30 outubro 2018

A invenção do microscópio


Ignoramos quem inventou o microscópio. O principal candidato é Zacharias Jansen, um obscuro fabricante de óculos de Middelburgo, Holanda. Sabemos que o microscópio, como os óculos e o telescópio, já se utilizava muito antes de os princípios da óptica serem compreendidos, e que provavelmente a sua descoberta foi tão acidental como a do telescópio. [...]

Já em 1625, um membro da Academia dos Linces [Itália], o médico-naturalista John Faber (1574-1629), encontrara um nome para o novo instrumento. “O tubo óptico (...) aprouve-me chamar-lhe, segundo o modelo do telescópio, um microscópio, pois permite ver coisas minúsculas.” [...]

Em 1665, Robert Hooke (1635-1703) publicou Micrographia, uma fascinante miscelânea em que expunha a sua teoria da luz e da cor e as suas teorias da combustão e da respiração, juntamente com uma descrição do microscópio e dos seus usos. [...]

O que o Sidereus nuncius de Galileu fizera pelo telescópio e pelas suas vistas celestes, fê-lo a Micrographia de Hooke pelo microscópio. [...]

[...] Em 1668, o Philosophical Transactions da Royal Society de Londres publicou um extracto de um jornal erudito italiano contando como um fabricante de lentes italiano, Eustachio Divini (1610-1685), servindo-se de um microscópio, descobrira “um animal mais pequeno do que quaisquer dos vistos até hoje”. Cinco anos depois, no calor das guerras navais anglo-holandesas, Henry Oldenburg [então editor da revista] [...] recebeu uma carta de um anatomista holandês Regnier de Graaf (1641-1673):

[...] escrevo para vos contar que uma certa e mui engenhosa pessoa daqui, chamada Leeuwenhoek, concebeu microscópios que ultrapassam em muito aqueles que até agora vimos, fabricados por Eustachio Divini e outros. [...]

Com este encorajamento, Leeuwenhoek foi atraído para uma comunidade científica onde desfrutou de 50 anos de comunicação com um mundo de colegas invisíveis. [...]

Fonte: Boorstin, D. J. 1989. Os descobridores. 2ª ed. RJ, Civilização Brasileira.

28 outubro 2018

Náufrago


E temo, e temo tudo, e nem sei o que temo.
Perde-se o meu olhar pelas trevas sem fim.
Medonha é a escuridão do céu, de extremo a extremo...
De que noite sem luar, mísero e triste, vim?

Amedronta-me a terra, e se a contemplo, tremo.
Que mistério fatal corveja sobre mim?
E ao sentir-me no horror do caos, como um blasfemo,
Não sei por que padeço e choro e anseio assim.

A saudade tirita aos meus pés: vai deixando
Atrás de si a mágoa e o sonho... E eu, miserando,
Caminho para a morte alucinado e só.

O naufrágio, meu Deus! Sou um navio sem mastros.
Como custa a minha alma transformar-se em astros,
Como este corpo custa a desfazer-se em pó!

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1902.

25 outubro 2018

As cidades e os micróbios


No ano 6000 a.C., havia menos pessoas na Terra do que as que hoje habitam Nova York ou Tóquio. Os habitantes pré-históricos, aproximadamente 30 milhões, espalhavam-se pelas enormes extensões do planeta, sempre procurando as áreas mais quentes. Poucos se arriscavam a sair do local em que nasciam. [...]

Nos 4 000 anos seguintes, a população humana cresceu lentamente. As pessoas se congregavam em torno de rios, portos de mar e lugares onde existiam ricas fontes de alimentos. Surgiram rotas comerciais ligando os incipientes centros urbanos, e os habitantes das cidades prosperaram em parte como resultado de atividades comerciais e em parte com os tributos que impunham aos moradores mais pobres da zona rural. [...]

No ano 5 a.C., os habitantes de Roma, cerca de 1 milhão, consumiam 6 000 toneladas de cereais por semana. Após a queda do Império Romano, durante 1 800 anos nenhuma cidade voltaria a ter uma população tão grande, a não ser quando Londres tornou-se a maior metrópole da história até aquela época.

As cidades proporcionavam aos micro-organismos um grande número de oportunidades não encontradas na zona rural. Quanto mais Homo sapiens por quilômetro quadrado, mais facilmente um micro-organismo passava de um ser humano desafortunado para outro. As pessoas transmitiam agentes responsáveis por doenças de mil maneiras, a cada minuto do dia, quando se tocavam ou respiravam uns próximos aos outros, ao preparar alimentos, ao defecar ou urinar nos depósitos de água que serviam a outros propósitos, ao viajar para lugares distantes levando junto os micro-organismos, ao construir centros para atividade sexual que permitiam aos micróbios explorar outro meio de transmissão, ao produzir imensas quantidades de resíduos que podiam servir de alimento para vetores roedores e insetos, ao represar cursos-d’água e inadvertidamente deixar cisternas de água de chuva se transformarem em locais de reprodução de mosquitos transmissores de doenças [...].

Em resumo, as cidades eram paraísos para os micróbios ou, como dizia o bioquímico inglês John Cairns, ‘sepulturas da humanidade’. Os flagelos mais devastadores do passado atingiam dimensões alarmantes apenas quando os micróbios alcançam os centros urbanos, onde a densidade demográfica instantaneamente ampliava qualquer doença contagiosa de pequena proporção, originada nas províncias, e os micróbios conseguiam explorar as novas ecologias urbanas e criavam doenças inteiramente novas.

Fonte: Garrett, L. 1995. A próxima peste. RJ, Nova Fronteira.

23 outubro 2018

When Malindy sings

Paul Laurence Dunbar

G’way an’ quit dat noise, Miss Lucy –
  Put dat music book away;
What’s de use to keep on tryin’?
  Ef you practise twell you’re gray,
You cain’t sta’t no notes a-flyin’
  Lak de ones dat rants and rings
F’om de kitchen to be big woods
  When Malindy sings.

You ain’t got de nachel o’gans
  Fu’ to make de soun’ come right,
You ain’t got de tu’ns an’ twistin’s
  Fu’ to make it sweet an’ light.
Tell you one thing now, Miss Lucy,
  An’ I’m tellin’ you fu’ true,
When hit comes to raal right singin’,
  ’T ain’t no easy thing to do.

Easy ’nough fu’ folks to hollah,
  Lookin’ at de lines an’ dots,
When dey ain’t no one kin sence it,
  An’ de chune comes in, in spots;
But fu’ real melojous music,
  Dat jes’ strikes yo’ hea’t and clings,
Jes’ you stan’ an’ listen wif me
  When Malindy sings.

Ain’t you nevah hyeahd Malindy?
  Blessed soul, tek up de cross!
Look hyeah, ain’t you jokin’, honey?
  Well, you don’t know whut you los’.
Y’ ought to hyeah dat gal a-wa’blin’,
  Robins, la’ks, an’ all dem things,
Heish dey moufs an’ hides dey face.
  When Malindy sings.

Fiddlin’ man jes’ stop his fiddlin’,
  Lay his fiddle on de she’f;
Mockin’-bird quit tryin’ to whistle,
  ’Cause he jes’ so shamed hisse’f.
Folks a-playin’ on de banjo
  Draps dey fingahs on de strings –
Bless yo’ soul – fu’gits to move em,
  When Malindy sings.

She jes’ spreads huh mouf and hollahs,
  “Come to Jesus,” twell you hyeah
Sinnahs’ tremblin’ steps and voices,
  Timid-lak a-drawin’ neah;
Den she tu’ns to “Rock of Ages,”
  Simply to de cross she clings,
An’ you fin’ yo’ teahs a-drappin’
  When Malindy sings.

Who dat says dat humble praises
  Wif de Master nevah counts?
Heish yo’ mouf, I hyeah dat music,
  Ez hit rises up an’ mounts –
Floatin’ by de hills an’ valleys,
  Way above dis buryin’ sod,
Ez hit makes its way in glory
  To de very gates of God!

Oh, hit’s sweetah dan de music
  Of an edicated band;
An’ hit’s dearah dan de battle’s
  Song o’ triumph in de lan’.
It seems holier dan evenin’
  When de solemn chu’ch bell rings,
Ez I sit an’ ca’mly listen
  While Malindy sings.

Towsah, stop dat ba’kin’, hyeah me!
  Mandy, mek dat chile keep still;
Don’t you hyeah de echoes callin’
  F’om de valley to de hill?
Let me listen, I can hyeah it,
  Th’oo de bresh of angels’ wings,
Sof’ an’ sweet, “Swing Low,
   Sweet Chariot,”
Ez Malindy sings.

Fonte (estrofes 1-2): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições. Poema publicado em livro em 1896.

21 outubro 2018

Lucie e seu parceiro


Kees van Donge (1877-1968). Lucie en haar partner. 1911.

Fonte da foto: Wikipedia.

19 outubro 2018

L’Andalouse

Alfred de Musset

Avez-vous vu, dans Barcelone,
Une Andalouse au sein bruni?
Pâle comme un beau soir d’automne,
C’est ma maîtresse, ma lionne!
La marquesa d’Amaëgui.

J’ai fait bien des chansons pour elle;
Je me suis battu bien souvent.
Bien souvent j’ai fait sentinelle,
Pour voir le coin de sa prunelle,
Quand son rideau tremblait au vent.

Elle est à moi, moi seul au monde.
Ses grands sourcils noirs sont à moi,
Son corps souple et sa jambe ronde,
Sa chevelure qui l’inonde,
Plus longue qu’un manteau de roi!

C’est à moi son beau col qui penche
Quand elle dort dans son boudoir,
Et sa basquina sur sa hanche,
Son bras dans sa mitaine blanche,
Son pied dans son brodequin noir!

Vrai Dieu! Lorsque son oeil pétille
Sous la frange de ses réseaux,
Rien que pour toucher sa mantille,
De par tous les saints de Castille,
On se ferait rompre les os.

Qu’elle est superbe en son désordre,
Quand elle tombe, les seins nus,
Qu’on la voit, béante, se tordre
Dans un baiser de rage, et mordre
En criant des mots inconnus!

Et qu’elle est folle dans sa joie,
Lorsqu’elle chante le matin,
Lorsqu’en tirant son bas de soie,
Elle fait, sur son flanc qui ploie,
Craquer son corset de satin!

Allons, mon page, en embuscades!
Allons! la belle nuit d’été!
Je veux ce soir des sérénades
A faire damner les alcades
De Tolose au Guadalété!

Fonte (versos 1-2): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1829.

17 outubro 2018

Diferenciação celular

Marcelo Carnier Dornelas

Análises clonais fornecem informação sobre os destinos celulares, mas não necessariamente indicam se as células serão ou não programadas para assumir um destino específico. Tem-se demonstrado que células, tecidos e órgãos são determinados quando eles possuem o mesmo destino in situ, quando isolados do resto do corpo da planta e quando implantados numa nova posição no corpo do organismo. Análises clonais demonstraram que células que se dividem em um plano errado e que ‘se movem’ para uma camada diferente de tecido se diferenciam de acordo com a sua nova posição. Posição, e não origem clonal parece ser o fator crítico para a formação de padrão durante a embriogênese, sugerindo a existência de algum tipo de comunicação intercelular. Experimentos de microcirurgia em embriões somáticos de cenoura demonstraram que pedaços isolados podem frequentemente substituir partes faltantes complementares. Um cotilédone removido do ápice caulinar, no início do desenvolvimento, pode ser substituído; ápices caulinares removidos do embrião podem ser substituídos por outros; eixos caulinares isolados podem regenerar raízes de novo; tecidos de raiz podem regenerar cotilédones, mas são menos propensos a regenerar o eixo caulinar. Embora a maior parte dos tecidos embrionários sejam pluripotentes e possam regenerar órgãos como os cotilédones e folhas, apenas os meristemas retêm esta característica durante o desenvolvimento pós-embrionário.

Fonte: Dornelas, M. C. 2003. In: Freitas, L. B. & Bered, F., orgs. Genética & evolução vegetal. Porto Alegre, Editora da UFRGS.

15 outubro 2018

Limpo e reto


1.
Sou limpo. Gosto de limpeza. Lavo as mãos sempre, sobretudo no verão. Também sou reto. A retidão é para mim a maior das virtudes de um ser humano. Deve ser por isso que eu gosto de linhas retas. E de soldados perfilados, marchando em sincronia. Uniformes limpos e vistosos. Coturnos pretos ressoando contra o chão. Homens fortes e corados, e seus rifles reluzentes. Lembro como se fosse hoje: a voz do sargento a ecoar pelo pátio onde treinávamos para o desfile de 7 de setembro. A retidão é a virtude que nos separa das feras, dos gabirus, dos pobres. Odeio pobreza, a irmã mais velha da bagunça e da sujeira. Os homens retos – os Escolhidos – devem ouvir o Chamado, unindo forças contra essas três irmãs que hoje ameaçam a integridade do mundo. Vadias infiéis e oportunistas.

2.
Quando eu era pequeno, as crianças zombavam de mim no recreio. Algumas me chamavam de xis, por causa das pernas tortas. Outras me chamavam de mulherzinha, por conta do meu hábito de ficar em sala, na hora do recreio, a escrever cartas... Perdi a vontade de me enturmar. E nunca beijei uma garota. Até que eu me casei. Foi quando eu passei a colecionar mulheres. Faço com elas o que aquelas crianças fizeram comigo. Vingança. Olho por olho, dente por dente – não é o que diz a Bíblia? E é o que eu tenho feito nos últimos anos. Às vezes, uma ou outra até grita mais alto ou tenta fugir, mas eu sou mais forte e sempre dou um jeito. Quando tudo termina, eu sei me livrar das pistas. E lavo bem as mãos e troco de roupa. E assim eu tenho me mantido limpo. Limpo e reto.

13 outubro 2018

O canal


Giovanni [Battista Emanuele Maria] Segantini (1858-1899). Il naviglio a ponte san Marco. 1880.

Fonte da foto: Wikipedia.

12 outubro 2018

Aniversário de 12 anos

F. Ponce de León

Hoje, 12/10, o Poesia contra a guerra completa 12 anos no ar (2006-2018).

Nos últimos 12 meses, foram publicados aqui textos de 86 novos autores, além de outros que já haviam sido publicados antes – ver ‘Aniversário de 11 anos’ e balanços anteriores. Eis a lista de estreantes:

A. R. Ammons, Aco Šopov, Ademar Ribeiro Romeiro, Algernon Charles Swinburne, André Prous, Ariano Suassuna, Armin Heymer, Arthur Rimbaud & Artur Gonçalves Ferreira;

Charu Sudan Kasturi, Clodoaldo de Alencar, Cuti & Cyro Armando Catta Preta;

Dámaso Alonso, David C. Lay, David Savold & Douglas C. Montgomery;

Émile Verhaeren;

Francis Bowen;

George C. Runger, Glenn Gould & Gonçalves Crespo;

Hélio Fraga, Henriques do Cerro Azul & Humberto Werneck,

Isaías Pessotti,

Jacob Gorender, James McConnell, Jennifer C. McElwain, Jessica Brown, Joan Brossa, João Garcia de Guilhade, João Rubens Zinsly, Jonathan Howard, John Dryden, John Hersey, José Geraldo, José Jeronymo Rivera, José Nilo Tavares, Josué Camargo Mendes & Judith Wright;

Katherine J. Willis, Kenitiro Suguio & Kori Bolivia;

Leda Maria Martins, Lewis Wolpert, Lino Guedes, Lucille Clifton & Luis de Góngora;

M. Mitchell Waldrop, Magalhães de Azeredo, Manfred Eigen, Márcio Catunda, Marinês Eiterer, Michael Kennedy, Michael Robbins, Michael Talbot & Michel Serres;

Nigel Ashworth Barnicot;

Orígenes Lessa, Oswaldo de Camargo & Otto Jahn;

Pai Gomes Charinho, Paulo C. Abrantes & Pavol Országh Hviezdoslav;

Ransom Riggs, René Char, Richard N. Hardy, Richard Wettstein, Robert Chambers, Roberto Gomes da Silva & Robin M. Henig;

São Mateus, Samuel Sewall, Samuel Wilberforce, Shirley Ferreira, Sonia Maria Brazil Romero & Stefan Cunha Ujvari;

Thomas Carew, Thomas Lovell Beddoes, Theotonio dos Santos & Tito Iglesias;

Uko Suzuki;

Viriato Gaspar; e

William Cowper & William Ernest Henley.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras de 30 novos pintores, a saber: Adelsteen Normann, Adolph von Menzel, Anna Elizabeth Klumpke & Arthur Streeton; Bruno Liljefors; Carl d’Unker, Chaïm Soutine, Charles-Émile Jacque & Cornelis van Dalem; Elías García Martínez & Eugen Dücker; Félix Buhot, Francesco Squarcione & Fujishima Takeji; George Hitchcock, Giacomo Grosso & Giuseppe Pellizza da Volpedo; Heinrich Vogeler; James Nairn, Jan Matejko & Jean-Victor Bertin; Letitia Marion Hamilton & Luca Giordano; Matteo Olivero; Parmigianino; Roderic O’Conor & Rosa Bonheur; Théo van Rysselberghe & Thomas William Roberts; e William Powell Frith.

07 outubro 2018

Nevoeiro


A cidade caía
casa a casa
do céu sobre as colinas,
construída de cima para baixo
por chuvas e neblinas,
encontrava
a outra cidade que subia
do chão com o luar
das janelas acesas
e no ar
o choque as destruía
silenciosamente,
de modo que se via
apenas a cidade inexistente.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1968.

04 outubro 2018

O paladar entre os vertebrados

Sonia Maria Brazil Romero

Os receptores de gosto, nos vertebrados, estão localizados nos botões gustativos. [...] [E]stes botões são compostos por células receptoras secundárias dotadas de microvilosidades em sua extremidade, células de sustentação e células basais que dão origem às novas células receptoras. Estas últimas, por não serem células nervosas, fazem sinapse com fibras aferentes de neurônios sensoriais.

Na maioria dos vertebrados, os receptores de gustação são encontrados na língua, na epiglote, na parte posterior da boca, na faringe e no esôfago superior. [...] Em anfíbios e peixes, podem se distribuir sobre a pele, sendo muito abundantes na superfície do corpo em bagres e carpas. Nos peixes, os botões podem ser encontrados ainda nas brânquias e nadadeiras.

O paladar está presente nos diferentes níveis da evolução dos vertebrados. Nos mamíferos, quatro sensações primárias podem ser distinguidas pelos botões gustativos: doce, amargo, azedo e salgado. Aves, répteis e anfíbios têm um sentido de gustação pobremente desenvolvido, embora rãs e sapos respondam, segundo alguns autores, a sal e ácido. Alguns peixes respondem às quatro qualidades – ácido, sal, açúcar e quinino –, mas respondem melhor às duas primeiras.

Fonte: Romero, S. M. B. 2000. Fundamentos de neurofisiologia comparada. Ribeirão Preto, Holos.

02 outubro 2018

É verdade eça manxete


Estamos na derradeira semana da campanha eleitoral. Está na hora da fervura: a grande imprensa brasileira precisa tirar a mão do bolso e fazer o que faz melhor – embromation.

Pois bem. Pensando em ajudar a conter a avalanche eleitoral que se avizinha, deixo aqui algumas sugestões de manchetes a serem usadas ao longo da semana pelos arautos da democracia e do mundo livre. Senhores editores, não se envergonhem. Fiquem à vontade: é Crt-C + Crt-V.

Aí vão 13 sugestões:

(1) “Em depoimento à Lava Jato, amigo do ex-presidente revela que Lula já cuspiu na calçada”.

(2A) “Veterinário da UnB encontra gato morto no Paranoá, perto da residência de um amigo do ex-presidente Lula”. No dia seguinte: (2B) “Gato encontrado morto no Paranoá, perto da mansão de um amigo do ex-presidente Lula, pode ter sido sacrificado em ritual satânico”.

(3) “Arqueólogo da USP encontra cofre do século 19 em Garanhuns, terra do ex-presidente Lula, com 20 mil patacas em barras de ouro. Lava Jato vai investigar”.

(4) “Teste de laboratório deu positivo para sangue em jaqueta encontrada em distrito perto de São Paulo, terra natal de Fernando Haddad”.

(5A) “Rábula que teve as duas pernas quebradas em partida de futebol no fim de semana era rival de Fernando Haddad nos tempos de faculdade”. No dia seguinte: (5B) “Ao sair do pronto-socorro, ex-professor de Fernando Haddad disse aos repórteres que jamais votaria nele para presidente”.

(6A) “O sr. Massad [nome fictício], porteiro de um prédio residencial no centro de Beirute, terra natal da família de Fernando Haddad, disse aos repórteres que jamais votaria no candidato do PT para presidente do Líbano”. No dia seguinte: (6B) “Porteiro reafirma que o candidato do PT, Fernando Haddad, não tem condições de governar o país”.

E não nos esqueçamos dos ex-guerrilheiros:

(7A) “Funcionários da CEMIG encontraram linha com cerol em poste de luz em distrito perto de BH, ao lado da casa de um amigo da ex-presidente Dilma Rousseff”. No dia seguinte: (7B) “Motorista alcoolizado é vítima do poste citado ontem em matéria sobre a ex-presidente Dilma”.

(8) “Criminalista identificou digitais de um foragido da PF em maçaneta de casa em distrito perto de BH, terra natal do governador Fernando Pimentel”.

(9) “Exibicionista sexual detido no fim de semana em BH é primo do vizinho de um amigo do governador Fernando Pimentel”.

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