28 fevereiro 2022

Rua morta

Mauro Mota

Longa rua distante de subúrbio,
velha e comprida rua não violada pelos prefeitos,
passo sobre ti suavemente neste fim de tarde de domingo.

Sinto-te o coração pulsando oculto sob as areias.
O sangue circula na copa imensa dos flamboyants.

Tropeço nos passos perdidos há muito nestas areias,
onde as pedras não vieram ainda sepultá-los.
Passos de homens que jamais voltarão.

Ó velhos chalés de 1830,
eterniza-se entre as paredes o eco das vozes de invisíveis habitantes.
Mãos de sombras femininas abrem de leve janelas no oitão.

Há um cheiro de jasmins e resedás
que não vem dos jardins abandonados,
mas dos cabelos dos fantasmas das moças de outrora.

Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1952.

26 fevereiro 2022

Pólen pulverulento e polínea

Cezio Pereira & Fernando V. Agarez

Os grãos de pólen que se formam nos sacos polínicos localizados no interior das tecas são pequeníssimas estruturas celulares constituídas por duas membranas: a exina, mais externa e porosa, em geral cutinizada; e a intina, mais interna. Quando os grãos de pólen estão maduros, as tecas abrem-se, liberando-os. Quando liberados individualmente, com o aspecto de pó, são designados pólen pulverulento; quando todos os grãos de pólen de uma teca se reúnem em uma massa única, compacta, o conjunto é designado polínea. Ocorre nas Asclepiadaceae e Orchidaceae.

Fonte: Pereira, C. & Agarez, F. V. 1980. Botânica. RJ, Interamerica.

24 fevereiro 2022

Sensibilidade em plantas e animais

Paulo Benzzoni

Em resumo, sob qualquer ponto de vista em que se coloque um naturalista, há de observar que existe uma linha de contato entre o reino animal e o reino vegetal, o que levou um certo Dr. [Franz] Unger, em 1835, a apregoar, com uma espécie de exaltação religiosa, solene e patética, “que a planta se converte em animal, num determinado momento”. Unger, tido como louco, não deixava de ter alguma razão, ao observar, ao microscópio, depois de pacientes pesquisas, que os filamentos de alga verde se transformavam de súbito em uma bola verde, de onde saíam numerosos fios tênues, cuja alga, valendo-se deles, nadava como um infusório, ou para ser mais claro, como um verdadeiro animal.

Unger não estava com toda a verdade, mas se aproximava dela. O que ele observara na alga filamentosa, “demonstra-se em centenas de casos. Assim, entre as plantas mais sensíveis, há espécies que podem apresentar dois aspectos diferentes de vida. Umas vivem como as plantas formais, sedentárias, com toda a sua característica de um vegetal; outras vagueiam em liberdade, independentes, percorrendo todas as águas nas quais nasceram, para depois voltarem a paralisar-se e a vegetar na sua cotidiana monotonia. Algumas dessas algas possuem zoósporos e se movimentam e nadam como um animal, embora vivam como vegetais” [R. H. France].

Fonte: Benzzoni, P. 1974. Compêndio de botânica. BH, Livraria Cultura Brasileira Editora.

22 fevereiro 2022

Paisagem italiana


Achille-Etna Michallon (1796-1822). Paysage inspiré de la vue de Frascati. 1822.

Fonte da foto: Wikipedia.

19 fevereiro 2022

A problemática do método

Hans Aebli

Sem dúvida, não há ciência em que a problemática do método tenha dado origem a tantas discussões como a psicologia. Mesmo abstraindo dos grandes contrastes que separam a psicologia orientada pela ciência do espírito da psicologia orientada pela ciência natural e mesmo distinguindo-as, evidentemente, também no campo da metodologia, encontramos ainda em cada um dos dois campos grande número de posições e concepções que suscitam não poucos problemas.

Os métodos de Piaget se tornaram tão conhecidos por suas numerosas publicações, que apenas precisamos descrevê-los sumariamente. Não se trata de questionar-lhe os métodos, mas de compreender melhor em que sentido se relacionam com os resultados obtidos. Pois é evidente que só um modo de ver simplista pode concluir que a natureza dos conhecimentos obtidos seja independente do método escolhido. Um tal realismo metodológico esquece o que Claude Bernard já afirmara com grande clareza há um século; a saber, que todo experimento representa uma questão em relação à natureza proposta e a resposta, em consequência, sempre é pré-elaborada em grande parte pela pergunta.

Fonte: Aebli, H. 1975 [1963]. A evolução mental da criança. Petrópolis, Vozes.

17 fevereiro 2022

Vèvè

Kamau Brathwaite

1.
But on the beach
the fisherman’s net is completed;
the fine webs fell softly,

sand shifting under his walking;
the water is ready;
twined spray through the air

and the seine holds the sun
and the line in his hand
tightens steady.

The net drifted downward,
through tides and reversals
of shell-clinking water,

through time and the hopes
that were drowned in the deep
sleeping sound of the bay.

The fan sifted slowly
through cobwebs of light
catching softly the moons of his green
spreading opening day

2.
And so the black eye travels to the brink of vision
but not yet;
hold back the fishnet’s fling of morn-
ing; unloose the sugarcane;
my spattered breast must undertake one more incision;
cut, carve, dissect
the merchant’s pound of flesh, the soldier’s pawn
of violence, the preacher’s hymn of pain.

The black eye travels to the brink of vision:
look, the fields are wet,
the sea sits gentle on the dawn
of sand; but voices fill the green with hurricane.

And yet it is what happens
it is what happens
when they fall:

conquerors, helmets, plumes,
unloosened knots
of blood, dried river beds of iron,
rust;

it is the bird that sings,
the green that wavers, wavers, wins
the slave rebellion of the rot
of dust

that matters;
it is this that glitters
in the salt
lagoon,
that crusts the coral
with foundation stone,
that stirs the resurrection
out of Tacky’s bones.

3.
So on this ground,
write;
within the sound
of this white limestone vèvè,

talk
of the empty roads,
vessels of your head,
claypots, shards, ruins.

And on this sailing ground,
sprinkled with rum, bitten
with the tenor of your open wound,
walk

walk
the hooves will come, welcomed
by drumbeats, into your ridden head;
and the horse, cheval of the dead,
charade of la mort,

tongued with the wind
possession of the fire
possession of the dust
sundered from your bone
plundered from my breast
by ice, by chain, by sword, by the cast wind,
surrenders up to you the graven Word
carved from Olodumare
from Ogun of Alare, from Ogun of Onire
from Shango broom of thunder and Damballa Grand Chemin.

For on this ground
trampled with the bull’s swathe of whips
where the slave at the crossroads was a red anthill
eaten by moonbeams, by the holy ghosts
of his wounds

the Word becomes
again a god and walks among us;
look, here are his rags,
here is his crutch and his satchel
of dreams; here is his hoe and his rude implements

on this ground
on this broken ground.

Fonte (Parte 3, v. 1-5 e 33-34): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza. Poema publicado em livro em 1969.

15 fevereiro 2022

As taxas de crescimento estão agora em 0,5022% (casos) e 0,1388% (mortes)

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 7 e 13/2, essas taxas ficaram em 0,5022% (casos) e 0,1388% (mortes). A taxa de casos caiu pela segunda semana consecutiva; a de mortes seguiu a escalar, ainda que a um ritmo mais lento que na semana anterior. Esses desencontros (e.g., casos a declinar, mortes a escalar) não são novos nem únicos. Trata-se de um padrão recorrente. Tendo batido no teto, a trajetória da taxa de casos passa a declinar; duas ou três semanas depois, começa a declinar também a taxa de mortes. A questão que se impõe para a sociedade brasileira seria então a seguinte: como fazer com que a taxa de casos siga em trajetória declinante?

*

1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

No domingo (13/2), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 54.220 casos e 314 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 27.479.963 casos e 638.362 mortes.

Na semana encerrada no domingo (7-13/2), foram registrados 946.953 novos casos – uma queda de 20% em relação à semana anterior (31/1-6/2: 1.184.213).

Entre 7 e 13/2, infelizmente, foram registradas 6.169 mortes – um aumento de 16% em relação ao que foi anotado na semana anterior (31/1-6/2: 5.339). Trata-se da maior soma semanal desde a primeira semana de agosto (2-8/8: 6.317).

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [1], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. A primeira declinou, a segunda escalou (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,6544% (31/1-6/2) para 0,5022% (7-13/2) – é uma boa notícia, sobretudo porque é a segunda queda consecutiva [2, 3].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, subiu de 0,1212% (31/1-6/2) para 0,1388% (7-13/2) – o maior valor desde a segunda semana de agosto (9-15/8: 0,1492%). Mas o ritmo de crescimento parece ter arrefecido em relação ao que foi observado na semana anterior.

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 6/6/2021 e 13/2/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso. A elipse e a seta associada (em vermelho escuro) chamam a atenção para a escalada na taxa de mortes desde o início de 2022.

*

3. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) estão a exibir trajetórias discordantes. A taxa de casos caiu pela segunda semana consecutiva (aqui), enquanto a de mortes continuou a escalar.

Esses desencontros (e.g., casos a declinar, mortes a escalar) não são novos nem únicos. Trata-se de um padrão recorrente. Tendo batido no teto, a trajetória da taxa de casos passa a declinar; duas ou três semanas depois, começa a declinar também a taxa de mortes.

A questão que se impõe para a sociedade brasileira seria então a seguinte: como fazer com que a taxa de casos siga em trajetória declinante? Em poucas palavras, reitero aqui o que escrevi em artigos anteriores [4]: (1) ampliar a vacinação; e (2) manter as medidas de prevenção (e.g., manter o uso da máscara, adotar o passaporte de vacina e evitar aglomerações).

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Ouso dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 19/10/2020 e 13/2/2022, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,40% (26/10-1/11), 0,30% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,50% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,50% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7), 0,21% (12-18/7), 0,23% (19-25/7), 0,1802% (26/7-1/8), 0,1621% (2-8/8), 0,14% (9-15/8), 0,1444% (16-22/8), 0,1183% (23-29/8), 0,1023% (30/8-5/9), 0,0744% (6-12/9), 0,1625% (13-19/9), 0,0753% (20-26/9), 0,0775% (27/9-3/10), 0,0715% (4-10/10), 0,0454% (11-17/10), 0,0562% (18-24/10), 0,0532% (25-31/10), 0,0455% (1-7/11), 0,0505% (8-14/11), 0,0385% (15-21/11), 0,0412% (22-28/11), 0,0402% (29/11-5/12), 0,0302% (6-12/12), 0,0154% (13-19/12), 0,0165% (20-26/12), 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2) e 0,5022% (7-13/2); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7), 0,23% (12-18/7), 0,20% (19-25/7), 0,1785% (26/7-1/8), 0,1613% (2-8/8), 0,1492% (9-15/8), 0,1367% (16-22/8), 0,1185% (23-29/8), 0,1062% (30/8-5/9), 0,07870% (6-12/9), 0,0947% (13-19/9), 0,0890% (20-26/9), 0,0840% (27/9-3/10), 0,0730% (4-10/10), 0,0539% (11-17/10), 0,0558% (18-24/10), 0,0513% (25-31/10), 0,0381% (1-7/11), 0,0430% (8-14/11), 0,0321% (15-21/11), 0,0377% (22-28/11), 0,0316% (29/11-5/12), 0,0277% (6-12/12), 0,0225% (13-19/12), 0,0156% (20-26/12), 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2) e 0,1388% (7-13/2).

Não custa lembrar: Os valores acima são as médias semanais de uma taxa que, por razões metodológicas, oscila ao longo da semana. Para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 1.

[4] Vale frisar que o ritmo da vacinação caiu muitíssimo ao longo dos últimos meses. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 8/2, este percentual está em 81%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

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13 fevereiro 2022

Erupção do Vesúvio


Pierre-Henri de Valenciennes (1750-1819). Eruption du Vésuve. 1813.

Fonte da foto: Wikipedia.

12 fevereiro 2022

15 anos e quatro meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/2, o Poesia Contra a Guerra completa 15 anos e quatro meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘15 anos e três meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Blaise Pascal, Carlos Rodrigues Brandão, Joseph Addison e Moacir Gadotti. Além de outros nomes que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Émile Claus e Jeanne Montigny.

10 fevereiro 2022

Aprendendo a ser pai

Moacir Gadotti

O que mais revela a paternidade é a ausência dos filhos ou a sua perda. É o fato que faz um pai descobrir, com maior intensidade, o que é ser pai.

É certo que a relação pais e filhos é nutrida pela presença, pela reciprocidade, pelo olhar, pelos pequenos gestos, pelo cotidiano. Sendo a paternidade uma relação amorosa, ela tenderá a fenecer na medida em que ela não é nutrida de pequenos gestos que manifestem o amor.

Estar presente junto ao filho não significa comprar presentes, juntar-se fisicamente a ele, levá-lo para passear. Significa, muito mais, compreender o filho, respeitá-lo, e ser, para com ele, aberto, sincero e firme.

A relação de pais e filhos é uma relação dialética, isto é, uma relação de unidade e de oposição ao mesmo tempo. É uma relação contraditória, uma relação educadora. Se esta relação se reduzir à relação de oposição, esta ferirá a liberdade do filho e acentuará a autoridade (ou autoritarismo) do pai. Por outro lado, se ficar na pura unidade, esgota-se a autoridade do pai e o filho se sente abandonado, sem pai. No primeiro caso temos uma paternidade baseada na autoridade e no segundo caso temos uma paternidade ausente.

Fonte: Gadotti, M. 1985. Dialética do amor paterno. SP, Cortez & Autores Associados.

08 fevereiro 2022

No ritmo atual, o país irá contabilizar mais 3.895.033 casos e 16.291 mortes até 27/2

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 31/1 e 6/2, essas taxas ficaram em 0,6544% (casos) e 0,1212% (mortes). A taxa de casos parou de crescer, mas a de mortes segue a escalar. No ritmo atual, o país irá contabilizar mais 3.895.033 casos e 16.291 mortes, chegando assim a 30.428.043 casos e 648.484 mortes até 27/2.

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1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

No domingo (6/2), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 59.737 casos e 391 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 26.533.010 casos e 632.193 mortes.

Na semana encerrada no domingo (31/1-6/2), foram registrados 1.184.213 novos casos – uma queda de 9% em relação à semana anterior (24-30/1: 1.304.542).

Entre 31/1 e 6/2, infelizmente, foram registradas 5.339 mortes – um aumento de 42% em relação ao que foi anotado na semana anterior (24-30/1: 3.757) e a maior soma semanal desde meados de agosto (16-22/8: 5.469).

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [1], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas subiram em relação aos valores da semana anterior, com destaque para a taxa de crescimento no número de casos (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,7576% (24-30/1) para 0,6544% (31/1-6/2) – a queda é um ótimo sinal, mas ainda foi o segundo maior valor desde janeiro de 2021 (11-17/1: 0,6605%) [2, 3].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, saltou de 0,0859% (24-30/1) para 0,1212% (31/1-6/2) – o maior valor desde agosto de 2021 (23-29/8: 0,1185%).

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 6/6/2021 e 6/2/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso. As elipses e as setas associadas chamam a atenção para as escaladas detectadas nas últimas semanas. Note como é acentuada a declividade da seta azul, indicando como a taxa de crescimento no número de casos cresceu de modo acelerado entre 2/1 e 30/1.

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3. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) estão agora a exibir trajetórias discordantes. A taxa de casos caiu em relação ao valor da semana anterior (aqui), enquanto a de mortes continuou a subir [4].

No ritmo atual, o país irá contabilizar mais 3.895.033 casos e 16.291 mortes até o último domingo de fevereiro, chegando assim a 30.428.043 casos e 648.484 mortes até 27/2.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Ouso dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 19/10/2020 e 6/2/2022, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,40% (26/10-1/11), 0,30% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,50% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,50% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7), 0,21% (12-18/7), 0,23% (19-25/7), 0,1802% (26/7-1/8), 0,1621% (2-8/8), 0,14% (9-15/8), 0,1444% (16-22/8), 0,1183% (23-29/8), 0,1023% (30/8-5/9), 0,0744% (6-12/9), 0,1625% (13-19/9), 0,0753% (20-26/9), 0,0775% (27/9-3/10), 0,0715% (4-10/10), 0,0454% (11-17/10), 0,0562% (18-24/10), 0,0532% (25-31/10), 0,0455% (1-7/11), 0,0505% (8-14/11), 0,0385% (15-21/11), 0,0412% (22-28/11), 0,0402% (29/11-5/12), 0,0302% (6-12/12), 0,0154% (13-19/12), 0,0165% (20-26/12), 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1) e 0,6544% (31/1-6/2); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7), 0,23% (12-18/7), 0,20% (19-25/7), 0,1785% (26/7-1/8), 0,1613% (2-8/8), 0,1492% (9-15/8), 0,1367% (16-22/8), 0,1185% (23-29/8), 0,1062% (30/8-5/9), 0,07870% (6-12/9), 0,0947% (13-19/9), 0,0890% (20-26/9), 0,0840% (27/9-3/10), 0,0730% (4-10/10), 0,0539% (11-17/10), 0,0558% (18-24/10), 0,0513% (25-31/10), 0,0381% (1-7/11), 0,0430% (8-14/11), 0,0321% (15-21/11), 0,0377% (22-28/11), 0,0316% (29/11-5/12), 0,0277% (6-12/12), 0,0225% (13-19/12), 0,0156% (20-26/12), 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1) e 0,1212% (31/1-6/2).

Não custa lembrar: Os valores acima são as médias semanais de uma taxa que, por razões metodológicas, oscila ao longo da semana. Para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 1.

[4] Vale frisar que o ritmo da vacinação caiu muitíssimo ao longo dos últimos meses. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 8/2, este percentual está em 81%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

* * *

06 fevereiro 2022

É perigoso...

Blaise Pascal

É perigoso mostrar ao homem, com excessiva frequência, que ele é igual às bestas, sem mostrar-lhe sua grandeza. É também perigoso mostrar-lhe com excessiva frequência sua grandeza sem sua baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorante de ambas. Mas, é muito desejável mostrar-lhe as duas juntas.

Fonte: Milhollan, F. & Forisha, B. E. 1978. Skinner x Rogers: Maneiras contrastantes de encarar a educação. SP, Summus. Citação extraída de livro originalmente publicado em 1669.

05 fevereiro 2022

Casa de escola

Carlos Rodrigues Brandão

Com roncos e sustos o avião baixa para descer em Maués e de um lado e do outro o rio Maués-Açu espelha praias claras de areia. Esse é o começo de um tempo de águas baixas e o rio mostra os ossos: areias e praias, ilhas e raras pedras que tornam difíceis os cursos das ‘embarcações’ que viajam de Maués a várias cidades e vão a Manaus em 18 horas, rios acima. Do alto elas são pequenos pontos móveis, casas de viajar que deixam atrás de si esteiras de espuma. Algumas com nomes sonoros pintados no casco e com tabuletas no convés anunciando os lugares do roteiro da viagem.

Fonte: Brandão, C. R. 1984. Casa de escola: Cultura camponesa e educação rural, 2ª ed. Campinas, Papirus.

03 fevereiro 2022

Se...

Alexandre O’Neill

Se é possível conservar a juventude
Respirando abraçado a um marco do correio;
Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
Deixando-a em estado grave;
Se ao descer do avião a Duquesa do Quente
Pôs marfim a sorrir;
Se Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco;
Se na América um jovem de cem anos
Veio de longe ver o Presidente
A cavalo na mãe;
Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
E a oferece aos hospitais do seu país;
Se o engenheiro sempre não era engenheiro
E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;
Se reentrante, protuberante, perturbante,
Lola domina ainda os portugueses;
Se o Jorge (o ‘ponto’ do Jorge!) tentou beber naquela noite
O presunto de Chaves por uma palhinha
E o Eduardo não lhe ficou atrás
Ao sair com a lagosta pela trela;
Se “ninguém me ama porque tenho mau hálito
E reviro os olhos como uma parva”;
Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa
Cantar com o Alberto...

... Acaso o nosso destino, tac!, vai mudar?

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1958.

01 fevereiro 2022

As taxas de crescimento seguem a escalar e estão agora em 0,7576% (casos) e 0,0859% (mortes)

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 24 e 30/1, essas taxas ficaram em 0,7576% (casos) e 0,0859% (mortes). O número de novos casos segue a crescer mundo afora. (Em linhas gerais, graças à vacinação [1], o número de mortes cresce mais lentamente.) Em escala planetária, já são mais de 379 milhões de casos (para detalhes e referências, ver aqui). No caso específico do Brasil, a taxa de crescimento no número de casos aumentou 46 vezes ao longo de cinco semanas, saltando de 0,0165% (20-26/12) para 0,7576% (24-30/1). Em um cenário otimista, o país irá contabilizar 31.314.210 casos até 27/2. Em um cenário pessimista, o país irá contabilizar 48.262.751 casos.

*

1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

No domingo (30/1), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 134.175 casos e 330 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 25.348.797 casos e 626.854 mortes.

Na semana encerrada no domingo (24-30/1), foram registrados 1.304.542 novos casos – um aumento de 25% em relação à semana anterior (17-23/12: 1.043.598) e a maior soma semanal desde o início da pandemia.

Entre 24 e 30/1, infelizmente, foram registradas 3.757 mortes – um aumento de 83% em relação ao que foi anotado na semana anterior (17-23/12: 2.052) e a maior soma semanal desde meados de setembro (13-19/9: 3.901).

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [2], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas subiram em relação aos valores da semana anterior, com destaque para a taxa de crescimento no número de casos (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos saltou de 0,6359% (17-23/1) para 0,7576% (24-30/1) – o maior valor desde setembro de 2020 (31/8-6/9/20: 0,9882%) [3, 4].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, subiu de 0,0471% (17-23/1) para 0,0859% (24-30/1) – o maior valor desde setembro de 2021 (20-26/9/21: 0,0890%).

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 6/6/2021 e 30/1/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso. As elipses e as setas associadas chamam a atenção para as escaladas detectadas nas últimas semanas. Note como é acentuada a declividade da seta azul, indicando como a taxa de crescimento no número de casos cresceu de modo acelerado entre 2/1 e 30/1.

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3. ESTATÍSTICAS PRECÁRIAS.

Sítios e aplicativos do Ministério da Saúde saíram do ar na primeira quinzena de dezembro. (O sítio só foi descongelado na semana retrasada.) Razão pela qual o monitoramento da pandemia ficou ainda mais comprometido.

O apagão não podia se dar em pior hora. Afinal, após o surgimento da variante ômicron, o número de novos casos cresceu de modo explosivo em todo o mundo.

No caso do Brasil, especificamente, as estatísticas disponíveis mostram que a taxa de crescimento no número de casos aumentou 46 vezes ao longo das últimas cinco semanas. Eis o houve: de 0,0165% (20-26/12), a taxa saltou para 0,0345% (27/12-2/1); daí quadruplicou para 0,1472% (3-9/1); duplicou de novo, chegando a 0,2997% (10-16/1); duplicou mais uma vez, chegando a 0,6359% (17-23/1); e, por fim, subiu para 0,7576% (24-30/1).

4. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) continuam a subir. Cabem aqui, no entanto, duas ressalvas: a taxa de casos subiu menos que o previsto em artigo anterior (aqui), enquanto a de mortes subiu mais que o previsto.

Com base nos resultados das duas últimas semanas (este artigo e o artigo anterior – ver aqui), três cenários para o número de casos são apresentados a seguir.

Em um cenário otimista, a taxa de crescimento teria atingido o teto e pararia de crescer. No ritmo atual, o país irá contabilizar 31.314.210 casos até o último domingo de fevereiro (27/2).

Em um cenário medianamente pessimista, a taxa de crescimento no número de casos continuaria a crescer a um ritmo de 20% por semana até o fim de fevereiro. O país contabilizaria então 35.625.953 casos até o dia 27/2.

Em um cenário pessimista, a taxa de casos continuaria a crescer a um ritmo de 50% por semana até o fim de fevereiro. Neste cenário, o país contabilizaria 48.262.751 casos até o dia 27/2.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] O ritmo da campanha de vacinação caiu muitíssimo. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (E hoje, 1/2, seguimos empacados em torno dos 79,6%!) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

[2] Ouso dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[3] Entre 19/10/2020 e 30/1/2022, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,40% (26/10-1/11), 0,30% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,50% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,50% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7), 0,21% (12-18/7), 0,23% (19-25/7), 0,1802% (26/7-1/8), 0,1621% (2-8/8), 0,14% (9-15/8), 0,1444% (16-22/8), 0,1183% (23-29/8), 0,1023% (30/8-5/9), 0,0744% (6-12/9), 0,1625% (13-19/9), 0,0753% (20-26/9), 0,0775% (27/9-3/10), 0,0715% (4-10/10), 0,0454% (11-17/10), 0,0562% (18-24/10), 0,0532% (25-31/10), 0,0455% (1-7/11), 0,0505% (8-14/11), 0,0385% (15-21/11), 0,0412% (22-28/11), 0,0402% (29/11-5/12), 0,0302% (6-12/12), 0,0154% (13-19/12), 0,0165% (20-26/12), 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1) e 0,7576% (24-30/1); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7), 0,23% (12-18/7), 0,20% (19-25/7), 0,1785% (26/7-1/8), 0,1613% (2-8/8), 0,1492% (9-15/8), 0,1367% (16-22/8), 0,1185% (23-29/8), 0,1062% (30/8-5/9), 0,07870% (6-12/9), 0,0947% (13-19/9), 0,0890% (20-26/9), 0,0840% (27/9-3/10), 0,0730% (4-10/10), 0,0539% (11-17/10), 0,0558% (18-24/10), 0,0513% (25-31/10), 0,0381% (1-7/11), 0,0430% (8-14/11), 0,0321% (15-21/11), 0,0377% (22-28/11), 0,0316% (29/11-5/12), 0,0277% (6-12/12), 0,0225% (13-19/12), 0,0156% (20-26/12), 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1) e 0,0859% (mortes).

Não custa lembrar: Os valores acima são as médias semanais de uma taxa que, por razões metodológicas, oscila ao longo da semana. Para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[4] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 2.

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