A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
30 junho 2010
O mundo dentro da pele
B. F. Skinner
Uma pequena parte do universo está contida dentro da pele de cada um de nós. Não há razão de ela dever ter uma condição física especial por estar situada dentro desses limites, e eventualmente haveremos de ter uma descrição completa dela, descrição que nos será fornecida pela Anatomia e pela Fisiologia. Todavia, no momento, não dispomos de uma descrição satisfatória e por isso parece ser mais importante que entremos em contato com ela de outras maneiras. Nós a sentido e, num certo sentido, a observamos e seria loucura negligenciar tal fonte de informação só por ser a própria pessoa a única capaz de estabelecer contato com seu mundo interior. Não obstante, nosso comportamento, ao estabelecer esse contato, precisa ser examinado. [...]
Fonte: Skinner, B. F. 1985 [1974]. Sobre o behaviorismo. SP, Cultrix.
Eu pensarei em ti depois da minha morte. Pelo começo pelo fim pelo meio tempo não é fácil dizer a minha morte entre os ciclos do ano o solstício como será a exacta posição do sol?
Depois da minha morte. Fora de toda preocupação (teórica) sem qualquer interesse dir-te-ei dá uma forma ao repouso estranho jardim meu domínio.
E se o não puder fazer? Como dois ângulos não há duas mortes iguais a morte fragmenta-se nunca dizendo
esta é a direcção da minha morte extremidade para o meu conhecimento. Respondo. Não respondo. E pensarei em ti?
Em cada animal, que não passou o limite de seu desenvolvimento, o uso mais freqüente e contínuo de qualquer órgão gradualmente fortifica, desenvolve e aumenta esse órgão, dando-lhe força proporcional ao tempo em que foi usado; assim como o desuso permanente de qualquer órgão imperceptivelmente o enfraquece e deteriora, diminuindo, progressivamente, a sua capacidade funcional até que, finalmente, desaparece.
Segunda lei
Todas as aquisições ou perdas feitas pela natureza nos indivíduos, através da influência do ambiente em que sua raça foi colocada durante longo tempo, e, portanto, através da influência do uso predominante ou do desuso permanente de qualquer órgão, são preservadas pela reprodução nos novos indivíduos que surgem, contanto que as modificações adquiridas sejam comuns aos dois sexos ou, pelo menos, aos indivíduos que produzem as crias. [...]
É interessante observar o resultado do hábito na forma e no tamanho peculiares à girafa (camelo-pardalis): esse animal, o maior dos mamíferos, mora no interior da África em lugares onde o solo quase sempre é árido e estéril, de maneira que é obrigado a pastar nas folhas das árvores e a fazer esforços constantes para alcançá-las. Desse hábito longamente mantido resultou as patas dianteiras tornarem-se mais compridas que as traseiras e o pescoço espichar de tal modo que a girafa, sem se levantar nas pernas traseiras, atinge uma altura de seis metros. [...] Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Companhia Editora Nacional & Edusp. Texto publicado em livro em 1809.
Na noite, em que o morrer começa a desfazer costuras, arranca a paisagem de gritos a ligadura negra,
Sobre Moria, a queda de rochedos para Deus, para a bandeira da faca dos sacrifícios o grito-do-filho-do-coração de Abraão, que jaz guardado na grande orelha da Bíblia.
Oh, os hieróglifos de gritos, desenhados na porta de entrada da Morte.
Corais de feridas das flautas das gargantas quebradas.
Oh, mãos com dedos de plantas-de-medo, enterradas nas jubas empinadas do sangue dos sacrifícios –
Gritos, encerrados com mandíbulas esfarrapadas dos peixes, gavinha de dor das mais pequenas crianças e da cauda do hábito soluçante dos velhos,
rasgados em azul chamuscado com rastos ardentes. Células dos presos, dos santos, forradas do padrão de pesadelo das gargantas, inferno febril na casota-do-cão da loucura de saltos agrilhoados –
É esta a paisagem de gritos! Ascensão-ao-céu de gritos, saídos das grades de ossos do corpo,
Setas de gritos, libertadas de carcases sangrentos.
Grito-aos-quatro-ventos de Job e o grito oculto no Monte das Oliveiras como um insecto prostrado de desmaio num cristal.
Ó faca de pôr-de-sol, atirada às gargantas, onde as árvores do sono lambendo saltam da Terra, onde o tempo cai junto aos esqueletos de Maidanek e de Hiroxima.
Grito de cinza de olhos de videntes cegos de martírio –
Ó olhos a sangrar no eclipse do Sol esfarrapado dependurados a secar-pra-Deus no Universo –
Fonte: Quintela, P. 1998. Obras completas, vol. 3. Lisboa, Calouste Gulbenkian. O trecho acima integra um poema mais extenso, intitulado ‘A hora de Endor’, originalmente publicado em 1954.
O vento repousando ávido sonha. Sua presa a imóvel verde distância E as flamantes papoulas E a glauca seda do mar; Os erectos cirros de fumo, As oliveiras atônitas da colina; As nuvens firmes ao amplexo dos montes E o submisso sussurrar dos bosques.
O vento repousa e ávido sonha... Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.
8. A maioria das doenças graves de que sofrem as pessoas mais afortunadas nas sociedades modernas são estados degenerativos da velhice, cânceres penosos e quase sempre fatias, e problemas cardiovasculares. Existem também outros males da velhice que, embora sem probabilidade de serem fatais (hoje em dia), são fonte de muito sofrimento e despesas médicas, tais como artrite, osteoporose, disfunções sexuais e insuficiências visual e auditiva. Esses problemas geriátricos hoje se agigantam dessa forma apenas devido aos índices anormalmente baixos de mortalidade que usufruímos na juventude e na meia-idade. Os sofrimentos na velhice são o preço que pagamos por não termos morrido na infância ou na meia-idade devorados por leões ou lombrigas. [...]
Fonte: Williams, G. C. 1998. O brilho do peixe-pônei. RJ, Rocco.
Como a vida sem caderneta como a folha lisa da janela como a cadela violeta – ou a violenta cadela?
Como estar egípcio e mudado no salão do navio de espelhos como nunca ter embarcado ou só ter embarcado com velhos
Como ter-te procurado tanto que haja qualquer coisa quebrada como percorrer uma estrada com memórias a cada canto
Como os lábios prendem o copo como o copo prende a tua mão como se o nosso louco amor louco estivesse cheio de razão
E como se a vida fosse o foco de um baço lento projector e nós dois ainda fôssemos pouco para uma tempestade de cor
Um ao outro nos fôssemos pouco meu amor meu amor meu amor Fonte (estrofes 1-4): Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema publicado em livro em 1956.
Neste sábado, 12/6, o Poesia contra a guerra completa três anos e oito meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 97.257 visitas haviam sido registradas nesse período.
Desde o balanço mensal anterior – Quarenta e três meses no ar – foram aqui publicados textos dos seguintes autores: Armando da Silva Carvalho, Ascenso Ferreira, Astrid Cabral, Edilson Martins, Geir Campos, Gil Vicente, Hyman Hartman, Leomar Fróes, Lloyd R. Peterson e Ludwig Wittgenstein. Além de outros autores que já haviam sido publicados antes.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens dos seguintes pintores: Félix Vallotton, Vasily Polenov e Viktor Vasnetsov.
O paraíso perdido, o inferno verde, a maior reserva de oxigênio do planeta, e outras expressões carregadas de ingênuo ufanismo, repetidas há mais de um século, começam a oferecer as primeiras imagens de um quadro real e nada tranqüilizador. Sob o contínuo tapete de árvores de grande porte e floresta densa há apenas uma escassa camada, em sua quase totalidade, de terra fértil, variando de três a 20 centímetros, apenas.
Fonte: Martins, E. 1981. Amazônia, a última fronteira. RJ, Codecri.
Como um braço amigo, um braço de mar – todavia indeciso entre sombra e cousa – sobre meus débeis ombros pesados pousa, trazendo o aviso para um novo zarpar já sem naufrágio tocaiando a nau frágil. Junto às caveiras dos marinheiros mortos, o binóculo inventa (calidoscópio nas sonolentas mãos dum fumante de ópio) horizontais miragens de ilhas e portos: ainda a vida, talvez, roça em mim – quando ágil vou por ela descendo, sem mais barulho que os ruídos comuns de um simples mergulho.
mas muitas criaturas sempre me disseram sabe vida que eu devia acordar cedo para dar milho pras galinhas ou botar as máquinas maravilhosas para andar pra cima do pescoço das pessoas já que era costume favorito e esporte predileto aqui na terra eu ficava tirando borboletas das gavetas e espiando as formigas ao invés de aeroplanos
Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.
É fácil esquecer informação que foi adquirida recentemente, como sabe qualquer um que tenha esquecido um nome ouvido apenas há cinco minutos, numa reunião social. Tal esquecimento pode ser aborrecido, mas parece ter sua utilidade. Podia ser perturbador, por exemplo, se nos lembrássemos de cada número de telefone que já procuramos. Considerando toda a informação que a memória efetivamente retém, é provavelmente vantajoso que algo tão desconhecido quanto um número de telefone seja lembrado o tempo suficiente para fazer uma única chamada e depois esquecido. Além disso, uma nova informação pode, usualmente, ser armazenada na memória sem grande esforço, se há alguma razão para supor que o material possa ser necessitado novamente.
A experiência comum de esquecimento, de um lado, e de retenção, de outro, sugere que a memória funciona de duas formas distintas – uma a curto prazo e outra a longo prazo. Para efeito de discussão, muitas vezes é conveniente falar de uma memória a curto prazo e de uma memória a longo prazo, embora realmente as duas pareçam estar tão intimamente relacionadas que são descritas, por alguns investigadores, como dois aspectos do mesmo fenômeno. O armazenamento a curto prazo serve bem para muitas ocasiões na vida diária. O armazenamento a longo prazo é, de fato, aprendizagem: o processo pelo qual uma informação, que possa vir a ser novamente útil, é armazenada para ser evocada quando necessário. [...]
Fonte: Peterson, L. R. 1977. Memória a curto prazo. In: Scientific American, Psicobiologia: as bases biológicas do comportamento. RJ, LTC. Artigo originalmente publicado em 1966.