29 junho 2021

La biosfera

G. Evelyn Hutchinson

El concepto de biosfera fue introducido en la ciencia más bien casualmente, hace casi un siglo, por el geólogo austríaco Edmund Suess, quien usó por primera vez el término en una exposición sobre las diferentes capas terrestres en el capítulo último y más general de su librito acerca de la génesis de los Alpes, publicado em 1875. Sin embargo, el concepto influyó poco en el pensamiento científico hasta la publicación, primero en ruso, em 1926, y después en francés, en 1929 (bajo el título La Biosphére), de dos conferencias dadas por el mineralogista Vladimir Ivanovich Vernadsky. Esencialmente, es el concepto de la biosfera de Vernadsky, desarollado unos cincuenta años después del escrito de Suess, el que aceptamos hoy día. Vernadsky consideraba que la ideia proviene, a fin de cuentas, del naturalista francés Jean Baptiste Lamarck, cuya geoquímica, aunque arcaicamente expresada, era a menudo bastante profunda.

Fonte: Hutchinson, G. E. 1972 [1970]. In: Scientific American, org. La biosfera. Madri, Alianza.

27 junho 2021

O banho de Diana


François Clouet (1520-1572). La dame au bain. 1571.

Fonte da foto: Wikipedia.

25 junho 2021

The isles of Greece

George Gordon Byron

The isles of Greece! the isles of Greece
  Where burning Sappho loved and sung,
Where grew the arts of war and peace,
  Where Delos rose, and Phoebus sprung!
Eternal summer gilds them yet,
But all, except their sun, is set.

The Scian and the Teian muse,
  The hero’s harp, the lover’s lute,
Have found the fame your shores refuse:
  Their place of birth alone is mute
To sounds which echo further west
Than your sires’ ‘Islands of the Blest’.

The mountains look on Marathon –
  And Marathon looks on the sea;
And musing there an hour alone,
  I dream’d that Greece might still be free;
For standing on the Persians’ grave,
I could not deem myself a slave.

A king sate on the rocky brow
  Which looks o’er sea-born Salamis;
And ships, by thousands, lay below,
  And men in nations; – all were his!
He counted them at break of day –
And when the sun set, where were they?

And where are they? and where art thou,
  My country? On thy voiceless shore
The heroic lay is tuneless now –
  The heroic bosom beats no more!
And must thy lyre, so long divine,
Degenerate into hands like mine?

’Tis something in the dearth of fame,
  Though link’d among a fetter’d race,
To feel at least a patriot’s shame,
  Even as I sing, suffuse my face;
For what is left the poet here?
For Greeks a blush – for Greece a tear.

Must we but weep o’er days more blest?
  Must we but blush? – Our fathers bled.
Earth! render back from out thy breast
  A remnant of our Spartan dead!
Of the three hundred grant but three,
To make a new Thermopylae!

What, silent still? and silent all?
  Ah! no; – the voices of the dead
Sound like a distant torrent’s fall,
  And answer, ‘Let one living head,
But one, arise, – we come, we come!’
’Tis but the living who are dumb.

In vain – in vain: strike other chords;
  Fill high the cup with Samian wine!
Leave battles to the Turkish hordes,
  And shed the blood of Scio’s vine:
Hark! rising to the ignoble call –
How answers each bold Bacchanal!

You have the Pyrrhic dance as yet;
  Where is the Pyrrhic phalanx gone?
Of two such lessons, why forget
  The nobler and the manlier one?
You have the letters Cadmus gave –
Think ye he meant them for a slave?

Fill high the bowl with Samian wine!
  We will not think of themes like these!
It made Anacreon’s song divine:
  He served—but served Polycrates –
A tyrant; but our masters then
Were still, at least, our countrymen.

The tyrant of the Chersonese
  Was freedom’s best and bravest friend;
That tyrant was Miltiades!
  O that the present hour would lend
Another despot of the kind!
Such chains as his were sure to bind.

Fill high the bowl with Samian wine!
  On Suli’s rock, and Parga’s shore,
Exists the remnant of a line
  Such as the Doric mothers bore;
And there, perhaps, some seed is sown,
The Heracleidan blood might own.

Trust not for freedom to the Franks—
  They have a king who buys and sells;
In native swords and native ranks
  The only hope of courage dwells:
But Turkish force and Latin fraud
Would break your shield, however broad.

Fill high the bowl with Samian wine!
  Our virgins dance beneath the shade –
I see their glorious black eyes shine;
  But gazing on each glowing maid,
My own the burning tear-drop laves,
To think such breasts must suckle slaves.

Place me on Sunium’s marbled steep,
  Where nothing, save the waves and I,
May hear our mutual murmurs sweep;
  There, swan-like, let me sing and die:
A land of slaves shall ne’er be mine—
Dash down yon cup of Samian wine!

Fonte (v. 13-16): Esler, A. 1986. The human venture, vol. 2. Englewood Cliffs, Prentice-Hall.

23 junho 2021

A lei natural e o problema da superpopulação

Frederick E. Flynn

Não considero minha tarefa, esta manhã, tomar posição sobre se estamos ou não frente a um problema de superpopulação. E por uma razão muito simples: não é esse um problema filosófico e sim uma questão de fato; e, como filósofo, devo deixar esse aspecto do problema aos demógrafos. Também não considero tarefa minha pesar as várias soluções práticas do problema da superpopulação; esses aspectos do problema são da alçada dos sociólogos, dos economistas e dos cientistas políticos. Minha tarefa é relativamente fácil: discutir os aspectos morais da superpopulação e os princípios naturais morais levantados pelo problema. Em resumo: seria a superpopulação um problema moral? Serão os meios propostos para sua solução moralmente bons maus? Digo que se trata de tarefa relativamente fácil porque o trabalho do filósofo moralista está, principalmente, em esperar até que surja um fato moral e, depois, gentilmente, exercer sua prerrogativa de coroá-lo com a aprovação ou decepá-lo.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de artigo publicado em 1960.

21 junho 2021

Ou descemos do vulcão ou cairemos lá dentro. Não há uma terceira via

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes). Entre 14 e 20/6, essas taxas ficaram em 0,42% (casos) e 0,42% (mortes). Após quedas sucessivas (notadamente na taxa de mortes), batemos no piso e estamos estagnados (casos) ou tornamos a escalar (mortes). As projeções são igualmente ruins: estatísticas recordes são esperadas para esta semana. E o pior: a continuar no ritmo atual, estatísticas ainda mais assombrosas serão computadas nas semanas vindouras. Para muitos de nós, brasileiros, acompanhar a crise se tornou uma experiência passiva e algo surrealista – estamos de braços cruzados, a cochichar uns com os outros, como se estivéssemos a acompanhar uma novela ou um campeonato de futebol. A verdade, no entanto, é que estamos nos equilibrando na boca de um vulcão. (Foi para lá que o oportunismo econômico e a desfaçatez política nos empurraram.) Ou descemos imediatamente ou cairemos lá dentro. Não há uma terceira via.

*

1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas na manhã desta segunda-feira (21/6) [1], eis um balanço da situação mundial:

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 79% dos casos (de um total de 178.553.726) e 82% das mortes (de um total de 3.867.641) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,2%. A taxa brasileira segue em 2,8%. (Os outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm as seguintes taxas: Argentina, 2,1%, Colômbia, 2,5%, e Peru, 9,4%.)

(C) Nesses 20 países, 128,8 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 91% dos casos. Em escala global, 163,9 milhões de indivíduos já receberam alta [4].

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (20/6), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 44.178 casos e 1.025 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 17.927.928 casos e 501.825 mortes.

Em termos absolutos, ao compararmos com as estatísticas da semana anterior (7-13/6), os números de casos e de mortes aumentaram. E aumentaram de modo significativo.

Foram registrados 515.162 novos casos – um crescimento de mais de 10% em relação à semana anterior (465.704). Foi a 29ª semana com mais de 300 mil novos casos – 24 dessas semanas foram registradas em 2021.

Desgraçadamente, foram registradas 14.424 mortes – uma escalada de 3% em relação à semana anterior (13.997). Foi a 31ª semana com mais de 7 mil mortes – 23 dessas semanas foram registradas em 2021.

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [5]. Para tanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (7-13/6), as médias da semana passada (14-20/6) não recuaram (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,39% (7-13/6) para 0,42% (14-20/6) [6].

Já a taxa de crescimento no número de mortes permaneceu estagnada em 0,42% (14-20/6) – após uma série de oito quedas sucessivas, foi a segunda semana de resultados ruins (ver a figura que acompanha este artigo) [6, 7].

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 20/6/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

4. CODA.

Após quedas sucessivas (notadamente na taxa de mortes), batemos no piso e estamos estagnados (casos) ou tornamos a escalar (mortes). As projeções são igualmente ruins: estatísticas recordes são esperadas para esta semana. E o pior: a continuar no ritmo atual, estatísticas ainda mais assombrosas serão computadas nas semanas vindouras.

Para muitos de nós, brasileiros, acompanhar a crise se tornou uma experiência passiva e algo surrealista – estamos de braços cruzados, a cochichar uns com os outros, como se estivéssemos a acompanhar uma novela ou um campeonato de futebol. A verdade, no entanto, é que estamos nos equilibrando na boca de um vulcão. (Foi para lá que o oportunismo econômico e a desfaçatez política nos empurraram.) Ou descemos imediatamente ou cairemos lá dentro. Não há uma terceira via.

Como escrevi em artigos anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) depende de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação [8].

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em seis grupos: (a) Entre 32 e 34 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 28 e 30 milhões – Índia; (c) Entre 16 e 18 milhões – Brasil; (d) Entre 4 e 6 milhões – França, Turquia, Rússia, Reino Unido, Argentina e Itália; (e) Entre 2 e 4 milhões – Colômbia, Espanha, Alemanha, Irã, Polônia, México, Ucrânia e Peru; e (f) Entre 1,7 e 2 milhões – Indonésia, África do Sul e Países Baixos.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Como comentei em artigos anteriores, fui levado a promover a seguinte mudança metodológica: as estatísticas de casos e mortes continuam a seguir o painel Mapping 2019-nCov, enquanto as de altas estão agora a seguir o painel Worldometer: Coronavirus.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a maior parte da imprensa brasileira (grande ou pequena; reacionária ou progressista) se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referências citadas na nota 3.

[6] Entre 19/10 e 20/6, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6) e 0,4174% (14-20/6); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6) e 0,4175% (14-20/6).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (ver nota 3).

[8] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

19 junho 2021

As amazonas e os gregos


Claude Déruet (1588-1660). La bataille entre les amazones et les grecs. 1610.

Fonte da foto: Wikipedia.

17 junho 2021

Café, nicotina e controle biológico

F. Ponce de León

Para Mohamed & Sawsan.

O sol amarelo de março
E o piso vermelho.

A casa dos fundos
E a tela verde na porta.

O pé de algodão
E as pragas.

A garrafa de café,
O maço de Arizona.

Os agrônomos do Egito
E seus filhos brasileiros.

16 junho 2021

O planeta Terra e suas origens

Umberto G. Cordani

Com base nas informações decorrentes de diversos campos da Ciência [...], bem como estudando a natureza do material terrestre (composição química, fases minerais etc.), já foram obtidas respostas para algumas importantes questões que dizem respeito à nossa existência:

+ Como se formaram os elementos químicos?

+ Como se formaram as estrelas?

+ Como se formaram os planetas do Sistema Solar?

+ Qual é a idade da Terra e do Sistema Solar?

+ Qual é a idade do Universo?

+ Qual é o futuro do Sistema Solar, e do próprio Universo?

Para as quatro primeiras perguntas já existem evidências suficientes para estabelecer uma razoável confiança nos pesquisadores em relação às suas teorias, baseadas no conhecimento científico, tanto teórico como prático, observacional ou experimental. A quinta e a sexta talvez também possam vir a ser respondidas a contento com o progresso da Ciência.

Fonte: Cordani, U. G. 2000. In: Teixeira, W. & mais 3, orgs. Decifrando a Terra. SP, Oficina de Textos.

13 junho 2021

No mesmo lado da canoa

Alda do Espírito Santo

As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia a dia.

É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta com o gandu
Minha irmã, lavando, lavando
p’lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p’lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p’la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá
juntando-me na gamela
vadô tlebessá
a dez tostões.

Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p’la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p’los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.

Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás sombrios...
O pito dóxi arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.

Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras, Maldições.

Estou aqui, sim, irmão
nos nozados sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.

Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum polo a outro da terra
p’los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

Fonte (v. 10-1): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza. Poema publicado em livro em 1978.

12 junho 2021

14 anos e oito meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/6, o Poesia Contra a Guerra completa 14 anos e oito meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘14 anos e sete meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Brian Huntley, Gerald Durrell, Ives Gandra Martins, Lewis Hill, Lewis R. Binford, Maria Braga Horta, Peter H. Raven, Ray F. Evert, Sally R. Binford, Samuel Johnson e Susan E. Eichorn. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Joseph Farington, Richard Wilson e Thomas Lawrence.

10 junho 2021

Exortação

Maria Braga Horta

Alma inquieta e sem rumo, sem morada
dentro do próprio ser, que te acontece?
Para onde vais? Que buscarás na estrada
onde o esplendor do sol desaparece?

Que desejas colher nessa encantada
terra de sonhos? Que dourada messe
supões haver na senda extraviada
onde nem mesmo o sonho permanece?

Olha em torno de ti. Volta e procura
em ti mesma o caminho da ventura
que andas buscando sem saber se existe...

Encontrando-te, enfim, terás a glória
de tornar a existência transitória
mais serena, mais terna e menos triste.

Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1996.

08 junho 2021

A montanha e o lago


Richard Wilson (1714-1782). Llyn-y-Cau, Cader Idris. 1774.

Fonte da foto: Wikipedia.

06 junho 2021

Ad veneris lacrimas

Pedro Kilkerry

Em meus nervos, a arder, a alma é volúpia... Sinto
Que Amor embriaga a Íon e a pele de ouro. Estua,
Deita-se Íon: enrodilha a cauda o meu Instinto
Aos seus rosados pés... Nyx se arrasta, na rua...

Canta a alâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto
Acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua.
O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto
Aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.

Íon treme, estremece. Adora o ritmo louro
Da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava
Finas frechas de luz na cúpula aquecida...

Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...
Mas sua alma – por Zeus! – na água azul doutra Vida
Lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema originalmente publicado em 1917.

05 junho 2021

Vagando pela praia

Gerald Durrell

Cada maré que entra traz consigo muitos detritos recolhidos no mar. Quando sai, deixa uma linha irregular de detritos, onde é gostoso – e proveitoso – investigar. Poucos animais vivem nessa área de refugo, mas haverá pelo menos pulgas-do-mar. Elas vivem em buracos que cavam debaixo da própria linha dos detritos, de onde emergem aos milhões quando a noite cai, saltando por toda parte em busca de partículas animais ou vegetais deixadas pela maré. Você poderá encontrar também baratas-do-mar (lígias), crustáceos marinhos da ordem Isopoda. Esses animaizinhos se parecem com os tatuzinhos-da-terra, e a eles se equiparam. Preferem, aliás, as costas rochosas à linha dos detritos de uma praia lisa de areia. Há também grande variedade de besouros, que parecem ter um fraco por essa área da praia – e com eles você encontrará grandes moscas-varejeiras e alguns vermes terrestres muito pequenos.

Fonte: Durrell, G. 1989. O naturalista amador, 2ª ed. SP, Martins Fontes.

03 junho 2021

Atropelamento mortal

Ruy Belo

Nalgum oásis do princípio ele fora
um fugitivo brilho no olhar de Deus
– a vida havia de lho lembrar muitas vezes.
Atravessou as nossas ruas entre gatos,
a chuva molhou-lhe as pobres botas cambadas.
Teve um banco de jardim, teve amigos, um deles o sol.

Sempre sem o saber procurou Deus.
Um dia foi campos fora atrás dele, perdeu o emprego
na Câmara Municipal. Teve mãe mas depois
nunca mais foi solução para ninguém.

Naquele dia a morte instalou-o
confortavelmente no céu. Lá se foi
com seus modos humanos, seus caprichos
e um notório acanhamento em público
(há-de a princípio faltar-lhe à-vontade entre os anjos).

Tinha o nome no registo, agora habita
nas planícies ilimitadas de Deus.
Nas suas costas ainda se derrama
a tarde interrompida.
Manhãs e manhãs desfilarão sobre ele,
caracóis cobrirão a memória daquele
que foi da sua infância como qualquer de nós.

Teve um nome de aqui, andou de boca em boca,
agora é Deus que para sempre o tem na voz.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1961.

01 junho 2021

Cistos de resistência

Peter H. Raven, Ray F. Evert & Susan E. Eichorn

Sob condições que não favorecem o crescimento contínuo da população, tais como baixas concentrações de nutrientes, os dinoflagelados podem produzir cistos de resistência imóveis, que vão para o fundo dos lagos e oceanos, onde permanecem viáveis durante anos. As correntes oceânicas podem transportar esses cistos bentônicos (do fundo do mar) para outras localidades. Quando as condições se tornam novamente favoráveis, os cistos podem germinar, originando populações de células móveis. A produção de cistos, o movimento e a germinação explicam muitos aspectos da ecologia e distribuição geográfica das florações tóxicas. Explicam ainda por que as florações não necessariamente ocorrem no mesmo local a cada ano e por que estão associadas com a eutrofização dos oceanos proveniente da entrada de esgotos e atividades agriculturais. Além disso, explicam por que as florações parecem se mover de um local para outro de ano a ano.

Fonte: Raven, P. H.; Evert, R. F. & Eichorn, S. E. 2007. Biologia vegetal, 7ª ed. RJ, Guanabara Koogan.

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