31 março 2021

Azul e branco


Louise [Jane] Jopling (1843-1933). Blue and white. 1896.

Fonte da foto: Wikipedia.

29 março 2021

O tecido social vem se esgarçando há anos, mas ainda não regredimos ao “É cada um por si”

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgados na semana passada (aqui). No caso específico do Brasil, atualiza ainda as médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes). Entre 22 e 28/3, essas médias ficaram em 0,63% (casos) e 0,86% (mortes). A taxa de casos permaneceu estacionária, mas a de mortes escalou. Foi a quinta escalada consecutiva. No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.931.329 casos (em vez dos 14.940.219 previstos anteriormente) e 396.797 mortes (em vez das 387.654 previstas anteriormente) até o último domingo de abril (25/4). A situação é crítica. Mas ainda não regredimos ao estágio do “É cada um por si”.

*

1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no início da tarde de hoje (29/3) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 78% dos casos (de um total de 127.319.002) e 81% das mortes (de um total de 2.785.838) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,3%. A taxa brasileira está em 2,5%. (Outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm taxas de letalidade equivalentes ou ainda piores: Argentina, 2,4%; Colômbia, 2,6%; e Peru, 3,4%.)

(C) Nesses 20 países, 75,1 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 95,6 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (28/3), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 44.326 casos e 1.656 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 12.534.688 casos e 312.206 mortes [4].

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (22-28/3) foram ainda mais assombrosas que as da semana anterior.

Foram registrados 536.455 novos casos – um novo recorde e um salto em relação ao total da semana anterior (514.863, entre 15 e 21/3). Foi a 17ª semana com mais de 300 mil novos casos (12 dessas semanas foram registradas em 2021).

Desgraçadamente, atingimos também um novo patamar no número de mortes: 18.164 – 15% a mais que o recorde anterior (15.813, entre 15 e 21/3). Foi a 19ª semana com mais de 7 mil mortes (11 dessas semanas foram registradas em 2021).

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Mês a mês, desde abril de 2020, tenho usado as taxas de crescimento no número de casos e de mortes para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia [5]. E a minha escolha tem se revelado bastante acertada.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (15-21/3), as médias da semana passada (22-28/3) mostraram tendências distintas (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos permaneceu estacionária em 0,63% (22-28/3) – é a quarta semana seguida que estamos a patinar entre 0,59% e 0,63% [6].

A taxa de crescimento no número de mortes saltou de 0,79% (15-21/3) para 0,86% (22-28/3) – o maior percentual desde 17-23/8 [6, 7]!

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 28/3/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

4. CODA.

No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.931.329 casos (em vez dos 14.940.219 previstos anteriormente) e 396.797 mortes (em vez das 387.654 previstas anteriormente) até o último domingo de abril (25/4).

A situação é crítica. A ponto de levar um importante observador da cena brasileira, o médico e escritor Drauzio Varella, a sentenciar: “A epidemia fugiu do controle, e só podemos contar com nós mesmos” (ver aqui).

De minha parte, interpreto essas palavras como um desabafo. (Um desabafo compreensivelmente raivoso, diga-se.) Mas não como uma conclusão assentada em evidências estatísticas.

De resto, embora o Palácio do Planalto continue a apostar as suas fichas na confusão e no malfeito, ainda não regredimos ao estágio do “Cada um que se vire” ou “É cada um por si”.

Há como estancar e reverter as tendências macabras observadas nos últimos meses. (O comportamento da taxa de crescimento no número de casos ao longo das últimas quatro semanas pode ser um sinal incipiente de que as medidas adotadas por prefeitos e governadores estariam a surtir algum efeito.)

Não há qualquer mistério. É uma questão essencialmente política: Basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países que venceram ou estão a vencer a pandemia. Neste sentido, reitero o que escrevi em artigos anteriores: Tomar as rédeas da situação (e sair da crise) depende sobremaneira da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [8].

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 30 e 32 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 12 e 14 milhões – Brasil e Índia; (c) Entre 4 e 6 milhões – França, Rússia e Reino Unido; (d) Entre 2 e 4 milhões – Itália, Espanha, Turquia, Alemanha, Colômbia, Argentina, Polônia e México; e (e) Entre 1,5 e 2 milhões – Irã, Ucrânia, África do Sul, Peru, Tchéquia e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Números horrorosos, mas previsíveis e evitáveis – ver o artigo ‘No ritmo atual, o país irá contabilizar 291 mil mortes até 28/3’, publicado neste GGN, em 1/3.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 3.

[6] Entre 19/10 e 21/3, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3) e 0,63% (22-28/3); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3) e 0,86% (22-28/3).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea citada na nota 3.

[8] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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28 março 2021

A questão da ciência pela ciência

Joseph Weizenbaum

Em 1935, Michael Polanyi, então professor de química-física na Victoria University, de Manchester, Inglaterra, viu-se subitamente confrontado com questões filosóficas que desde então passaram a dominar a sua vida. O choque partiu de Nikolai Bukharin, um dos principais teóricos do Partido Comunista Soviético, que afirmou a Polanyi que “sob o regime socialista a concepção de ciência pela ciência desapareceria, pois os interesses dos cientistas voltar-se-iam espontaneamente para os problemas do actual Plano Quinquenal”. Polanyi compreendeu então que “a perspectiva científica parecia ter originado uma concepção mecanicista do homem e da História, em que não havia lugar para a própria ciência”. E mais ainda: que “esta concepção negava indistintamente qualquer força intrínseca ao pensamento, eliminando assim quaisquer motivos para reclamar a liberdade de pensamento”.

Fonte: Weizenbaum, J. 1992 [1976]. O poder do computador e a razão humana. Lisboa, Edições 70.

27 março 2021

Macaco ou anjo?

Benjamin Disraeli

Qual a pergunta agora apresentada à sociedade com a mais espantosa e fluente segurança? A pergunta é esta: o homem é um macaco ou um anjo? Meu Senhor, eu estou do lado dos anjos.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de um discurso em Oxford, em 1864.

25 março 2021

Obedecer

Antônio Carlos Santini

Obedecer... Deixar que sua Mão
Aponte cada passo do caminho,
Sem escolher a flor, fugir do espinho,
Sem afastar as pedras do meu chão...

Obedecer... Aposentar o ‘não’,
Deixar meu interesse mais mesquinho,
Abandonar a vida em desalinho,
Deixar que Deus me amasse como o pão...

Obedecer... Queimar os meus navios
E seguir arrastado pelos rios
E remoinhos do querer de Deus...

E, assim, sem resistir ao seu transporte,
Deixar que Ele decida a minha morte,
Transfigurando em luz os erros meus...

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 2012.

22 março 2021

No ritmo atual, o país irá contabilizar 390 mil mortes até 25/4

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgados na semana passada (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em artigo anterior (aqui). Entre 15 e 21/3, as taxas ficaram em 0,63% (casos) e 0,79% (mortes). Foi a quinta escalada seguida na taxa de mortes. Ainda que a um ritmo menos acentuado, a taxa de casos, que havia recuado na semana anterior, tornou a subir. No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.940.219 casos e 387.654 mortes até o último domingo de abril (25/4). Mas as coisas podem seguir piorando, o que tornaria as estatísticas ainda mais assombrosas. Se a taxa de mortes seguir a escalar no ritmo que escalou nas últimas quatro semanas (algo como 0,1% por semana, entre 22/2 e 21/3), o total de mortes em 25/4 será ainda mais impressionante: 430.571.

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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da manhã de ontem (21/3) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 79% dos casos (de um total de 122.941.299) e 82% das mortes (de um total de 2.711.650) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,3%. A taxa brasileira está em 2,45%. (Outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm taxas de letalidade equivalentes ou ainda piores: Argentina, 2,43%; Colômbia, 2,7%; e Peru, 3,4%.)

(C) Nesses 20 países, 72,5 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 92,3 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (21/3), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 47.774 casos e 1.290 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 11.998.233 casos e 294.042 mortes [4].

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (15-21/3) foram ainda mais assombrosas que as da semana anterior.

Foram registrados 514.863 novos casos – um novo recorde e um salto em relação ao total da semana anterior (464.026, entre 8 e 14/3). Foi a 16ª semana com mais de 300 mil novos casos (11 dessas semanas foram registradas em 2021).

Desgraçadamente, atingimos também um novo patamar no número de mortes: 15.813 – 23% a mais que o recorde anterior (12.818, entre 8 e 14/3). Foi a 18ª semana com mais de 7 mil mortes (10 dessas semanas foram registradas em 2021).

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Mês a mês, desde abril de 2020, tenho usado as taxas de crescimento no número de casos e de mortes para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia [5]. E a minha escolha tem se revelado bastante acertada.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (8-14/3), as médias da semana passada (15-21/3) escalaram (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,59% (8-14/3) para 0,63% (15-21/3) – o maior percentual em nove semanas, embora não muito diferente dos valores obtidos nas duas semanas anteriores, 0,62% (1-7/3) e 0,59% (8-14/3) [6].

A taxa de crescimento no número de mortes saltou de 0,68% (8-14/3) para 0,79% (15-21/3) – o maior percentual nos últimos sete meses [6, 7]!

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 21/3/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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4. CODA.

No ritmo atual, o país irá contabilizar um total de 14.940.219 casos e 387.654 mortes até o último domingo de abril (25/4).

Mas as coisas podem seguir piorando, o que tornaria as estatísticas ainda mais assombrosas. Se a taxa de mortes seguir a escalar no ritmo que escalou nas últimas quatro semanas (algo como 0,1% por semana, entre 22/2 e 21/3), nós chegaremos ao último domingo de abril (25/4) com uma média semanal próxima a 1,3%. Nesse cenário, o total de mortes em 25/4 será ainda mais impressionante: 430.571.

Há como reverter essas tendências macabras – basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países que venceram ou estão a vencer a pandemia. O recado para governadores, prefeitos e lideranças empresariais de boa-fé cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [8].

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 28 e 30 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 10 e 12 milhões – Brasil e Índia; (c) Entre 4 e 6 milhões – Rússia, Reino Unido e França; (d) Entre 2 e 4 milhões – Itália, Espanha, Turquia, Alemanha, Colômbia, Argentina, México e Polônia; e (e) Entre 1,4 e 2 milhões – Irã, Ucrânia, África do Sul, Tchéquia, Peru e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Números horrorosos, mas previsíveis e evitáveis – ver o artigo ‘No ritmo atual, o país irá contabilizar 291 mil mortes até 28/3’, publicado neste GGN, em 1/3.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[6] Entre 19/10 e 21/3, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3) e 0,63% (15-21/3); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3) e 0,79% (15-21/3).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos volumes 1-3 citados na nota 3.

[8] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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21 março 2021

Jogo de azar


Charles [Joshua] Chaplin (1825-1891). Le jeu du Loto. 1865.

Fonte da foto: Wikipedia.

18 março 2021

Não sei

Eugénio de Andrade

Não sei porque diabo escolheste
janeiro para morrer: a terra
está tão fria.
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento.
Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal. Paciência,
querido, também Mozart morreu.
Só a morte é imortal.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1995. ‘Eugénio de Andrade’ é pseudônimo de José Fontinhas.

16 março 2021

Detectando um declínio na taxa de crescimento no número de casos: Tendência real ou ilusão momentânea?

Felipe A. P. L. Costa [*]

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em artigo anterior (aqui). Estes dois parâmetros (sozinhos ou combinados) servem como um guia preciso e confiável para se monitorar o rumo e o ritmo da pandemia. Entre 8 e 14/3, as taxas ficaram em 0,59% (casos) e 0,68% (mortes). Foi a quarta escalada seguida na taxa de mortes. Mas a taxa de casos declinou. Este recuo pode ter sido um mero acidente de amostragem, mas pode ser um sinal (tênue, mas esperançoso) de que as medidas de controle estariam a produzir efeitos positivos. Seja como for, não é difícil perceber a relação de causa e efeito que gera, amplia e prolonga a crise: Quando os governantes endurecem as medidas de controle, a disseminação do vírus diminui; quando os governantes amolecem, a disseminação do vírus aumenta.

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1. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (14/3), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 43.812 casos e 1.127 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 11.483.370 casos e 278.229 mortes.

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (8-14/3) foram tão ou ainda mais assombrosas que as da semana anterior.

Foram registrados 464.026 novos casos – uma ligeira queda em relação ao recorde estratosférico da semana anterior (468.085, entre 1 e 7/3). Foi a 15ª semana com mais de 300 mil novos casos, 10 das quais foram registradas em 2021.

Desgraçadamente, porém, atingimos um novo patamar no número de mortes: 12.818 – 22% a mais que o recorde anterior (10.469, entre 1 e 7/3). Foi a 17ª semana com mais de 7 mil mortes, nove das quais foram registradas em 2021.

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Como já alertei em vários artigos anteriores, o jeito certo de monitorar o rumo e o ritmo de uma epidemia (ou pandemia, como é o caso de agora) exige que examinemos algum parâmetro que nos informe sobre a dinâmica da disseminação da doença. Exemplos de tais parâmetros seriam as taxas de crescimento no número de casos e de mortes [1].

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (1-7/3), as médias da semana passada (8-14/3) exibiram tendências opostas – enquanto a taxa de mortes seguiu escalando, a de casos declinou (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos recuou de 0,62% (1-7/3) para 0,59% (8-14/3) – a primeira queda ao longo das últimas quatro semanas.

Em compensação, a taxa de crescimento no número de mortes saltou de 0,58% (1-7/3) para 0,68% (8-14/3) – o maior percentual desde a última semana de agosto (24-30/8) [2, 3]!

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 14/3/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

3. CODA.

Não há dúvida de que o país permanece com os dois pés afundados na lama. Uma situação que se arrasta desde 3/1/2021 (ver a figura que acompanha este artigo).

Mas cabem aqui algumas considerações adicionais.

Em primeiro lugar, cabe lembrar que as taxas de casos e mortes estão correlacionadas entre si – quando uma sobe, a outra tende a subir; quando uma desce, a outra tende a descer.

Devemos observar ainda que há uma defasagem de tempo entre as duas taxas, visto que a infecção necessariamente antecede o óbito.

O que observamos na semana passada bem pode ser uma manifestação de tal defasagem: a taxa de mortes seguiu escalando em função de escaladas anteriores na taxa de casos. Se a referida queda na taxa de casos estiver a sinalizar uma mudança real de trajetória, deveremos testemunhar uma queda correspondente na taxa de mortes já ao longo desta semana.

Seja como for, não é difícil perceber a relação de causa e efeito que gera, amplia e prolonga a crise: Quando os governantes endurecem as medidas de controle, a disseminação do vírus diminui; quando os governantes amolecem, a disseminação aumenta.

O recado para governadores, prefeitos e dirigentes empresariais de boa-fé cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [4].

*

NOTAS.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 19/10 e 14/3, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3) e 0,59% (8-14/3); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3) e 0,68% (8-14/3).

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver as referências citadas na nota 1.

[4] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

14 março 2021

Genômica comparada

Mark Ridley

Os humanos compartilham 21% de seus genes com todas as formas de vida celular. Estes são os genes ‘de manutenção’ de cada célula, os quais regulam a maquinaria celular básica. As células fósseis mais antigas têm 3 a 3,5 bilhões de anos [...]. Pelo menos parte dos genes de manutenção, ou talvez todos, evoluíram naquela época. A maioria dos genes de manutenção evolui lentamente e vem sendo copiada, com poucas modificações, ao longo de bilhões de anos. Provavelmente nosso DNA vem sendo copiado na média de umas 10 a 100 vezes por ano, desde nossos ancestrais bacterianos. Se um gene celular básico como o da histona existia há 3,5 bilhões de anos, então ele teria sido copiado cerca de 1011 vezes ao longo de cada linha de ancestrais que levou a cada um de nós, com poucas modificações. Os genes de manutenção celular ostentam sua ‘antiguidade’ em todas as nossas moléculas de DNA.

Outros 32% dos nossos genes são homólogos aos genes de todos os eucariotos, mas não aos das bactérias. Eles também são genes de manutenção celular que refletem a grande complexidade do metabolismo celular dos eucariotos. A etapa seguinte que podemos tentar inferir é a da origem dos animais. Cerca de 24% de nossos genes são compartilhados com outros animais, mas não com eucariotos unicelulares, nem com procariotos. Esses genes ‘animais’ compreendem genes como os Hox, que controlam o desenvolvimento. [...] Outros 22% de nossos genes são compartilhados somente com vertebrados. Eles têm 500 ou mais milhões de anos. Incluem genes que atuam no sistema imune e no sistema nervoso. Os seres humanos, por exemplo, têm cerca de 100 genes que codificam o sistema imune, em comparação com uns 10 nos vermes e nas moscas. O número de genes relacionados com o sistema nervoso também se expandiu nos vertebrados, talvez em associação com seu cérebro relativamente complexo. Apenas 1% ou menos dos genes humanos é ‘exclusivo’ dos humanos, não tendo homologia com os de outros vertebrados. (Usei o ‘exclusivo’ entre aspas porque o outro principal vertebrado para o qual possuímos dados é o camundongo. O 1% de genes que não compartilhamos com o camundongo bem poderia ser compartilhado com parentes mais próximos, como os [primatas]; nesse caso, os genes não seriam exclusivamente nossos.)

Fonte: Ridley, M. 2006. Evolução, 3ª ed. Porto Alegre, Artmed.

13 março 2021

14 anos e cinco meses no ar

F. Ponce de León

Ontem, 12/3, o Poesia contra a guerra completou 14 anos e cinco meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘14 anos e quatro meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Edson Guedes de Morais, Francis Thompson, Harrison Brown, John Gribbin, Kingsley Davis e Werner Altmann. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Cristófano Allori, Eva Gonzalès e Giorgio Vasari.

10 março 2021

Babá com criança


Eva Gonzalès (1847-1883). Nounou avec enfant. 1877-8.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 março 2021

Um país pronto para decolar rumo ao abismo

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em artigo anterior (aqui). Estes dois parâmetros (sozinhos ou combinados) servem como um guia apropriado e confiável para se monitorar o rumo e o ritmo da pandemia (diferentemente da média móvel, por exemplo). Entre 1 e 7/3, as taxas ficaram em 0,62% (casos) e 0,58% (mortes). Foi a terceira semana seguida em que as duas taxas escalaram. A situação é crítica e eu só vejo duas alternativas capazes de impedir que o país decole rumo ao abismo: (1) governadores e prefeitos, agindo de boa-fé e de modo coordenado, assumem a condução da crise e adotam medidas nacionais unificadas de proteção e confinamento; ou (2) alguma entidade supranacional (e.g., OMS ou OEA), visando o bem-estar e a saúde pública dos habitantes de toda a América do Sul, intercede e se posta ao lado do que resta do Estado brasileiro (e.g., Fiocruz) para ajudar a tirar o país da lama.

*

1. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (7/3), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 80.508 casos e 1.086 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 11.019.344 casos e 265.411 mortes.

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (1-7/3) foram ainda mais assombrosas que as da semana anterior.

Foram 468.085 novos casos – 22% a mais que o recorde anterior (383.085 casos, entre 22 e 28/2). Foi a 14ª semana com mais de 300 mil novos casos, nove das quais foram registradas em 2021.

E foram 10.469 mortes – 24% a mais que o recorde anterior (8.438 mortes, entre 22 e 28/2/2021). Foi a 16ª semana com mais de 7 mil mortes, oito das quais foram registradas em 2021.

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Como já alertei em artigos anteriores, o jeito certo de monitorar o rumo e o ritmo de uma epidemia (ou pandemia, como é o caso de agora) exige que examinemos algum parâmetro que nos informe sobre a dinâmica da disseminação da doença. É o caso das taxas de crescimento no número de casos e de mortes [1].

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (22-28/2), as médias da semana passada (1-7/3) escalaram. E de modo apreciável e consistente (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,53% (22-28/2) para 0,62% (1-7/3) – é o maior percentual nas últimas sete semanas.

E o mais terrível e assombroso: A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,48% (22-28/2) para 0,58% (1-7/3) – é o maior percentual nos últimos seis meses [2, 3]!

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 7/3/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

3. CODA.

Não há dúvida de que o país permanece com os dois pés afundados na lama. Uma situação que se arrasta desde 3/1/2021 (ver a figura que acompanha este artigo).

O Palácio do Planalto dá mostras diárias de que a sua principal aposta é no barulho e na confusão. Quanto pior, melhor – a morosa e desencontrada campanha de vacinação ora em curso ilustra bem o que estou a dizer [4].

O pano de fundo desse tipo de estratégia política me faz pensar em uma velha anedota caipira – a ladainha do “Eu avisei”. Dois caipiras estão diante de um problema na estrada. Mas enquanto um deles age, o outro apenas assiste – cospe no chão, cruza os braços e encosta no que sobrou do barranco que desabou. Qualquer que seja o resultado do trabalho do primeiro, o segundo terá uma justificativa para a sua inação – “Eu avisei! Eu avisei!”.

Medo, covardia e crueldade andam de mãos dadas. O país já teve presidentes covardes e cruéis. Mas nenhum deles era tão medroso quanto o atual.

A situação do país é crítica e eu só vejo duas alternativas capazes de impedir que o país decole rumo ao abismo: (1) governadores e prefeitos, agindo de boa-fé e de modo coordenado, assumem a condução da crise e adotam medidas nacionais unificadas de proteção e confinamento; ou (2) alguma entidade supranacional (e.g., Organização Mundial da Saúde ou Organização dos Estados Americanos), visando o bem-estar e a saúde pública dos habitantes de toda a América do Sul, intercede e se posta ao lado do que resta do Estado brasileiro (e.g., Fiocruz) para ajudar a tirar o país da lama.

*

NOTAS.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 19/10 e 7/3, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2) e 0,62% (1-7/3); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2) e 0,58% (1-7/3).

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver as referências citadas na nota 1.

[4] Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. Uma meta que, no ritmo atual, levará alguns anos para ser alcançada... E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

06 março 2021

Quem sou eu?

Luiz Gama

Quero sou eu? que importa quem?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fronte escrito
Esta palavra — Ninguém!
— A. E. ZALUAR.— Dores e Flores.

Amo o pobre, deixo o rico,
Vivo como o Tico-tico;
Não me envolvo em torvelinho,
Vivo só no meu cantinho;
Da grandeza sempre longe
Como vive o pobre monge.
Tenho mui poucos amigos,
Porém bons, que são antigos,
Fujo sempre à hipocrisia,
À sandice, à fidalguia;
Das manadas de Barões?
Anjo Bento, antes trovões.
Faço versos, não sou vate,
Digo muito disparate,
Mas só rendo obediência
À virtude, à inteligência:
Eis aqui o Getulino
Que no plectro anda mofino.
Sei que é louco e que é pateta
Quem se mete a ser poeta;
Que no século das luzes,
Os birbantes mais lapuzes,
Compram negros e comendas,
Têm brasões, não – das Calendas,
E, com tretas e com furtos
Vão subindo a passos curtos;
Fazem grossa pepineira.
Só pela arte do Vieira,
E com jeito e proteções,
Galgam altas posições!
Mas eu sempre vigiando
N’essa súcia vou malhando
De tratantes, bem ou mal,
Com semblante festival.
Dou de rijo no pedante
De pílulas fabricante,
Que blasona arte divina,
Com sulfatos de quinina,
Trabusanas, xaropadas,
E mil outras patacoadas,
Que, sem pingo de rubor,
Diz a todos que é DOUTOR!
Não tolero o magistrado,
Que do brio descuidado,
Vende a lei, trai a justiça,
– Faz a todos injustiça –
Com rigor deprime o pobre
Presta abrigo ao rico, ao nobre,
E só acha horrendo crime
No mendigo, que deprime.
– N’este dou com dupla forca,
Té que a manha perca ou torça.
Fujo às léguas do lojista,
Do beato e do sacrista
Crocodilos disfarçados,
Que se fazem muito honrados,
Mas que, tendo ocasião,
São mais feros que o Leão.
Fujo ao cego lisonjeiro,
Que, qual ramo de salgueiro,
Maleável, sem firmeza,
Vive à lei da natureza;
Que, conforme sopra o vento,
Dá mil voltas num momento.
O que sou, e como penso,
Aqui vai com todo o senso,
Posto que já veja irados
Muitos lorpas enfurnados,
Vomitando maldições,
Contra as minhas reflexões.
Eu bem sei que sou qual Grilo,
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
D’esta arenga receosos
Hão de chamar-me – Tarelo,
Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é muito vasta...
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes...
Aqui, nesta boa terra,
Marram todos, tudo berra;
Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas
Deputados, senadores,
Gentis-homens, vereadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,
Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães de mar-e-guerra,
– Tudo marra, tudo berra –
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
Entre o coro dos Anjinhos
Também ha muitos bodinhos. —
O amante de Siringa
Tinha pelo e má catinga;
O deus Mendes, pelas contas,
Na cabeça tinha pontas;
Jove quando foi menino,
Chupitou leite caprino;
E, segundo o antigo mito,
Também Fauno foi cabrito.
Nos domínios de Plutão,
Guarda um bode o Alcorão;
Nos lundus e nas modinhas
São cantadas as bodinhas:
Pois si todos têm rabicho,
Para que tanto capricho?
Haja paz, haja alegria,
Folgue e brinque a bodaria;
Cesse pois a matinada,
Porque tudo é bodarrada! —

Fonte (v. 1-17, 22-29, 81-94): Ferreira, S. 2017. Luiz Gama e a identidade negra na literatura. Juiz de Fora, Edição do autor. Poema publicado em livro em 1861.

04 março 2021

Tradição mexicana

Werner Altmann

O México tem extraordinária tradição na concessão de asilo político. Em diferentes momentos, José Martí. Farabundo Martí, Augusto César Sandino, os republicanos espanhóis, Leon Trotsky, Che Guevara, entre tantos outros revolucionários, lá estiveram. Com exceção de José Martí, que lá esteve em fins do século passado, e cujo referencial avançado na sociedade local era o de Benito Juárez e do movimento da Reforma, todos os demais lá estiveram pelas condições criadas pela Revolução Mexicana. 

Fonte: Altmann, W. 1994. In: O. Coggiola, org. Trotsky hoje. SP, Ensaio.

03 março 2021

O desafio do futuro

Harrison Brown

Se quiséssemos viver amontoados, comer alimentos que pouco se parecessem com os que comemos hoje e ficar privados das simples mas agradáveis comodidades tais como lareiras, jardins e gramados, uma população mundial de 50 bilhões de pessoas não seria impossível. E se quiséssemos dedicar-nos ao problema, poderíamos construir ilhas flutuantes onde o povo pudesse viver e onde funcionariam fazendas de algas e talvez 100 bilhões de pessoas pudessem viver. Se estabelecêssemos limites rígidos para as atividades físicas, de maneira que as necessidades calóricas pudessem ser mantidas em níveis muito baixos, talvez pudéssemos manter 200 bilhões de pessoas.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de livro publicado em 1954.

01 março 2021

No ritmo atual, o país irá contabilizar 291 mil mortes até 28/3

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgados na semana passada (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em artigo anterior (aqui). Estes dois parâmetros (sozinhos ou combinados) servem como um guia apropriado e confiável para se monitorar o rumo e o ritmo da pandemia (diferentemente da média móvel, por exemplo). Entre 4/1 e 28/2, as taxas ficaram em 0,56% (casos) e 0,47% (mortes). Nesse ritmo, o país irá contabilizar um total de 12.324.278 casos e 290.746 mortes até o último domingo de março (28/3). Só há um jeito de impedir que estas projeções se confirmem: adotar medidas efetivas de proteção e confinamento.

*

1. A SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no início da tarde desta segunda-feira (1/3) [1], eis aqui um resumo da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 79% dos casos (de um total de 114.223.289) e 82% das mortes (de um total de 2.533.129) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,3%. A taxa brasileira segue em 2,4%. (Outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm taxas de letalidade equivalentes ou ainda piores: Argentina, 2,5%; Colômbia, 2,7%; e Peru, 3,5%.)

(C) Nesses 20 países, 65,9 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 71% dos casos. Em escala global, 84,2 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (28/2), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 34.027 casos e 721 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 10.551.259 casos e 254.942 mortes [4].

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (22-28/2) foram as mais assombrosas deste o início da pandemia.

Foram 383.085 novos casos – o recorde anterior era de 382.309 casos (11-17/1/2021). Foi a 13ª semana com mais de 300 mil novos casos, oito das quais foram registradas em 2021.

E foram 8.438 mortes – o recorde anterior era de 7.711 (8-14/2/2021). Foi a 15ª semana com mais de 7 mil mortes, sete das quais foram registradas em 2021 [5].

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Como já comentei em vários artigos anteriores, o jeito certo de monitorar o rumo e o ritmo de uma epidemia (ou pandemia, como é o caso de agora) exige que examinemos algum parâmetro que nos informe sobre a dinâmica da disseminação da doença. É o caso das taxas de crescimento no número de casos e de mortes [6].

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (15-21/2), as médias da semana passada (22-28/2) escalaram. E de modo apreciável (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,48% (15-21/2) para 0,53% (22-28/2) – o maior percentual nas últimas quatro semanas.

Já a taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,43% (15-21/2) para 0,48% (22-28/2) – também o maior percentual nas últimas quatro semanas [7, 8].

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FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 28/2/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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4. CODA.

Levando em conta qualquer uma das taxas, mas em especial a de mortes, nós podemos concluir que o país está com os dois pés afundados na lama desde 3/1/2021. Vejamos os números.

Entre 4/1 e 28/2, a média da taxa de crescimento no número de novos casos ficou em 0,56%. (As médias semanais oscilaram entre 0,46% e 0,67%.)

No mesmo período, a média da taxa de crescimento no número de mortes ficou em 0,47%. (As médias semanais oscilaram entre 0,43% e 0,51%.)

Nesse ritmo, o país irá contabilizar 12.324.278 casos e 290.746 mortes até o último domingo de março (28/3). (Caso as taxas subam, as estatísticas serão ainda piores.)

Chiliques, mentiras e mau hálito não impedirão que o vírus continue a circular livremente entre nós. A rigor, só há um jeito de impedir que as projeções acima se confirmem [9]: adotar medidas efetivas de proteção e confinamento.

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NOTAS.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. No âmbito da América do Sul, o destaque negativo segue por conta do Peru. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 28 e 30 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 10 e 12 milhões – Índia e Brasil; (c) Entre 4 e 6 milhões – Rússia e Reino Unido; (d) Entre 2 e 4 milhões – França, Espanha, Itália, Turquia, Alemanha, Colômbia, Argentina e México; e (e) Entre 1 e 2 milhões – Polônia, irã, África do Sul, Ucrânia, Indonésia, Peru e Tchéquia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Compare estas estatísticas com as projeções feitas em artigo anterior (aqui).

[5] O que equivale a uma média diária superior a 1 mil óbitos/dia.

[6] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. De resto, trata-se de um parâmetro de fácil computação (ver a nota 8).

[7] Entre 19/10 e 28/2, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2) e 0,53% (22-28/2); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2) e 0,48% (22-28/2).

[8] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver as referências citadas na nota 3.

[9] Como escrevi em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. Uma meta que, no ritmo atual, levará alguns anos para ser alcançada... E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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