Poesia Contra a Guerra
A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
27 fevereiro 2017
25 fevereiro 2017
Se puderes
Gordana Đurić
Fala com a grama,
Contata o vento,
Impede a água de escorrer
da fonte,
Se puderes,
Faze com que se unam os
inimigos.
Se puderes,
Não permitas que as
jovens exalem o seu perfume,
Não permitas que as
jovens possam escolher,
Não permitas que as
jovens possam florescer.
Se puderes,
Agarra-me como se fosse
um pássaro,
Agarra-me como se fosse
um instante,
Agarra-me como se fosse
uma estrela do céu.
22 fevereiro 2017
Amigas, eu oí dizer
Gonçalo Eanes do Vinhal
Amigas, eu oí dizer
que lidaron os de Mouron
com aquestes del rei, e
non
poss’end’a verdade saber:
se é viv’o meu amigo,
que troux’a mia touca sigo.
Se me mal non estevesse
ou non fosse por enfinta,
daria esta mia cinta
a quen m’as novas
dissesse:
se é viv’o meu amigo,
que troux’a mia touca sigo?
20 fevereiro 2017
Ego e ideologia
Erik Erikson
O fenômeno tem aspectos
evolutivos bem como históricos. Eu colocaria do seguinte modo: O homem se
tornou dividido em pseudoespécies e, na presente era, tenta superar uma das
últimas formas desse fenômeno, que é o nacionalismo. O animal tribal está na
defensiva, justamente porque ideologias mais inclusivas estão sendo formuladas.
Mas, como formar uma identidade mais ampla – este torna-se agora o problema da
juventude. Na minha opinião, o adolescente é dirigido e frequentemente
perturbado por uma nova pressão quantitativa de impulsos conflitantes. Assim, o
aspecto ontogenético da adolescência é realmente representativo daquilo que a
força do ego de cada indivíduo precisa tentar resolver num único momento, a
saber, o desgoverno interno e as condições mutáveis. Uma pessoa cujas potencialidades
como pessoa não podem ser atualizadas nas tendências históricas do seu tempo,
simplesmente, fica mais desnorteada a respeito do que a impulsiona amorfamente,
mas inclinada a regredir e, desse modo, também mais importunada por
remanescentes infantis na sua sexualidade. Você pode ver, em qualquer jovem,
que ele pode exercer a sexualidade sem dificuldades, pode se expor a crises e
absorver alguns equívocos graves. Assim, a identidade tem essa importância no
desenvolvimento. Mas, depois, ela tem também o seu lado social, que é o que a
torna psicossocial. Como base no desenvolvimento cognitivo, a pessoa jovem está
procurando uma estrutura ideológica com a qual enfrentará um futuro de vastas
possibilidades. É muito importante ver que ideologias, por definição, não podem
ser constituídas de valores maduros. Os adolescentes são facilmente seduzidos
por regimes totalitários e todas essas tendências que oferecem alguns valores
transitórios falsos. Enquanto a adolescência é vulnerável a ideias falsas, ela
pode colocar uma grande energia e lealdade à disposição de qualquer sistema
convincente. Isto é o que a torna tão trágica e dá a todos os criadores de
novos valores tamanha responsabilidade. Nós, no Ocidente, pensamos que queremos
só defender um estilo de vida, enquanto, de fato, estamos também criando e
exportando ideologias tecnológicas e científicas, que têm seus próprios
caminhos para reforçar o conformismo. Estas são duas grandes fontes de
identidade contemporânea e de confusão de identidade: a crença na tecnologia e
a reafirmação de uma espécie de humanismo. Ambas podem ser obsoletas, na sua
utopia, inadequadas ao esforço gigantesco do homem para controlar os seus
próprios poderes.
18 fevereiro 2017
É noite. Paira no ar uma etérea magia
Gilka Machado
É noite. Paira no ar uma
etérea magia;
nem uma asa transpõe o
espaço ermo e calado;
e, no tear da amplidão, a
Lua, do alto, fia
véus luminosos para o
universal noivado.
Suponho ser a treva uma
alcova sombria,
onde tudo repousa unido,
acasalado.
A Lua tece, borda, e para
a Terra envia,
finos, fluidos filós, que
a envolvem lado a lado.
Uma brisa sutil, úmida,
fria, lassa,
erra de quando em quando.
É uma noite de bodas
esta noite... há por tudo
um sensual arrepio.
Sinto pelos no vento... é
a Volúpia que passa,
flexuosa, a se roçar por
sobre as coisas todas,
como uma gata errando em
seu eterno cio.
15 fevereiro 2017
I am a black woman
Mari Evans
I am a black woman
the music of my song
some sweet arpeggio of tears
is written in a minor key
and I
can be heard humming in the night
Can be heard
humming
in the night
I saw my mate leap screaming to the sea
and I/with these hands/cupped the lifebreath
from my issue in the canebrake
I lost Nat’s swinging body in a rain of tears
and heard my son scream all the way from Anzio
for Peace he never knew... I
learned Da Nang and Pork Chop Hill
in anguish
Now my nostrils know the gas
and these trigger tire/d fingers
seek the softness in my warrior’s beard
I
am a black woman
tall as a cypress
strong
beyond all definition still
defying place
and time
and circumstance
assailed
impervious
indestructible
Look
on
me and be
renewed
13 fevereiro 2017
Death, be not proud
John Donne
Death, be not proud, though some have called
thee
Mighty and dreadful, for thou art not so;
For those whom thou think’st thou dost
overthrow,
Die not, poor Death, nor yet canst thou kill
me.
From rest and sleep, which but thy pictures be,
Much pleasure; then from thee much more must
flow,
And soonest our best men with thee do go,
Rest of their bones, and soul’s delivery.
Thou art slave to fate, chance, kings, and
desperate men,
And dost with poison, war, and sickness dwell;
And poppy or charms can make us sleep as well
And better than thy stroke; why swell’st thou
then?
One short sleep past, we wake eternally,
And death shall be no more; Death, thou shalt
die.
12 fevereiro 2017
Dez anos e quatro meses no ar
F. Ponce de León
Neste domingo, 12/2, o Poesia contra a guerra completa 10 anos
e quatro meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no
blogue indicava que 310.845 visitas ocorreram ao longo desse período.
Desde o balanço anterior – Dez anos e três meses no ar – foram publicados aqui pela primeira vez
textos dos seguintes autores: Andrew C. Campbell, Ernst Mayr, Euro
Arantes, Francisco Aboitiz, John L. Harper, Juan Montiel, Juca Chaves, Norman
Metzger, Oliveira Silveira e Robert T. Orr. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.
10 fevereiro 2017
08 fevereiro 2017
Os oceanos poluídos
Norman Metzger
Não obstante o que ainda
temos de aprender sobre as proteínas fixadoras de [nitrogênio], enigmas do
envelhecimento e neutrinos subterrâneos, os oceanos continuam sendo o posto
avançado mais inconfortável do homem – uma última fronteira para a ciência. Não
compreendemos os oceanos – a natureza e comportamento da água do mar; o que
acontece quando o oceano se encontra com o ar; e como a química dos oceanos
afeta a vida que essas águas criam. Sabemos mais sobre os leitos dos oceanos do
que sobre as águas que lhes estão por cima.
Essas lacunas apontam
para uma importância mais profunda do que o simples impulso para aprender: os oceanos
estão sendo poluídos com rapidez sempre crescente e não sabemos as consequências.
As quantidades anuais de
chumbo e mercúrio que o homem está acrescentando aos oceanos aproximam-se dos
níveis acrescentados pela erosão natural dos continentes; os hidrocarbonetos do
óleo derramado estão atingindo o nível dos hidrocarbonetos naturais resultantes
da decomposição da vida vegetal e animal; cerca de 25% de todo o DDT feito até
hoje estão agora nos oceanos. Os pesticidas usados na África seguem os ventos e
aparecem na baía de Bengala, ao largo do oceano Índico e nas Antilhas. Os
pesticidas pulverizados num milharal no Kansas aparecem nas geleiras no hemisfério
norte, dentro de um ano. Qualquer químico analítico competente pode encontrar radioatividade
feita pelo homem nas águas extraídas de qualquer oceano.
[...]
06 fevereiro 2017
Só a leve esperança, em toda a vida
Vicente de Carvalho
Só a leve esperança, em
toda a vida,
Disfarça a pena de viver,
mais nada;
Nem é mais a existência,
resumida,
Que uma grande esperança
malograda.
O eterno sonho da alma
desterrada,
Sonho que a traz ansiosa
e embevecida,
É uma hora feliz, sempre
adiada
E que não chega nunca em
toda a vida.
Essa felicidade que
supomos,
Árvore milagrosa que
sonhamos
Toda arreada de dourados
pomos,
Existe, sim: mas nós não
a alcançamos
Porque está sempre apenas
onde a pomos
E nunca a pomos onde nós
estamos.
04 fevereiro 2017
A imprensa como ela é
Euro Arantes
O leitor que diariamente
sai à rua para comprar ‘o seu jornal’ está pagando para ser ludibriado.
A notícia era apenas isso:
“Dois namorados,
modestamente vestidos, passeavam ontem na Pampulha, quando foram colhidos por
um caminhão da Standard Oil (hoje Esso), que rodava em direção a Belo
Horizonte, transportando 6.000 litros de óleo destinados à Prefeitura da
Capital. Os dois jovens, que mais tarde foram identificados como sendo Fulano e
Fulana, tiveram morte imediata e o motorista foi preso por um inspetor de
veículos que, casualmente, passava pelo local.”
Mas acontece que cada
jornal costuma sempre interpretar os fatos ao seu modo e o resultado foi que,
no dia seguinte, os nossos matutinos (com exceção do Informador Comercial, que é órgão especializado, e do Estado de Minas, que só publica anúncios,
e por isso não noticiaram o fato) apareceram com os seguintes títulos:
Folha de Minas (jornal do
governo)
“Notável eficiência do
Serviço Estadual de Trânsito” – “O inspetor prendeu em flagrante o motorista
assassino” – “O governador visitou pessoalmente as duas famílias enlutadas” – “Aberto
rigoroso inquérito por ordem da Chefia de Polícia.”
O Diário (jornal da Cúria Metropolitana)
“Castigados os infiéis” –
“Entregavam-se à prática de atos imorais, quando foram colhidos por um caminhão.”
Tribuna de Minas (de propriedade
do ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros)
“Ademar de Barros está
com o povo” – “Amparada pela caixinha
do ex-governador de São Paulo, a família do rapaz que faleceu ontem na Pampulha.”
Diário de Minas (do sr.
Otacílio Negrão de Lima, inimigo público do prefeito da Capital)
“Responsável é o prefeito
Américo René Giannetti” – “O veículo estava desenvolvendo velocidade excessiva
porque o Visconde tinha pressa em receber a mercadoria” – “Para o sr. Giannetti
duas vidas valem menos do que 6.000 litros de óleo.”
Jornal do Povo (órgão do
antigo Partido Comunista)
“Proletários brasileiros
vítimas do imperialismo norte-americano” – “Cena revoltante na Pampulha: dois
humildes operários nacionais esmagados sob as rodas de um possante caminhão da
Standard Oil.”
Fonte: Rabêlo, J. M.
1997. Binômio: edição histórica. BH,
Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.
03 fevereiro 2017
O retorno de Marcus Sextus
Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833). Le Retour de Marcus Sextus, proscrit de
Sylla qui retrouve sa femme morte et sa fille au désespoir. 1799.
Fonte da foto: Wikipedia.
01 fevereiro 2017
De binóculo
Carlos Saldanha
Abaixando o copázio
Empunhando o espadim
Levantando o corpanzil
Indiferente ao poviléu
O homenzarrão abriu a
bocarra
fitando admirado
a naviarra do capitorra.