A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
31 março 2011
Microbiologa dos alimentos
Gerard J. Tortora, Berdell R. Funke & Christine L. Case
A civilização moderna, com sua grande população, não poderia ser mantida sem métodos de conservação de alimentos. Na verdade, a civilização surgiu somente depois que a agricultura produziu um suprimento estável de alimentos por ano, em uma determinada localidade, fazendo com que os indivíduos desistissem da vida nômade do tipo caça-e-colheita.
Muitos dos métodos de preservação de alimentos utilizados atualmente foram descobertos provavelmente ao acaso, séculos atrás. As pessoas nas culturas primitivas observaram que carnes secas e peixes curados resistiam à deterioração. Os nômades devem ter observado que o leite azedo dos animais resistia às deteriorações posteriores e ainda assim mantinha-se saboroso. Além disso, se o coalho do leite azedo fosse pressionado para remover o líquido e deixado para maturar (na verdade, a produção de queijo), ele se preservava por mais tempo com um sabor melhor. Os fazendeiros logo aprenderam que se os grãos eram mantidos secos, eles não desenvolviam fungos.
Fonte: Tortora, G. J.; Funke, B. R. & Case, C. L. 2005. Microbiologia. 8ª edição. Porto Alegre, Artmed.
Manhã de domingo de sol reto. A grande igreja sem estilo Decorada por dentro por um batismo de Cristo Feito por um pintor ingênuo Que quis ser clássico e foi primitivista.
Missa internacional Com gentes de todas as raças Ouvindo o padre alemão rezar em latim.
A gente nem tem vontade de olhar o crucifixo desolado Nem de rezar Porque tem lá dentro tanta menina bonita Que não reza também E fica sapeando a gente com meiguice...
Só os polacos de camisa nova por ser domingo Que vieram com as famílias de carroça lá das colônias Rezam fervorosamente Enquanto nos seus quintais Os chupins malvados e alegres Comem todo o centeio Cantando glórias pro sol de domingo.
Essas palavras são poemas, Poemas que se repetem Sobre si mesmas
Palavras e números; Números de letras, Número de sílabas.
Essas palavras são poemas Em que a vida se repete Sobre si mesma.
Palavras que descansam, gentilmente, Mil idéias de viagens – Folhas e para cima, arco-íris, Principalmente, Caminhos sobre todos os muros.
Palavras coloridas Como esse pássaro Que canta agora, – Escama de todos os mares, Cantando em luz A música das Sereias nadando, – Pedaço de todos os crepúsculos. Palavras que ficam, assim, tão perto – Escama de todos os mares, De todas as idéias que ainda nadam.
Palavras Suplicadas a esmo?
Palavras... Palavras... Palavras... Abertas e despetaladas em esquinas, Mãos pousadas, Após o gesto
Palavras que Servirão amanhã, Equilibrando, Que-nem mastro, A flâmula da imagem
Palavras pousadas, Que-nem praia Sobre as ondas das idéias.
Palavras-pálpebras abertas Em portas, Pontes no silêncio de quem espera algo e No destino do que tem de atravessar Acontece logo.
... também. Palavras coloridas Sorrindo como conchas flutuando, Eclodidas em desejos.
Palavras aos pares – Mudos olhos – Janelas-cais de espelhos Prendendo pés prontos Para uma dança que nunca se realizará. Palavras-grades de ferro de sacadas.
Boca de poços salgada, de sombras Taças em filas de estradas de vidro, Raízes arrancadas e flutuando em lagos
Palavras-túnicas vestindo pedras Teias disfarçando degraus Peixes – gravado, em folhas verde mar.
Palavras-curvas de montanhas, (A MORTE está tão perto de nós Que as coisas vistas de longe Têm um ar infantil) Tatuagens pautando cicatrizes, Línguas inaugurando figuras geométricas, Pontes de espumas.
– o –
Madrugadas pintadas em máscaras.
– o –
Esfinges de sombras, E transformadas em pianos, Chuva e chafariz, Sombras de distâncias sobre desertos
Fotografia de torres, De anjos, de sapatos, de parentes Crucificando outras direções.
Cabelos da amada cantando Dentro das flautas abandonados.
Fechaduras prendendo mapas sob o vento Ponteiros feitos de rugas, Riscos de vinho completando corações, Violinos descansando, Separados por dedos arrancados.
Jarras partidas por âncoras, Velhice das coisas que estão voando, Caveiras irisadas de sinos silenciosos.
Como o espelho da lança Refletindo a vítima antes de atingi-la.
Fonte: Pinto, J. N. 2004. Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial. O trecho acima corresponde à primeira parte do poema, originalmente publicado em 1951.
Havia dois jovens no elevador da estação de rádio quando entrei, depois de terminar uma gravação ao vivo. “Você é alguém?”, deixou escapar um deles. Enquanto eu ponderava uma resposta apropriada para essa questão profundamente filosófica, seu amigo disparou: “Sim, ele é o cara que fala de química no rádio.” Essa era a munição de que o filósofo precisava. “Ó, não, estamos presos no elevador com um cientista”, brincou, antes de oferecer voluntariamente a informação de que na escola havia tirado dois em química, e “mesmo assim colando”.
Eu já ouvira isso antes. Depois de dar muitas conferências, tenho sido abordado por pessoas que, de alguma maneira, sentem necessidade de desafogar suas mágoas e dizer-me, com alguma espécie de orgulho perverso, que dormiram durante as aulas de ciências do ensino médio, ou que química fora o único curso em que fracassaram. Tais comentários são emocionalmente dolorosos para qualquer um que ensine ciências. Mas, pior que isso, eles deixam implícito que o ensino de ciências pobre e sem imaginação pode ser parcialmente responsável pelo aterrorizante grau de ignorância científica que permeia nossa sociedade.
O analfabetismo científico não é assunto para brincadeiras. Certamente nos divertimos com respostas bobas de provas, sugerindo que Benjamin Franklin produziu eletricidade esfregando dois gatos um contra o outro, ou que podemos identificar o monóxido de carbono porque ele tem um ‘cheiro inodoro’. Mas a falta de familiaridade com os princípios científicos básicos pode causar medos infundados e abrir a porta para charlatães. [...]
Fonte: Schwarcz, J. 2009 [1999]. Barbies, bambolês e bolas de bilhar. RJ, Jorge Zahar.
Tornou-se hábito tratar o mais sublime de todos os mestres tonais como um ‘artista rococó’, e apresentar sua obra como epítome do ornamental e do brincalhão. Embora seja correto dizer que ele era daqueles que resolviam todos os ‘problemas’ antes mesmo que fossem propostos, que nele a paixão é despojada de tudo o que há de terreno e parece ser vista em perspectiva aérea, é igualmente verdadeiro que sua obra contém – mesmo quando transfigurada, espiritualizada e liberada da realidade – todas as fases da experiência humana, da grandiosidade monumental e sombria da cena do Comandante em Don Giovanni até a delicadeza das árias de Zerlina, as celestiais frivolidades do Fígaro e as deliberadas ironias de Così Fan Tutte.
I wish you’d known me when I was alive, I was a funny fella The crowd would hoot and holler for more I wore a drunk’s red nose for applause Oh yes, I was a comical priest “With a joke for the flock and a hand up your fleece” Drooling the drink and the lipstick and greasepaint Down the cardboard front of my dirty dog-collar
Now I’m dead, now I’m dead, now I’m dead, now I’m dead And I’m going on to meet my reward I was scared, I was scared, I was scared, I was scared He might of never heard God’s comic
So there he was on a waterbed, drinking a cola of a mystery brand Reading an airport novelette, listening to Andrew Lloyd-Webber’s “Requiem” He said, before it had really begun, “I prefer the one about my son” “I’ve been wading through all this unbelievable junk And wondering if I should have given the world to the monkeys”
I’m going to take a little trip down Paradise’s endless shores They say that travel broadens the mind, till you can’t get your head out of doors
I’m sitting here on the top of the world I hang around in the longest night Until each beast has gone bed and then I say “God bless” and put out the light
While you lie in the dark, afraid to breathe And you beg and you promise and you bargain and you plead Sometimes you confuse me with Santa Claus It’s the big white beard I suppose I’m going up to the Pole, where you folks die of cold I might be gone for a while if you need me
Now I’m dead, now I’m dead, now I’m dead, now I’m dead And you’re all going on to meet your reward Are you scared? Are you scared? Are you scared? Are you scared? You might have never heard, but God’s comic
Fonte: encarte que acompanha o álbum Spike (1989), de Elvis Costello.
Neste sábado, 12/3, o Poesia contra a guerra completa quatro anos e cinco meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 122.193 visitas haviam sido registradas nesse período.
Desde o balanço mensal anterior – Quatro anos e quatro meses no ar– foram aqui publicados textos dos seguintes autores: Aubrey Manning, Cláudio Thebas, Fátima Maldonado, John Gillespie Magee Jr., John Perlin, Len Fisher, Ralph W. Gerard, Roberto Schwarz e William Butler Yeats. Além de outros autores que já haviam sido publicados antes.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens dos seguintes pintores: Eugene de Blaas, Maxfield Parrish e Paul Delaroche.
Um dos principais problemas que os cientistas encontram para compartilhar com o público mais amplo a visão que formam sobre o mundo é o abismo entre os diversos tipos de conhecimento. Não é preciso ser escritor para ler e compreender um romance, ou saber pintar para apreciar um quadro, pois tanto a pintura quanto o romance refletem a nossa experiência comum. Entretanto, algum conhecimento sobre o que seja a ciência é pré-requisito para sua compreensão, para sua apreciação, uma vez que a ciência baseia-se em parte em conceitos cujas particularidades a maioria das pessoas desconhece.
Essas particularidades começam com o comportamento de átomos e moléculas. A noção de que tais coisas existem é bastante familiar hoje, embora isso não tenha impedido que um de meus convidados, durante um jantar, exclamasse efusivamente:
“Oh, você é cientista! Não sei muito sobre ciência, mas sei que os átomos são feitos de moléculas!”. [...]
Fonte: Fisher, L. 2004. A ciência no cotidiano. RJ, Jorge Zahar.
Dile a la luna que venga, que no quiero ver la sangre de Ignacio sobre la arena.
¡Que no quiero verla!
La luna de par en par. Caballo de nubes quietas, y la plaza gris del sueño con sauces en las barreras.
¡Que no quiero verla! Que mi recuerdo se quema. ¡Avisad a los jazmines con su blancura pequeña!
¡Que no quiero verla! La vaca del viejo mundo pasaba su triste lengua sobre un hocico de sangres derramadas en la arena, y los toros de Guisando, casi muerte y casi piedra, mugieron como dos siglos hartos de pisar la tierra. No. ¡Que no quiero verla!
Por las gradas sube Ignacio con toda su muerte a cuestas. Buscaba el amanecer, y el amanecer no era. Busca su perfil seguro, y el sueño lo desorienta. Buscaba su hermoso cuerpo y encontró su sangre abierta. ¡No me digáis que la vea! No quiero sentir el chorro cada vez con menos fuerza; ese chorro que ilumina los tendidos y se vuelca sobre la pana y el cuero de muchedumbre sedienta. ¡Quién me grita que me asome! ¡No me digáis que la vea!
No se cerraron sus ojos cuando vio los cuernos cerca, pero las madres terribles levantaron la cabeza. Y a través de las ganaderías, hubo un aire de voces secretas que gritaban a toros celestes, mayorales de pálida niebla. No hubo príncipe en Sevilla que comparársele pueda, ni espada como su espada, ni corazón tan de veras. Como un río de leones su maravillosa fuerza, y como un torso de mármol su dibujada prudencia. Aire de Roma andaluza le doraba la cabeza donde su risa era un nardo de sal y de inteligencia. ¡Qué gran torero en la plaza! ¡Qué gran serrano en la sierra! ¡Qué blando con las espigas! ¡Qué duro con las espuelas! ¡Qué tierno con el rocío! ¡Qué deslumbrante en la feria! ¡Qué tremendo con las últimas banderillas de tiniebla!
Pero ya duerme sin fin. Ya los musgos y la hierba abren con dedos seguros la flor de su calavera. Y su sangre ya viene cantando: cantando por marismas y praderas, resbalando por cuernos ateridos, vacilando sin alma por la niebla, tropezando con miles de pezuñas como una larga, oscura, triste lengua, para formar un charco de agonía junto al Guadalquivir de las estrellas. ¡Oh blanco muro de España! ¡Oh negro toro de pena! ¡Oh sangre dura de Ignacio! ¡Oh ruiseñor de sus venas! No. ¡Que no quiero verla! Que no hay cáliz que la contenga, que no hay golondrinas que se la beban, no hay escarcha de luz que la enfríe, no hay canto ni diluvio de azucenas, no hay cristal que la cubra de plata. No. ¡¡Yo no quiero verla!!
Fonte: Lorca, F. G. 1996. Obra poética completa, 3ª edição. SP, Martins Fontes. Poema originalmente publicado em 1935.
1. Existem duas abordagens principais ao estudo do comportamento: a fisiológica e a psicológica. Os fisiologistas estão interessados principalmente nos mecanismos e pretendem dar uma explicação do comportamento em termos do funcionamento do sistema nervoso. Os psicólogos estão mais interessados pelo comportamento em si mesmo, estudando os fatores do ambiente e da história do animal que influenciam o desenvolvimento e o desempenho do comportamento manifesto.
Essas duas abordagens são essenciais e complementares. Os fisiologistas às vezes gostam de enfatizar que seus métodos são mais fundamentais, e é verdade que em última análise deveremos esperar que o comportamento seja explicado em termos do funcionamento das unidades básicas do sistema nervoso: os neurônios. Entretanto, a principal função do sistema nervoso é produzir o comportamento e é preciso estudar este produto final em si mesmo. Muitos dos aspectos mais importantes da organização neural podem atualmente ser expressos apenas em termos comportamentais. [...]
Fonte: Manning, A. 1979 [1972]. Introdução ao comportamento animal, 2ª edição. RJ, LTC.
Eu estimo sobre tudo os teus olhos incolores as tuas mãos inúteis, a tua boca verde
Eu falo somente dos relógios caídos, dos auto-carros Eu falo somente dos pés vermelhos Eu falo... eu falo... eu falo... No vigésimo século as nuvens são árvores e os pássaros mais pequenos grandes paquidermes
Sim, é verdade, os cabelos loiros Então, meia-noite!
Senhora, se me dá licença, este dia acabou simplesmente por este dia
A criança é porca, é inútil Muito obrigado
Fonte: Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema publicado em livro em 1962.