A taxa atual de crescimento da produção agrícola em muitos países desenvolvidos é de cerca de 2% ao ano; para atender às necessidades das populações com taxas de crescimento moderadas de aproximadamente 2% ao ano, a produção agrícola deve crescer de 3 a 4,5% (Wortman, 1980). É óbvio que a produção agrícola deve crescer consideravelmente mais para aquelas populações com taxas de crescimento maiores. De acordo com Crosson e Rosenberg (1989), a produção mundial de alimentos está crescendo mais rápido que a população, uma descoberta que faria com que Malthus se chacoalhasse em sua cova. Na década de 1960, a produção de cereais cresceu anualmente 3,7%, enquanto a população crescia 2%; na década de 1970, os crescimentos respectivos foram 2,5% e 1,8%; na década de 1980, 2,1% e 1,6%. Se a disponibilidade de comida crescer sob a última taxa, haverá alimento suficiente para uma população mundial estável de 10 bilhões em 100 anos.
Fonte: Kormondy, E. J. & Brown, D. E. 2002 [1999]. Ecologia humana. SP, Atheneu.
Neste mezzo del camin carrego comigo obras e cânticos alguns alheios outros próprios coisas que escolhi. Entre vogais e vocábulos componho a biografia construção sonora de rostos reflexos sentimentos tão grandes tão grandes uns rindo como gralhas outros mansos todos não perdidos pressentida romã entreaberta assim esta memória existe. Vou como o discípulo de um velho pintor chinês que curvado sob o peso de pincéis potes de laca rolos de seda e de papel arroz sonhava carregar montanhas rios falcões reais e se assim sonhava certamente assim o fazia.
Fonte: Félix, M., org. 1998. 41 poetas do Rio. RJ, Funarte. Poema publicado em livro em 1994.
Há um restolhal, em que cai chuva negra. Há uma árvore castanha, que ali se ergue solitária. Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias – Que triste este anoitecer.
Passando pela aldeola A órfã suave colhe ainda espigas escassas. Seus olhos pascem redondos e áureos no crepúsculo E o seu ceio espera o noivo celestial.
Ao regressar a casa Acharam os pastores o doce corpo Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra longe de aldeias escuras. A mudez de Deus Bebi-a eu no poço do bosque.
Na minha testa calca metal frio. Aranhas buscam o meu coração. Há uma luz, que se apaga na minha boca.
De noite encontrei-me numa charneca, Repleta de imundície e de pó das estrelas. Na avelaneira Soavam de novo anjos de cristal.
Fonte: Quintela, P. 1998. Obras completas, vol. 3. Lisboa, Calouste Gulbenkian. Poema publicado em livro em 1913.
Vladimir Maiakóvski Solta, Coolidge, um grito alegre. Para o que é bom não mesquinharei palavras. Com os elogios podes ficar rubro como a bandeira de nosso continente, embora não sejas senão United States of America. Como à igreja vai o fervoroso crente, como, simples e severo, entra o monge na cela, assim eu, entre as sombras cinzentas do crepúsculo, humildemente entro na ponte de Brooklyn. Como numa cidade, entre nuvens de pó, penetra o vencedor, atrás de seus canhões compridos como girafas – assim eu, cheio de orgulho, famélico de vida, subo orgulhoso pela ponte de Brooklyn. Como o embevecido pintor crava a vista, enamorada e aguda, na Madona do museu, assim eu, debaixo do céu semeado de estrelas, contemplo Nova York através da ponte de Brooklyn. Nova York, calorenta e pesada ao cair da noite, esqueceu seus pesares e seus muitos andares e somente as almas das casas aparecem na clara transparência das janelas. Até aqui mal chega o zumbido dos elevadores, apenas um doce rumor revela os trens que se arrastam, tinindo, como se se arrumasse o vasilhame da copa. Quando lá embaixo, no rio, se repartem gigantescos caixões, dir-se-ia que são, como torrões de açúcar e sob a ponte os mastros passam do tamanho de cabeças de alfinetes. Sinto-me orgulhoso deste quilômetro de aço, eis aqui vivos os meus velhos sonhos – luta das construções contra os estilos, cálculo exato dos parafusos, do aço. Se viesse o fim do mundo, se o caos pusesse este planeta de pernas pro ar, e só ficasse esta ponte, empinada por cima das cinzas finais, então – assim como de pequenos ossos mais finos que agulhas, renascem os imensos sáurios dos museus – a partir desta ponte, o geólogos dos séculos, saberia reconstruir os dias presentes. Dirá: – Esta pata de aço unia prados e mares, daqui a Europa se lançava para o Oeste, perdendo ao vento as plumas indígenas. Aquele lado ali lembra uma máquina – reflitamos – braços bastantes para, com um pé de aço pousado em Manhattan, atrair para si os lábios de Brooklyn? Pelos fios da rede elétrica sei – era a época que se seguiu ao vapor – aqui as gentes já gritavam pelo rádio aqui, as gentes já voavam em avião. Aqui, a vida para uns era folgança, e para outros imenso queixume de fome. Daqui, os desempregados se ativaram de cabeça no Hudson. E assim minha tela se distende, sem detença, ao longo da cordoalha sonora até o pé das estrelas! Vejo – aqui, de pé, esteve Maiakóvski, de pé, tecendo poemas, palavra por palavra. Contemplo a ponte de Brooklyn como, pela primeira vez, um esquimó olha um trem, grudo-me a ela como um carrapato à orelha. Oh! a ponte de Brooklyn há poucas que a igualem. Sim... Isso vale!
Fonte: Maiakóvski. 2006. Vida e poesia. SP, Martin Claret. Poema publicado em livro em 1925.
Fechou o jornal: A brasa do cigarro Ficou intensamente rubra Junto à janela O olho do cinzeiro se Fixou em seus pensamentos A mão desceu até um pouco mais baixo A noite começava a se debruçar Sobre os edifícios
Voltou ao jornal: Algo sobre uma dançarina de cabaré Um crime talvez Um marinheiro bêbado: Caminha caía ensangüentada
O telefone tocou! – alô! – donde falam? – com quem deseja falar? A voz rouca cuspiu alguns palavrões: Alexandrino de merda!
Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.
Nesta segunda-feira, 12/4, o Poesia contra a guerra completou quarenta e dois meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 90.634 visitas haviam sido registradas nesse período.
Desde o balanço mensal anterior – Quarenta e um meses no ar – foram aqui publicados textos dos seguintes autores: Caetano Veloso, Claudia Roquette-Pinto, Markus Zusak, Mozart, Nick Hornby e Richard Brennan. Além de outros autores que já haviam sido publicados antes.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens dos seguintes pintores: Ivan Albright, Max Beckmann e Tivadar Kosztka Csontváry.
3. Passei as semanas seguintes na escola sonhando acordado. Na verdade, passei as semanas seguintes da minha vida sonhando acordado. Tudo se resumia a esperar. Lembro que na primeira semana fiquei esperando um ônibus, o 19, que me levaria de casa até a rua dela. De repente, percebi que esperar um ônibus era muito mais fácil do que qualquer outra coisa, porque tudo era apenas uma espera. Quando estava esperando um ônibus, não precisava fazer nada além disso. Mas todas as outras esperas eram difíceis. Tomar o café-da-manhã era esperar, e eu não comia muito. Dormir era esperar, e eu não conseguia dormir muito, embora quisesse, porque dormir era uma boa maneira de passar oito horas ou algo assim. A escola era uma espera, e eu não entendia o que as pessoas estavam falando, durante as aulas ou os intervalos. Ver TV era esperar, e eu não conseguia acompanhar os programas. Até o skate era uma espera, porque eu só andava de skate quando Alicia fazia alguma outra coisa.
Mas geralmente Alicia não estava fazendo outra coisa. Isso era incrível. Ela queria ficar comigo tanto quanto eu queria ficar com ela, pelo que eu percebia. [...]
No meio do expediente desta segunda-feira, o Poesia contra a guerra ultrapassou a marca das 90 mil visitas. Do balanço numérico anterior – ver ‘Oitenta mil visitas’, em 12/11 – até ontem (4/4) ocorreram em média pouco mais de 69 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia permanece em 185, alcançado em 4/6/2008.
A regra de ouro, a verdade, não é mais reconhecida ou tida em apreço. Para conquistar aplausos é preciso escrever coisas tão simples que um cocheiro as possa cantar, ou tão incompreensíveis que agradem apenas por não poder serem compreendidas por qualquer indivíduo sensato.
Escrita, é sempre você quem me resgata do limiar do iminente nada que borbulha em camadas de pensamentos perigosos e palavras, cepas resistentes à droga da vida. E no peito, que quase não respira, (sobre o qual de bom grado recebo o anel que aperta) ouvir florescer o buquê de promessas. Assim, rainha – tão descalça quanto um rei de carnaval – sob os pés os paetês de brilho fácil se extinguem ao passo que a cabeça-balão-de-parada a cada meneio exibe o sorriso do enforcado.