30 outubro 2016

Um relâmpago

Sengai Gibon

Com que comparar a nossa vida?
Com um relâmpago, com uma gota de rocio...
Assim penso – mas já não mais existe.

Fonte: Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM.

28 outubro 2016

O escritor que o mundo precisa neste momento

Rajeev Balasubramanyam

Todo ano eu torço para que Ngugi wa Thiong’o ganhe o Prêmio Nobel de Literatura.

O escritor queniano é o favorito há anos. Este ano, de acordo com o sítio de apostas Ladbrokes, as chances eram de 4 para 1 a favor de Ngugi, seguido de Haruki Murakami, com 7 para 1, e Don DeLillo, com 12 para 1. Eu teria ficado desapontado se Murakami ou DeLillo ganhasse. O romance de Ngugi, Wizard of the crow, é uma obra-prima de 700 páginas que parece inventar um gênero próprio, entre a sátira e o realismo mágico; fora da África, no entanto, ele teve muito menos leitores que The wind-up bird chronicle ou Underworld, embora seja uma obra de estatura equivalente.

Quando soube da escolha de Bob Dylan, em vez de Ngugi, para o Nobel de Literatura de 2016, não me incomodei que o prêmio fosse para um músico [mas ver aqui], mas fiquei impressionado de o comitê ter demonstrado um aparente alheamento da época em que vivemos. Alfred Nobel deu instruções para que o prêmio fosse concedido “no campo da literatura [para] o mais proeminente trabalho em uma direção ideal”. “Trabalho proeminente” tem a ver com mérito literário e “direção ideal” com valores, indicando um papel para o prêmio no sentido de moldar a perspectiva da humanidade a cada ano.

Neste momento, os Estados Unidos estão assoberbados com um candidato a presidente que propaga a misoginia e apela aos que acreditam na supremacia branca. Em muitos outros países, os neoliberais estão disputando o poder com a extrema direita e a esquerda está em frangalhos. À luz de tudo isso, a decisão do comitê do Nobel soa irritantemente míope. Este era o ano em que nós necessitávamos de um escritor como Ngugi.

A última vez que o Nobel foi dado a alguém fora do campo convencionalmente entendido como literatura foi em 1953, quando o agraciado foi Winston Churchill, uma decisão que o comitê justificou fazendo alusão não apenas ao seu “domínio da descrição histórica e biográfica”, mas também à sua “brilhante oratória em defesa dos valores humanos mais elevados”. É de se presumir que isto fosse uma alusão à sua retórica durante a guerra, embora seja duvidoso que ele ganhasse, caso os seus crimes contra as antigas colônias britânicas fossem de conhecimento geral.

Importância literária, política e ideológica

Esta aí a importância de Ngugi. Nascido em 1938, filho de um fazendeiro em um Quênia rural ocupado pelos britânicos, Ngugi cresceu trabalhando nas fazendas de crisântemos que foram de seus antepassados. Ele atingiu a maioridade durante a Revolta dos Mau-Mau, que foi seguida pela violenta reação do governo Churchill, incluindo a detenção de 150 mil integrantes da etnia gikuyu em campos de concentração, onde eles foram eletrocutados, chicoteados e mutilados. Ele descreve vivamente esse período em seus romances Weep not, child, o primeiro romance do leste africano publicado em inglês, A grain of wheat [Um grão de trigo] e Petals of blood.

Mais tarde, ao se debruçar sobre a traição do povo queniano pela nova elite dominante, ele foi preso sem um julgamento, escrevendo o primeiro romance moderno em gikuyu, Devil on the cross, no papel higiênico da prisão. Em seguida, escreveu Decolonising the mind, onde argumenta que os africanos, como parte do esforço pela libertação dos grilhões mentais do colonialismo, deveriam escrever em suas línguas nativas.

Para um escritor vindo da África, um continente frequentemente tratado pelo resto do mundo como irrelevante, a decisão de Ngugi de se afastar do inglês foi corajosa. De fato, poderia ter levado ao seu desaparecimento da cena global, mas, em vez disso, solidificou sua reputação como um escritor de elevado compromisso político, ainda que poucos de seus contemporâneos ou dos autores iniciantes atendessem ao apelo para escrever em seus idiomas nativos. A atitude de Ngugi em relação a isso, no entanto, é marcadamente autoconsciente e flexível.

“Nós, da geração mais velha”, disse ele à [revista] New African, três anos atrás, “estamos tão unidos pelo nosso nacionalismo anticolonialista, algo que é importante para nós, porém, a geração mais nova – eles estão livres. Note que os personagens deles não são necessariamente africanos. Eles estão bastante satisfeitos introduzindo personagens de outras raças e assim por diante... isso é bom, pois eles estão crescendo em um mundo multicultural”.

Esta capacidade de libertar a si mesmo de posições fixas permitiu a Ngugi manter a sua relevância política. Wizard of the crow se passa em uma fictícia República Livre de Aburĩria, com destaque para um ditador megalomaníaco, conhecido apenas como o Governante. É uma crítica não só de figuras reais, mas também do próprio poder político, no centro do qual ele coloca a opressão patriarcal. O romance é escrito com uma mão cômica e radiante, compassivo diante de pessoas comuns, satírico diante do Governante e seus capangas, e, como Maya Jaggi afirmou em sua crítica no Guardian, “notavelmente livre de amargura” – vital, se o escritor quer permanecer atual, e impressionante, para alguém exilado de sua terra natal por 22 anos.

Uma conjuntura crítica

Uma obra tão rica é de importância potencialmente gigantesca para a nossa compreensão de como o mundo chegou ao ponto em que está. Ngugi capta o processo, desde a pilhagem crua e a violência do colonialismo à corrupção das elites nacionais do Terceiro Mundo promovida pelas forças predatórias do capitalismo global, as quais, em Wizard of the crow, ele ousadamente  representou como um fictício Banco Mundial.

Desde a publicação de Wizard of the crow, em 2006, Ngugi escreveu três volumes de memórias, retornando aos períodos abordados em seus romances. O primeiro, Dreams in a time of war [Sonhos em tempo de guerra – Memórias de infância] começa com os avós, na época da Conferência de Berlim, em 1885, quando os países europeus dividiram a África entre eles, e, em seguida, nos conta a história de sua própria infância como um trabalhador sem-terra. O segundo, In the house of the interpreter, trata dos anos que passou em um colégio interno controlado pelos britânicos, perto de Nairóbi, quando, durante a Revolta dos Mau-Mau, a casa de sua família foi destruída e o seu irmão foi preso em um campo de concentração britânico. O terceiro volume, Birth of a dream, relata os quatro anos que passou na Universidade Makerere, em Uganda, enquanto o Quênia se aproximava da independência e Ngugi começava a escrever suas primeiras obras literárias.

Teria sido uma decisão progressista dar o prêmio a Dylan 40 anos atrás (e, dada sua falta de receptividade ao anúncio da premiação, suspeito que Dylan poderia até concordar com isso), mas o mundo, em 2016, está em uma conjuntura crítica em termos de nossa tomada de consciência ante o fascismo, o neoimperialismo e a supremacia masculina branca, e o comitê do Nobel deveria ter reconhecido isso. Embora nenhum romancista possivelmente possa alcançar tantas pessoas como um músico com a fama de Dylan, nós ainda precisamos honrar o papel da literatura em mudar a nossa consciência e mobilizar as nossas ações e, de todos os concorrentes ao Nobel este ano, a voz de Ngugi é a mais urgente. Como ele próprio escreveu em 2005: “Palavras escritas também podem cantar”.

*

Fonte: ‘The Nobel Committee got it wrong: Ngugi wa Thiong’o is the writer the world needs now, publicado no The Washington Post, em 22/10/2016. Rajeev Balasubramanyam é escritor. Tradução:  F. Ponce de León.

26 outubro 2016

Fatores, processos e realimentação

Maurice E. Solomon

Quando nos referimos a um ‘fator’, estamos nos utilizando de um estratagema mental conveniente com o fim de isolar e dar atenção especial a determinado aspecto de todo o complexo exibido por uma população em seu ambiente. Qualquer parte ou aspecto deste complexo pode ser considerado [como] um fator que está influindo sobre a população, como, por exemplo, os predadores, a temperatura ou a perturbação mútua. A ação de qualquer fator que exerce influência sobre a população é [mais bem] referida como sendo um ‘processo’: os predadores constituem um fator; a predação, conquanto possamos nos referir a ela como um fator, será mais apropriadamente chamada de um processo. Um aspecto dos processos que afetam as populações, são as relações que eles apresentam com a densidade – se são, por exemplo, intensificados em condições de densidade elevada. Quando um processo é afetado desta ou de alguma outra forma pela densidade populacional dizemos que é ‘relacionado à densidade’.

A ação de um fator dependente da densidade pode ser comparada à do regulador em uma máquina – um dispositivo que restringe o suprimento de fluido ou combustível quando a máquina funciona mais rapidamente, aumentando esse suprimento quando a velocidade diminui. Na cibernética tal ação é chamada de ‘realimentação negativa’. Nas populações não observamos a precisão e a capacidade de repetição que os engenheiros exigem, porém, a ideia geral é comum a ambos os campos.
[...]

Fonte: Solomon, M. E. 1980 [1976]. Dinâmica de populações. SP, EPU & Edusp.

24 outubro 2016

Sobre a naturalidade das coisas

Mary Catherine Bateson

A reflexão clara sobre o mundo em que vivemos é dificultada por algumas confusões bastante primárias, novas e velhas, sobre o uso habitual das palavras natureza e natural.

Parecemos acreditar facilmente que é possível estar fora da natureza – que, com uma ajudinha lá de cima, conseguiríamos nos colocar acima das contingências comuns, fugir às consequências de nossos atos e nos livrar de maneira sobrenatural das realidades excessivamente naturais que são a doença e a morte. Alguns empregos dessas palavras parecem sugerir que é possível estar abaixo da natureza, como é o caso dos atos ‘não naturais’ (às vezes chamados de ‘subumanos’), ou pais não naturais (aqueles não amorosos ou que faltam com as obrigações da educação, sem nenhuma relação lógica com o ‘filho natural’, aquele nascido fora do arranjo culturalmente aceito que é o matrimônio).

Esses empregos têm em comum a ideia de que a natureza é algo do qual podemos nos afastar, contornar. Os problemas intelectuais gerados pela delimitação do domínio da ‘natureza’ provavelmente confundem mais do que aqueles criados pelo dualismo cartesiano, apesar de sem dúvida serem relacionados. Descartes estava interessado em definir um domínio para a ciência que estivesse livre da interferência eclesiástica: res extensa, matéria, o corpo físico, separado da mente ou espírito. O efeito disso foi a criação de duas formas de causalidade distintas e esferas de discurso separadas que devem de alguma forma ser reunidas. As definições populares para ‘natureza’ são mais confusas, mas igualmente insidiosas. Assim como com o dualismo cartesiano, elas tendem a enviesar o pensamento ético, a separar ao invés de incluir. Na cultura ocidental, já se considerou a natureza como algo a ser controlado pela humanidade, assim como o corpo deveria ser controlado pela mente.

Recentemente, nós complicamos a situação ao rotular mais e mais objetos e materiais, desde comidas até fibras e moléculas, como naturais ou não naturais. Isso cria um domínio limitado e disforme para o natural, carregado de juízos de valor subentendidos: o domínio sugerido no título The end of nature, de Bill McKibben, ou The American replacement of nature, de Irwin Thompson. No entanto, a natureza não é algo que pode acabar ou ser substituído, tampouco é possível ficar fora dela.
[...]

Fonte: Brockman, J. & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

22 outubro 2016

Libertando as transtornadas


Tony Robert-Fleury (1837-1911). Pinel à la Salpêtrière. 1876.

Fonte da foto: The FASEB Journal.

20 outubro 2016

Eu-mulher

Conceição Evaristo

Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

Fonte (versos 1-7, 18-21): Martins, L. 2010. In: Pereira, E. A., org. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições. Poema publicado em livro em 1995.

18 outubro 2016

Baldio

Nuno Júdice

No campo, os rebanhos confundem-se com o verde
das pastagens, como se fosse a erva a comê-los;
e o balido das cabras e o som dos guizos, que
se misturam com o latido dos cães, escondem
também eles a voz do pastor, que nada diz acerca
do destino (supondo que um rebanho tem destino).

No campo, ninguém vê para onde vão esses rebanhos
quando, à tarde, atravessam a estrada e obrigam
os carros a parar. Por vezes, um condutor insiste
em abrir caminho através das peles e dos chifres; mas
os cães metem-se à frente do carro, como se ele
fizesse parte do rebanho, e forçam-no a desviar-se.

Há regras a seguir neste mundo, que a natureza
humana não consegue alterar. É como se campo
e animais formassem um só corpo; como se
nenhum de nós conseguisse entrar nesse
obscuro mundo de leis e direções invisíveis. E até
o pastor, em silêncio, parece guiado pelos deuses.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1994.

16 outubro 2016

Uma nova atmosfera

Bill McKibben

Svante Arrhenius fez seu doutorado em física na Universidade de Uppsala, em 1884. Sua tese mereceu a nota mínima, acima apenas da rejeição sumária. Dezenove anos depois, essa tese sobre a condutividade das soluções valeu-lhe o Prêmio Nobel. [...]

A compreensão de Arrhenius sobre a condução eletrolítica não foi sua única ideia recebida com indiferença. Ao estudar as primeiras décadas da Revolução Industrial, ele compreendeu que o homem estava queimando carvão num ritmo sem precedentes, “levando nossas minas de carvão a se evaporarem no ar”. [...] Mas foi Arrhenius, utilizando medições de radiação infravermelha da lua cheia, quem fez os primeiros cálculos dos possíveis efeitos da acelerada produção de dióxido de carbono pelo homem. A temperatura global média, ele concluiu, aumentaria até nove graus Fahrenheit (4,5 graus Celsius) se a quantidade de dióxido de carbono no ar dobrasse, em relação ao seu nível pré-industrial. [...]

Fonte: McKibben, B. 1990. O fim da natureza. RJ, Nova Fronteira.

14 outubro 2016

Por que Bob Dylan não deveria ter ganhado o Nobel

Anna North

Bob Dylan não merece o Prêmio Nobel de Literatura.

Ele merece os muitos Grammy que recebeu, incluindo um que ganhou em reconhecimento ao conjunto de sua obra, em 1991. Ele inquestionavelmente pertence ao Hall da Fama do Rock, ao qual foi incluído em 1988, ao lado das Supremes, dos Beatles e dos Beach Boys. Ele é um músico maravilhoso, um dos maiores compositores do mundo e uma figura imensamente influente na cultura estadunidense.

Porém, ao conceder o prêmio a ele, o comitê do Nobel está optando por não concedê-lo a um escritor e esta é uma opção decepcionante.

Sim, o sr. Dylan é um letrista brilhante. Sim, ele escreveu um livro em prosa poética e uma autobiografia. Sim, é possível analisar suas letras como poesia. Porém, os escritos do sr. Dylan são inseparáveis de sua música. Ele é ótimo porque é um ótimo músico e, ao dar o prêmio de literatura a um músico, o comitê perde a oportunidade de homenagear um escritor.

Com o hábito de leitura declinando em todo o mundo, prêmios literários são mais importantes do que nunca. Um grande prêmio significa um salto nas vendas e no número de leitores, mesmo para um escritor bem conhecido. Mais do que isso, porém, dar o Nobel a um escritor ou a um poeta é um modo de mostrar que a ficção e a poesia ainda têm importância, que tanto uma como outra são empreendimentos humanos cruciais, dignos de reconhecimento internacional.

A música popular é um empreendimento assim também, mas, de um modo geral, ela já recebe o devido reconhecimento. Além disso, exceto por uns poucos prêmios de declamação, ninguém esperaria que as maiores honrarias da música fossem dadas a um escritor – não veremos Zadie Smith ou Mary Gaitskill no Hall da Fama do Rock.

Com a sua escolha, o comitê provavelmente não quis menosprezar a ficção ou a poesia. Homenageando um ícone da música, os membros do comitê podem ter desejado atribuir ao prêmio um novo capital cultural, fazendo-o parecer relevante às gerações mais jovens.

Mas há muitos modos pelos quais eles poderiam ter conseguido isso, homenageando, ao mesmo tempo, um escritor. Eles poderiam ter escolhido um escritor que tem feito inovações significativas na forma, como Jennifer Egan, Teju Cole ou Anne Carson. Poderiam ter selecionado um escritor do mundo em desenvolvimento, que lamentavelmente permanece sub-representado entre os laureados com o Nobel. Poderiam pegar um escritor que tem construído uma audiência principalmente on-line, como Warsan Shire, que foi a primeira a vencer o Young Poet Laureate for London, em 2014.

Em vez disso, o comitê deu o prêmio a um homem que é internacionalmente famoso em outro campo, alguém cheio de honrarias por mérito próprio. Bob Dylan não precisa de um Prêmio Nobel de Literatura, mas a literatura precisa de um Prêmio Nobel. Este ano, ela não terá um.

*

Fonte: ‘Why Bob Dylan shouldn’t have gotten a Nobel’, publicado no NYT, em 13/10/2016. Anna North é editora do The New York Times. Tradução: F. Ponce de León.

13 outubro 2016

Just like a woman

Bob Dylan

Nobody feels any pain
Tonight as I stand inside the rain
Ev’rybody knows
That Baby’s got new clothes
But lately I see her ribbons and her bows
Have fallen from her curls
She takes just like a woman, yes, she does
She makes love just like a woma, yes, she does
And she aches just like a woman
But she breaks just like a little girl

Queen Mary, she’s my friend
Yes, I believe I’ll go see her again
Nobody has to guess
That Baby can’t be blessed
Till she sees finally that she’s like all the rest
With her fog, her amphetamine and her pearls
She takes just like a woman, yes, she does
She makes love just like a woman, yes, she does
And she aches just like a woman
But she breaks just like a little girl

It was raining from the first
And I was dying there of thirst
So I came in here
And your long-time curse hurts
But what’s worse
Is this pain in here
I can’t stay in here
Ain’t it clear that –

I just can’t fit
Yes, I believe it’s time for us to quit
When we meet again
Introduced as friends
Please don’t let on that you knew me when
I was hungry and it was your world
Ah, you fake just like a woman, yes, she does
You make love just like a woman, yes, she does
Then you ache just like a woman
But you break just like a little girl

Fonte: Bing, I. 1992. A estrada revisitada. SP, Iglu.

12 outubro 2016

Aniversário de 10 anos

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/10, o Poesia contra a guerra completa 10 anos no ar (2006-2016). Ao fim do expediente de ontem, o contador (algo problemático) instalado no blogue indicava que (ao menos) 304.126 visitas ocorreram ao longo desses anos.

Nos últimos 12 meses, foram ao ar textos de 124 novos autores, além de outros que já haviam sido publicados antes – ver ‘Aniversário de nove anos’ e balanços anteriores. Eis a lista de estreantes:

Adrian M. Wenner, Afonso Celso, Alfredo Bosi, Allan Larson, Anderson Braga Horta, Anthony Raw, António Botto, Arigelinda Pereira da Costa, Arnold J. Bloom, Artur Azevedo e Aurélio B. H. Ferreira;

Barbara Leaming, Belmiro Braga, Bernard Dixon, Bernardo Guimarães, Brigid Brophy, Bruce H. Mahan e Bruno Latour;

Camara Laye, Carlos Felipe Moisés, Célio Apolinário, Claudio Willer, Cleveland P. Hickman Jr., Clive Ponting, Constantine P. Cavafy, Constanze Mozart e Craig B. Fryhle;

D. S. Falconer, Daniel S. Halacy Jr., David Halliday, Domingos Carvalho da Silva e Don Bradshaw;

E. B. Ford, E. R. Goilo, Edgar Lee Masters, Eduardo Colli, Eduardo Zeiger, Edward A. Adelberg, Eloisa Mano, Emanuel Epstein, Eric Blom, Euclides da Cunha e Euphrase Kezilahabi;

Florisvaldo Mattos e Francisco Nesi;

Goulart de Andrade, Geraldo Pinto Rodrigues, Guerra Junqueiro e Guimarães Passos;

Hélio Siqueira Silveira e Heraldo Marelim Vianna;

Ian Tattersall e Isaac Asimov;

Jalsi T. Arruda, James H. McGillivray, James R. Echols, Jearl Walker, João Airas de Santiago, João de Deus, João Soares de Paiva, Joelma Santana Siqueira, John Keats, John Losee, John R. Krebs, José Augusto Pádua, José Lino Grünewald e Jürgen Weineck;

Kathleen E. Gilligan e Katia K. V. O. Moura;

Larry S. Roberts, Lesya Ukrainka, Li Pai, Lincoln Taiz, Frai Luís de León, Luís Murat, Luiz Alfredo Milleco e Luiz Inácio Lula da Silva;

Manuel de Santa Maria Itaparica, Maria Léa Salgado-Labouriau, Medeiros e Albuquerque, Mendes Leal, Michael Doudoroff e Miguelángel Meza;

N. B. Davies, Newton Carlos, Nicholas Wade e Niles Eldredge;

Octavio Paz;

Pascal Boyer, Paul Auster, Paulinho da Viola, Paulo César W. Albuquerque, Pável Bassínski, Pero da Ponte e Peter Beech;

Raul Pompeia, Ricardo Bicca de Alencastro, Ricardo Lourenço de Oliveira, Robert Bly, Robert Eisberg, Robert Resnick, Roger Y. Stanier, Rotraut A. G. B. Consoli e Rupert Brooke;

Salvador Espriu, Samih Al-Qasim, Setembrino Petri, Stéphane Mallarmé, Steve Woolgar e Stoyan Mihaylovski;

T. W. Graham Solomons, Theo Mayer-Kuckuk, Thomas Hardy, Tomás Mamani Amorraga e Tomás Pinto Brandão;

Vicente de Carvalho e Vicente José Fúlfaro;

Walter Larcher, Walter Savage Landor, Wander Piroli, William Collins, William Morris e Willie Bueno; e

Zuenir Ventura.

Cabe ainda registrar que, no mesmo período, foram aqui reproduzidas imagens de quadros de 32 pintores, a saber: Alfredo Roque Gameiro, Araceli Gilbert e Armand Laroche; Bengt Nordenberg; Carl Friedrich Lessing e Carlo Crivelli; Elisabeth Jerichau Baumann e Emil Nolde; Frank Buchser; Gaston Bussière, George Hendrik Breitner, Gerrit Dou, Giovanni Boldini e Giovanni Francesco Caroto; Hans Gude; Isaac Israëls; James Ensor, Jan Stobbaerts, Johann Wilhelm Schirmer e Józef Chełmoński; Karl Raupp e Konrad Mägi; Louis-Frédéric Schützenberger; Matthias Grünewald; Olga Boznańska; Pedro Américo; Rodolfo Amoedo e Rudolf Koller; Stanisław Masłowski; Theodor Hildebrandt; Władysław Podkowiński e Wojciech Gerson.

11 outubro 2016

Abate


Jan Stobbaerts (1838-1914). Slachten. 1872.

Fonte da foto: Wikipedia.

09 outubro 2016

O raio do núcleo atômico

Robert Eisberg & Robert Resnick

Por volta de 1910, acumularam-se inúmeras evidências experimentais de que os átomos contêm elétrons (por exemplo, o espalhamento de raios X por átomos, o efeito fotoelétrico etc.). Estas experiências davam uma estimativa para Z, o número de elétrons em um átomo, como sendo aproximadamente igual a A/2, onde A é peso atômico químico do átomo considerado. Como normalmente os átomos são neutros, eles devem também conter uma carga positiva igual em módulo à carga negativa de seus elétrons. Portanto um átomo neutro tem uma carga negativa –Ze, onde –e é a carga do elétron, e também uma carga positiva de mesmo valor em módulo. O fato de que a massa do elétron é muito pequena se comparada com a de qualquer átomo, mesmo com a do mais leve, implica que a maior parte da massa do átomo deve estar associada à carga positiva.
[...]

No modelo de Rutherford para a estrutura do átomo, todas as cargas positivas desse átomo, e consequentemente toda a sua massa, [estão supostamente] concentradas em uma pequena região no centro chamada núcleo. Se suas dimensões forem suficientemente pequenas, uma partícula α que passe bem perto deste núcleo poderá ser espalhada, devido a uma forte repulsão coulombiana em um grande ângulo ao atravessar um único átomo. Se, em vez de usarmos r’ = 10–10 m para o raio da distribuição de cargas positivas do átomo de Thomson, o que dá um ângulo de deflexão máxima θ ≈ 10–4 rad, tentarmos saber qual deveria ser o raio r’ de um núcleo para obtermos θ ≈ 1 rad, por exemplo, encontraríamos r’ = 10–14 m. Isto, como veremos, será uma boa estimativa do raio do núcleo atômico.
[...]

Fonte: Eisberg, R. & Resnick, R. 1979 [1974]. Física quântica. RJ, Elsevier.

07 outubro 2016

Poética da destruição

José Augusto Pádua

Em 1845, o poeta e pintor Manuel de Araújo Porto-Alegre publicou um longo poema, depois inserido na série Brasilianas, intitulado ‘A destruição das florestas’. A obra compunha-se de três cantos – a ‘Derribada’, a ‘Queimada’ e a ‘Meditação’. Porto-Alegre estava longe de ser um opositor da ordem social e econômica do império. Amigo pessoal de Pedro II, professor da Academia de Belas Artes, secretário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, diretor de uma das seções do Museu Nacional, poucos personagens no Brasil da época circulavam com tanta desenvoltura pelos círculos oficiais. No que se refere ao desaparecimento das florestas, no entanto, sua oposição era dura e quase desesperada.

A crítica de Porto-Alegre manifestava, em primeiro lugar, um sofrimento individual e subjetivo, uma espécie de dor estética pela destruição de algo imensamente belo e generoso (e pela perspectiva de viver em uma paisagem onde essa realidade não mais existisse): “Choro dos bosques a beleza imensa/Choro das fontes o benigno amparo/Dos rios a riqueza e o ar saudável/Que as florestas expandem do seu seio”; “Não é vida ante os olhos ter constante/De um hórrido esqueleto a árida imagem/E um quadro carcomido e lacerado/Pelo trado do verme do egoísmo”.

Note-se, de passagem, que aqui aparece novamente a teoria do dessecamento – a ligação das florestas com a umidade, as fontes e os rios. As florestas não representavam um elemento isolado no território brasileiro, mas sim a base do seu equilíbrio e vitalidade. Chorando a sorte das florestas, o autor estava também lamentando a degradação do país como um todo. Além do sentimento subjetivo, esse lamento envolvida uma preocupação política. O que vamos encontrar por detrás dos versos de Porto-Alegre, na verdade, será a reafirmação de algumas das teses que já vinham marcando a crítica ambiental brasileira. A influência decisiva derivada do próprio José Bonifácio, que o poeta conheceu pessoalmente no final da década de 1820 e por quem tinha, segundo testemunhas, “uma espécie de adoração”. Uma dessas teses era a de que a destruição das florestas colocava graves riscos para a sobrevivência do Brasil enquanto tal: “Um vulcão se ateou que tudo assola/Mudas leis, que o porvir de trevas cobrem/Cavam abismos, sorvedouros abrem/Ante o futuro deste Império imenso”.
[...]

Fonte: Pádua, J. A. 2002. Um sopro de destruição. RJ, Jorge Zahar.

05 outubro 2016

Equilíbrio de Hardy-Weinberg

D. S. Falconer

Numa grande população, sob acasalamento ao acaso, na ausência de migração, mutação e seleção, tanto as frequências gênicas como as genotípicas são constantes, de geração em geração, e as frequências genotípicas são determinadas pelas frequências gênicas. Estas propriedades da população foram, primeiramente, demonstradas, de forma independente, por Hardy e por Weinberg, em 1908, e são conhecidas como lei de Hardy-Weinberg. [...] Tal população é dita estar em equilíbrio de Hardy-Weinberg. A dedução desta lei envolve três passos: um, dos pais à produção de gametas; dois, da união dos gametas aos genótipos nos zigotos produzidos; três, dos genótipos dos zigotos à freqüência gênica na progênie. [...]

Fonte: Falconer, D. S. 1981 [1960]. Introdução à genética quantitativa. Viçosa, Imprensa Universitária.

03 outubro 2016

Carbono: compartimentos e fluxos

Felipe A. P. L. Costa

O carbono, a exemplo do que se passa com outros elementos, circula continuamente pelos ecossistemas. O ciclo global de um elemento pode ser visto como uma série de compartimentos ligados entre si por meio de fluxos de troca. No caso do carbono, os compartimentos estão segregados em dois grandes domínios, um de fluxos ‘rápidos’ (de dias a milhares de anos) e o outro de fluxos lentos (até centenas de milhões de anos). O primeiro inclui os átomos de C que estão na atmosfera (830 Gt, incluindo 240 Gt de origem antropogênica); nos oceanos (em águas intermediárias e profundas: ~ 38 mil Gt, incluindo 155 Gt de C antropogênico; águas superficiais: 900 Gt); na biota terrestre (450-650 Gt) e no solo (1,5-2,4 mil Gt), além de uma quantidade adicional em solos congelados (~ 1,7 mil Gt). O segundo domínio inclui o C que está estocado em depósitos minerais (10-40 milhões de Gt, incluindo 1-2 mil Gt de combustíveis fósseis, das quais ~ 365 Gt já foram extraídas) e nos sedimentos marinhos (1,75 mil Gt) [...]. O desequilíbrio no ciclo do carbono provocado por atividades humanas consiste, no fim das contas, na transferência de grandes quantidades de carbono fóssil, oriundas do domínio lento, para o domínio rápido.

Fonte: Costa, F. A. P. L. 2016. O evolucionista voador & outros inventores da biologia moderna. Viçosa, Edição do Autor. [No prelo.]

01 outubro 2016

Dama de rosa


Giovanni Boldini (1842-1931). La signora in rosa (Ritratto di Olivia de Subercaseaux Concha). 1916.

Fonte da foto: Wikipedia.

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