba]hotmail.com (trocando
[arroba] por @).
Referências citadas
Ponce de León, F. 2015. Poesia contra a guerra. Viçosa, Edição do Autor.
Vasconcelos, CM. 1910. As cem melhores poesias (líricas) da língua portuguesa. Lisboa,
Ferreira.