Nas asas virginais da Fantasia, Entre nuvens de sonhos e desejos, Ao som da magistral polifonia De um festival de cores e de arpejos;
Vão passando, em fantástica harmonia, Em meio a tempestades e lampejos, As procissões do Amor e da Poesia – Estranhos e patéticos cortejos
De ilusões, esperanças e quimeras, Anseios de ternura incompreendida, Farrapos de emoções da mocidade,
Lembranças de passadas primaveras, Toda a existência humana resumida Num cortejo de dor e de saudade... Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus.
Houve um momento em minha vida que precisei escolher entre finalizar uma carreira orientada para a pesquisa científica ou dedicar-me à docência, atividade para a qual sentia uma natural inclinação. Para isso devia quebrar a ingênua imagem de que o único trabalho sério é o do cientista. A falsidade de tal afirmação é, hoje, evidente para mim, mas não o era tanto para o jovem que havia imaginado a si mesmo submerso em complexas equações de algum tema ‘de ponta’ da física (teórica, logicamente). Afastar-me desse caminho representava um certo nível de frustração e por isso a decisão não foi simples.
Comecei a estudar em um curso de formação de professores de Física para o nível médio. Na minha experiência, os professores da área pedagógica ignoravam as ciências naturais, e aqueles responsáveis pelas matérias específicas pareciam estar à margem das questões educacionais.
Sintetizando, o problema era que ninguém me ensinava a ensinar. Procurei respostas nos textos de ciências naturais para a escola de ensino fundamental e para o nível médio. Muitos desses livros propunham atividades engenhosas, mas também muitos expunham diversos erros conceituais. Essas duas vertentes apareciam frequentemente num mesmo texto. Fonte: Weissmann, H., org. 1998. Didática das ciências naturais. P Alegre, Artmed.
Tombar um bem é inscrevê-lo em um dos livros do ‘Tombo’ existentes no anteriormente chamado ‘Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico’ ou no livro apropriado da repartição estadual ou municipal competente.
É uma “intervenção ordenadora concreta do Estado na propriedade privada, limitativa de exercício de direitos de utilização e de disposição gratuita, permanente e indelegável, destinada à preservação, sob regime especial de cuidados, dos bens de valor histórico, arqueológico, artístico ou paisagístico”, segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto.
O Dec.-lei federal 25, de 30.11.37, em seu art. 5°, permite alargar a conceituação acima expendida, abrangendo os bens pertencentes à União, aos estados e aos municípios e não somente à propriedade privada.
Com José Cretella Júnior podemos dizer: “Se tombar é inscrever, registrar, inventariar, cadastrar, tombamento é a inscrição de bem, móvel ou imóvel, no livro público respectico”.
Os livros previstos pela legislação federal são os seguintes: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Livro do Tombo Histórico, Livro do Tombo das Belas Artes e Livro do Tombo das Artes Aplicadas. Cada um dos livros do Tombo poderá ter vários volumes. Fonte: Machado, P. A. L. 1996. Direito ambiental brasileiro, 6ª ed. SP, Malheiros.
É preciso não confundir teoria com simples verbalização. Os alunos opõem prática à teoria, quando, de fato, deveriam opor prática a verbalismo. A teoria é gerada pela prática quando a prática se sistematiza. A prática procede da teoria quando a teoria conduz, sistematicamente, à ação.
2.
É um contrassenso desprezar ‘teorias’ como coisas estéreis. A teoria é a fonte de onde nasce toda ação ordenada. A ciência é que dá ordem e coerência à ação. Sem teorias não haveria progresso, ficando o homem adstrito ao fragmentário do puro fazer. Quando a atividade não é automatizada, só pode ser coerente se guiada por uma teoria. O homo [sic] sapiens é teorético.
3.
O verbalismo generalizado nas escolas (confundido com teoria) é que fez nascer certo preconceito sobre a teoria, a suprema conquista do pensamento reflexivo. O homem que agisse sem uma base teórica seria irracional. Toda teoria precisa de um suporte verbal. [Mas] a verbalidade não é necessariamente teoria. A prática pode ser verbalizada.
4.
Quando se diz “menos teoria e mais prática”, o que se quer dizer, realmente, é: “menos verbalismo, menos magister dixit e mais experimentação”. Se dizemos “mais experimentação” exigimos “mais teoria”, uma vez que se experimenta para teorizar e se teoriza para experimentar. Fonte: Lima, L. O. 1976. A escola secundária moderna, 11ª ed. RJ, Forense Universitária.
Where the foot of the rainbow meets the field, And the grass resplendent glows, The earth will a precious treasure yield, So the olden story goes. In a crystal cup are the diamonds piled For him who can swiftly chase Over torrent and desert and precipice wild, To the rainbow’s wandering base.
There were two in the field at work, one day, Two brothers, who blithely sung, When across their valley’s deep-winding way The glorious arch was flung! And one saw naught but a sign of rain, And feared for his sheaves unbound; And one is away, over mountain and plain, Till the mystical treasure is found!
Thorough forest and stream, in a blissful dream, The rainbow lured him on; With a siren’s guile it loitered awhile, Then leagues away was gone. Over brake and brier he followed fleet; The people scoffed as he passed; But in thirst and heat, and with wounded feet, He nears the prize at last.
It is closer and closer – he wins the race – One strain for the goal in sight: Its radiance falls on his yearning face – The blended colors unite! He laves his brow in the iris beam – He reaches – Ah woe! the sound From the misty gulf where he ends his dream, And the crystal cup is found!
’Tis the old, old story: one man will read His lesson of toil in the sky; While another is blind to the present need, But sees with the spirit’s eye. You may grind their souls in the self-same mill, You may bind them, heart and brow; But the poet will follow the rainbow still, And his brother will follow the plough. Fonte (últimos quatro versos): Dawkins, R. 2000. Desvendando o arco-íris. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1878.
Pesquisadores encontraram nas Montanhas Brandberg, Namíbia (Sul da África), exemplares vivos de uma ordem inteiramente nova de insetos. Dessa vez, não se trata apenas de encontrar e descrever uma espécie nova ou mesmo um gênero até então desconhecido – eventos relativamente corriqueiros em entomologia –, mas de descobrir um novo padrão de organização, um jeito inteiramente novo de ver os insetos. Algo semelhante não acontecia desde 1914-1915, quando a diminuta ordem Grylloblattodea (hoje com ~25 espécies) foi estabelecida.
One Western scientist, here dubbed an ‘arrogator of the right’, Edward Teller, insisted, at first for personal intellectual reasons and later for geopolitical reasons, that a hydrogen bomb be built. Using tactics of exaggeration and even smear, he successfully manipulated the policy-making process for five decades, denouncing all manner of arms control measures and promoting arms-race- escalating programs of many kinds.
The Soviet Union, hearing of his H-bomb project, built its own H-bomb. As a direct consequence of the unusual personality of this particular individual and of the power of the H-bomb, the world may have risked a level of annihilation that might not otherwise have transpired, or might have come later and under better political controls.
If so, no scientist has ever had more influence on the risks that humanity has run than Edward Teller, and Teller's general behavior throughout the arms race was reprehensible, as is described within. Meanwhile, inside the Soviet Union, among the Russian atomic scientists, only Peter Kapitsa could opt out of bomb construction without dire consequences and even that was at the cost of seven years of house arrest. But the much younger Andrei Sakharov, as his political consciousness grew, managed to push the evolving envelope of his political and moral possibilities throughout his life.
Two Western atomic scientists, Leo Szilard and Niels Bohr, especially preoccupied themselves with issues of post World War II policy and encouraged others to do so. A significant fraction of the rest of the world's atomic scientists joined them then, or later, in political agitation and education, nationally and internationally, to control the atom. In particular, of course, this community of scientists of conscience created and nurtured our organization, FAS.
Together, these non-arrogating scientists played an important role in the preservation of the peace, and in the struggle against proliferation of nuclear weapons. But they could not prevent the creation of unnecessarily large weapons (such as the H-bomb) or the endless multiplication of nuclear weapons of all kinds.
God only knows how all of these scientists should be ultimately judged. But we can, at least, try to understand the context in which they found themselves, what they were thinking and what they were trying to do. Fonte (em port.): Sagan, C. 1998 [1996]. O mundo assombrado pelos demônios. SP, Companhia das Letras. Artigo originalmente publicado em 1994.
Seguimos pelo escuro... De mansinho, Pé aqui, pé ali, seguindo vamos. Que importa o mundo, se nos adoramos, Se o ódio humano não vale um teu carinho?
Mais nos unimos quanto mais andamos, E tudo o que tu pensas adivinho. Alumiam teus olhos o caminho E mais seguimos e nos estreitamos.
Pelas trevas é tudo um mar de rosas. Ai! quem nos diz se a luz não nos aguarda De improviso passagens perigosas!
Queres voltar? Hesitas? Desta sorte Mais unidos sigamos e não tarda Que eu ache a vida em sua própria morte. Fonte (v. 13 e 14): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1891.
Em Economy and Society, [Max] Weber [(1864-1920)] considera o governo democrático como um caso extremo, existente apenas em sociedades pequenas, relativamente primitivas. É uma anomalia histórica. A democracia direta, na qual o povo participa regularmente e exclusivamente da administração, é a única forma de governo democrático. A democracia direta existe onde se encontrem as seguintes condições:
... (1) a organização deve ser local ou, de algum outro modo, limitada em número de membros; (2) as posições sociais dos membros não devem diferir muito entre si; (3) as funções administrativas devem ser relativamente simples e estáveis; (4) contudo, deve haver um certo mínimo de desenvolvimento do treino para a determinação objetiva dos meios e fins [E & S, vol. III, p. 949].
A democracia direta confina-se a circunstâncias como, por exemplo, a aldeia de camponeses, relativamente isolada e primitiva. Uma vez que a organização ultrapasse determinado tamanho máximo e uma medida de diferenciação social tenha lugar, então a democracia direta torna-se o governo de pessoas eminentes. Fonte: Hirst, P. Q. 1977 [1976]. Evolução social e categorias sociológicas. RJ, Zahar.
Os objetivos do físico e do místico são tão diferentes quanto as suas técnicas de treinamento e pesquisa. A meta do físico é compreender e controlar a realidade física; a do místico é “estar mais em casa” no universo, compreender a realidade, ser uma parte dela e atingir a serenidade, a paz e a alegria. O fato interessante a respeito desses dois objetivos é que as técnicas empregadas por ambos os grupos estão claramente adaptadas a eles. Ambas as técnicas ‘funcionam’: o físico alcança uma compreensão e um controle sempre maiores da realidade; o místico sério relata a crença profunda de ter alcançado um estado de serenidade, de paz e de alegria e de estar mais ‘em casa’ no cosmo. Os observadores externos dos místicos relatam que estes se comportam e agem como se isso fosse verdade. Fonte: Weil, P. & mais 4. 1978. Mística e ciência. Petrópolis, Vozes.
Nesta terça-feira, 12/8, o Poesia Contra a Guerra está a completar 18 anos e 10 meses no ar.
Desde o balanço anterior – ‘225 meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Ernest Hilgard, Joseph Conrad e Paul S. Giller. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Édouard Dantan e Gabriel Ferrier.
Considerai estes ossos – tíbios, inúteis, apócrifos – que sob a lápide dormem sem prédica que os conforte.
Considerai: é o que sobra de quem lhes serviu de invólucro e agora já não se move entre as tábuas do sarcófago.
Dormem sem túnica ou toga e, quando muito, um lençol lhes cobre as partes mais nobres (as outras quedam-se à mostra,
não dos que estão aqui fora, mas dos ácidos que os roem ou do lodo que lhes molha até a polpa esponjosa).
De quem foram tais despojos tão nulos e sem memória, tão sinistros quanto inglórios em seu mutismo hiperbólico?
Onde andaram? Em que solo deitaram sêmen e prole? Foram químicos, astrólogos, remendões, físicos, biólogos?
Ou nada foram? Que importa não haja um só microscópio lhes cevado a magra forma ou a mais ínfima nódoa?
Existiram. Esse é o tópico que aqui, afinal, se aborda. E eis o faço porque, ao toque de meus dedos em seus bordos,
tais ossos como que imploram a mim que os chore e os recorde, que jamais os deixe à corda da solidão que os enforca,
nem à sanha do antropólogo que os vê, não como o espólio do que foi amor ou ódio, lascívia, miséria e glória,
mas como a lívida prova de que o sonho foi-se embora e dele só resta a escória numa urna museológica.
E então me pergunto, a sós: por que desdenhar o outrora se nele é que ecoa a voz do que, no futuro, aflora?
Não bastaria uma rótula para atestar esse cogito, ergo sum, aqui e agora, alheio a qualquer prosódia
ou língua em que se desdobre essa falácia que aposta no fundo abismo sem orlas entre o que vive e o que morre?
Baixa uma névoa viscosa sobre as pálpebras da aurora. E ali, de pé, sob a estola de um macabro sacerdote,
sagro estes ossos que, póstumos, recusam-se à própria sorte, como a dizer-me nos olhos: a vida é maior que a morte. Fonte (última estrofe): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1994.
Considere o caso hipotético de um fragmento de hábitat que abriga uma guilda formada de seis espécies de lagartos insetívoros. Suponha que desapareçam duas dessas espécies. Com duas espécies a menos, qual será o destino do restante da guilda? Mais especificamente, o que irá ocorrer com o vazio deixado para trás pelos lagartos desaparecidos? A resposta depende muito de duas forças contrastantes – uma que amplia e outra que estreita a largura do nicho.
Two separate components combine to form the niche width of a species […]. The within-phenotype component (WPC) describes the level of variation in resource use by individuals and the between-phenotype component (BPC) describes variation amongst individuals of the species population. Total niche width (B) is given by WPC + BPC. If B is 100% BPC, the species will be polymorphic with specialists, whereas if B is 100% WPC, the species will be monomorphic with generalists. Obviously real populations will lie somewhere in between […]. Fonte: Giller, P. S. 1984. Community structure and the niche. Londres, Chapman.
Karl Marx, com sua moralidade rigorosa e seu ponto de vista internacionalista, havia tentado guiar a Vontade germânica primitiva em direção a um movimento que conduzisse toda a humanidade à prosperidade, felicidade e liberdade. Porém, na medida em que esse movimento envolve, sob o disfarce da Dialética, um princípio semidivinizado da História, ao qual é possível transferir a responsabilidade humana pelo pensamento, pelas decisões, pela ação – e vivemos no momento um período de decadência do marxismo –, ele se presta às repressões do tirano. A corrente original da velha Vontade germânica, que permaneceu na Alemanha e continuou a ser patriótica, foi canalizada e tornou-se a filosofia do imperialismo alemão, e por fim do movimento nazista. Tanto o ramo alemão como o russo jogaram fora tudo que havia de bom no cristianismo junto com o que havia de mau. O demiurgo do idealismo alemão jamais fora um Deus do amor, nem admitia as imperfeições humanas: não recomendava ao indivíduo ser humilde nem caridoso em relação ao próximo. Karl Marx, com sua severidade do Velho Testamento, nada fez no sentido de humanizá-lo. Ele desejava que toda humanidade se tornasse unida e feliz; porém adiou esse momento até que a síntese fosse atingida, e em relação ao momento presente não acreditava na fraternidade humana. Marx estava mais próximo do que imaginava daquela Alemanha imperialista que tanto detestava. Afinal, também os nazistas alemães – que se veem como agentes de uma missão histórica – acreditam que a humanidade será feliz e unida quando toda ela for ariana e submetida a Hitler. Fonte: Wilson, E. 1987 [1940]. Rumo à Estação Finlândia. SP, Companhia das Letras.
Quando eu nasci, minha Mãe Pediu à Virgem Maria Que nunca me abandonasse E que um anjo me guiasse E uma estrela alumiasse A minha noite e o meu dia.
Respondeu-lhe a Virgem Mãe (Quem tem filhos, tem amor): – Hei-de mostrar o teu filho A Jesus Nosso Senhor.
Quando eu morrer, minha Mãe, Diz à Virgem Mãe do Céu Que Ela se esqueceu de mim, Que Ela de mim se esqueceu... Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1949.