29 abril 2015

Pássaros que são pedras

Francisco Alvim

O outono cobre de folhas
a relva úmida e as poças no diminuto anfiteatro
Na lembrança descobre
revoada de pássaros numa tarde estival
a meio caminho de Assisi
Asas discêntricas abrindo o ar
como pedras um lago

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.

27 abril 2015

Efeitos aditivos e de dominância

Kenneth Mather & John L. Jinks

Pela herança dissômica, dois alelos, A-a, podem originar três genótipos, AA, Aa e aa. Dois parâmetros são necessários para descrever as diferenças na expressão fenotípica destes três genótipos com relação a qualquer caráter que afetem. Como origem, consideremos o valor médio entre os dois homozigotos, uma vez que isso não depende das diferenças entre os três genótipos, mas do resto do genótipo e dos efeitos do meio ambiente, refletindo assim as circunstâncias gerais das observações. Os dois parâmetros que medem as diferenças entre os genótipos podem então ser definidos como d, medindo o afastamento de cada homozigoto da média, e h, medindo o afastamento do heterozigoto da mesma. Tomando A como o alelo que aumenta a expressão do caráter, AA ultrapassará a média (m) de d, e assim terá expressão m + d, enquanto que aa ficará aquém da média, com expressão md, e Aa terá um desvio h da média m e assim terá expressão m + h [...]. Se h for igual a 0 (zero), a expressão do caráter do heterozigoto estará no meio entre a expressão dos dois homozigotos e não haverá dominância. Se h for positivo, o heterozigoto estará mais próximo de AA do que de aa quanto à sua expressão e A será parcialmente dominante ou, se h = d, completamente dominante. Da mesma forma, se h é negativo, a será o alelo dominante. Se h > d, Aa ficará fora dos limites demarcados por AA e aa, e o gene será considerado então como sendo sobredominante. Deve-se notar que aqui a maiúscula A não implica em dominância do alelo assim designado: A é o alelo que aumenta a expressão do caráter, seja ele dominante ou não.

Esta caracterização das diferenças entre os genótipos pode ser aplicada a quaisquer genes, quer tenham efeitos grandes ou pequenos, levando ou não à variação contínua, contanto que as expressões do caráter em questão possam ser expressas em termos quantitativos. Assim, o mutandte ‘Bar’ ligado ao sexo reduz o número de facetas no olho de Drosophila melanogaster, sendo que as fêmeas do tipo selvagem (+/+) possuem um número médio de facetas de 779,4, os heterozigotos (B/+) têm uma média de 358,4 facetas e a mutante homozigota (B/B) tem uma média de 68,1 [...]. Então, m é igual a (779,4 + 68,1) / 2 = 423,75, d = 779,4 – 423,75 = 355,65, e h = 358,4 – 423,75 = - 65,35. Uma vez que h é negativo, a mutante B é parcialmente dominante sobre o tipo selvagem e podemos, se quisermos, medir, o seu grau de dominância como sendo h / d = - 65,35 / 355,65 = - 0,184. Devemos notar que o efeito da mutante ‘Bar’ é grande e leva à variação descontínua, e os fenótipos de B/B, B/+ e +/+ não mostram superposição. Ninguém se daria ao trabalho de contar as facetas para classificar os três genótipos quando se usa o mutante ‘Bar’ por ser o seu efeito suficientemente grande para ser reconhecido e seguido individualmente em experimento de cruzamentos; não haverá dificuldade em separá-lo de outras diferenças gênicas cujos efeitos forem suficientemente pequenos para contribuir somente para a variação contínua no número de facetas que podemos observar dentro dos fenótipos associados a cada um desses genótipos para ‘Bar’.
[...]

Fonte: Mather, K. & Jinks, J. L. 1984 [1977]. Introdução à genética biométrica. Ribeirão Preto, Sociedade Brasileira de Genética.

25 abril 2015

A uma jovem espanhola

Manuel Antônio de Almeida

És tão mimosa e tão bela,
Como a estrela,
Que desponta rutilante,
E que se mira luzente
Na corrente,
Que a retrata deslumbrante.

És airosa, qual palmeira
Que altaneira
Sua coma eleva ao ar,
Ou qual batel enfunado,
Que apressado
Desliza à face do mar.

Esses teus olhos brilhantes
Fulgurantes
Têm um quê, que diz – amor –,
Eu que os buscara evitar
Sem pensar
Me queimei no seu calor.

Esses lábios teus corados,
Engraçados,
E teus dentes de marfim,
São dotes que te invejara
E cobiçara
O mais lindo Querubim.

A ti, virgem tão formosa,
Tão donosa
Votei santo e puro amor;
E tu serás insensível,
Impassível
Aos votos do Trovador?

Ah! não o sejas, Deidade,
Tem piedade
Deste mísero cantor;
Com teus olhos tão brilhantes,
Fulgurantes
Dá-lhes doce olhar de amor;

Com teus lábios tão corados,
Engraçados,
Dize um – sim – que lhe dê vida,
E serás na lira amada,
Decantada,
E no seu peito querida.

Fonte (primeira e última estrofe): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1849.

23 abril 2015

Desterro

Moacir Werneck de Castro 

A capital da província tinha um nome pouco atraente. Chamava-se Desterro, mais precisamente, Nossa Senhora do Desterro. Em alemão, Verbannung. Curiosos esses nomes de cidades brasileiras, pensava o professor Fritz: parece haver um gosto especial em encompridá-los. A capital do país é São Sebastião do Rio de Janeiro; Salvador é uma abreviatura, ditada pela comodidade, de São Salvador da Bahia de Todos os Santos; e Campos resume São Salvador dos Campos dos Goitacases.

Em Desterro o sábio alemão iria passar onze dos seus 45 anos de Brasil. E tão fecunda foi ali a sua atividade que Ernst Haeckel, com quem se correspondia, resolveu que ele seria chamado Fritz Müller-Desterro. Por quê? Explicava o célebre biólogo que na Alemanha havia uma tal quantidade de Müllers cientistas que se tornava necessário batizar aquele notável patrício expatriado com um nome diferente.

O próprio Fritz Müller não gostou da idéia do seu confrade e amigo – embora nunca se tivessem visto – de pespegar aquele exótico Desterro ao seu tradicional nome teuto. Mas não podia impedir que alguns o aceitassem, como futuramente a prefeitura de Windischholzhausen, que pôs o nome de Fritz Müller-Desterro na rua onde ele nasceu. O sobrinho Alfred Möller, da família Trommsdorff, que o conheceu em seus últimos anos na cidade de Blumenau, testemunhou que não lhe causava nenhuma alegria a estreita aproximação de seu nome com Desterro.
[...]

Fonte: Castro, M. W. 1992. O sábio e a floresta. RJ, Rocco.

21 abril 2015

Voltando do campo


Michael Ancher (1849-1927). Anna Ancher vender hjem fra marken. 1902.

Fonte da foto: The Athenaeum.

19 abril 2015

A ironia dos vermes

Cruz e Souza

Eu imagino que és uma princesa
Morta na flor da castidade branca...
Que teu cortejo sepulcral arranca
Por tanta pompa espasmos de surpresa.

Que tu vais por um coche conduzida,
Por esquadrões flamívomos guardada,
Como carnal e virgem madrugada,
Bela das belas, sem mais sol, sem vida.

Que da Corte os luzidos Dignitários
Com seus aspectos marciais, bizarros,
Seguem-te após nos fagulhantes carros
E a excelsa cauda dos cortejos vários.

Que a tropa toda forma nos caminhos
Por onde irás passar indiferente;
Que há no semblante vão de toda a gente
Curiosidades que parecem vinhos.

Que os potentes canhões roucos atroam
O espaço claro de uma tarde suave,
E que tu vais, Lírio dos lírios e ave
Do Amor, por entre os sons que te coroam.

Que nas flores, nas sedas, nos veludos,
E nos cristais do féretro radiante
Nos damascos do Oriente, na faiscante
Onda de tudo há longos prantos mudos.

Que do silêncio azul da Imensidade,
Do perdão infinito dos Espaços
Tudo te dá os beijos e os abraços
Do seu adeus à tua Majestade.

Que de todas as coisas como Verbo
De saudades sem termo e de amargura,
Sai um adeus à tua formosura,
Num desolado sentimento acerbo.

Que o teu corpo de luz, teu corpo amado,
Envolto em finas e cheirosas vestes,
Sob o carinho das Mansões celestes
Ficará pela Morte encarcerado.

Que o teu séquito é tal, tal a coorte,
Tal o sol dos brasões, por toda a parte,
Que em vez da horrenda Morte suplantar-te
Crê-se que és tu que suplantaste a Morte.

Mas dos faustos mortais a regia trompa,
Os grandes ouropéis, a real Quermesse,
Ah! tudo, tudo proclamar parece
Que hás de afinal apodrecer com pompa.

Como que foram feitos de luxúria
E gozo ideal teus funerais luxuosos
Para que os vermes, pouco escrupulosos,
Não te devorem com plebéia fúria.

Para que eles ao menos vendo as belas
Magnificências do teu corpo exausto
Mordam-te com cuidados e cautelas
Para o teu corpo apodrecer com fausto.

Para que possa apodrecer nas frias
Geleiras sepulcrais d’esquecimentos,
Nos mais augustos apodrecimentos,
Entre constelações e pedrarias.

Mas ah! quanta ironia atroz, funérea,
Imaginária e cândida Princesa:
És igual a uma simples camponesa
Nos apodrecimentos da Matéria!

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1900.

17 abril 2015

O círculo hermenêutico

Juan Luis Segundo

Para não começar com o princípio dos princípios, comecemos pela realidade de cada dia e perguntemos se é possível diferenciar as atitudes de um teólogo da libertação das de um outro teólogo qualquer.

Minha experiência passada e presente me ensina que, apesar de uma porção de mudanças, continua-se a ensinar a teologia de um modo autônomo, e isso não apenas a futuros professores de teologia, mas a pessoas normais que só vão fazer uso dela para enfrentar os problemas reais da gente simples e ordinária.

Quando falo de autonomia da teologia acadêmica, refiro-me a uma longa tradição nas Igrejas cristãs. O cristianismo é uma religião bíblica, isto é, a religião de um livro, ou melhor, de vários livros, já que a palavra Bíblia significa justamente isso. Tal fato significa então também que a teologia não pode, por sua conta, desviar-se deste caminho, e sim voltar, repetida e indefinidamente, a interpretar o mesmo livro. A teologia não é – pelo menos não em primeiro lugar – uma interpretação do homem ou da sociedade.
[...]

Fonte: Segundo, J. L. 1978. Libertação da teologia. SP, Loyola.

15 abril 2015

História da matemática e ensino

Tatiana Roque

O modo de escrever o encadeamento das definições, dos teoremas e das demonstrações é, desde muitos séculos, uma preocupação fundamental da matemática. No entanto, não podemos deixar de perceber uma diferença crucial entre a ordem lógica da exposição, o modo como um texto matemático é organizado para ser apresentado, e a ordem da invenção, que diz respeito ao modo como os resultados matemáticos se desenvolveram. O filósofo francês Léon Brunschvicg [1869-1944] mencionava essa diferença e a necessidade de reverter a ordem da exposição, se quisermos compreender o sentido amplo das noções matemáticas.
[...]

Um dos fatores que contribuem para que a matemática seja considerada abstrata reside na forma como a disciplina é ensinada, fazendo-se uso, muitas vezes, da mesma ordem de exposição presente nos textos matemáticos. Ou seja, em vez de partirmos do modo como um conceito matemático foi desenvolvido, mostrando as perguntas às quais ele responde, tomamos esse conceito como algo pronto. Vejamos como a ordem lógica sugere apresentar o teorema de Pitágoras.

Definição 1: Um triângulo é retângulo se contém um ângulo reto.
Definição 2: Em um triângulo retângulo o maior lado é chamado ‘hipotenusa’ e os outros dois são chamados ‘catetos’.
Teorema: Em todo triângulo retângulo o quadrado da medida da hipotenusa é igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos.
Problema: Desenho um triângulo retângulo de catetos 3 e 4 e pergunto o valor da hipotenusa.
[...]

Fonte: Roque, T. 2012. História da matemática. RJ, Jorge Zahar.

13 abril 2015

Resignação

Fernando Fortes

A sombra do tempo
segue adiante de ti.
Inútil tentar alcançá-la,
fingir que não a vês
Deixe que ela te ensine
o caminho da casa
que te guie amiga
ao leito da terra.

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya.

12 abril 2015

Oito anos e meio no ar

F. Ponce de León

Neste domingo, 12/4, o Poesia contra a guerra completa oito anos e meio no ar. Ao longo desse período, e até o fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue registrou 267.241 visitas.

Desde o balanço anterior – Cento e um meses no ar – foram aqui publicados pela primeira vez textos dos seguintes autores: André Trocmé, Esther Raab, Garth Chapman, James Arthur Ramsay, Miguel de Guevara, Paulo Freire, Pedro Calderón de la Barca, Roterdam Salomão, Stefan Zweig e William Charles Wells. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Franz Defregger, Hans Makart e P. S. Krøyer.

10 abril 2015

Movimentos dos líquidos do corpo

Garth Chapman

Para a transmissão da pressão bastam apenas deslocamento mínimos, mas se o transporte lento de substâncias químicas por difusão precisa ser acelerado por convecção, torna-se necessário o deslocamento em massa dos líquidos do corpo. Os animais dispõem de duas fontes de energia cinética para movimentar os líquidos do corpo: cílios (ou flagelos) e músculos. Ambos são usados, os flagelos apenas em esponjas, e os músculos somente em nematódeos e artrópodes, sendo que ambos são usados na maioria dos outros animais. Os tipos de músculos empregados podem ser ainda classificados em músculos somáticos, que produzem a circulação dos líquidos mais como função subsidiária que principal, e músculos especializados, cardíacos, que frequentemente são adaptados, por sua estrutura e inervação, para fazer circular os líquidos do corpo.

Fonte: Chapman, G. 1970 [1967]. Os líquidos do corpo e suas funções. São Paulo, Companhia Editora Nacional & Edusp.

09 abril 2015

Noite de verão na praia


P. [Peder] S. [Severin] Krøyer (1851-1909). Sommeraften ved Skagens strand. 1899.

Fonte da foto: Wikipedia.

07 abril 2015

Boca de fonte, ó boca providente

Rainer Maria Rilke

Boca de fonte, ó boca providente,
que infatigável diz o Um, o Puro –
defronte do semblante de água múrmuro,
tu, máscara de mármore. E a nascente

dos aquedutos lá ao longe, nas
encostas apeninas, junto às tumbas,
de onde eles trazem-te o dizer que das
tuas vetustas fauces negras tomba

na bacia: uma orelha adormecida,
uma orelha de mármore, guarida
em que vertes o intérmino dizer.

Uma orelha da terra que só fala
consigo. Se uma bilha se intercala,
parece-lhe que a vens interromper.

Fonte: Rilke, R. M. 1993. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1922.

05 abril 2015

A tentação da violência e da abstenção

André Trocmé

No ponto a que chegamos, é necessário interromper nosso desenvolvimento para tentarmos definir a alternativa em que se encontrava Jesus.

Já se tinha comprometido muito para poder recuar. Anunciava o Reino de Deus, inaugurado por um jubileu, o qual derrubava as tradições humanas e fazia vigorar a Lei de Moisés. Seus adversários procuravam a sua eliminação para impedir uma perigosa revolução. Não lhe restavam senão duas saídas: a resistência violenta a seus inimigos ou a fuga para o deserto, a tentação zelota ou a tentação essência.

A tentação zelota

Os zelotas se preparavam para [a] guerra de libertação contra Roma. Fariseus extremistas levantavam seus punhais ora contra o ocupante, ora contra concidadãos suspeitos de moderação e de colaboração. Foi só depois de ter eliminado um a um, pelo assassinato, os partidários da colaboração com Roma, que eles acabaram por arrastar o povo inteiro a uma guerra geral no ano de 66.

Ora, nós sabemos, havia zelotas entre os discípulos de Jesus: um, chamado Simão, cognominado ‘o zelota’, e, sem dúvida, Judas, o Iscariote.

É incontestável que Jesus tenha sido tentado pelas soluções de poder. Antes mesmo do início de sua atividade pública, encontramo-lo às voltas com tais tentações. Do alto de uma elevada montanha, ele viu em espírito “todos os reinos do mundo e a sua glória”, e o Tentador disse-lhe: “Dar-te-ei tudo isto, se, prostrando-te diante de mim, me adorares”. Não se tratava, bem entendido, do encontro físico de duas pessoas, mas da luta interior que se travava na alma do Messias. Jesus sabia que o poder miracuroso que possuía lhe permitiria dominar o mundo se ele empregasse os meios em uso entre os conquistadores: a força militar, o dinheiro, o prestígio e a glória, mas ele descartou esta possibilidade: “Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele servirás”.

No decorrer desta primeira tentação, a visão do pão tinha exercido um certo papel. O pão de Deus que permitiria matar a fome do mundo parece ter acompanho Jesus até o fim, uma vez que lhe inspirou a instituição da Santa Ceia.

Um dia, na Galiléia, estando próxima a Páscoa (festa dos pães sem fermento), Jesus, tomado de compaixão pela multidão esfaimada, alimenta-a de um modo miraculoso. Os zelotas, entusiasmados, convencidos de ter enfim encontrado o Messias, quiseram vencer as resistências de Jesus e arrebatá-lo para fazê-lo rei. Jesus, porém, pela segunda vez, superou a tentação do poder. Escapou-se deles e retirou-se só para a montanha (Jo 6, 15).
[...]

Fonte: Trocmé, A. 1973 [1961]. Jesus Cristo e a revolução não-violenta. Petrópolis, Vozes.

03 abril 2015

Acompanhamento lírico

Luís Veiga Leitão 

Desceu a névoa  E de vale em vale
a manhã ficou pálida  suspensa
Árvores  lama  fronte de quem pensa
vestem de branco  um branco glacial
Como flecha de lume no vitral
também minha alma que brilhou intensa
novamente afogou sua presença
no fundo de uma túnica irreal
E levo-a
pelo mar fora  pelo mar da névoa
sob o silêncio húmido  profundo
em cujas mãos de lágrimas deponho
o mutilado corpo do teu sonho
corpo sem asas de voar no mundo

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. ‘Luís Veiga Leitão’ é pseudônimo de Luís Maria Leitão. Poema publicado em livro em 1950.

01 abril 2015

Sobre as causas das diferenças raciais

William Charles Wells

Entre os homens, assim como entre outros animais, variedades de magnitude maior ou menor estão ocorrendo constantemente. Num país civilizado (...) essas variedades, na maioria dos casos, desaparecem rapidamente pelo casamento de família diferentes. (...) Nos distritos menores, entretanto, tendo pequeno contato com outros países, uma diferença acidental na aparência de seus habitantes é, frequentemente, transmitida aos descendentes. (...) Os que cuidam da melhoria de animais domésticos, além disso, quando encontram indivíduos que possuem as qualidades que desejam, acasalam um macho e uma fêmea, depois separam os melhores produtos para novos reprodutores e, dessa maneira, procedem até atingir o mais próximo do alvo que a natureza das coisas permita. Mas o que aqui é feito pela arte parece ser, com igual eficácia, feito – embora mais lentamente – pela natureza, na formação das variedades da humanidade, adaptadas ao país em que vivem seus componentes. Entre as variedades acidentais do homem, que acorreriam entre os primeiros poucos e espalhados habitantes da África, alguns seriam mais capazes que outros de suportar as doenças do país. Essa raça multiplicar-se-ia subsequentemente, enquanto as outras diminuiriam, não só por não poderem suportar os ataques da doença como, também, pela incapacidade de lutar com vizinhos mais vigorosos.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Companhia Editora Nacional & Edusp. O trecho acima é parte de um ensaio – ‘Account of a female of the white race of mankind, part of whose skin resembles that of a negro, with some observations on the causes of the differences in colour and form between the white and negro races of men’ – publicado em livro em 1818.

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