30 junho 2024

O próximo passo será a eliminação?

Carlos Heitor Cony

Depois da exploração do homem pelo homem em nome do capital, o neoliberalismo e seu braço operacional, que é a globalização, criaram, mantêm e ampliam, em nome da sacralidade do mercado, a exclusão de grande parte do gênero humano. O próximo passo será a eliminação? Caminhamos para um holocausto universal, quando a economia modernizada terá repugnância em custear a sobrevivência de quatro quintos da população mundial? Depois de explorados e excluídos, bilhões de seres humanos, considerados supérfluos, devem ser exterminados?

O raciocínio é bem mais do que uma hipótese. É um desdobramento lógico do horror econômico fabricado no laboratório dos economistas neste final de século. Horror – este sim – globalizado pelos governos que buscam resultados contáveis e condenam a ação social como jurássica.

Fonte: Forrester, V. 1997 [1996]. O horror econômico. SP, Editora da Unesp.

29 junho 2024

A comunhão


Eugène [Louis Gabriel] Isabey (1803-1886). La communion. 1862.

Fonte da foto: Wikipedia.

27 junho 2024

A antiguidade e duração do mundo

George Hoggart Toulmin

Pergunte a qualquer um na massa de gente obscura: qual o propósito da existência das coisas? A resposta geral é que todas as coisas foram criadas para nosso auxílio e uso prático! [...] Em resumo, todo o cenário magnífico das coisas é diária e confiantemente visto como destinado, em última instância, à conveniência peculiar do gênero humano. Dessa forma, o grosso da espécie humana arrogantemente se eleva acima das inumeráveis existências que o cercam.

Fonte: Thomas, K. 1988. O homem e o mundo natural. SP, Companhia das Letras. Excerto de livro originalmente publicado em 1780.

25 junho 2024

O homem que viu o homem que viu o infinito

Felipe A. P. L. Costa

[A]dvogados, operadores da bolsa e corretores de apostas muitas vezes levam uma vida confortável e feliz, e é muito difícil perceber de que modo o mundo fica melhor por causa da existência deles.
– G. H. Hardy (Em defesa de um matemático, p. 139).

A vida criativa [é] a única vida digna de um homem de verdade.
– G. H. Hardy apud C. P. Snow (idem, p. 50).

*

APRESENTAÇÃO. – O matemático inglês Godfrey Harold Hardy, mais conhecido em razão do famoso Princípio de Hardy-Weinberg, foi um dos gigantes da sua área ao longo da primeira metade do século 20. Conviveu e interagiu com muita gente graúda, como John Littlewood, Srinivasa Ramanujan, Bertrand Russell, E. C. Titchmarsh e C. P. Snow. Além de inúmeros artigos e livros técnicos, ele nos legou um pequeno volume de leitura fácil e inspiradora, Em defesa de um matemático, publicado em 1940. Este artigo visa chamar a atenção dos leitores, sobretudo os mais jovens, para esse precioso livro.

[Para ler o artigo completo, clique aqui.]

23 junho 2024

Filípica

Luciano Canfora

A rivalidade entre os dois centros [as bibliotecas de Alexandria e Pérgamo] teve consequências deletérias. Multidões de falsários entraram em cena. Ofereciam rolos de falsos textos antigos remendados ou até falsificados, que se hesitava recusar (quando a falsificação não era imediatamente visível), com o receio de que a biblioteca rival se aproveitasse disso. Não raro, tratava-se de hábeis manipulações, nas quais se misturavam o genuíno e o espúrio, não sem uma certa qualidade por parte dos solertes falsários.

Em Pérgamo, por exemplo, foi adquirida uma coleção completa de Demóstenes, aparentemente mais completa do que a reunida em Alexandria. Entre outras coisas, continha uma preciosidade: uma nova Filípica, que vinha preencher uma lacuna desagradável da coletânea corrente. [...]

O sucesso foi grande. Quem quisesse um Demóstenes recorria, desde então, à edição de Pérgamo, que afinal acabou permanecendo a canônica.

Fonte: Canfora, L. 1989. A biblioteca desaparecida. SP, Companhia das Letras.

21 junho 2024

A estrada


Louis Nicolas Cabat (1812-1893). La route en forêt. 1835.

Fonte da foto: Wikipedia.

19 junho 2024

Soneto

Menotti del Picchia

Soneto! Mal de ti falem perversos
que eu te amo e te ergo no ar com uma taça.
Canta dentro de ti a ave da graça
na gaiola dos teus quatorze versos.

Quantos sonhos de amor jazem imersos
em ti que és dor, temor, glória e desgraça?
Foste a expressão sentimental da raça
de um povo que viveu fazendo versos.

Teu lirismo é a nostálgica tristeza
dessa saudade atávica e fagueira
que no fundo da raça nos verteu

a primeira guitarra portuguesa
gemendo numa praia brasileira
naquela noite em que o Brasil nasceu...

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus.

17 junho 2024

Mente e cérebro

John Blundell

No final do século XVII [Franz] [Joseph] Gall (1758-1828), médico e um dos maiores neuro-anatomista de sua época, foi o primeiro a admitir que o cérebro era o local de origem de processos psicológicos. Nessa época a psicologia se restringia ao estudo da mente adulta e a tendência dominante era subdividir os processos mentais em faculdades separadas. Foi a partir da psicologia das faculdades com sua lista de 24 poderes ativos da mente (tais como o desejo de poder, gratidão e autoestima) e os seis poderes intelectuais (como a memória, julgamento e gosto moral) que Gall obteve originalmente sua lista de 27 poderes da mente, os quais ele procurou situar em 27 regiões do cérebro. Gall denominou sua tese de ciência da fisiognomonia ou craniologia, porém mais tarde Spurzheim adotou o termo frenologia.

Hoje, a doutrina da frenologia parece ingênua, mas cem anos atrás o entusiasmo de seus protagonistas assegurava à teoria a aceitação popular. Além disso, devemos lembrar de que o mecanismo contido nesses princípios tinha implicações importantes. A crença em que a protuberância do cérebro (e portanto do crânio também) indicaria um excesso de uma faculdade específica, enquanto que uma reentrância seria sinal da ausência de uma das faculdades. Essa crença significava que era teoricamente possível analisar a constituição mental de um indivíduo pelo exame da forma de seu crânio. Por conseguinte, podia-se constatar se um indivíduo era exageradamente ‘destrutivo’ ou ‘ganancioso’. As descobertas frenológicas eram consideradas suficientemente fidedignas para serem admitidas como provas legais nos Estados Unidos até meados do século XIX.

Fonte: Blundell, J. 1976 [1975]. Psicologia fisiológica. RJ, Zahar.

16 junho 2024

Resíduos, derivações, ações não lógicas

John H. Goldthorpe

Essas constantes ou ‘resíduos’ poderiam então, na sua opinião, ser considerados como manifestações diretas de sentimentos e deveriam ser vistos como a chave para a compreensão da ação não lógica.

Assim sendo, ele dedicou uma grande parte de seu tratado à sua descrição e classificação. Por exemplo, uma das classes era a de ‘resíduos de combinações’. Aqui, Pareto se escorava na tendência existente entre os homens para ligar umas coisas a outras, embora não possuam o conhecimento de qualquer elo estabelecido entre elas, lógica ou cientificamente: aqueles que acreditam em mágica relatam certos rituais como, por exemplo, para fazer chover; o astrólogo liga o horóscopo do indivíduo à sua vida futura: justamente como hoje se atribui o mau tempo aos sputniks ou aos testes das bombas H. A uma outra classe de resíduos Pareto deu o nome de ‘resíduos da persistência dos agregados’. Aqui ele tinha em mente as tendências para o conservantismo em pensamento que leva os homens a conservar complexos de crenças e atitudes muito depois de já ter desaparecido qualquer base racional para elas: os costumes e tradições sobrevivem mesmo que sejam manifestamente anacrônicos; os preconceitos e estereótipos que crescem a respeito de ideias, de pessoas ou coisas persistem até mesmo depois de terem sido cientificamente destruídos.

Fonte: Goldthorpe, J. 1971 [1969]. Vilfredo Pareto. In: Raison, T., org. Os precursores das ciências sociais. RJ, Zahar.

14 junho 2024

Preguiçosos e pervertidos pastores

F. Ponce de León.

Aos olhos de preguiçosos,
estupradores merecem perdão
e as vítimas, corretivo.

Aos olhos de pervertidos,
seus pares merecem aplauso
e as vítimas, chicote.

Aos olhos desses pastores,
seus pares merecem o céu
e as vítimas, a danação.

13 junho 2024

Mulher na praia


Fernand Cormon (1845-1924). Femme sur une plage. 1874.

Fonte da foto: Wikipedia.

12 junho 2024

212 meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/6, o Poesia Contra a Guerra está a completar 17 anos e oito meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘17 anos e sete meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Don Moser, Elmar Altvater, Paulo Rosas e Peter Graham Richmond. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Louis Anquetin e Maxime Dethomas.

10 junho 2024

Perdição

Antônio Carlos Santini

Quando se apaga o Fogo, extinto o incenso,
Sobem as Sombras do mais fundo abismo:
O planeta estremece em cataclismo
E o próprio ar se torna turvo e denso.

Na treva, o coração se vê propenso
A dormir em sua cóclea de egoísmo,
Mas cada sístole desperta o sismo
Que abala a terra num tremor imenso.

Impera o Caos no vórtice dos deuses
E a inundação das lágrimas de Elêusis
Afoga o Panteão e o Coliseu...

E enquanto o Cosmo pulsa num espasmo,
Perplexo e confundido em seu marasmo,
O Homem se pergunta: – “Quem sou eu?”

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 2012.

08 junho 2024

A menstruação quando na cidade passava

Herberto Helder

A menstruação quando na cidade passava
o ar. As raparigas respirando,
comendo figos – e a menstruação quando na cidade
corria o tempo pelo ar.
Eram cravos na neve. As raparigas
riam, gritavam – e as figueiras soprando de dentro
os figos, com seus pulmões de esponja
branca. E as raparigas
comiam cravos pelo ar.
E elas riam na neve e gritavam: era
o tempo da menstruação.

As maçãs resvalavam na casa.
Alguém falava: neve. A noite vinha
partir a cabeça das estátuas, e as maçãs
resvalavam no telhado – alguém
falava: sangue.
Na casa, elas riam – e a menstruação
corria pelas cavernas brancas das esponjas,
e partiam-se as cabeças das estátuas.
Cravos – era alguém que falava assim.
E as raparigas respirando, comendo
figos na neve.
Alguém falava: maçãs. E era o tempo.

O sangue escorria dos pescoços de granito,
a criança abatia a boca negra
sobre a neve nos figos – e elas gritavam
na sombra da casa.
Alguém falava: sangue, tempo.
As figueiras sopravam no ar que
corria, as máquinas amavam. E um peixe
percorrendo, como uma antiga palavra
sensível, a página desse amor.
E alguém falava: é a neve.
As raparigas riam dentro da menstruação,
comendo neve. As cabeças das
estátuas estavam cheias de cravos,
e as crianças abatiam a boca negra sobre
os gritos. A noite vinha pelo ar,
na sombra resvalavam as maçãs.
E era o tempo.

E elas riam no ar, comendo
a noite,
alimentando-se de figos e de neve.
E alguém falava: crianças.
E a menstruação escorria em silêncio –
na noite, na neve –
espremida das esponjas brancas, lá na noite
das raparigas
que riam na sombra da casa, resvalando,
comendo cravos. E alguém falava:
é um peixe percorrendo a página de um amor.
antigo. E as raparigas
gritavam.

As vacas então espreitando,
e nos focinhos consumia-se o lume em silêncio.
Pelas janelas os violinos
passavam pelo ar. E a menstruação nas raparigas
escorria pela sombra, e elas
gritavam e comiam areia. Alguém falava:
fogo. E as vacas passavam pelos violinos.
E as janelas em silêncio escorriam
o seu fogo. E as admiráveis
raparigas cantavam a sua canção, como
uma palavra antiga escorrendo
numa página pela neve,
coroada de figos. E no fogo as crianças
eram tocadas pelo tempo da menstruação.

Alimentavam-se apenas de figos e de areia.
E pelo tempo fora,
riam – e a neve cobria a sua página de tempo,
e as vacas resvalavam na sombra.
Em silêncio o seu lume escorria das esponjas.
Partiam-se as cabeças dos violinos.
As raparigas, cantando as suas crianças,
comiam figos.
A noite comia areia.
E eram cravos nas cavernas brancas.
Menstruação – falava alguém. O ar passava –
e pela noite, em silêncio,

a menstruação escorria pela neve.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1964.

05 junho 2024

Auguries of innocence

William Blake

To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower,
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour.
A Robin Red breast in a Cage
Puts all Heaven in a Rage.
A dove house fill’d with doves & Pigeons
Shudders Hell thro’ all its regions.
A dog starv’d at his Master’s Gate
Predicts the ruin of the State.
A Horse misus’d upon the Road
Calls to Heaven for Human blood.
Each outcry of the hunted Hare
A fibre from the Brain does tear.
A Skylark wounded in the wing,
A Cherubim does cease to sing.
The Game Cock clipp’d and arm’d for fight
Does the Rising Sun affright.
Every Wolf's & Lion's howl
Raises from Hell a Human Soul.
The wild deer, wand’ring here & there,
Keeps the Human Soul from Care.
The Lamb misus’d breeds public strife
And yet forgives the Butcher's Knife.
The Bat that flits at close of Eve
Has left the Brain that won’t believe.
The Owl that calls upon the Night
Speaks the Unbeliever’s fright.
He who shall hurt the little Wren
Shall never be belov’d by Men.
He who the Ox to wrath has mov’d
Shall never be by Woman lov’d.
The wanton Boy that kills the Fly
Shall feel the Spider’s enmity.
He who torments the Chafer’s sprite
Weaves a Bower in endless Night.
The Catterpillar on the Leaf
Repeats to thee thy Mother’s grief.
Kill not the Moth nor Butterfly,
For the Last Judgement draweth nigh.
He who shall train the Horse to War
Shall never pass the Polar Bar.
The Beggar’s Dog & Widow’s Cat,
Feed them & thou wilt grow fat.
The Gnat that sings his Summer’s song
Poison gets from Slander’s tongue.
The poison of the Snake & Newt
Is the sweat of Envy’s Foot.
The poison of the Honey Bee
Is the Artist’s Jealousy.
The Prince’s Robes & Beggars’ Rags
Are Toadstools on the Miser’s Bags.
A truth that’s told with bad intent
Beats all the Lies you can invent.
It is right it should be so;
Man was made for Joy & Woe;
And when this we rightly know
Thro’ the World we safely go.
Joy & Woe are woven fine,
A Clothing for the Soul divine;
Under every grief & pine
Runs a joy with silken twine.
The Babe is more than swadling Bands;
Throughout all these Human Lands
Tools were made, & born were hands,
Every Farmer Understands.
Every Tear from Every Eye
Becomes a Babe in Eternity.
This is caught by Females bright
And return’d to its own delight.
The Bleat, the Bark, Bellow & Roar
Are Waves that Beat on Heaven’s Shore.
The Babe that weeps the Rod beneath
Writes Revenge in realms of death.
The Beggar’s Rags, fluttering in Air,
Does to Rags the Heavens tear.
The Soldier arm’d with Sword & Gun,
Palsied strikes the Summer’s Sun.
The poor Man’s Farthing is worth more
Than all the Gold on Afric’s Shore.
One Mite wrung from the Labrer’s hands
Shall buy & sell the Miser’s lands:
Or, if protected from on high,
Does that whole Nation sell & buy.
He who mocks the Infant’s Faith
Shall be mock’d in Age & Death.
He who shall teach the Child to Doubt
The rotting Grave shall ne’er get out.
He who respects the Infant’s faith
Triumph’s over Hell & Death.
The Child’s Toys & the Old Man’s Reasons
Are the Fruits of the Two seasons.
The Questioner, who sits so sly,
Shall never know how to Reply.
He who replies to words of Doubt
Doth put the Light of Knowledge out.
The Strongest Poison ever known
Came from Caesar’s Laurel Crown.
Nought can deform the Human Race
Like the Armour’s iron brace.
When Gold & Gems adorn the Plow
To peaceful Arts shall Envy Bow.
A Riddle or the Cricket’s Cry
Is to Doubt a fit Reply.
The Emmet’s Inch & Eagle’s Mile
Make Lame Philosophy to smile.
He who Doubts from what he sees
Will ne’er believe, do what you Please.
If the Sun & Moon should doubt
They’d immediately Go out.
To be in a Passion you Good may do,
But no Good if a Passion is in you.
The Whore & Gambler, by the State
Licenc’d, build that Nation’s Fate.
The Harlot’s cry from Street to Street
Shall weave Old England’s winding Sheet.
The Winner’s Shout, the Loser’s Curse,
Dance before dead England’s Hearse.
Every Night & every Morn
Some to Misery are Born.
Every Morn & every Night
Some are Born to sweet Delight.
Some are Born to sweet Delight,
Some are born to Endless Night.
We are led to Believe a Lie
When we see not Thro’ the Eye
Which was Born in a Night to Perish in a Night
When the Soul Slept in Beams of Light.
God Appears & God is Light
To those poor Souls who dwell in the Night,
But does a Human Form Display
To those who Dwell in Realms of day.To those who Dwell in Realms of day

Fonte (v. 87-90): Sagan, C. 1998 [1996]. O mundo assombrado pelos demônios. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1863.

03 junho 2024

Nós, os miseráveis

F. Ponce de León

Liberdade, democracia e futuro nada significam para nós, os miseráveis. São apenas iscas que visam confundir o público, como as bugigangas que as gentes ricas usam para amar os filhos.

Escapar da fome e vencer o frio são nossas urgências diárias. Inspirados em nossos próprios ancestrais, saímos todos os dias atrás daquilo que carecemos para continuar de pé e andando.

Procuramos coisas quentes e macias, capazes de sossegar estômagos, como a cera derretida de uma vela ou os farelos de um tijolo fresco. Na ausência de sobremesa, alguns até esbravejam.

À noite, ainda vivos e enfim saciados, catamos trapos, tábuas e papéis e com isso erguemos um ninho aconchegante. Nós, os miseráveis, desejamos que você também tenha um ótimo descanso!

01 junho 2024

As águas do planeta

Poh Pin Chin

Mãe das nuvens e
bisavó dos temporais,
as águas do planeta
não se cansam de evaporar.

Todos os dias, fiéis
à própria história,
elas voltam ao berço
prenhes de dor e memória.

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