A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
30 junho 2022
Os equinodermos
Carlos Renato Rezende Ventura
O filo Echinodermata é composto por animais exclusivamente marinhos, com formas corporais peculiares, baseadas em cinco eixos de simetria. Este arranjo corporal, único entre os metazoários, é mais evidente nas estrelas-do-mar (classe Asteroidea). Esta característica tornou estes animais muito populares e um dos símbolos do ambiente marinho.
O nome do filo (do grego, echino = ‘espinho’; derma = ‘pele’) refere-se a outra característica marcante dos Echinodermata: a existência de esqueleto calcário interno e poroso, do qual se projetam espinhos na maioria das espécies atuais. [...]
Os equinodermos estão presentes em todos os ambientes marinhos, em todas as latitudes e profundidades. Entretanto, geralmente não têm nomes próprios populares no Brasil, como outros invertebrados marinhos (especialmente, moluscos e crustáceos). [...]
O filo é composto por cerca de 7.000 espécies atuais, porém já foi mais representado ao longo de sua história evolutiva, pois há mais de 13.000 espécies fósseis descritas. Entre as espécies viventes, a classe Ophiuroidea é a mais diversa (com cerca de 2.000 espécies), seguida pelas classes Asteroidea (com em torno de 1.800 espécies), Holothuroidea (com aproximadamente 1.400 espécies), Echinoidea (com mais ou menos 900 espécies) e, a menos diversa, a Crinoidea (com cerca de 700 espécies). Fonte: Ventura, C. R. R. 2016. In: Fransozo, A. & Negreiros-Fransozo, M. L., orgs. Zoologia dos invertebrados. RJ, Roca.
Embora ainda faltem dois dias (25-26/6) para fechar a semana, as estatísticas divulgadas nos últimos cinco dias (20-24/6) dão mostras de que a pandemia está a recrudescer. E com força.
Vejamos os resultados mais recentes.
(A) – Estatísticas totais. Na semana passada (13-19/6), foram computados 247.328 casos e 955 mortes (para detalhes, ver o artigo Vacina combate a doença, a máscara impede o contágio). Entre segunda e sexta-feira desta semana (20-24/6), já foram computados 318.973 casos e 1.164 mortes.
(B) – Métricas. Na semana passada, as taxas de crescimento ficaram em 0,1119% (casos) e 0,0204% (mortes). Supondo que as estatísticas dos dois próximos dias (25-26/6) não saiam do zero (algo virtualmente impossível, exceto por omissão ou manipulação deliberada), as métricas para a semana ora em curso já estariam em 0,1431% (casos) e 0,0248% (mortes).
Os quatro percentuais referidos no item B acima podem parecer insignificantes. Não são. E o pior: as duas taxas (casos e mortes) estão a escalar. A taxa de casos, por exemplo, está a escalar desde a semana 16-22/5 (ver o gráfico que acompanha o artigo anterior – aqui). Em tais circunstâncias, a montanha de vítimas da doença aumenta cada vez mais rapidamente.
CENÁRIOS E PROJEÇÕES ATÉ 2/10.
Para dimensionar mais concretamente as implicações demográficas das escaladas referidas acima – de 0,1119% para 0,1431% (casos) e de 0,0204% para 0,0248% (mortes) –, basta observar o seguinte:
(1) Levando em conta os valores da semana passada (0,1119% e 0,0204%), nós chegaremos ao primeiro domingo de outubro, 2/10 (data prevista para as eleições), com mais 3,952 milhões de casos e 14,49 mil mortes (totalizando assim 35.656.250 casos e 683.555 mortes); e
(2) Levando em conta os valores provisórios já detectados para a semana atual (0,1431% e 0,0248%), chegaremos a 2/10 com mais 5,137 milhões de casos e 17,67 mil mortes (totalizando assim 36.840.894 casos e 686.739 mortes). Projeções mais precisas, claro, poderão ser feitas a partir de domingo, 26/6, quando serão obtidos os valores finais das taxas de crescimento relativas à semana ora em curso.
CODA.
A situação da pandemia em terras brasileiras é preocupante. Por vários motivos. Em linhas gerais, no entanto, talvez pudéssemos resumir a história toda em uma única recomendação: NÃO SAIA DE CASA SEM MÁSCARA.
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NOTA.
[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em outro artigo (ver aqui). Os valores da semana passada (13-19/6) ficaram abaixo dos da semana anterior. Seria uma notícia boa, caso não fosse antes uma conclusão imprecisa. A situação atual é incerta e preocupante. A esta altura dos acontecimentos, já deveria estar claro que a pandemia é tanto um fenômeno em escala planetária como um problema a ser combatido em múltiplos níveis. Neste momento, além de manter a luta contra a doença é imperioso retomar a luta contra a propagação do vírus. Caso contrário, nós permaneceremos indefinidamente empacados no atoleiro que estamos.
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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.
Levando em conta as estatísticas obtidas na noite de segunda-feira 20/6 [1], eis um balanço da situação mundial.
(A) – Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 73% dos casos (de um total de 539.678.868) e 66% das mortes (de um total de 6.320.249) [3].
(B) – Nesses 20 países, 373 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 94% dos casos. Em escala global, 520 milhões de indivíduos já receberam alta [4].
(C) Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação atual: (i) em números absolutos, a lista está a ser liderada pelos Estados Unidos, com 2,56 milhões de novos casos; (ii) a lista dos cinco primeiros tem ainda os seguintes países: Taiwan (1,74 milhão), Alemanha (1,01), Brasil (761 mil) e Austrália (708 mil); e (iii) a lista dos países com mais mortes também está a ser liderada pelos EUA (7,61 mil); em seguida aparecem Taiwan (3,67 mil), Brasil (2,43), Rússia (1,80) e Espanha (1,54).
2. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.
No domingo (19/6), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 10.691 casos e 55 mortes (vergonhosamente, porém, alguns estados não divulgaram suas estatísticas – ver item 4). Teríamos chegado assim a um total de 31.704.193 casos e 669.065 mortes.
Na semana encerrada ontem (13-19/6), foram registrados 247.328 novos casos e 955 mortes. (Na semana anterior, 6-12/6, foram 297.530 casos e 1.105 mortes.)
3. TAXAS DE CRESCIMENTO.
Para monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia [5], sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.
Vejamos os resultados mais recentes.
A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,1359% (6-12/6) para 0,1119% (13-19/6) (ver a figura que acompanha este artigo) [6, 7].
A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0236% (6-12/6) para 0,0204% (13-19/6).
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FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 19/6/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.
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4. CODA.
As taxas de crescimento (casos e mortes) da semana passada foram inferiores às semana anterior. Seria uma notícia boa, caso não fosse antes uma conclusão imprecisa. A situação atual é incerta e preocupante. Estou aqui a me referir à degradação observada na coleta e na divulgação das estatísticas – no domingo, por exemplo, oito estados (AC, DF, MA, MG, MT, RJ, RR e TO) não divulgaram os seus números.
A esta altura dos acontecimentos, já deveria estar claro (sobretudo para os formadores de opinião) que a pandemia é tanto um fenômeno em escala planetária como um problema a ser combatido em múltiplos níveis. Digo isso para ressaltar duas coisas, a saber:
(1) A pandemia não terá fim enquanto a população africana não estiver devidamente vacinada; e
(2) Neste momento, além de manter a luta contra a doença (vacinação) é imperioso retomar a luta contra a propagação do vírus (notadamente o uso de máscara) [8]. Caso contrário, nós, brasileiros, permaneceremos indefinidamente empacados no atoleiro que estamos.
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NOTAS.
[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).
[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 10 grupos: (a) Entre 85 e 90 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 30 e 35 milhões – Brasil e França; (d) Entre 25 e 30 milhões – Alemanha; (e) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido; (f) Entre 15 e 20 milhões – Coreia do Sul, Rússia, Itália e Turquia; (g) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (h) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã; (i) Entre 8 e 10 milhões – Argentina, Japão e Países Baixos; e (j) Entre 6 e 8 milhões – Austrália, Irã, Colômbia, Indonésia e Polônia.
Em tempo: No fim da manhã desta quinta-feira (23), estas estatísticas já chegaram a 541.535.512 (casos) e 6.324.539 (mortes).
[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
[4] Como comentei em ocasiões anteriores, fui levado a promover a seguinte mudança metodológica: as estatísticas de casos e mortes continuam a seguir o painel Mapping 2019-nCov, enquanto as de altas estão agora a seguir o painel Worldometer: Coronavirus.
[5] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea mencionada na nota 3.
[6] Os valores da semana em curso (20-26/6) deverão ser significativamente mais altos. Entre 27/12/2021 e 19/6/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2), 0,1389% (28/2-6/3), 0,1565% (7-13/3), 0,1268% (14-20/3), 0,1019% (21-27/3), 0,0750% (28/3-3/4), 0,0727% (4-10/4), 0,0474% (11-17/4), 0,0457% (18-24/4), 0,0494% (25/4-1/5), 0,0515% (2-8/5), 0,0578% (9-15/5), 0,0478% (16-22/5), 0,0752% (23-29/5), 0,0947% (30/5-5/6), 0,1359% (6-12/6) e 0,1119% (13-19/6); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2), 0,0661% (28/2-6/3), 0,0642% (7-13/3), 0,0463% (14-20/3), 0,0363% (21-27/3), 0,0275% (28/3-3/4), 0,0240% (4-10/4), 0,0152% (11-17/4), 0,0148% (18-24/4), 0,0187% (25/4-1/5), 0,0135% (2-8/5), 0,0167% (9-15/5), 0,0152% (16-22/5), 0,0177% (23-29/5), 0,0118% (30/5-5/6), 0,0236% (6-12/6) e 0,0204% (13-19/6).
[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da referência citada na nota 3.
[8] Lembrando que a vacina não impede o contágio e a infecção, mas sim o desenvolvimento da doença. A propósito, cabe aqui ressaltar que o ritmo da vacinação está praticamente estagnado. Levamos 34 dias (24/8-27/9), por exemplo, para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 23/6, este percentual chegou a 86,22%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).
Poderíamos dizer que esta era a opinião leiga de um francês mal-orientado. Em 1780, porém, 40 anos após Mauvillon e nove anos antes da Revolução Francesa, quando França e Inglaterra já haviam ultrapassado as fases decisivas de seu desenvolvimento cultural e nacional, quando as línguas desses dois países ocidentais haviam muito tempo antes encontrado sua forma clássica e permanente, Frederico, o Grande, publica uma obra intitulada De la littérature alemande, na qual lamenta o escasso e insuficiente desenvolvimento da literatura alemã, alinha mais ou menos as mesmas afirmações sobre a língua alemã que haviam saído da pena de Mauvillon e explica como, em sua opinião, pode ser remediada a lamentável situação.
Sobre a língua alemã, diz: “Considero-a uma língua semibárbara, que se fraciona em tantos dialetos diferentes como a Alemanha tem províncias. Cada grupo local está convencido de que seu patois é o melhor”. Descreve o baixo nível da literatura, lamenta o pedantismo dos intelectuais alemães e o pouco desenvolvimento da ciência [no] país. Mas encontra também uma razão para isto: considera o empobrecimento alemão como resultado de guerras incessantes e do insuficiente desenvolvimento do comércio e da burguesia. Fonte: Elias, N. 1990 [1939]. O processo civilizador. RJ, Jorge Zahar.
Este artigo oferece uma nova versão em português para um renomado soneto do poeta francês Pierre de Ronsard (1524-1585) [1].
Ao menos três versões foram publicadas antes [2].
A minha proposta aparece logo abaixo. O poema original, publicado em 1578, apareceu em postagem anterior [3].
UMA NOVA PROPOSTA DE TRADUÇÃO.
Quando vós fordes bem velha.
Pierre de Ronsard.
Quando vós fordes bem velha, à noite, à luz da vela, Sentada perto do fogo, enrolando e fiando, Direis, recitando meus versos e vos enlevando: “Ronsard me celebrava ao tempo em que eu era bela”.
Então vós não tereis serva ouvindo tal novidade, Já a labuta feita e meio sonolenta, Que ao som do meu nome não fique atenta: Bendizendo vosso nome, em louvor infindo.
Eu estarei sob a terra e, fantasma sem osso, Entre as sombras do mirto terei meu repouso; Vós sereis diante da lareira uma velha encolhida,
A lamentar meu amor e vosso fero desdém. Vivei, se em mim crês, sem aguardar o que vem: Colheis hoje – desde já – as rosas da vida.
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NOTAS.
[1] Sobre o poeta, ver Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 1, 3ª ed. Brasília, Senado Federal.
[2] Duas versões – publicadas em 1950 e 1968, em traduções de Guilherme [de Andrade] de Almeida (1890-1968) e José Lino Grünewald (1931-2000), respectivamente – podem ser lidas aqui. A terceira – publicada em 1952, em tradução de Heitor P. Fróes (1900-1987) –, pode ser lida aqui.
[3] Há pequenas variações em um ou outro verso, a depender da edição consultada (e.g., v. 7: em vez de ‘mon non’, pode-se ler ‘Ronsard’). Uma instrutiva análise do poema (em inglês) pode ser lida aqui. Uma análise em vídeo (em francês) pode ser vista aqui.
Quand vous serez bien vieille, au soir, à la chandelle, Assise auprès du feu, dévidant et filant, Direz chantant mes vers, en vous émerveillant: “Ronsard me célébrait du temps que j’étais belle.”
Lors, vous n’aurez servante oyant telle nouvelle, Déjà sous le labeur à demi sommeillant, Qui au bruit de Ronsard ne s’aille réveillant, Bénissant votre nom de louange immortelle.
Je serai sous la terre, et, fantôme sans os Par les ombres myrteux je prendrai mon repos: Vous serez au foyer une vieille accroupie,
Regrettant mon amour et votre fier dédain. Vivez, si m’en croyez, n’attendez à demain: Cueillez dès aujourd’hui les roses de la vie. Fonte (v. 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 1. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1578.
RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento divulgadas em artigo anterior (aqui). Entre 6 e 12/6, esses valores ficaram em 0,1359% (casos) e 0,0236% (mortes). Ambas as taxas subiram em relação aos valores da semana anterior. E subiram muito. Mas não se trata da quarta onda, como a imprensa brasileira está a dizer. A rigor, trata-se da única onda que estamos a surfar há vários meses: A onda da inércia e da má-fé. Além de manter a campanha de vacinação [1], nós deveríamos retomar certos hábitos de proteção, notadamente o uso de máscaras.
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1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.
Ontem (12/6), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 11.728 casos e 36 mortes – valores subestimados, infelizmente [2]. Teríamos chegado assim a um total de 31.456.865 casos e 668.110 mortes.
Na semana encerrada ontem (6-12/6), foram registrados 297.530 novos casos e 1.105 mortes. (Na semana anterior [30/5-5/6] foram 205.756 casos e 552 mortes.)
2. TAXAS DE CRESCIMENTO.
Em dois anos (2020-2022) de esforço visando monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia [3], sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. As duas estão a escalar.
Vejamos os resultados mais recentes.
A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0947% (30/5-5/6) para 0,1359% (6-12/6) – o maior valor desde a segunda semana de março (7-13/3: 0,1565%) (ver a figura que acompanha este artigo) [4, 5].
A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, saltou de 0,0118% (30/5-5/6) para 0,0236% (6-12/6) – o maior valor desde a primeira semana de abril (4-10/4: 0,0240%).
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FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 12/6/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.
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3. CODA.
As taxas de crescimento (casos e mortes) estão a escalar. É uma péssima notícia.
O que fazer?
Repito aqui o que escrevi no artigo anterior: Em primeiro lugar, os governantes deveriam descruzar os braços e agir. (A imprensa deveria fazer a mesma coisa.)
Também não custa repetir: Medidas adicionais de proteção não farmacológicas deveriam ser retomadas. Uma delas tem funcionado maravilhosamente bem e é quase de graça: o uso de máscaras faciais, sobretudo em lugares fechados.
Neste momento, as palavras de ordem deveriam ser estas: Máscaras, máscaras e máscaras.
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NOTAS.
[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
[1] Cabe lembrar que o ritmo da vacinação oscilou muito ao longo da campanha. Levamos 34 dias (24/8-27/9), por exemplo, para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 13/6, este percentual ainda está em 86,12%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).
[2] Ontem (12/6), 9 unidades federativas (MG, RJ, DF, MT, PB, MA, PI, TO e RR) não tiveram suas estatísticas divulgadas pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Dois alertas: (a) MG e RJ são dois dos cinco estados mais afetados; e (b) No caso de TO, a falta de divulgação das estatísticas diárias parece ter se tornado a regra.
[3] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
Neste domingo, 12/6, o Poesia Contra a Guerra completa 15 anos e oito meses no ar.
Desde o balanço anterior – ‘15 anos e sete meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Donaldo Mello, Jacob Needleman, John Cohen, Marcel Blanc e Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos. Além de outros nomes que já haviam sido publicados antes.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Bon Boullogne, Jean-François de Troy e Nicolas Lancret.
Em 2013, o Brasil começou a entrar no modo ‘Guerra Civil’.
2.
Cinco anos depois, as eleições de 2018 deram voz e vez a uma anomalia que é vista hoje por quase todos os observadores como o pior presidente da nossa história republicana.
3.
Ao assumir o cargo, o novo mandatário logo deu mostras de que o seu projeto pessoal tem um só propósito: erguer barreiras de proteção. Uma barreira em torno dos apaniguados mais próximos, dos filhos e, sobretudo, em torno de si mesmo.
4.
A pouco mais de três meses das eleições de 2022, o fim do governo atual já é visto por muitos observadores como uma alvissareira janela de oportunidades.
5.
Uma janela que nós, brasileiros, poderemos atravessar. E aí, quem sabe, poderemos trocar o hoje de um acampamento arrasado por um amanhã de um país em construção.
Magoei os pés no chão onde nasci. Cilícios de raivosa hostilidade Abriram golpes na fragilidade De criatura Que não pude deixar de ser um dia. Com lágrimas de pasmo e de amargura Paguei à terra o pão que lhe pedia.
Comprei a consciência de que sou Homem de trocas com a natureza. Fera sentada à mesa Depois de ter escoado o coração Na incerteza De comer o suor que semeou, Varejou, E, dobrada de lírica tristeza, Carregou. Fonte (v. 8 e 9): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. ‘Miguel Torga’ era pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha. Poema publicado em livro em 1950.
Uma ‘explicação’ psicológica da guerra não torna claro o fato de por que os povos escolhem a guerra em lugar da paz, ou vice-versa. Não joga nenhuma luz nas espécies diferentes de guerra ou nas diferentes imagens de uma ou da mesma guerra arquitetada pelos beligerantes. Nem nos informa quanto à agressividade dos escalões maiores e menores do povo – que presumivelmente geram guerra – ser traduzida para o terreno das decisões políticas. Pode haver, aqui, possivelmente uma distinção a ser feita, e digna de ser feita, entre as causas e as condições da guerra, sendo que as considerações psicológicas são vinculadas a esta última condição e não à primeira. Se os homens fossem todos criaturas tipo Gandhi, poder-se-ia argumentar que as guerras jamais ocorreriam. A agressividade potencial dos indivíduos seria então uma das condições que ‘facultariam’ as causas a se tornarem operacionais. Fonte: Cohen, J. 1972. Homo psychologicus. RJ, Zahar.
Conforme escrevi em artigo publicado ontem (31/5) neste Jornal GGN (aqui), as taxas de crescimento (casos e mortes) que estou a monitorar tornaram a subir.
A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0478% (16-22/5) para 0,0752% (23-29/5) – o maior valor em nove semanas. A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,0152% (16-22/5) para 0,0177% (23-29/5) – o maior valor em quatro semanas.
Nesse ritmo, o país irá contabilizar mais 658.042 casos e 3.314 mortes até o último domingo de junho. No cômputo total, chegaríamos assim a 31.611.621 casos e 669.767 mortes até 26/9.
É preocupante.
O QUE FAZER?
Em primeiro lugar, os governantes deveriam descruzar os braços e agir. Mas a imprensa e cada um de nós podemos também lutar contra a má-fé e a inércia.
Não custa repetir: O início da campanha de vacinação teve um impacto tremendo nas estatísticas e nas métricas. Após um esperado lapso inicial, os números de casos e mortes caíram. E caíram de modo expressivo e consistente.
Ocorre que a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos. Por quê? Há mais de um motivo. Dois deles são os seguintes:
(i) A imunidade conferida pela vacina é temporária. O que significa isto? O sistema imunológico de um recém-vacinado é prontamente induzido a iniciar a produção de anticorpos – leia-se: proteínas de defesa a circular pelo corpo. O ritmo de produção cresce até atingir um determinado valor máximo, a partir do qual o ritmo de produção começa a cair. Mais um pouco e o nível de proteção também começa a cair. Na ausência de infecções, a produção de anticorpos se torna um luxo desnecessário. Assim, por razões de economia orçamentária do nosso corpo, as defesas contra o vírus da Covid-19 (chamado de SARS-CoV-2) são reduzidas a um arsenal mínimo. Essa regra é mais ou menos universal – i.e., vale para outros tipos de vacina, contra outros tipos de doença. O que de fato varia, seja entre indivíduos, seja de acordo com a infecção, é o tamanho do sistema de defesa de que permanece de prontidão. As doses de reforço nada mais são do que estímulos que, periodicamente, despertam ou reorientam um sistema de defesa adormecido ou em frangalhos.
(ii) A campanha de vacinação não é instantânea. Ao contrário, a depender do tamanho da população e do ritmo de vacinação, o intervalo de tempo necessário para concluir uma campanha pode durar muito tempo. O ideal, notadamente em momentos de crise (como o atual), seria concluir a campanha tão rapidamente quanto possível – digamos, em um intervalo inferior ao período de imunidade que é conferido pela vacina (item i). Caso contrário, corremos o risco de cair em um círculo vicioso. Veja: se a proteção conferida por uma vacina dura, digamos, seis meses, mas a campanha leva um ano para ser concluída (i.e., levamos um ano para vacinar, digamos, 80% de toda a população), haverá aí uma janela de seis meses durante a qual indivíduos já vacinados correrão de novo o risco (nada desprezível) se serem infectados e adoecerem. Podemos lutar contra isso? Sim, podemos. Como? Há mais de um jeito. Um deles é trabalhar para que a campanha ganhe força. Mas também podemos baixar as chances de infecção. Como? Ora, mantendo de pé as nossas velhas conhecidas: as medidas de proteção não farmacológicas. Uma delas funciona bem e é quase de graça: o uso compulsório de máscaras faciais, sobretudo em lugares fechados.