29 abril 2021

Berço

B. Lopes

Recordo: um largo verde e uma igrejinha.
Um sino, um rio, um pontilhão, e um carro
De três juntas bovinas, que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro...

Havia a escola, que era azul e tinha
Um mestre mau, de assustador pigarro...
(Meu Deus! que é isto? que emoção a minha
Quando estas cousas tão singelas narro?)

Seu Alexandre, um bom velhinho rico,
Que hospedara a Princesa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra...

Com o seu nome de amor Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança
Da minha pobre e pequenina terra!

Fonte (primeira estrofe): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1901. ‘B. Lopes’ é assinatura literária de Bernardino [da Costa] Lopes.

27 abril 2021

No ritmo atual, o país irá contabilizar 16,5 milhões de casos e 491 mil mortes até 30/5

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes). Entre 19 e 25/4, essas taxas ficaram em 0,40% (casos) e 0,66% (mortes). Foi a segunda semana consecutiva em que ambas declinaram juntas, algo que não ocorria desde novembro. A taxa de crescimento no número de casos está a cair (ainda que de modo tortuoso) desde a primeira semana de março. O impacto de tal tendência estaria agora a se fazer notar na taxa de crescimento no número de mortes. Infelizmente, porém, os valores atuais ainda estão bem acima dos mínimos registrados entre outubro e novembro. No ritmo atual, o país irá contabilizar 16.506.147 casos e 491.150 mortes até o último domingo de maio (30/5).

*

1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas na manhã desta segunda-feira (26/4) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 78% dos casos (de um total de 147.272.345) e 81% das mortes (de um total de 3.111.298) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,2%. A taxa brasileira segue em 2,7%. (Os outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm as seguintes taxas: Argentina, 2,2%, Colômbia, 2,6%, e Peru, 3,4%.)

(C) Nesses 20 países, 86,7 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 110,4 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (25/4), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 32.572 casos e 1.305 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 14.340.787 casos e 390.797 mortes [4].

Em números absolutos, ambas as estatísticas declinaram em relação aos números da semana anterior (12-18/4).

Foram registrados 397.716 novos casos – uma queda de 14% em relação à semana anterior (461.048). Foi a 21ª semana com mais de 300 mil novos casos – 16 dessas semanas foram registradas em 2021.

E foram registradas, desgraçadamente, 17.462 mortes – também uma queda de 14% em relação à semana anterior (20.198). Foi a 23ª semana com mais de 7 mil mortes – 15 dessas semanas foram registradas em 2021.

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os números absolutos e os percentuais referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [5]. Por conta disso, sigo a usar como guia as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (12-18/4), as médias da semana passada (19-25/4) mostraram tendências de queda (ver a figura que acompanha este artigo). Foi a segunda vez consecutiva em que ambas declinaram juntas, algo que não ocorria desde a primeira semana de novembro (2-8/11).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,48% (12-18/4) para 0,40% (19-25/4) – o menor percentual desde a segunda semana de novembro (8-15/11) [6].

A taxa de crescimento no número de mortes caiu de 0,80% (12-18/4) para 0,66% (19-25/4) – a segunda queda sucessiva, algo que não ocorria desde a primeira semana de novembro (2-8/11) (ver a figura que acompanha este artigo) [6, 7]!

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 25/4/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

4. CODA.

A taxa de crescimento no número de casos está a cair (ainda que de modo tortuoso) desde a primeira semana de março (1-7/3). O impacto de tal tendência estaria agora a se fazer notar na taxa de crescimento no número de mortes. Ocorre que os valores das duas taxas ainda estão bem acima dos mínimos registrados entre outubro e novembro (‘o melhor mês’ – ver a figura que acompanha este artigo). No ritmo atual, o país irá contabilizar 16.506.147 casos e 491.150 mortes até o último domingo de maio (30/5).

O recado para governadores, prefeitos e lideranças empresariais de boa-fé segue valendo e cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção e da manutenção de medidas efetivas de proteção e confinamento [8].

Não custa frisar: Não é a vacinação que está a reduzir a taxa de crescimento no número de mortes. São as (frouxas) medidas de contenção que estão a reduzir a taxa de crescimento no número de casos. Brincar de ‘fase de transição’, portanto, como já estariam a fazer alguns governantes, só irá nos empurrar ladeira acima. De novo.

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em seis grupos: (a) Entre 32 e 34 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 16 e 18 milhões – Índia; (c) Entre 14 e 16 milhões – Brasil; (d) Entre 4 e 6 milhões – França, Rússia, Turquia e Reino Unido; (e) Entre 2 e 4 milhões – Itália, Espanha, Alemanha, Argentina, Colômbia, Polônia, Irã, México e Ucrânia; e (f) Entre 1,5 e 2 milhões – Peru, Indonésia, Tchéquia e África do Sul.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Compare com as projeções e os comentários apresentados em artigos anteriores publicados neste GGN – ‘Balanço e projeções: No ritmo atual, o país irá contabilizar 390 mil mortes até 25/4’, em 22/3; e ‘O tecido social vem se esgarçando há anos, mas ainda não regredimos ao ‘É cada um por si’’, em 30/3; e ‘Como sair da crise?’, em 17/4.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 3.

[6] Entre 19/10 e 25/4, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4); 0,54% (5-11/4); 0,48% (12-18/4) e 0,40% (19-25/4); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4); 0,91% (5-11/4); 0,80% (12-18/4) e 0,66% (19-25/4).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (uma semana depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos eles equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (ver nota 3).

[8] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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25 abril 2021

Autorretrato


Phoebe Anna Traquair (1852-1936). Self-portrait. 1911.

Fonte da foto: Wikipedia.

23 abril 2021

Integridade

Geni Mariano Guimarães

Ser negra,
Na integridade
Calma e morna dos dias.

Ser negra,
De carapinhas,
De dorso brilhante,
De pés soltos nos caminhos.

Ser negra,
De negras mãos,
De negras mamas,
De negra alma.

Ser negra,
Nos traços,
Nos passos,
Na sensibilidade negra.

Ser negra,
Do verso e reverso,
Do choro e riso,
De verdades e mentiras,
Como todos os seres que habitam a Terra.

   Negra,
Puro afro sangue negro,
Saindo aos jorros
Por todos os poros.

Fonte: Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza. Poema publicado em livro em 1986.

21 abril 2021

Constante solar

Hermann Flohn

Como a Terra é uma esfera em rotação, a energia recebida – que tem sido chamada pouco acertadamente de constante solar – se reparte sobre toda a superfície da esfera: 4πr2 (r = raio terrestre), que é quatro vezes maior que a sua seção meridiana (πr2). No transcurso de um dia, cada cm2 recebe 0,5 cal/min – i.e., 720 cal em 24 horas. Uma unidade muito prática para calcular a radiação recebida por unidade de superfície é o langley: 1 cal por cm2. A insolação média de uma superfície horizontal no limite superior da atmosfera é, portanto de 720 langley por dia (Ly/d), ou 349 W/m2. A fórmula resulta em 1 Ly/min = 697,35 W/cm2.

Fonte (tradução livre): Flohn, H. 1968. Clima y tempo. Madri, Guadarrama.

19 abril 2021

Não é hora de brincar de ‘fase de transição’

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes). Entre 12 e 18/4, as taxas ficaram em 0,48% (casos) e 0,80% (mortes). Foi a primeira vez que as duas taxas declinaram juntas desde a primeira semana de fevereiro. A taxa de crescimento no número de casos está a cair (ainda que de modo tortuoso) desde a primeira semana de março. O impacto de tal tendência, ao que parece, está agora a se fazer notar na taxa de crescimento no número de mortes. Não é hora de afrouxar ainda mais as frouxas medidas de contenção. Brincar de ‘fase de transição’, por exemplo, como estaria a fazer o governo do estado de São Paulo, só irá nos empurrar ladeira acima. De novo.

*

1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da manhã desta segunda-feira (19/4) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 78% dos casos (de um total de 141.539.134) e 81% das mortes (de um total de 3.022.126) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,2%. A taxa brasileira subiu de 2,6% para 2,7%. (Os outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm as seguintes taxas: Argentina, 2,2%, Colômbia, 2,6%, e Peru, 3,4%.)

(C) Nesses 20 países, 83 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 105,85 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (18/4), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 42.980 casos e 1.657 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 13.943.071 casos e 373.335 mortes.

Em números absolutos, ambas as estatísticas declinaram em relação aos números da semana anterior (5-11/4), algo que não ocorria desde a primeira semana de fevereiro (1-7/2).

Foram registrados 461.048 novos casos – uma queda de 7% em relação à semana anterior (497.067). Foi a 20ª semana com mais de 300 mil novos casos – 15 dessas semanas foram registradas em 2021.

E foram registradas, desgraçadamente, 20.198 mortes – também uma queda de 7% em relação à semana anterior (21.704). Foi a 22ª semana com mais de 7 mil mortes – 14 dessas semanas foram registradas em 2021.

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os números absolutos e os percentuais referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [4]. Para tanto, tenho usado como guia as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (5-11/4), as médias da semana passada (12-18/4) mostraram tendências de queda (ver a figura que acompanha este artigo). Foi a primeira vez que as duas taxas declinaram juntas desde a primeira semana de fevereiro (1-7/2).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,54% (5-11/4) para 0,48% (12-18/4) – o menor percentual nas últimas oito semanas [5].

A taxa de crescimento no número de mortes caiu de 0,91% (5-11/4) para 0,80% (12-18/4) – a maior queda registrada desde a última semana de dezembro (21-27/12) (ver a figura que acompanha este artigo) [5, 6]!

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 18/4/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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4. CODA.

A taxa de crescimento no número de novos casos está a cair (ainda que de modo tortuoso) desde a primeira semana de março (1-7/3) (ver a figura que acompanha este artigo). O impacto de tal tendência, ao que parece, está agora a se fazer notar na taxa de crescimento no número de mortes.

Não há dúvida de que os efeitos, além de tardios, ainda são pequenos. Mas é necessário lembrar que as medidas adotadas por governadores e prefeitos têm uma frágil coordenação em âmbito nacional. E o pior: as medidas seguem sendo boicotadas por governantes genocidas. O Palácio do Planalto, por exemplo, continua a apostar as suas fichas na confusão e no malfeito. Fosse outra a situação, estou certo de que os efeitos seriam muito mais expressivos e consistentes.

O recado para governadores, prefeitos e lideranças empresariais de boa-fé segue valendo e cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção e da manutenção de medidas efetivas de proteção e confinamento [7]. Não é hora de afrouxar ainda mais as frouxas medidas de contenção. Brincar de ‘fase de transição’, por exemplo, como estaria a fazer o governo do estado de São Paulo, só irá nos empurrar ladeira acima. De novo.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em seis grupos: (a) Entre 30 e 32 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 14 e 16 milhões – Índia; (c) Entre 12 e 14 milhões – Brasil; (d) Entre 4 e 6 milhões – França, Rússia, Reino Unido e Turquia; (e) Entre 2 e 4 milhões – Itália, Espanha, Alemanha, Polônia, Argentina, Colômbia, México, Irã e Ucrânia; e (f) Entre 1,5 e 2 milhões – Peru, Indonésia, Tchéquia e África do Sul.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 4.

[5] Entre 19/10 e 11/4, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4); 0,54% (5-11/4); e 0,48% (12-18/4); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4); 0,91% (5-11/4); e 0,80% (12-18/4).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (uma semana depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos eles equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[6] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (ver nota 3).

[7] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

17 abril 2021

Requiescat

Matthew Arnold

Strew on her roses, roses,
 And never a spray of yew.
In quiet she reposes:
 Ah! would that I did too.

Her mirth the world required:
 She bath’d it in smiles of glee.
But her heart was tired, tired,
 And now they let her be.

Her life was turning, turning,
 In mazes of heat and sound.
But for peace her soul was yearning,
 And now peace laps her round.

Her cabin’d, ample Spirit,
 It flutter’d and fail’d for breath.
To-night it doth inherit
 The vasty Hall of Death.

Fonte (v. 16): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1853.

15 abril 2021

Ciência sem lágrimas

David Krech

Como um jovem dos meados dos anos 30, eu estava muito interessado em tornar-me cientista. Uma das razões era a leitura de livros populares nos quais o cientista era sempre o herói – livros como Arrowsmith e The microbe hunters. Na faculdade da Universidade de Nova Iorque descobri que, do jeito que eram ensinados, os temas da ciência exigiam uma quantidade tremenda do que me parecia uma memorização repetitiva e desinteressante, sem nenhuma ênfase sobre a função. Na biologia, enfatizava-se a anatomia; na química e na física aprendíamos a memorizar o que já havia sido descoberto.

Como pré-requisito para outra área que me interessava – a do direito – decidi frequentar uma aula de psicologia. Meu instrutor era um behaviorista fanático. Ali estava eu, um ingênuo aluno de 2° ano, aprendendo que coisas vagas como ‘comportamento humano’, ‘mundo humano’, ‘desejos’ podiam ser colocados no microscópio e estudados tão rigorosa e cientificamente como a drosófila ou a molécula do sal. E isso sem aquela quantidade enorme de memorizações, porque o behaviorismo naquele tempo (suponho que o mesmo ainda seja verdade atualmente) era uma coisa muito simplificada e, talvez, até mesmo simplória. Então, a psicologia, pensei, seria ciência sem ‘lágrimas’ – sem necessidade de decorar! Havia nela, também, uma noção muito simpática e fundamentalmente correta: que não é preciso depender do filósofo ou do teólogo para discernir sobre o comportamento humano; podemos estudar a humanidade, honesta e objetivamente. Bem, fui fisgado por isso – anzol, linha e chumbada.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

13 abril 2021

Mensageiro do amor


Marie Spartali Stillman (1844-1927). Love’s messenger. 1885.

Fonte da foto: Wikipedia.

12 abril 2021

14 anos e meio no ar

F. Ponce de León

Nesta segunda-feira, 12/4, o Poesia contra a guerra completa 14 anos e seis meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘14 anos e cinco meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Antônio Carlos Santini, Benjamin Disraeli, Eneas Salati, Joseph Dietzgen, Joseph Weizenbaum, Maria de Nazaré Góes Ribeiro, Mark Ridley e Ricardo Hirata. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Charles Chaplin e Louise Jopling.

10 abril 2021

O prato em que se come

Joseph Dietzgen

Mesmo sabendo que o Sol tem dimensões da ordem das centenas de milhar de quilômetros, podemos perfeitamente à vontade continuar a vê-lo do tamanho do prato em que se come.

Fonte: Deus, J. D., org. 1979. A crítica da ciência, 2ª ed. RJ, Zahar. Extraído de texto publicado em 1869.

08 abril 2021

A origem do oxigênio atmosférico

Eneas Salati & Maria de Nazaré Góes Ribeiro

A explicação para a existência de 20,8% de oxigênio na atual atmosfera terrestre só pode ser dada por meio de dois mecanismos naturais conhecidos que originam oxigênio molecular. Esses dois processos são os responsáveis por viabilizar a constante produção de oxigênio para o nosso planeta.

O primeiro, que provavelmente foi muito importante no início do desenvolvimento da atmosfera, é a fotodesintegração da molécula de água pela radiação ultravioleta dos raios solares. Os raios ultravioleta provenientes do Sol, ao atingirem as moléculas de água existentes na atmosfera terrestre, rompem as suas estruturas, produzindo um átomo de oxigênio que, combinando-se com outro átomo de oxigênio produzido pelo mesmo mecanismo, dá origem ao oxigênio molecular. [...]

O outro mecanismo capaz de produzir oxigênio é a fotossíntese, pela qual os seres vivos, utilizando gás carbônico e energia solar, liberam oxigênio por meio de uma reação bastante simples. [...]

A produção de oxigênio para a atmosfera terrestre, pela fotossíntese, deve ter começado há mais de 2,7 bilhões de anos e a concentração de oxigênio foi aumentando gradativamente até atingir as atuais, passando por períodos de concentrações maiores durante a época em que grandes florestas cobriram a superfície terrestre no período chamado Carbonífero, há 350 milhões de anos.

Fonte: Salati, E. & Ribeiro, M. N. G. 1996. A atmosfera de um planeta vivo. In: Pavan, C., org. Uma estratégia latino-americana para a Amazônia, vol. 2. SP, MMA, Memorial da América Latina & Editora Unesp.

07 abril 2021

A taxa de crescimento no número de casos está em 0,5%, enquanto a de mortes está perto de 1%

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgadas em artigo anterior (aqui). Entre 29/3 e 4/4, as médias ficaram em 0,5% (casos) e 0,86% (mortes). Em relação à semana anterior, a taxa de casos declinou, enquanto a de mortes permaneceu estacionária. Foi a primeira vez em seis semanas que a taxa de mortes não escalou. Mas este resultado pode ser enganoso, visto que a metodologia de coleta e processamento de dados é sensível a semanas com feriados, como foi o caso da semana passada.

*

No domingo (4/4), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 31.359 casos e 1.240 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 12.953.597 casos e 330.193 mortes [1].

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (29/3-4/4) mostraram tendências distintas em relação aos números da semana anterior.

Foram registrados 450.268 novos casos – o menor valor em cinco semanas. Ainda assim, foi a 18ª semana com mais de 300 mil novos casos (13 dessas semanas foram registradas em 2021).

Desgraçadamente, porém, atingimos um novo patamar no número de mortes: 19.227 – 6% a mais que o recorde anterior (18.164, entre 22 e 28/3). Foi a 20ª semana com mais de 7 mil mortes (12 dessas semanas foram registradas em 2021).

TAXAS DE CRESCIMENTO.

Tenho usado as taxas de crescimento no número de casos e de mortes para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia [2]. A minha escolha tem se revelado bastante acertada.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (22-28/3), as médias da semana passada (29/3-4/4) mostraram tendências distintas (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,63% (22-28/3) para 0,5% (29/3-4/4) – o menor valor em seis semanas, embora ainda estejamos a patinar entre 0,5% e 0,6% [3].

A taxa de crescimento no número de mortes permaneceu em 0,86% (29/3-4/4) – foi a primeira vez em seis semanas que o valor não escalou [3, 4]! (Este resultado, no entanto, pode ser enganoso, visto que a metodologia de coleta e processamento de dados é sensível a semanas com feriados, como foi a semana passada.)

*


FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 4/4/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

CODA.

A taxa de crescimento no número de novos casos teve uma queda expressiva na semana passada. Enquanto a de mortes permaneceu estacionária. Estes resultados, no entanto, podem ser enganosos.

As estatísticas ao longo desta semana irão ratificar ou retificar os resultados da semana passada. Saberemos então se as trajetórias da pandemia (casos e mortes) estão ou não a mudar de rumo.

Embora o Palácio do Planalto continue a apostar as suas fichas na confusão e no malfeito, há como estancar e reverter as tendências macabras observadas nos últimos meses. Não há mistério. Basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países que venceram ou estão a vencer a pandemia. Neste sentido, reitero o que escrevi em artigos anteriores: Tomar as rédeas da situação (e sair da crise) depende sobremaneira da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [5].

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Ontem (6/4), ainda segundo o MS, o país chegou a um total de 13.100.580 casos e 336.947 mortes.

[2] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 4.

[3] Entre 19/10 e 4/4, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3) e 0,5% (29/3-4/4); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3) e 0,86% (29/3-4/4).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (uma semana depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos eles equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[4] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[5] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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05 abril 2021

Sei lá se há estrelas!

José Gomes Ferreira

(Viva esta espontaneidade tão boa!)

Sei lá se há estrelas!
Daqui não as vejo.
Qualquer dia hei-de ir vê-las
ao rio Tejo.

Não no céu tão longe e incerto
onde a custo as descobrimos,
mas a brilharem mais perto
nas águas de treva e limos.

Só assim desse modo
consigo entendê-las
Caídas no lodo
é que são estrelas.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1961.

02 abril 2021

Água doce

Ricardo Hirata

Cerca de 97,5% de toda a água na Terra são salgadas. Menos de 2,5% são doces e estão distribuídas entre as calotas polares (68,9%), os aquíferos (29,9%), rios e lagos (0,3%) e outros reservatórios (0,9%). Desta forma, apenas 1% da água doce é um recurso aproveitável pela humanidade, o que representa 0,007% de toda a água do planeta. [...]

Aproximadamente 72.000 
km3/ano de água retornam à atmosfera por evapotranspiração, dos 119.000 km3/ano da precipitação que caem sobre os continentes [...]. Os 47.000 km3/ano restantes de água doce que circulam pelo planeta, através do escoamento superficial e subterrâneo representam o excedente hídrico, que é a diferença entre o volume precipitado e o evaporanspirado, e pode ser decomposto no escoamento de água superficial e subterrânea.

Fonte: Hirata, R. 2000. In: Teixeira, W. & mais 3, orgs. Decifrando a Terra. SP, Oficina de Textos.

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