Felipe
A. P. L. Costa [*].
Os números da pandemia não param de
crescer. Ontem (16), por exemplo, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados em
todo o país mais 23.101 casos e 620 mortes. Teríamos chegado assim
a um total de 3.340.197 casos e 107.852 mortes.
Em termos analíticos, porém, devemos
observar que as taxas de crescimento diário, tanto no número de casos
como no de óbitos, seguem a declinar. As médias semanais dessas taxas estão agora
em 1,38% e 0,94% (10-16/8), respectivamente. São os valores mais baixos desde o
início da crise.
As estatísticas das últimas duas
semanas (3-9/8: 301.745 casos e 6.945 mortes; e 10-16/8: 304.775 casos e 6.803 mortes)
são compatíveis com as considerações que fiz em artigo anterior (ver ‘Como
e por que as estatísticas que se avizinham podem ser ainda mais assombrosas’).
O que me autoriza a manter as projeções de um dos cenários ali apresentados (RÁPIDO),
de acordo com o qual as médias semanais nas taxas de crescimento cairiam 0,2%
por semana – ver a figura que acompanha este artigo.
*
FIGURA. A figura que acompanha este artigo
mostra os valores esperados para as médias diárias no número de novos
casos (eixo vertical) em cinco cenários diferentes (a taxa cai 0,05%, 0,075%,
0,1%, 0,15% ou 0,2% por semana), até 27/9. Mostra ainda os valores
observados nas últimas duas semanas (Real; linha alaranjada). Observe que,
no pior cenário, LENTO (linha vermelho escuro), a média seguiria aumentando até
o fim de setembro – a rigor, até a primeira semana de dezembro (não mostrado),
quando só então atingiria o seu máximo (111.521) e começaria a declinar. Ao que
parece, no entanto, a situação atual está mais próxima da trajetória descrita
pelo cenário RÁPIDO.
*
Pois bem.
De acordo com o cenário RÁPIDO, (1)
As médias diárias no número de novos casos e no número de óbitos teriam alcançado
seus valores máximos (45.815 e 1.074, respectivamente) na penúltima semana de
julho (20-26/7); (2) As duas médias devem seguir declinando (nesta e nas
próximas semanas); e (3) O país deve contabilizar 3.875.484 casos
e 111.965 mortes até 30/8 e 4.391.600 casos e 114.844 mortes
até 27/9.
Coda.
Embora as taxas de crescimento sigam
a declinar, os patamares atuais (1,38% e 0,94%), ao lado do que já sabemos
sobre a dinâmica da doença (e.g., infectados transmitem o vírus para outros
indivíduos quase sempre no interior de recintos fechados), não nos autorizam a pensar
na reabertura de escolas. Nem nos autorizam a pensar na volta de eventos que
estimulem a formação de grandes multidões, como é o caso das partidas de
futebol.
Os voos internacionais – por meios
do quais o vírus entrou no país algumas dezenas de vezes, só nas
primeiras semanas da pandemia (ver aqui)
– também deveriam continuar suspensos.
Em resumo: Há luz no fim do túnel,
mas ainda estamos a pisar em ovos.
A volta às aulas presenciais,
sobretudo no caso do ensino básico (fundamental e médio), colocaria tudo a
perder. O mesmo raciocínio se aplica a toda e qualquer medida que estimule a
formação de aglomerações, sobretudo em recintos fechados.
O ano letivo de 2020 já foi para o
espaço [1]. Mas isso não é bem o fim do mundo. Se trilharmos o caminho certo,
poderemos recuperar os prejuízos nos próximos dois ou três anos. No entanto, se
os pais não se mobilizarem, deixando tudo por conta dos governantes ou dos
donos das escolas, há uma boa chance de que a pandemia perdure e que o ano
letivo de 2021 venha a ser igualmente comprometido.
*
Notas.
[*] Para detalhes e
informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo
(2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato
pelo endereço meiterer@hotmail.com.
Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.
[1] Visto que as férias
escolares também já foram para o espaço, as escolas provavelmente adotarão
calendários híbridos. Aulas em janeiro e fevereiro, por exemplo. Uma
alternativa – demagógica e potencialmente desastrosa – seria a promulgação de
um sistema de aprovação cartorial (e.g., os governantes promoveriam a aprovação
automática dos alunos).
* * *