Fernando de Andrade Quintanilha Ribeiro
Desde os tempos pré-históricos, passando pelas civilizações egípcia e babilônica, asteca e maia, o pavilhão auditivo é considerado um local apropriado para o uso de adereços. Mesmo atualmente, em todas as culturas – seja a ocidental moderna, a indígena sul-americana, a aborígine australiana, as tribais africanas ou orientais –, as orelhas continuam sendo usadas para dependurar ossos, madeira, contas, ouro ou brilhantes. A maioria dos povos escolhe os lóbulos como local mais adequado. Eles podem ser perfurados, dilatados ou rasgados sem maiores problemas pois constituem-se apenas de tecido gorduroso. É observado, porém, em todas as culturas mencionadas, o hábito de preservar a porção cartilaginosa das orelhas. Ou seja, não perfuram outras partes além dos lóbulos.
Hoje, entretanto, o piercing é cada vez mais usado por jovens em todas as regiões do corpo e, comumente, na cartilagem do pavilhão auditivo. Esse hábito vem provocando, em todo o mundo, um aumento na ocorrência de condrites (infecção da cartilagem) e deformidades graves nesse órgão. [...]
Se os jovens soubessem o preço eventualmente pago por essa excentricidade, com certeza não a fariam. A condrite do pavilhão é de suma gravidade pois deforma esse órgão de modo grotesco e incorrigível, gerando a chamada “orelha em couve-flor”.
Fonte: Ribeiro, F. A. Q. 2002. A vaidade que pode mutilar. Ciência Hoje 181: 51-2.