A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
31 maio 2007
A angústia da influência
Harold Bloom
Este pequeno livro apresenta uma teoria da poesia através de uma descrição da influência poética, ou estória das relações intrapoéticas. Um dos objetivos dessa teoria é de natureza corretiva: acabar com a idealização de nossas versões oficiais de como um poeta ajuda a formar outro. Outro objetivo, também da mesma natureza, é o de procurar desenvolver uma poética que nos leve a uma forma mais adequada e pragmática de crítica.
A história da poesia, segundo a tese deste livro, é considerada como indistinguível da influência poética, já que os poetas fortes fazem a história deslendo-se uns aos outros, de maneira a abrir um espaço próprio de fabulação.
Meu interesse único, aqui, são os poetas fortes, grandes figuras com persistência para combater seus precursores fortes até a morte. Talentos mais fracos são presas de idealizações: a imaginação capaz se apropria de tudo para si. Mas nada vem do nada e a apropriação envolve, portanto, imensas angústias de débito: pois que criador forte jamais desejaria a consciência de não se ter criado a si mesmo? Oscar Wilde, que sabia ter fracassado como poeta, porque não tivera forças para superar sua angústia da influência, sabia também das verdades mais negras com relação a ela. [...] Wilde comenta amargamente, em The portrait of Mr. M. H., que “a influência é simplesmente uma transferência de personalidade, uma maneira de entregar a outro o que se tem de mais precioso; seu exercício produz uma sensação e talvez mesmo a realidade de uma perda. Todo discípulo se apodera de alguma coisa do seu mestre”. Esta é a angústia de influenciar, mas reversão alguma nesta áreaé uma reversão verdadeira. [...]
Nietzsche e Freud são, a meu ver, as influências primárias sobre a teoria da influência exposta neste volume. Nietzsche é o profeta do antitético, e sua Genealogia da moral é o mais profundo estudo por mim conhecido sobre as tensões revisionárias e ascéticas do temperamento estético. As investigações de Freud sobre os mecanismos de defesa e suas ambivalências oferecem, de sua parte, as analogias mais claras que jamais encontrei para as proporções, ou “razões revisionárias” regendo as relações intrapoéticas. [...] Tanto Nietzsche como Freud subestimaram a poesia e os poetas; um e outro, no entanto, concederam mais força à fantasmagoria do que, na verdade, possui. Também eles, a despeito de seu realismo moral, superidealizaram a imaginação. O poeta Yeats, discípulo de Nietzsche, e um discípulo de Freud, Otto Rank, exibiram maior consciência da batalha do artista contra a arte, e da relação entre esta luta e o embate antitético do artista contra a natureza. [...] Fonte: Bloom, H. 1991. A angústia da influência. RJ, Imago.
Zefa, chegou o inverno! Formigas de asas e tanajuras! Chegou o inverno! Lama e mais lama, chuva e mais chuva, Zefa! Vai nascer tudo, Zefa, Vai haver verde, verde do bom, verde nos galhos, verde na terra, verde em ti, Zefa, que eu quero bem! Formigas de asas e tanajuras! O rio cheio, barrigas cheias, mulheres cheias, Zefa! Águas nas locas, pitus gostosos, carás, cabojés, e chuva e mais chuva! Vai nascer tudo: milho, feijão, até de novo teu coração, Zefa! Formigas de asas e tanajuras! Chegou o inverno! Chuva e mais chuva! Vai casar tudo, moça e viúva! Chegou o inverno Covas bem fundas pra enterrar cana; cana caiana e flor de Cuba! Terra tão mole que as enxadas nelas se afundam com olho e tudo! Leite e mais leite pra requeijões! Cargas de imbu! Em junho o milho, milho e canjica pra São João! E tudo isto, Zefa... E mais gostoso que isso tudo: noites de frio, lá fora o escuro, lá fora a chuva, trovão, corisco, terras caídas, corgos gemendo, os caborés gemendo, os caborés piando, Zefa! Os cururus cantando, Zefa! Dentro da nossa casa de palha: carne de sol chia nas brasas, farinha d’água, café, cigarro, cachaça, Zefa... ... rede gemendo...
Tempo gostoso! Vai nascer tudo! Lá fora chuva, chuva e mais chuva, trovão, corisco, terras caídas e vento e chuva, chuva e mais chuva! Mas tudo isso, Zefa, vamos dizer, só com os poderes de Jesus Cristo! Fonte: Lima, J. 1997. Jorge de Lima: poesia, 5a edição. RJ, Agir. Poema originalmente publicado em 1929.
Love is but a song we sing and fear’s the way we die. You can make the mountains ring or make the angels cry. Though the bird is on the wing and you may not know why.
C’mon people, now smile on your brother, ev’rybody get together, try to love one another right now.
Some will come and some will go and we shall surely pass. When the one that left us here returns for us at last. We are but a moment’s sunlight fading in the grass.
C’mon people…
If you hear the song we sing you will understand. You hold the key to love and fear in your trembling hand. Just one key unlocks them both, it’s there at your command.
C’mon people… Fonte: álbum com a trilha sonora do filme 1969 (1988). Canção – também conhecida como “Let’s get together” – originalmente gravada em 1963.
E porquinho-da-índia? E ariranha? E macaco? E quatro cachorros? E duzentas pombas? E um boi? Um rinoceronte?
Rinoceronte não pode.
Tá bem, mas cavalo pode, não pode?
O sítio é apenas um terreno do estado do Rio, sem maiores perspectivas imediatas. Mas o garoto precisa acreditar no sítio, como outras pessoas precisam acreditar no céu. O céu dele é exatamente o da festa folclórica, a bicharada toda, e ele, que nasceu no Rio e, de má vontade, vive nessa cidade sem animais.
Aliás, ele mesmo desmente que o Rio seja uma cidade sem bichos, possuindo o dom de descobri-los nos lugares mais inesperados. Se entra na casa de alguém, desaparece ao transpor a porta, para voltar depois de três segundos com um gato ou cachorro na mão. A gente vai andando por uma rua em Copacabana, ele some e ressurge com um pinto em flor. É chegar na Barra da Tijuca, e daí a cinco minutos, já apanhou um siri vivo.
Localiza eletronicamente todos os animais da redondeza, anda pela rua em disparada, cumprimenta aqui um papagaio, ali um ganso, mais adiante um gato, incansável e frustrado.
Não distingue marcas de automóvel, em futebol não vai além de Garrincha e Nilton Santos, mas sabe perfeitamente o que é um mastiff, um boxer, um doberman. Dá informações sobre as pessoas de acordo com os bichos que possuam: aquele é o dono do Malhado, aquela é a dona do Lord... Ao telefone, pergunta por patos, gatos, e outros cachorros, centenas, milhares de cachorros, cachorros que prefere aos companheiros, cachorros que o absorvem na rua, na escola, na hora das refeições, cachorros que costumam latir e pular em seus sonhos, cachorros mil.
Sua literatura é rigorosamente especializada: livros coloridos sobre bichos. Engatinha mal e mal na leitura, mas fala com uma proficiência um pouco alarmante a respeito de répteis, batráquios etc. Filho de mãe inglesa, confunde fork e knife, mas sabe o que é seal e walrus. Se pede um pedaço de papel é para desenhar a zebra ou a baleia.
É claro que sua frustração causa pena. Por isso mesmo, há algum tempo, ganhou como consolo um canarinho-da-terra. Um dia, como lhe dissessem que iam dar o passarinho, caso continuasse a comportar-se mal, correu para a área e abriu a porta da gaiola.
Deram-lhe um bicudo, mas o bicudo morreu de tanto alpiste. Ganhou, mais tarde, uma tartaruga, pequenina e estúpida, que recebeu na pia do banheiro o nome de Henriqueta. Nunca qualquer outro quelônio deu tanto serviço. Foi ao dentista na cidade, e, ao voltar, disse ao pai, pela primeira vez, uma palavra horrível: estou desesperado. Tinha perdido a tartaruguinha nolotação.
Ficou o vazio em sua vida. O alívio era ligar o telefone interurbano para a avó e indagar pelos patos que “possuía” em outra cidade. Ou fazer uma visita à futura mãe de Poppy, este é um poodle que deverá nascer daqui a meio ano, prometido de pedra e cal para ele.
Outro expediente: caçar borboletas, mariposas, grilos, alojar carinhosamente os insetos nas gaiolas vazias, chamar-lhes pelos nomes dos antigos bichos mortos ou desaparecidos.
Um tio deu-lhe outra vez um canário, o carinho foi demais, o passarinho morreu. Não há nada a fazer, por enquanto, e ele dedicou-se à arte de desenhar bichos. De vez em quando, ainda se anima e entra em casa afogueado, mostrando alguma coisa invisível nas mãos: “Olha que estouro de grilo!”
Mas os grilos e as borboletas legais morrem ou saem tranqüilamente das gaiolas, e ei-lo novamente de mãos e alma vazias.
Deu um jeito: arranjou alguns pires sem uso e plantou sementes de feijão. O banheiro está cheio de brotos verdes, tímidos. E ele já sabe que possui uma fazenda. Fonte: Mello, M. A., org. 2003. Nossas palavras. RJ, José Olympio.
Seu olhar, de tanto percorrer as grades, está fatigado, já nada retém. É como se existisse uma infinidade de grades e mundo nenhum mais além.
O seu passo elástico e macio, dentro do círculo menor, a cada volta urde como que uma dança de força: no centro delas, uma vontade maior se aturde.
Certas vezes, a cortina das pupilas ergue-se em silêncio. – Uma imagem então penetra, a calma dos membros tensos trilha – e se apaga quando chega ao coração. Fonte: Rilke, R. M. 1993. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1907. Após o título, ostenta a indicação “No Jardin des Plantes, Paris”.
A simbiose, o sistema em que os membros de diferentes espécies vivem em contato físico, nos parece ser um conceito misterioso e um termo biológico especializado, uma vez que não temos consciência de seu predomínio. Não apenas nossos intestinos e cílios estão infestados de bactérias e simbiontes animais, mas, se você observar seu quintal ouum parque, os simbiontes não estarão evidentes, mas eles são onipresentes. O trevo e a ervilhaca, ervas daninhas comuns, têm pequenas bolas nas raízes. São as bactérias fixadoras de [nitrogênio], essenciais para o crescimento saudável em um solo pobre em nitrogênio. Depois observe as árvores, o bordo, o carvalho e a nogueira. Mais de trezentos diferentes simbiontes fúngicos, a micorriza que observamos como cogumelos, estão entrelaçados em suas raízes. Ou olhe um cachorro, que geralmente nem percebe os vermes simbióticos presentes em seu intestino. Somos simbiontes em um planeta simbiótico e, se prestarmos atenção, podemos encontrar a simbiose em todos os lugares. O contato físico é um requisito inegociável para muitos tipos diferentes de vida. [...]
A noção de que as células de animais e plantas tiveram origem por meio da simbiose não é mais motivo de controvérsia. A biologia molecular, incluindo o seqüenciamento gênico, reivindicou esse aspecto de minha teoria da simbiose celular. A incorporação permanente de bactérias dentro das células de plantas e animais na forma de plastídeos e mitocôndrias é a parte da minha teoria da endossimbiose seqüencial que hoje aparece nos livros didáticos do ensino médio. Mas o verdadeiro impacto da visão simbiótica da evolução ainda está para ser sentido. E a idéia que novas espécies surgem de fusões entre membros de espécies antigas ainda não é sequer debatida na sociedade científica respeitável. [...]
Os seres vivos escapam a uma definição concisa. Eles lutam, se alimentam, dançam, acasalam, morrem. Na base da criatividade de todas as grandes formas de vida familiares, a simbiose gera inovação. Ela junta diferentes formas de vida, sempre por algum motivo. Muitas vezes a fome une o predador à presa ou a boca à bactéria fotossintética ou alga que é a vítima. A simbiogênese junta indivíduos diferentes para formar seres maiores, mais complexos. As formas de vida simbiogenéticas são ainda mais diferentes do que seus “pais” dessemelhantes. “Indivíduos” estão sempre se fundindo e regulando sua reprodução. Eles geram novas populações que se tornam novos indivíduos simbióticos compostos por múltiplas unidades. Estes se tornam “novos indivíduos” em níveis maiores, mais abrangentes de integração. A simbiose não é um fenômeno limitado ou raro. Ela é natural e comum. Residimos em um mundo simbiótico. [...] Fonte: Margulis, L. 2001. O planeta simbiótico. RJ, Rocco.
Vô cantá no canturi primero as coisa lá da minha mudernage qui mi fizero errante e violêro eu falo séro i num é vadiage i pra você qui agora está mi ôvino juro inté pelo Santo Minino Vige Maria qui ôve o qui eu digo si fô mintira mi manda um castigo
Apois pro cantadô i violero só hai treis coisa nesse mundo vão amô, furria, viola, nunca dinhêro viola, furria, amô, dinhêro não
Cantadô di trovas i martelo di gabinete, ligêra i moirão ai cantadô já curri o mundo intêro já inté cantei nas portas di um castelo dum rei qui si chamava di Juão pode acriditá meu companhêro dispois di tê cantado u dia intêro o rei mi disse fica, eu disse não
Apois pro cantadô...
Si eu tivesse di vivê obrigado um dia inantes dêsse dia eu morro Deus feiz os homi e os bicho tudo fôrro já vi iscrito no Livro Sagrado qui a vida nessa terra é u’a passage i cada um leva um fardo pesado é um insinamento qui derna a mudernage eu trago bem dent’do coração guardado
Apois pro cantadô...
Tive muita dô di num tê nada pensano qui êsse mundo é tud’tê mais só dispois di pená pelas istrada beleza na pobreza é qui vim vê vim vê na procissão u Lôvado-seja i o malassombro das casa abandonada côro di cego nas porta das igreja i o êrmo da solidão das istrada
Apois pro cantadô...
Pispiano tudo du cumêço eu vô mostrá como faiz o pachola qui inforca u pescoço da viola rivira toda moda pelo avêsso i sem arrepará si é noite ou dia vai longe cantá o bem da furria sem um tustão na cuia u cantadô canta inté morrê o bem do amô.
Apois pro cantadô... Fonte: álbum Das barrancas do rio Gavião (1972), de Elomar.
Na manhã desta segunda-feira, 21/5, o Poesia contra a guerra superou a marca das sete mil visitas. Do balanço anterior, “Ultrapassando as seis mil visitas”, em 5/5, até o fim do expediente de ontem (20/5) ocorreram em média cerca de 55,4 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia permanece igual a 83, registrado em 18/4.
Água de beber Bica no quintal Sede de viver tudo E o esquecer era tão normal Que o tempo parava
E a meninada Respirava o vento Até vir a noite E os velhos falavam Coisas dessa vida Eu era criança, hoje é você E no amanhã, nós
Água de beber...
Tinha sabiá, tinha laranjeira Tinha manga-rosa Tinha o sol da manhã E na despedida Tios na varanda Jipe na estrada E o coração lá Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Geraes (1976), de Milton Nascimento.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Fonte: Spina, S. 1995. A poesia de Gregório de Matos. SP, Edusp.
[...] Nas primeiras fases da civilização humana, aquilo que chamamos de universo era considerado como ridiculamente pequeno. Acreditava-se que a Terra fosse um disco largo e chato, flutuando na superfície do oceano que a circundava. Abaixo dela, só havia água, a mais profunda que se pudesse imaginar, e acima estava o céu, moradia dos deuses. O disco era bastante grande para conter todas as terras então conhecidas, que incluíam o litoral do Mediterrâneo, com partes adjacentes da Europa, África e um pouco da Ásia. O extremo norte do disco da Terra era limitado por uma alta cadeia de montanhas, atrás da qual o Sol se escondia durante a noite, quanto repousava na superfície do Oceano Mundial. Mas no século 3 a.C. surgiu um homem que discordou dessa concepção simples e generalizada do mundo. Foi o famoso filósofo grego chamado Aristóteles.
Em seu livro Dos Céus, Aristóteles formulou a teoria de que a Terra era na realidade, uma esfera, coberta parcialmente de terra, e parcialmente de água, circundada pelo ar. Apoiou sua teoria em muitos argumentos que hoje nos parecem triviais. Mostrou que o modo pelo qual os navios desaparecem no horizonte, quando o casco some e os mastros parecem sair de dentro da água, prova que a superfície dos oceanos é curva, e não chata. Argumentou que os eclipses da Lua devem ser provocados pela sombra da Terra projetada sobre a face de nosso satélite, e, como essa sombra era redonda, a Terra devia ser redonda também. Muito pouca gente, porém, acreditou nele. [...] Fonte: Gamow, G. 1981. Um, dois, três... infinito. RJ, Zahar Editores.
Is it getting better Or do you feel the same Will it make it easier on you Now you got someone to blame
You say One love One life When it’s one need In the night It’s one love We get to share it It leaves you baby If you don’t care for it
Did I disappoint you? Or leave a bad taste in your mouth? You act like you never had love And you want me to go without
Well it’s too late Tonight To drag the past out Into the light We’re one But we’re not the same We get to carry each other Carry each other One
Have you come here for forgiveness Have you come to raise the dead Have you come here to play Jesus To the lepers in your head Did I ask too much More than a lot You gave me nothing Now it’s all I got We’re one But we're not the same We hurt each other Then we do it again
You say Love is a temple Love a higher law Love is a temple Love the higher law You ask me to enter But then you make me crawl And I can’t be holding on To what you got When all you got is hurt
One love One blood One life You got to do what you should
One life With each other Sisters Brothers
One life But we’re not the same We get to carry each other Carry each other
One Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Achtung baby (1991), do U2.
Ontem, sábado, 12/5, o Poesia contra a guerra completou sete meses no ar. Ao final do expediente da última sexta-feira (11/5), o contador instalado no blogue indicava que 6.487 visitas já haviam sido registradas.
Desde o balanço mensal anterior, “Balanço semestral”, foram cerca de 56,1 visitas/dia. Nesse período, um novo recorde positivo de visitação foi alcançado: 83 visitantes únicos, em 18/4.
Ao longo do último mês, foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Ana Terra, Antônio Carlos Secchin, António Gedeão, Charles Baudelaire, Eleanor Farjeon, Iêda Dias, Jacob Bronowski, John Milton, Mike Rutherford, Monteiro Lobato, Olivia Hime, Pablo Neruda, Sandra Postel e Santiago Ramón y Cajal.
Além de autores que já haviam sido publicados em meses anteriores. Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Albrecht Dürer, El Greco, Jackson Pollock e Piero di Cosimo.
Do homem primeiro canta, empírea Musa, A rebeldia – e o fruto, que, vedado, Com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo A morte e todo o mal na perda do Éden, Até que Homem maior pôde remir-nos E a dita celestial dar-nos de novo.
Do Orebe ou do Sinai no oculto cimo Estarás tu, que ali auxílios deste Ao pastor que primeiro aos escolhidos Ensinou como do confuso Caos Se ergueram no princípio o Céu e a Terra? Ou mais te agrada Sião e a clara Síloe Que mana ao pé do oráculo do Eterno? Lá donde estás, invoco o teu socorro Para este canto meu que hoje aventuro, Decidido a galgar com vôo inteiro Muito por cima da montanha Aônia, De assuntos ocupado que inda o Mundo Tratados não ouviu em prosa ou verso.
E tu mais que ela, Espírito inefável, Que aos templos mais magníficos preferes Morar num coração singelo e justo, Instrui-me porque nada se te encobre. Desde o princípio a tudo estás presente: Qual pomba, abrindo as asas poderosas, Pairaste sobre a vastidão do Abismo E com almo portento o fecundaste: Da minha mente a escuridão dissipa, Minha fraqueza eleva, ampara, esteia, Para eu poder, de tal assunto ao nível, Justificar o proceder do Eterno E demonstrar a Providência aos homens.
Dize primeiro, tu que observas tudo No Céu sublime, no profundo Inferno, Dize primeiro a causa irresistível Que mover pôde os pais da prole humana, Em tão próspera sina, ao Céu tão caros, A apostatar de Deus que o ser lhes dera E a transgredir a lei que lhes ditara, Sendo só em um objeto restringidos, No mais senhores do universo Mundo: Quem lhes urdiu a sedução malvada Que os lançou em tão feia rebeldia? O Dragão infernal. Com torpe engano, Por inveja e vinganças instigado, Ele iludiu a mãe da humana prole, Lá depois que seu ímpeto soberbo O expulsara dos Céus coa imensa turba Dos rebelados anjos, seus consócios.
Confiado num exército tamanho, Aspirando no Empíreo a ter assento De seus iguais acima, destinara Ombrear com Deus, se Deus se lhe opusesse, E com tal ambição, com tal insânia, Do Onipotente contra o Império e trono Fez audaz e ímpio guerra, deu batalhas. Mas da altura da abóbada celeste Deus, coa mão cheia de fulmíneos dardos, O arrojou de cabeça ao fundo Abismo, Mar lúgubre de ruínas insondável, A fim de que atormentado ali vivesse Com grilhões de diamante e intenso fogo O que ousou desafiar em campo o Eterno.
Pelo espaço que abrange no orbe humano Nove vezes o dia e nove a noite, Ele com sua multidão horrenda, A cair estiveram derrotados Apesar de imortais, e confundidos Rolaram nos cachões de um mar de fogo. Sua condenação, porém, o guarda Para mais fero horror: e vendo agora Perdida a glória, perenal a pena, Este duplo prospecto na alma o punge.
Lança em roda ele então os tristes olhos Que imensa dor e desalento atestam, Soberba empedernida, ódio constante: Eis quando de improviso vê, contempla, Tão longe como os anjos ver costumam, A terrível mansão, torva, espantosa, Prisão de horror que imensa se arredonda Ardendo como amplíssima fornalha. Mas luz nenhuma dessas flamas se ergue; Vertem somente escuridão visível Que baste a pôr patente o hórrido quadro Destas regiões de dor, medonhas trevas Onde o repouso e a paz morar não podem, Onde a esperança, que preside a tudo, Nem sequer se lobriga: os desgraçados Interminável aflição lacera E de fogo um dilúvio alimentado De enxofre abrasador, inconsumptível.
A justiça eternal tinha disposto Para aqueles rebeldes este sítio: Ali foram nas trevas exteriores Seu cárcere e recinto colocados, Longe do excelso Deus, da luz empírea, Distância tripla da que os homens julgam Do centro do orbe à abóbada estrelada. Oh! como esse lugar, onde ora penam, É diverso do Céu donde caíram!
Logo o monstro descobre a turba vasta Dos tristes que na queda tem por sócios Arfando em tempestuosos torvelinos Do undoso lume que hórrido os flagela. Próximo dele ali coas vagas luta O anjo, imediato seu em mando e crimes, Que foi chamado nas vindouras eras Belzebu, nome à Palestina grato. Fonte: Milton, J. 2003. Paraíso Perdido. SP, Martin Claret. A obra completa consta de 12 cantos e foi originalmente publicada em 1667; o trecho acima corresponde ao início do Canto I.
A escassez da água, caracteristicamente, invoca visões de seca, os períodos secos que a natureza impõe de tempos em tempos. Mas, enquanto as secas tomam o espaço das manchetes dos jornais e prendem nossa atenção, a ameaça muito maior representada pelo nosso consumo crescente de água continua, em grande medida, passando despercebida.
Sinais de esgotamento dos recursos hídricos são abundantes. Lençóis freáticos estão declinando, lagos estão minguando e as terras inundáveis desaparecem. Engenheiros se propõem “resolver” os problemas hídricos construindo esquemas cada vez mais gigantescos de desvios de rios, a preços exorbitantes e com efeitos ambientais nocivos. Nos arredores de Pequim, de Nova Deli, de Phoenix e de outras cidades carentes de água está fermentando uma competição entre os moradores urbanos e os agricultores que reivindicam o mesmo suprimento limitado. E as populações do Oriente Médio têm escutado mais de um de seus líderes bradar sobre a possibilidade de guerra em conseqüência da escassez de água. [...]
Um dos mais nítidos sinais de escassez de água é o número cada vez maior de países nos quais a população ultrapassou o nível de vida que pode ser sustentado confortavelmente com a água disponível. Como regra prática, os hidrologistas definam países com esgotamento hídrico aqueles cujos suprimentos anuais situam-se em mil e dois mil metros cúbicos por pessoa. Quando a cifra cai abaixo de mil metros cúbicos [...], as nações são consideradas escassas em água – isto é, a carência de água torna-se uma grave restrição à produção de alimentos, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos sistemas naturais. [...]
Com a agricultura reivindicando dois terços de toda a água removida de rios, de lagos, de riachos e dos depósitos de água subterrânea, tornar a irrigação mais eficiente é prioridade máxima do movimento em direção a um uso mais sustentável da água. [...] Reduzir as necessidades de irrigação em cerca de um décimo, por exemplo, liberaria água suficiente para quase duplicar o uso doméstico de água em todo o mundo. [...]
A fabricação de inúmeros produtos que usamos em nossa vida diária – desde roupas e computadores até papel, plásticos e televisores – exige copiosas quantidades de água. A produção de um quilo de papel pode chegar a exigir 700 quilos de água. E a fabricação de uma tonelada de aço pode demandar 280 toneladas de água. [...]
Casas, apartamentos, pequenos negócios e outras empresas urbanas respondem por menos de um décimo do uso total de água em todo o mundo. Mas suas demandas são concentradas em áreas geográficas relativamente pequenas e, em muitos casos, avolumam-se rapidamente. À medida que as cidades se expandem, elas sujeitam a forte tensão à capacidade das massas de água locais e forçam os técnicos a recorrer a fontes cada vez mais distantes.
Além disso, os reservatórios, os canais, as estações de bombeamento, os encanamentos, os esgotos e as instalações de tratamento que constituem um moderno sistema de saneamento e de tratamento de água usada requerem enormes somas de dinheiro para ser construídos e mantidos. A coleta e o tratamento da água primária e da usada também requerem grandes quantidades de energia e de produtos químicos, aumentando a poluição do meio ambiente e os custos globais do sistema hídrico de uma comunidade. Sujeitas a tais embaraços, muitas cidades estão tendo dificuldades para satisfazer as necessidades de água de habitantes, e grande número de famílias de baixa renda nos países em desenvolvimento não têm acesso a nenhum serviço de água. Fonte: Postel, S. 1993. Enfrentando a escassez de água. In: L. R. Brown, org. Qualidade de vida, 1993: Salve o planeta!, p. 47-63. SP, Globo.
Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Reduzida a vapor, sob tensão e a alta temperatura, move os êmbolos das máquinas que, por isso, se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente. Embora com excepções mas de um modo geral, dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais. Congela a zero graus centesimais e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão. Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1967.
Cuando llegué a Curacautín estaba lloviendo ceniza por voluntad de los volcanes.
Me tuve que mudar a Talca donde habían crecido tanto los ríos tranquilos de Maule que me dormí en una embarcación y me fui a Valparaíso.
En Valparaíso caían alrededor de mí las casas y desayuné en los escombros de mi perdida biblioteca entre un Baudelaire sobrevivo y un Cervantes desmantelado.
En Santiago las elecciones me expulsaron de la ciudad: todos se esculpían la cara y a juzgar por los periodistas en el cielo estaban los justos y en la calle los asesinos.
Hice mi cama junto a un río que llevaba más piedras que agua, junto a unas encinas serenas, lejos de todas las ciudades, junto a las piedras que cantaban y al fin pude dormir en paz con cierto temor de una estrella que me miraba y parpadeaba con cierta insistencia maligna.
Pero la mañana gentil pintó de azul la negra noche y las estrellas enemigas fueron tragadas por la luz mientras yo cantaba tranquilo sin catástrofe y sin guitarra. Fonte: Neruda, P. 2007 [2004]. O coração amarelo. Porto Alegre, L&PM. Poema originalmente publicado em 1974.
A rua em derredor era um ruído incomum, Longa, magra, de luto e na dor majestosa, Uma mulher passou e com a mão faustosa Erguendo, balançando o festão e o debrum;
Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata. Eu bebia perdido em minha crispação No seu olhar, céu que germina o furacão, A doçura que embala e o frenesi que mata.
Um relâmpago e após a noite! – Aérea beldade, E cujo olhar me fez renascer de repente, Só te verei, um dia e já na eternidade?
Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente! Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais, Tu que eu teria amado – e o sabias demais! Fonte: Baudelaire, C. 2006. As flores do mal. SP, Martin Claret. Poema originalmente publicado em 1861.
Na última quinta-feira, 3/5, o Poesia contra a guerra superou a marca das seis mil visitas. Ao contrário do que fiz das vezes anteriores, no entanto, sempre que completávamos um novo milhar de visitas, não pude registrar de pronto o ocorrido. A razão para isso é que estive a semana inteira fora, longe deste computador...
Do balançoanterior, “Cinco mil visitas”, em 17/4, até o fim do expediente de ontem (4/5) ocorreram em média cerca de 58,6 visitas/dia. Nesse período alcançamos também um novo recorde positivo de visitantes únicos em um só dia: 83, em 18/4.