30 setembro 2024

Sociologia sem sociólogos?

Everett C. Hughes

A Sociologia já era um movimento social antes de ser parte do contexto acadêmico. Quando houve a reunião do movimento e do contexto, que se deu na Universidade de Chicago, muito antes que qualquer outra, Robert E. Park já era um personagem central, embora não fosse um dos precursores. O caminho que seguiu para conseguir um lugar na Universidade de Chicago foi bastante estranho, mesmo para aqueles dias em que poucos daquesles que se intitulavam sociólogos conseguiam uma permissão acadêmica para tal.

Fonte: Hughes, E. C. 1971 [1969]. Robert E. Park. In: Raison, T., org. Os precursores das ciências sociais. RJ, Zahar.

28 setembro 2024

Por qué son famosos los filósofos famosos?

Bryan Magee

Dentro del mundo anglosajón, la filosofía está ausente en el bagaje intelectual de la mayor parte de la gente, incluso de la mayor parte de quienes tienen formación universitaria. Supongo que una mayoría de hombres y mujeres inteligentes, independientemente de su grado de formación, lee novelas y ve obras de teatro; tiene suficiente interés por la política como para leer los periódicos, y gracias a ello y a su experiencia laboral aprende algo de economía; muchos leen biografías y con ello aprenden algo de historia. Pero la filosofía sigue siendo un libro cerrado, excepto para los pocos que la estudian. En parte esto se debe a la profesionalización y la tecnificación en las que se ve inmerso el hombre del siglo veinte, y a la especialización que se da actualmente en todas las disciplinas – en concreto, el sistema de educación británico es susceptible de críticas en cuanto a que no proporciona una formación general a un nivel suficientemente alto. En parte se debe a que no preocuparse demasiado por las ideas abstractas es una de las cosas que más enorgullecen al anglosajón medio. Cualesquiera que sean las razones, lo cierto es que la mayoría de los anglosajones muy leídos conocen los nombres de los grandes filósofos, si saber siquiera en qué se basa su fama, por qué son famosos los filósofos famosos?

Fonte: Magee, B. 1990 [1987]. Los grandes filósofos. Madri, Cátedra.

26 setembro 2024

Após o dilúvio


Filippo Palizzi (1818-1899). Dopo il diluvio. 1867.

Fonte da foto: Wikipedia.

24 setembro 2024

Genética de populações: dois problemas

Edward O. Wilson & William H. Bossert

1. Asas vestigiais em Drosophila são controladas por um único alelo recessivo. Em determinada população, 10^–4 dos adultos têm asas vestigiais. Preveja a frequência de heterozigotos que estarão presentes nos estágios iniciais da próxima geração (isto é, antes que a seleção natural ocorra).

2. A frequência inicial de um alelo completamente recessivo em uma população é 0,5. Qual é a mudança máxima na frequência que pode ser obtida em dez gerações, caso a seleção seja o único agente seletivo envolvido?

Fonte (tradução livre): Wilson, E. O. & Bossert, W. H. 1971. A primer of population biology. Sunderland, Sinauer.

23 setembro 2024

Reservas extrativistas

Anthony B. Anderson

O movimento a favor das reservas extrativistas ganhou força após o assassinato do líder sindical Chico Mendes, em dezembro de 1988. A partir daí, as reservas extrativistas passaram a ser consideradas como novo paradigma de desenvolvimento para a região amazônica, recebendo apoio de uma ampla frente de organizações não governamentais, universidades e instituições de pesquisa, e agências de desenvolvimento dentro e fora do Brasil. Em resposta, entre 1989 e 1992, o governo brasileiro designou 3,1 milhões de hectares como reservas extrativistas nos estados do Acre, Rondônia, Amapá, Maranhão, Tocantins e Santa Catarina.

Fonte: Anderson, A. B. 1994. In: Arnt, R., org. O destino da floresta. RJ, Dumará, IEAA & FKA.

21 setembro 2024

Sobre a estatura humana

Louis René Villermé

Uma consequência importante e totalmente nova decorre do que relatei: é que não somente a saúde do homem, mas também a sua estatura dependem em parte do grau de civilização, prosperidade e sofrimento público. Na verdade, muito frequentemente os governos poderiam aumentar o tamanho médio dos homens que lhe são submissos, se por acaso usassem todo o seu poder em prol da felicidade de todos.

Fonte: Chesnais, J.-C. 1989. A vingança do Terceiro Mundo. RJ, Espaço e Tempo. Excerto extraído de obra publicada em 1829 (?).

19 setembro 2024

Ó páginas da vida que eu amava

Álvares de Azevedo

Ó páginas da vida que eu amava,
Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui! como eu pensava
Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora – é meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existência finda...
Pressinto a morte na fatal doença!...

A mim a solidão da noite infinda!
Possa dormir o trovador sem crença...
Perdoa, minha mãe – eu te amo ainda!

Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1862.

17 setembro 2024

É urgente frear o esgoto paulistano

F. Ponce de León

[O] pensamento claro e lógico é como um jogo com regras definidas e verificáveis, em que qualquer sujeito maltrapilho pode desafiar e derrotar o Mestre, enquanto no reino da confusão e do absurdo não há regras do jogo que justifiquem a queda do Mestre e uma refutação d’O Que Ele Disse.Stanislav Andreski (1919-2007).

O episódio da cadeirada em programa da TV Cultura (SP) (ver aqui), no domingo (15), é apenas o exemplo mais recente de uma longa trajetória de horrores promovidos pelo maior mercado publicitário do país.

Cínica, provinciana e preguiçosa, a mídia paulistana nada mais é do que isto: o reflexo de um mercado movido pela grilagem. O leitor mais desavisado talvez não saiba, mas quem hoje dá as cartas nos grandes veículos de imprensa não são jornalistas; são especuladores, banqueiros e outros parasitas que vivem a ganhar dinheiro na mão grande. (O cinismo, claro, não se restringe à direita. Tem sítio informativo que se denomina progressista, mas que vive a defender a Petrobras todo santo dia, como se isso equivalesse a defender a classe trabalhadora ou a população brasileira. Não custa lembrar: assim como a Shell, a Exxon, a BP e tantas outras, a Petrobras é uma petroleira. E assim como as mineradoras e a indústria de armas, as petroleiras são inimigas da humanidade. Infelizmente é isto: até mesmo alguns dos veículos ditos alternativos vivem do bom e velho noticiário patrocinado, a exemplo do que fazem há décadas a Folha, o Estadão e a Rede Globo.)

Uma prova cabal do cinismo das emissoras de TV emerge da própria composição da bancada de candidatos e entrevistadores que são convidados a participar desses falsos debates. (A rigor, a TV brasileira – Globo à frente – só promove circo. Não há nem nunca houve qualquer preocupação séria com debate pré-eleitoral.)

Um misto de hacker, coach, pastor, malandro e amigo do alheio (olhando daqui, os termos me parecem sinônimos), o sujeito que levou a cadeirada simplesmente não devia estar ali. Por quê? Ao menos por dois motivos. O primeiro deles, digamos, é um motivo formal: o partido ao qual ele está afiliado não tem a representatividade mínima exigida por lei. O segundo é um motivo mais efetivo: além de ser um candidato desprovido de propostas e nada preocupado em discutir ideias, ele é apenas e tão somente um piromaníaco a promover incêndios diante das câmeras. E é aí que reside o cinismo e, ao mesmo tempo, a irresponsabilidade da mídia: como incêndios dão audiência, as emissoras ficam a correr atrás do sujeito.

CODA.

20% da população brasileira vivem no estado de São Paulo. Um quarto disso (5%) está concentrado na capital do estado. Em outras palavras, 95% da população brasileira estão livres do esgoto paulistano. Todavia, como a pauta dos noticiários é imposta pelo mercado publicitário, a esmagadora maioria dos brasileiros é forçada a ver, ouvir e cheirar os gases que emanam todos os dias da cidade de São Paulo.

E os gases emanam por vários poros. Tem a TV Cultura, claro, mas ainda tem coisa bem pior, como o SBT, a Record, a Bandeirantes e, claro, a Globo. (Há poros menores, como a Gazeta e a Rede TV, mas esses, ao que parece, são de alcance mais restrito.)

O fato é: ou o país dá um jeito no esgoto paulistano ou o esgoto paulistano vai contaminar o país inteiro.

(Pessoalmente, tenho muitas saudades de quando a Erundina era a prefeita da cidade. Ela não é candidata nem há outra Erundina para São Paulo. Em compensação, algumas cidades pelo país afora estão a abrir os olhos e vão eleger ou reeleger mulheres. Porto Alegre, por exemplo, tem chance de escolher para prefeita não só um dos mais combativos parlamentares em atividade hoje, mas também uma das mulheres mais bonitas do país.)

* * *

16 setembro 2024

Descanso


Ernest Ange Duez (1843-1896). En repos. 1891.

Fonte da foto: Wikipedia.

14 setembro 2024

Mutilação genital

Desmond Morris

A razão médica dada em favor da remoção do prepúcio é que tal operação elimina certos perigos (extremamente raros) de doença. Estes só ocorrem, porém, se o adulto não mutilado deixa de manter o pênis razoavelmente limpo pelo simples ato de puxar para trás o prepúcio e lavar a ponta do membro. Se isso é feito regularmente, não há, de acordo com as autoridades médicas, maior risco para um circunciso do que para um não circunciso. Já que a grande maioria das remoções de prepúcio não é realizada por motivos religiosos, e já que quase não vale a pena considerar os fundamentos médicos, a verdadeira razão dos milhares de mutilações sexuais causadas em bebês a cada ano continua sendo um mistério. Considerada recentemente por um médico norte-americano como ‘o estupro do falo’, parece ser um remanescente do nosso distante passado cultural. Desde tempos remotos é um hábito comum na maioria das tribos africanas e foi adotado pelos antigos egípcios, cujos sacerdotes-médicos faziam questão que nenhum macho de respeito retivesse seu prepúcio. Por causa do estigma social ligado ao prepúcio, os judeus adotaram dos egípcios o ritual da circuncisão e o fizeram ainda mais obrigatório para os fiéis da sua religião. Ao tornar-se uma ‘lei’ religiosa ou social, a significação original da operação já tinha sido esquecida, e não é fácil hoje em dia remontar à fonte. Mesmo entre as tribos africanas, onde faz parte das complexas cerimônias de iniciação, é conhecida como ‘o costume’, porém várias explicações foram dadas por modernos pesquisadores. Uma hipótese diz que o prepúcio era considerado um atributo feminino, presumivelmente porque cobria a cabeça do órgão masculino da mesma forma que os lábios vulvares cobrem a abertura genital feminina. Pelo mesmo argumento, o clitóris da fêmea era considerado um órgão masculino, de modo que quando meninos e meninas chegavam à maturidade sexual ficavam mais conformes seu sexo quando se lhes extraíam os ofensivos atributos do sexo oposto.

Fonte: Morris, D. 1974. Comportamento íntimo. RJ, José Olympio.

13 setembro 2024

Pair relations within group life

Yoshiaki Itô

Early man probably lived in groups in which sexual relations were not constant but, contrary to the idea of primitive promiscuity expressed by L. H. Morgan and F. Engels, the monogamous relation might have been established for a sufficiently long time subsequently to permit the development of prolonged parental care. This is supported by the investigation of present-day primitive societies of man. If this was the case when did the conflict between the family and the group explicit in the proposition of Espinas disappear? The gorilla with a strong polygynous tendency does not form a multi-male group while the chimpanzee that forms large groups shows no fixed pair relations. To provide for young for an extended period of parental care without the participation of the male, the female chimpanzees have had to develop post-parturition anoestrus of at least three years […]. This is accompanied by a lowering of the intrinsic rate of natural increase, r, of the population. The key to the success of man might have been the duality of group life and monogamous life which prevented the lowering of r. How this was made possible is still unknown, but if would be interesting in this connection to re-examine the society of the wolf which maintains pair relations within group life – including adoption and nursing of puppies from different families within the group.

Fonte: Itô, Y. 1980 [1978]. Comparative ecology. Cambridge, CUP.

12 setembro 2024

17 anos e onze meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quinta-feira, 12/9, o Poesia Contra a Guerra está a completar 17 anos e onze meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘17 anos e dez meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: John Ashbery, Karl Marx, Leonard B. Kirschner, Matthew Prior, Philip Henry Gosse e Stanislav Andreski. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Georges Clairin e Jean Baptiste Benjamin Constant.

11 setembro 2024

O ar puro do inferno

F. Ponce de León

Não, não estamos no verão. Estamos em setembro, o último mês do inverno. No fim do mês, terá início a primavera e aí, três meses depois, no fim de dezembro, terá início o verão. Sim, o verão só começa em dezembro.

Todo ano é a mesma coisa: verão (dezembro a março), outono (março a junho), inverno (junho a setembro) e primavera (setembro a dezembro). E daí é verão de novo e o ciclo recomeça. Não fui eu quem inventou isso. É assim há milhares de anos.

Um parêntesis: o verão de 2025 promete! Sim, a julgar pelos patrocinadores conhecidos – e.g., petroleiras (Shell, Exxon, BP, Petrobras etc.) e o agronegócio (soja, cana-de-açúcar, gado etc.) –, a temporada de esportes radicais na TV vai ser quente. Alguns recordes históricos deverão ser quebrados.

Mas, voltemos ao tema principal.

O AR PURO DE SÃO PAULO.

Ontem, 10/9, pelo segundo dia consecutivo, a cidade de São Paulo foi notícia no mundo todo. O motivo? A pureza do ar. Além dos meandros fluviais ajardinados que emolduram a cidade, eis que o ar puro é agora também tema para as redações escolares.

Não foi fácil chegar até aqui. Muita árvore tóxica e perigosa teve de ser destruída. Muita vegetação ribeirinha e muitos quintais de terra tiveram de ser cimentados. Muito campo de terra teve de virar centro comercial. Não foi acidente nem foi da noite para o dia. Foi um trabalho miúdo, silencioso, deliberado. E muita gente colaborou.

Todavia, embora muitas pessoas físicas tenham participado do negócio, não há como negar que as grandes empresas (públicas ou privadas, nacionais ou multinacionais) assumiram para si a parte mais pesada do empreendimento. Quem não interveio diretamente, ajudou no patrocínio. Assim, para ser justo, caberia mencionar aqui ao menos alguns dos setores que mais se destacaram.

Tivemos, por exemplo, a Febraban, sempre tão preocupada com o bem-estar da nossa população em situação de rua. E mais: a Fiesp e a indústria da construção civil, incluindo a nobre indústria do cimento; as imobiliárias e os cartórios; as petroleiras, as redes de postos de gasolina e a querida indústria automobilística, pioneira no uso da mão de obra que nunca faz greve. Por último, mas não menos importante, caberia um lugar de honra aos ilusionistas de dupla jornada – aquela turma boa e bonita que de dia ganha dinheiro na bolsa de valores e, à noite, dita os juros do Banco Central e a pauta dos nossos premiadíssimos veículos de imprensa (Folha, Estadão, Veja etc.).

Parabéns e obrigado a todos pelo trabalho.

CODA.

O ar puro da cidade de São Paulo é hoje uma demonstração cabal de que os programas de modernização da pilhagem, iniciados lá atrás, ainda no primeiro governo FHC (1995-1998), o mais intrépido e visionário dos presidentes que este país já teve, deram mais do que certo. Outras metrópoles brasileiras já estão atrás da fórmula paulistana.

De resto, pensando ainda na cidade de São Paulo, uma notícia de última hora: com a ajuda do governo do estado, alguns dos mais valorosos e altruístas praticantes da pilhagem – bancos de investimentos e casas de apostas – já estão a articular o próximo passo. Vem aí a modernização da saúde mental dos paulistanos. Sim, vem aí a eleição do próximo prefeito – que tal, por exemplo, eleger um sujeito que ouve Sartre enquanto corre 15 km em uma esteira ou alguém que ouve Simone de Beauvoir enquanto espanca uma prostituta?

É isso aí. O inferno está chegando e a cidade de São Paulo quer ficar com a maior fatia.

* * *

09 setembro 2024

Caminho

Camilo Pessanha

I

Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d’harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada...
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada...
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!...

Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!...

Deixai-me chorar mais e beber mais,
Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar d’encher a alma.

Fonte (última estrofe): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em 1920.

08 setembro 2024

Water and ions

Leonard B. Kirschner

It is commonly believed that living cells developed in the ocean, although it is impossible to obtain unequivocal evidence for this. Whatever the ancestral home, it seems likely that the basic chemical composition of cells has been stable through a billion or more years of evolution. The major osmotically active intracellular cation in most animal, plant, and microbial cells is K+, with Na+ and Cl– ions present at lower, usually much lower concentration. The main anionic component is polyvalent protein with some charge contributed by smaller organic anions like ATP.

Fonte: Kirschner, L. B. 1991. In: Prosser, C. L. ed. Environmental and metabolic animal physiology. NY, Wiley.

06 setembro 2024

Omphalos

Philip Henry Gosse

Já se demonstrou que, sem uma única exceção, o todo dos vastos reinos animal e vegetal deve ter sido criado – Atenção! Não digo pode ter sido e sim deve ter sido criado – segundo o princípio de um desenvolvimento pré-crônico, com registros distintamente investigáveis. Foi a lei da criação orgânica.

Pode-se argumentar que supor que o mundo foi criado com esqueletos fósseis em sua crosta – esqueletos de animais que na realidade nunca existiram – é acusar o Criador de haver formado objetos cujo único propósito era enganar-nos. A resposta é óbvia. Os anéis concêntricos de uma árvore criada foram formados unicamente para enganar-nos? As linhas de crescimento de uma concha foram feitas para enganar-nos? O umbigo do homem criado foi designado para enganá-lo na crença de que teve uma mãe?

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de livro originalmente publicado em 1857.

04 setembro 2024

Casamento de conveniência

Rui Knopfli

Meus pais não querem que ame
a quem amo.
Pretendem que me case contigo,
Juventina.
Não és boa, nem és má,
nem bela, nem feia
e dizem-te prendada e virtuosa,
mas, quanto te aborreço!,
Juventina.
Dão-me um automóvel e uma casa
pra que case contigo,
Juventina.
Tens um nome que te quadra à figura,
rapariga,
e trazes intacto o selo necessário.
Seremos na vida, como dois funcionários públicos
da mesma repartição
cujas circunstâncias obrigam a ver-se e a contactar
diariamente.
Nada mais.
Com a tua estupidez morreremos
de chatice
e levar-te-ei obrigatoriamente
ao cinema, uma vez por semana.
Aceitarás com submissão
que te mande à merda de quando em vez
e não farás muitas ondas.
Sei que não pedes mais,
é pegar ou largar,
Juventina!

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1959.

02 setembro 2024

Retrato de S. B.


Georges [Jules Victor] Clairin (1843-1919). Le portrait de Mme Sarah Bernhardt. 1876.

Fonte da foto: Wikipedia.

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