30 julho 2021

La conservación dinámica de la estructura

Henri Laborit

Ahora bien, un carácter muy particular de la materia viva y que se comprueba en cada uno de los grados de la organización que acabamos de enumerar es el de parecer escapar al segundo principio de la termodinámica, a la tendencia general a la nivelación. Parece que se puede considerar que el carácter esencial de un ser vivo, en cada escala de organización de la materia que lo constituye, reside en la conservación dinámica de su estructura diferenciada en el seno del medo exterior menos organizado.

Muéstrase, por lo tanto, aquí una finalidad, pero una finalidad que no recurre a ninguna fuerza extraña al sistema organismo vivo-mundo exterior. La finalidad de un hilo de cobre en un circuito eléctrico puede ser conducir la corriente. Si se le separa de la fuente de energía eléctrica, no deja de ser menos hilo de cobre, su estructura no ha variado con la pérdida de su finalidad. Un organismo vivo, en cambio, que ya no realiza su finalidad, es un cadáver. Su estructura desaparece con la desaparición de la acción finalizada. Su finalidad parece, pues, que sea la conservación de su estructura.

Laborit, H. 1969 [1963]. Del sol al hombre. Barcelona, Labor.

28 julho 2021

La vie est plus vaine

Paul-Jean Toulet

La vie est plus vaine une image
  Que l’ombre sur le mur.
Pourtant l’hiéroglyphe obscur
  Qu’y trace ton passage

M’enchante, et ton rire pareil
  Au vif éclat des armes;
Et jusqu’à ces menteuses larmes
  Qui miraient le soleil.

Mourir non plus n’est ombre vaine.
  La nuit, quand tu as peur,
N’écoute pas battre ton coeur:
  C’est une étrange peine.

Fonte (estrofe 3): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1921.

26 julho 2021

Substâncias químicas

Per Christian Braathen

Os milhões de substâncias que existem são constituídas dos átomos dos pouco mais de 100 elementos. Quando uma substância é constituída de apenas um elemento, temos substâncias simples. O número de substâncias simples é pequeno, embora maior do que o número de elementos, tendo em vista que os átomos de alguns elementos se agrupam (se ligam) de maneiras diferentes, resultando em formas alotrópicas de um mesmo elemento, como já vimos anteriormente.

Como quase todos os elementos são metais, quase todas as substâncias simples são metálicas, com as características inerentes a esta classe de substâncias, tais como maleabilidade, ductilidade e grande condutibilidade elétrica e térmica. Quase todos são sólidos nas condições ambientais, sendo a única exceção o mercúrio, que é líquido nestas condições. A maioria apresenta altos pontos de fusão e ebulição, o que implica que fortíssimas ligações existem entre os átomos constituintes. [...]

As substâncias simples formadas por ametais são em número bem menor, já que o número de elementos ametálicos é bem menor. Estas substâncias apresentam propriedades físicas e químicas bem diferentes das substâncias metálicas.

Muitas são gases em condições ambientais. É o caso das substâncias oxigênio, ozônio, nitrogênio, flúor e cloro. Uma é líquida, o bromo. Outros são sólidos, como a grafite e o diamante, que são formas alotrópicas do elemento carbono, [constituídas] por átomos daquele elemento. O enxofre também é sólido nas condições ambientais, bem como as formas alotrópicas do elemento fósforo, constituindo as substâncias simples fósforo branco, fósforo vermelho e fósforo negro, que apresentam propriedades físicas e químicas bem distintas.

O boro, o antimônio e o arsênio também são substâncias ametálicas, sólidas nas condições ambientais.

Mesmo as substâncias ametálicas que se apresentam como sólidos nas condições ambientes possuem, de modo geral, baixos pontos de fusão e ebulição. De modo geral são também maus condutores de eletricidade e calor. [...]

As substâncias simples ametálicas, diferentemente dos metais, são na maioria das vezes constituídas por agregados de atomicidade exatamente definida, ou seja, com um número de átomos bem definido em cada aglomerado. Ou seja, são formadas por moléculas.

Molécula é exatamente isto, um aglomerado característico de átomos de atomicidade exatamente definida. É importante ter em mente que quase todas as substâncias, quer simples, quer compostas, são constituídas de moléculas, que constituem, portanto, a unidade básica fundamental de quase todas as substâncias químicas existentes.

Fonte: Braathen, P. C. 2009. Química geral. Viçosa, CRQ-MG.

24 julho 2021

Uma ou duas coisas sobre a infertilidade

Colin Clark

Sem empecilhos, a probabilidade de concepção em casais humanos férteis parece ser, em média, de 0,1 por ciclo menstrual; maior para as primeiras concepções, mas de outra maneira sem relação com a idade. De um mínimo de três por cento, a proporção de infertilidade sobe rapidamente de acordo com a idade, de 25 anos em diante. A infertilidade, em qualquer idade, parece ser maior entre as raças de cor que na branca. A afirmação de que a infertilidade humana natural aumenta com a desnutrição não se baseia em testemunho algum.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de artigo originalmente publicado em 1958.

22 julho 2021

Príncipe de Portugal


Anthonis Mor van Dashorst (1519-1575). João Manuel, prins van Portugal. 1552.

Fonte da foto: Wikipedia.

19 julho 2021

Errata pensante

Machado de Assis

Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.

Fonte: Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Excerto extraído do livro Memórias póstumas de Brás Cubas (1881, cap. 27).

17 julho 2021

Por que a variação da distância Terra-Sol não explica as estações do ano?

Wilton S. Dias & Luís Paulo Piassi

O estudo das estações do ano é um dos principais tópicos para a introdução da astronomia no ensino básico. Todas as principais civilizações que desenvolveram alguma forma de calendário e a observação mais sistemática do céu fizeram-no a partir da observação da variação climática anual. Em uma sociedade agrária, onde os ritmos de plantio e colheita são determinados pelas estações do ano, os ciclos anuais de insolação determinaram diversos aspectos da vida social, cujos resquícios hoje ainda se verificam em festas religiosas de solstícios como o Natal e São João e de equinócio como a Páscoa.

Entretanto, embora o estudo das estações do ano seja um dos temas mais abordados no ensino de ciências, ainda hoje verificamos entre professores [...] e até em alguns livros didáticos uma excessiva superficialidade no tratamento do assunto [...], quando não erros conceituais. Uma questão interessante, por exemplo, é o fato amplamente divulgado de que a órbita da Terra não é uma circunferência, o que implica em uma variação na distância de nosso planeta até o Sol, muitas vezes exagerada nos desenhos dos livros didáticos [...]. Mesmo após aceitar que este fato não explica a variação climática anual, já que esta é causada pela inclinação do eixo imaginário de rotação da Terra tanto professores quanto alunos questionam sobre se a variação da distância Terra-Sol também não causa efeitos consideráveis sobre o clima.

Quando se preconiza no ensino de ciências levar os alunos a questionar e estabelecer relações entre fenômenos, ao invés apenas de memorizar fatos, essa questão se torna de suma relevância. No entanto, os livros didáticos não dão subsídios a esta questão nem a outras que advém dela. Por que razão a variação da distância Terra-Sol não determina as estações do ano? Em que época do ano essa distância é máxima ou mínima? Não há mesmo uma pequena influência dessa variação sobre a temperatura? E nos outros planetas do Sistema Solar, os fenômenos são similares aos da Terra? Se a inclinação do eixo imaginário da Terra fosse diferente ou a órbita da Terra fosse mais excêntrica, o que poderia acontecer? Esse é o tipo de questionamento que podemos observar em sala de aula por parte de estudantes quando, ao serem confrontados com a questão das estações do ano, são estimulados a refletir sobre o assunto [...].

Fonte: Dias, W. S. & Piassi, L. P. 2007. Por que a variação da distância Terra-Sol não explica as estações do ano? Revista Brasileira de Ensino de Física 29: 325-329.

15 julho 2021

A lira esfolha a partitura

Alcy Gomes da Fonseca

A lira esfolha a partitura
  e soletra
  a tímida canção
  que a bissexta inspiração
  perpetra

Eis minha poesia

Quisera fosse pura
  como a verdade que fantasia

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 2009.

13 julho 2021

Como e por que metade das mortes ocorridas este ano poderia ter sido evitada

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 5 e 11/7, essas taxas ficaram em 0,2419% (casos) e 0,2453% (mortes). O valor da taxa de novos casos é o mais baixo desde o início da pandemia. O valor da taxa de mortes é o mais baixo desde a primeira semana de novembro e é o segundo mais baixo desde o início da pandemia. No ritmo atual, o país irá contabilizar 19.746.677 casos (e não os 20.530.439 previstos anteriormente) e 552.103 mortes (e não 562.838) até 25/7. Essas retrações já seriam reflexos da vacinação. No ritmo atual da campanha, 70% da população do país terá recebido ao menos uma dose até 1/9/2021. E mais: caso o ritmo atual da vacinação tivesse sido adotado desde 1/2/2021 (quando a campanha alcançou 1% da população), ao menos 150.214 mortes teriam sido evitadas.

*

Ontem (11/7), segundo o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 20.937 casos e 595 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 19.089.940 casos e 533.488 mortes.

Na comparação com as estatísticas da semana anterior (28/6-4/7), os números de casos e de mortes continuam a declinar. E de modo expressivo.

Foram registrados 320.132 novos casos – uma queda de 8,3% em relação à semana anterior (349.310). Foi a 32ª semana com mais de 300 mil novos casos – 27 dessas semanas foram registradas em 2021.

Desgraçadamente, foram registradas 9.071 mortes – uma queda de 17% em relação à semana anterior (10.943). Foi a 34ª semana com mais de 7 mil mortes – 26 dessas semanas foram registradas em 2021.

TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [1]. Para tanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (28/6-4/7), as médias da semana passada (5-11/7) tornaram a recuar (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,27% (28/6-4/7) para 0,24% (5-11/7) [2]. Este valor é o mais baixo desde o início da pandemia.

Já a taxa de crescimento no número de mortes caiu de 0,30% (28/6-4/7) para 0,24% (5-11/7). Este valor é o mais baixo desde a primeira semana de novembro (ver a figura que acompanha este artigo) [2, 3]. E é também o segundo mais baixo desde o início da pandemia.

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 11/7/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o melhor mês. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias. A campanha de vacinação teve início em 17/1. Os percentuais em azul escuro (1%, 5% etc.) indicam a parcela da população brasileira vacinada com ao menos uma dose, entre 1/2 (0,99%) e 9/7/2021 (40,08%) [4]. A chamada CPI da Covid foi oficialmente instalada em 27/4.

*

CODA.

No ritmo atual, o país irá contabilizar 19.746.677 casos (e não os 20.530.439 previstos anteriormente) e 552.103 mortes (e não 562.838) até o último domingo de julho (25/7).

As sucessivas quedas observadas nas taxas de crescimento (casos e mortes) nas últimas semanas já seriam reflexos da campanha de vacinação. (O que significa dizer que a imunização individual – obtida por meio da vacinação – estaria a se converter enfim em um fenômeno populacional perceptível, a chamada imunidade coletiva ou i. de rebanho.)

No ritmo atual da campanha de vacinação [5], 70% da população terá recebido ao menos uma dose até 1/9/2021. E mais: caso o ritmo atual da campanha tivesse sido adotado desde 1/2/2021 (quando a campanha alcançou 0,99% da população), ao menos 150.214 mortes teriam sido evitadas [6].

Em outras palavras, ao menos metade das mortes contabilizadas até agora em 2021 poderia ter sido evitada.

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Insisto em dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a maior parte da imprensa brasileira (grande ou pequena; reacionária ou progressista) se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, em escala mundial e nacional, ver as referências citadas na nota 3.

[2] Entre 19/10 e 11/7, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7) e 0,2419% (5-11/7); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7) e 0,2453% (5-11/7).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Fonte: ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

[5] Com base nos números do Our World in Data (ver nota 4), o país teria saltado de 30% para 40% da população vacinada, entre 21/6 (30,13%) e 9/7 (40,08%). O que está longe de ser uma proeza. Afinal, a julgar pelo que dizem alguns especialistas (e.g., aqui) ou a julgar pelas notícias (e.g., aqui), o sistema de saúde do país pode ser ainda mais ágil.

Mantido o ritmo de vacinação, as estatísticas desta e das próximas semanas devem seguir em trajetórias declinantes.

Como escrevi em artigos anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

Como também escrevi anteriormente, os efeitos da vacinação só seriam percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tivesse sido vacinada. (O que só será possível agora no segundo semestre.) De resto, devemos continuar tomando cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

[6] O que equivaleria a 44,5% das 337.470 mortes ocorridas em 2021. (Outras 196.018 ocorreram em 2020, totalizando assim as 533.488 mortes referidas no início deste artigo.)

* * *

12 julho 2021

14 anos e nove meses no ar

F. Ponce de León

Nesta segunda-feira, 12/7, o Poesia Contra a Guerra completa 14 anos e nove meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘14 anos e oito meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alda do Espírito Santo, Frederick E. Flynn, George Gordon Byron, John O. Browder e Umberto G. Cordani. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Alonso Sánchez Coello, Claude Déruet e François Clouet.

10 julho 2021

Senhora com leque


Alonso Sánchez Coello (c. 1531–1588). La dama del abanico. 1570-1573.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 julho 2021

O visitante

Eudoro Augusto

Entra de mansinho encosta a porta
sem pressa mas firme fala
farfalha deblatera
aperta e solta mas agarra
força a barra
apronta um ouriço
que é isso? que é isso? e sai de fino

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª ed. RJ, Aeroplano. Originalmente publicado em livro em 1975.

06 julho 2021

Alternativas de desenvolvimento

John O. Browder

As florestas cobrem mais de um quarto – ou cerca de 40 milhões km2 – da superfície terrestre do planeta. A maior parte delas se localiza nos trópicos – 27% das quais na América Latina, 10% na Ásia e 22% na África. Da área florestal tropical total do planeta, de 23 milhões km2, 52% são classificadas como florestas ‘fechadas’, 31% como ‘abertas’ e 17% como de crescimento secundário (tanto nas florestas fechadas como nas abertas).

Fonte: Browder, J. O. 1992. In: H. J. Leonard, org. Meio ambiente e pobreza. RJ. Jorge Zahar.

04 julho 2021

Furando a bolha do genocídio

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 28/6 e 4/7, essas taxas ficaram em 0,27% (casos) e 0,30% (mortes). A taxa de novos casos atingiu o valor mais baixo desde o início da pandemia. O valor da taxa de mortes é o mais baixo desde a última semana de novembro.

*

Ontem (4/7), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 27.783 casos e 830 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 18.769.808 casos e 524.417 mortes.

Na comparação com as estatísticas da semana anterior (21-27/6), os números de casos e de mortes declinaram. E de modo expressivo.

Foram registrados 349.210 novos casos – uma queda de quase 30% em relação à semana anterior (492.670). Foi a 31ª semana com mais de 300 mil novos casos – 26 dessas semanas foram registradas em 2021.

Desgraçadamente, foram registradas 10.943 mortes – uma queda de 6% em relação à semana anterior (11.649). Foi a 33ª semana com mais de 7 mil mortes – 25 dessas semanas foram registradas em 2021.

TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [1]. Para tanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (21-27/6), as médias da semana passada (28/6-4/7) recuaram (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,39% (21-27/6) para 0,27% (28/6-4/7) [2]. Este valor é o mais baixo desde o início da pandemia.

Já a taxa de crescimento no número de mortes caiu de 0,33% (21-27/6) para 0,30% (28/6-4/7). Este valor é o mais baixo desde a última semana de novembro (ver a figura que acompanha este artigo) [2, 3].

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 4/7/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o melhor mês. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias. A campanha de vacinação teve início em 17/1. Os percentuais em azul escuro (1%, 5% etc.) indicam a parcela da população brasileira vacinada com ao menos uma dose, entre 2/2 e 21/6/2021 [4]. A chamada CPI da Covid foi oficialmente instalada em 27/4.

*

CODA.

A campanha de vacinação, diferentemente do que escrevi em artigo anterior (ver No ritmo atual, o país irá contabilizar 20,5 milhões de casos e 563 mil mortes até 25/7), já estaria a ter efeitos tanto sobre a taxa de novos casos como sobre a taxa de mortes. (O que significa dizer que a imunização individual – obtida por meio da vacinação – estaria a se converter enfim em um fenômeno populacional perceptível, a tal imunidade de rebanho.)

É uma ótima notícia, ainda que tardia. (A campanha de vacinação, como a opinião pública está tomando ciência por esses dias, poderia ter sido iniciada em 2020. O que teria freado a disseminação da doença lá atrás – evitando, consequentemente, a escalada que houve no número de mortes.)

Ao que parece, portanto, a campanha de vacinação – aliada às medidas de prevenção – teria enfim conseguido furar a bolha do genocídio que tem assombrado os brasileiros [5].

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Insisto em dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a maior parte da imprensa brasileira (grande ou pequena; reacionária ou progressista) se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, em escala mundial e nacional, ver as referências citadas na nota 3.

[2] Entre 19/10 e 4/7, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6) e 0,27% (28/6-4/7); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6) e 0,30% (28/6-4/7).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Fonte: ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

[5] Mantido o ritmo de vacinação, as estatísticas desta e das próximas semanas devem seguir em trajetórias declinantes.

Como escrevi em artigos anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

Como também escrevi anteriormente, os efeitos da vacinação só seriam percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tivesse sido vacinada. (O que só será possível agora no segundo semestre.) De resto, devemos continuar tomando cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

02 julho 2021

Teu corpo de terra e água

José Saramago

Teu corpo de terra e água
Onde a quilha do meu barco
Onde a relha do arado
Abrem rotas e caminho

Teu ventre de seivas brancas
Tuas rosas paralelas
Tuas colunas teu centro
Teu fogo de verde pinho

Tua boca verdadeira
Teu destino minha alma
Tua balança de prata
Teus olhos de mel e vinho

Bem que o mundo não seria
Se o nosso amor lhe faltasse
Mas as manhãs que não temos
São nossos lençóis de linho

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1970.

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