Rubaiatas
Omar Iben Ibrahim El-Khaiami
5.
Ouve, amigo,
o bom conselho:
Antes que te esfacelem
os pesares do coração,
e antes que o manto sombrio da noite
apague
os últimos clarões do entardecer,
traze para tua alcova
o vinho cor-de-rosa.
Não vás pensar,
pobre ignorante,
que és feito de ouro.
Não creias, pois,
que serás libertado
quando te esconderem
debaixo da terra;
que serás recolhido
como se fosses uma pepita
do precioso metal...
6.
Contempla
a caravana da velhice,
vê como galopa,
repara, repara um pouco
naquele ritmo espantoso!
Companheiro!
Aproveita esses instantes fugazes
para mergulhar
nos prazeres da vida,
para esquecer
nas delícias do amor!
Quanto a ti, escanção,
por que tanto cismas,
por que te atemoriza
a problemática ressurreição
anunciada
para certo dia do amanhã?
Traze a taça,
pois esta noite
certamente findará.
7.
Se eu estiver,
segundo os meus difamadores,
embriagado
pelo vinhos dos magos,
é porque realmente estou.
E se eu sou ateu,
mago e idólatra
porque assim o afirmam,
certamente o sou.
Os filiados
às várias seitas e religiões
atêm-se a presunções sem fundamento
e despudoradamente me acusam.
Mas não me atingem
as suas maquinações.
O que não sou é escravo,
nem propriedade de ninguém.
Algo sou,
mas que pertence a mim mesmo.
Vivo
e viverei sempre
como entender.
8.
Ó Allah!
Semeaste de armadilhas
e eriçaste de pecados
as curvas do meu caminho!
E depois advertiste:
– Ai de ti se caíres!
Sabemos
que nem um só átomo se esconde
à Tua visão
em todo o Universo:
ora,
se determinaste
que assim se me desdobrasse
o percurso da existência,
e se tão meticulosamente
preparaste a minha queda,
Allah!
por que me chamas
pecador?
Fonte: Khayyám, O. 2005. Rubáiyát. SP, Martin Claret. A obra completa – datada talvez do início do século 12 – contém 182 rubaiatas; das quais reproduzimos aqui quatro. Obra e nome do autor são comumente grafados como “Rubáiyát” e “Omar Khayyám”, respectivamente.