A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura.
31 julho 2007
Inesperado
Paula Padilha
uma onda invade a cena entorna seu caldo na mesa tinge o imediato de seda mãos postas no colo do acaso
a seguir se despede sem levar o espanto que fica na sala em silêncio olhos abertos à espera da trama Fonte: poema publicado no livro tempo inteiro (2007), de Paula Padilha, e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.
It lay buried here, it lay deep inside me. It’s so deep I don’t think that I can Speak about it. It could take me all of my life But it would only take a moment to Tell you what I’m feeling But I don’t know if I’m ready yet. You come walking into this room Like you’re walking into my arms. What would I do without you?
Take away the love and the anger And a little piece of hope holding us together. Looking for a moment that’ll never happen Living in the gap between past and future. Take away the stone and the timber And a little piece of rope won’t hold it together.
If you can’t tell your sister, If you can’t tell a priest, ’Coz it’s so deep you don’t think that you can Speak about it to anyone… Can you tell it to your heart? Can you find it in your heart To let go of these feelings Like a bell to a Southerly wind We could be like two strings beating, Speaking in sympathy… What would we do without you? Two strings speak in sympathy.
Take away the love…
We’re building a house of the future together. (What would we do without you?) Well, if it’s so deep you don’t think that you Can speak about it Just remember to reach out and touch the past and the future. Well, if it’s so deep you don’t think you can speak about it Don’t ever think that you can’t change the past and the future. You might not, not think so now But just you wait and see – someone will come to help you. Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Sensual world (1989), de Kate Bush.
Aventure-se ao ar livre num dia nevoento de inverno vestindo um short e uma camiseta fina e o frio vai lhe tirar o fôlego. Sua pele empalidece, seus braços nus ficam arrepiados e você começa a tremer violentamente, como se seu corpo reagisse ao frio reduzindo a perda e aumentando a produção de calor.
Como o calor flui dos corpos quentes para os frios, todos os animais que mantêm sua temperatura corporal acima da do ambiente, como os seres humanos, perdem calor constantemente. [...] [A] taxa de perda de calor é determinada pela quantidade de sangue aquecido que flui perto da superfície da pele, e quanto maior o fluxo de sangue, mais calor será perdido. Uma estratégia-chave para a conservação do calor é, portanto, reduzir o fluxo de sangue para a pele. No entanto, isso só pode ser tolerado sem dano numa extensão limitada, porque os tecidos de superfície poderiam ficar privados de oxigênio e nutrientes.
Quando a temperatura do ar cai, os vasos sanguíneos da pele se contraem, desviando o sangue aquecido da superfície, de modo que a pele fica pálida e o calor é conservado. Paradoxalmente, quando a temperatura cai abaixo de cerca de 10°C, os vasos sanguíneos superficiais da pele se dilatam em vez de se contrair e, se a temperatura cair ainda mais, períodos de vasodilatação alternam com períodos de vasoconstrição. Essas oscilações impedem que a pele seja danificada por frio severo e asseguram que ela receba um suprimento adequado, ainda que intermitente, de oxigênio. O fenômeno explica o nariz e as mãos vermelhos característicos do tempo gélido e é particularmente bem desenvolvido naqueles que trabalham ao ar livre em climas frios, como os pescadores. Você pode testar isso muito facilmente mergulhando sua mão na água fria. De início, a redução da temperatura estimula os vasos sanguíneos a se contraírem e sua pele vai ficar branca. Gradualmente, sua mão começará a doer e a ficar cada vez mais dolorida. Isso é provavelmente resultado da formação de metabólitos tóxicos, causada pela falta de fluxo sanguíneo. Depois de cinco a dez minutos, no entanto, a pele ficará vermelha e a dor cederá simultaneamente, à medida que a vasodilatação ocorre. [...]
Assim como a comida é a chave para a sobrevivência no frio, a água é o fator limitante para a vida no calor. A capacidade de refrigeração pelo suor copioso depende da disponibilidade de água e a principal dificuldade na vida no deserto não é o calor, mas a aridez. Se as pessoas podem passar muitos dias sem comida, elas não sobrevivem muito tempo sem água. [...]
Quando não se repõe a água perdida no suor através da ingestão de líquidos, a desidratação ocorre. Isso estimula a secreção de hormônios que atuam ao mesmo tempo para conservar a água, reduzindo a quantidade perdida na urina, e para aumentar a ingestão de água, fazendo a pessoa sentir sede. [...] A maioria das pessoas pode tolerar um decréscimo de 3 a 4% da água do corpo sem dificuldade. Fadiga e tonteira ocorrem quando se perdem 5-8%, ao passo que uma perda de mais de 10% causa deterioração física e mental, acompanhada de sede severa. Perdas de mais de 15-25% da água do corpo são invariavelmente fatais. [...]
Quando estamos muito ativos, perdemos mais água do que consumimos espontaneamente. Simplesmente não tomamos água o bastante para evitar a desidratação e podemos ficar incapacitados por falta de água sem sentirmos uma sede intolerável. Somente quando estamos descansados e alimentados tomamos água suficiente para repor a que se perdeu no suor. Quando se faz exercício num clima quente, é necessário, portanto, beber água, mesmo sem sentir sede. Se a água for escassa, no entanto, a melhor estratégia é parar a atividade e ficar sentado quieto à sombra. [...] Fonte: Ashcroft, F. 2001. A vida no limite. RJ, Jorge Zahar.
1. Vil, modesta flor de rubra corola, Comigo deparaste em má hora; Quando na terra acabo de esmagar-te E a tua fina haste: Agora supera as minhas forças poupar-te, Oh, linda jóia.
2. Mas oh! não é tua doce vizinha a Linda cotovia, que te faz companhia A ti se curvando na chuva de orvalho, Com o peito pintado! Quando feliz salta mais alto, e saúda O leste encarnado?
3. Frio e cortante soprou o vento norte Sobre o teu berço humilde e jovem; Ainda assim feliz brilhaste Na tempestade, Mal se elevando acima da mãe-terra Tua delicada haste.
4. As férteis flores em nossos jardins Precisam do refúgio de bosques ou muros, Mas tu, embaixo do abrigo do acaso, De terra ou de pedra, Adornas o seco restolhal, Recôndita e solitária.
5. Ali, de teu parco manto vestida, Tuas alvas pétalas, para o sol erguidas, Elevas a modesta corola despretensiosa Em humilde roupagem; Mas agora o arado teu leito revolve, E sob o chão, jazes!
6. Tal é o fado da moça cândida, Doce florzinha das sombras rústicas! No seu simplório amor traída, E em sua tola confiança; Até que ela, maculada como tu, É atirada na lama.
7. Tal é o fado do simples Bardo, No oceano da Vida encapelado! Incapaz de perceber a carta Da prudência, Até que bramem vagas e varrem borrascas Que o arrasam!
8. Tal é o inditoso fado do sofredor Poeta, Que em penúrias e infortúnios labuta, Mas pelo orgulho ou astúcia é levado Ao abismo da miséria; Até que, sem apoio nenhum senão do Céu, Sucumbe, arruinado!
9. Mesmo tu, que o fado da flor lastimas, Será esta tua sina – em data não distante; Exultante golpeará o arado da Ruína Teu florescer, Até que, esmagado ao peso da charrua, Será a destruição tua! Fonte: Burns, R. 1994. 50 poemas. RJ, Relume-Dumará. Poema – cujo subtítulo é “Ao revirá-la com o arado” – originalmente publicado em 1786.
Na ciência tentamos informar as pessoas, de um modo que seja entendido por todos, alguma coisa que ninguém sabia até então. Na poesia fazemos exatamente o oposto. Fonte: Singh, S. 2006. Big bang. RJ, Record.
Você me quer forte E eu não sou forte mais Sou o fim da raça, o velho, o que já foi Chamo pela Lua de prata pra me salvar Rezo pelos deuses da mata pra me matar
Você me quer belo E eu não sou belo mais Me levaram tudo que um homem precisa ter Me cortaram o corpo à faca sem terminar Me deixando vivo, sem sangue, apodrecer
Você me quer justo E eu não sou justo mais Promessas de Sol já não queimam meu coração Que tragédia é essa que cai sobre todos nós Que tragédia é essa que cai sobre todos nós Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Geraes (1976), de Milton Nascimento.
25. Hoje de manhã discutimos a solução para o problema do empacamento, a imperfeição clássica, causada pela razão tradicional. Agora devemos falar do seu correspondente romântico, a feiúra da tecnologia, produzida pela razão. [...]
A feiúra da qual os Sutherlands fugiam não é inerente à tecnologia. Eles pensavam assim porque é muito difícil separar a tecnologia da feiúra. Mas a tecnologia é apenas a produção das coisas, e essa produção, por si mesma, não pode ser feia. Do contrário não haveria beleza nas artes, que também incluem o aspecto produtivo. [...]
A feiúra também não é inerente aos materiais utilizados pela moderna tecnologia – como se ouve dizer por aí. Os plásticos e materiais sintéticos produzidos em escala industrial não são maus em si. Só que originaram uma série de associações desagradáveis. Quem passa a vida inteira numa prisão de paredes de pedra, provavelmente vai encarar a pedra como um material essencialmente repulsivo, mesmo que ela seja a matéria-prima da escultura. Quem vive numa repugnante prisão de tecnologia plástica, que teve início com os brinquedos da infância e continua pela vida afora, atravancando a existência com uma batelada de produtos de consumo que para nada servem, provavelmente verá o plástico como algo essencialmente feio. Mas a verdadeira feiúra da tecnologia moderna não se encontra em nenhum material, formato, ato ou produto. Estes são apenas os aspectos nos quais parece residir a baixa Qualidade. É nosso costume atribuir Qualidade aos sujeitos e objetos que nos dão essa impressão.
A verdadeira feiúra não provém dos objetos, nem da tecnologia. Também não provém, segundo a metafísica de Fedro, de nenhum sujeito da tecnologia, das pessoas que a produzem, ou daqueles que a utilizam. A Qualidade, ou sua ausência, não está no sujeito, nem no objeto. A verdadeira feiúra localiza-se na relação entre as pessoas que produzem a tecnologia e as coisas produzidas, que gera uma relação semelhante entre as pessoas que usam a tecnologia e as coisas por elas utilizadas. [...]
A resposta para o conflito entre os valores humanos e as necessidades tecnológicas não está na fuga. Fugir da tecnologia é impossível. Para resolver o conflito, é preciso romper as barreiras do pensamento dualista, que impedem uma compreensão integral do que seja a tecnologia – não uma exploração da natureza, mas uma fusão entre natureza e espírito humano, numa nova criação que transcende a ambos. [...]
Em conseqüência disso, ocorre um fenômeno bem típico da tecnologia moderna, uma monotonia geral da aparência, tão deprimente que precisa ser coberta com o verniz da “sofisticação” para ser aceita. E isso só piora as coisas aos olhos de quem é sensível à Qualidade romântica. Aliás, isso não é apenas desgraçadamente monótono, mas também falso. Essas duas expressões resumem com bastante exatidão a moderna tecnologia americana: carros sofisticados, motores de popa sofisticados, máquinas de escrever sofisticadas, roupas sofisticadas; geladeiras sofisticadas, cheias de comida sofisticada, nas cozinhas de casas sofisticadas. Brinquedos de plástico sofisticados para crianças sofisticadas, que nos natais e nos aniversários estão sempre na moda, assim como seus pais. A gente mesmo tem que ser profundamente sofisticado para não se encher disso tudo de vez em quando. É a sofisticação que nos satura: essa feiúra tecnológica coberta por uma calda de falsificação romântica, na tentativa de se converter em beleza e produzir lucro para pessoas que, embora sejam sofisticadas, não sabem por onde começar, porque ninguém jamais lhes disse que existe neste mundo uma coisa chamada Qualidade, que é genuína, não sofisticada. [...]
Creio que se quisermos reformar o mundo e transformá-lo num lugar melhor para viver, não podemos só ficar falando sobre relações de natureza política, que serão inevitavelmente dualistas, cheias de sujeitos e objetos, e de relações entre ambos; e nem podemos falar dos programas repletos de coisas a serem cumpridas por terceiros. Na minha opinião, essa abordagem começa pelo fim, e confunde o fim com o início. Os programas políticos são importantes produtos finais da qualidade social, que só poderão funcionar se a estrutura subjacente dos valores sociais estiver correta. Esses valores só estarão corretos se os valores individuais estiverem corretos. Para melhorar o mundo, devemos começar pelo nosso coração, nossa cabeça e nossas mãos, e depois partir para o exterior. [...] Fonte: Pirsig, R. M. 1988 [1974]. Zen e a arte da manutenção de motocicletas: uma investigação sobre valores, 8a edição. RJ, Paz e Terra.
1. Quem vive nas mansardas tem: a) o orvalho mais cedo, as mansas, árduas gotas de aguardante nocturna no cálice de vidro [ou luz?] que é o dia e ergue-o primeiro
2. que os vizinhos; b) a madrugada só para si alguns instantes antes da luz [ou o vidro?] se partir nas camadas inferiores do prédio; c) a chuva mais perto desse deserto interior
3. de cada um; d) o musgo, uma luva que cinge múltiplos dedos argilosos, ardilosos abismos para insectos na orografia brusca do telhado; e) fulgores minúsculos que acendem a sílica incrustada na argila, síli-
4. cintilando como um céu de estrelas diurnas à flor das telhas: a janela reflecte-o [luz de vidro para vidro] e intensifica o dia quando nas camadas inferiores do prédio é ainda noite. Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1968.
Você tem o corpo macio demais Um corpo com cheiro da mata Você tem as crenças e as lendas cristais E o verde no dorso da mata E suas veias são rios tão cheios Navegam seus barcos pesqueiros E no seu ventre o que semeia dá Minha Amazônia
Você tem no solo um segredo que faz Roubar dos homens o sono e a paz Você tem um brilho um mistério que traz Um vento estrangeiro, bandeiras reais Nas suas teias as estrelas ribeiras Mosteiros que o mundo não viu Bate em seu peito o coração do Brasil Minha Amazônia
E lhe cravaram as lanças Confundiram dialetos E violaram crianças E as matas virando desertos Raras vitórias-régias Léguas de doces águas Filhos de uma história Morrendo sem fama nem glória Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Segredo do meu coração (1982), de Olivia Hime.
[...] Vamos pensar sobre a maneira como vivemos nossas vidas.
Esse mundo é um império dos negócios. Que agitação interminável! Quase toda noite sou acordado pelo chiado da locomotiva. Meus sonhos são interrompidos. Os dias de descanso simplesmente não existem. Seria glorioso ver uma única vez a humanidade desocupada. Só há trabalho, trabalho, trabalho. É difícil conseguir um caderno de folhas lisas para registrar meus pensamentos, quase todos são pautados para facilitar a contabilidade de dólares e centavos. Certa vez estava tomando notas no campo, e um irlandês imaginou que eu estava calculando meu pagamento. Se um homem fica aleijado para toda a vida por ter sido jogado de uma janela quando ainda criança, ou se um outro enlouquece de medo dos indígenas, lamenta-se a sorte de ambos principalmente por terem ficado incapazes... para os negócios! Creio que nada, nem mesmo o crime, se opõe mais à poesia, à filosofia e, acima de tudo, à vida, do que essa incessante movimentação dos negócios. [...]
A maioria dos homens se consideraria insultada se recebesse uma proposta para se ocupar de atirar pedras por cima de um muro e, depois, atirá-las de volta ao lugar de origem, apenas para ganhar seu salário. No entanto, há muitos homens que atualmente não têm empregos mais úteis do que esse. [...]
Com pouquíssimas exceções, as formas de ganhar dinheiro são todas degradantes. Se você fez alguma coisa pela qual recebeu apenas dinheiro, aí então você foi vadio de verdade, ou algo pior ainda. [...] A comunidade está mais ansiosa por remunerar os serviços que são mais desagradáveis de executar. Você acaba sendo pago para ser algo menos que um homem. O Estado, em geral, é também incapaz de premiar mais sabiamente o trabalho de qualidade. Até mesmo o poeta laureado prefere cantar outras coisas que não as crônicas da realeza. É preciso suborná-lo com uma pipa de vinho, e pode ser que um outro poeta abandone sua musa para disputar essa mesma pipa. [...] Fonte: Thoreau, H. 1986. Desobedecendo: a desobediência civil & outros ensaios, 2a edição. RJ, Rocco. Artigo originalmente publicado em 1863.
Call you up in the middle of the night Like a firefly without a light You were there like a blowtorch burning I was a key that could use a little turning
So tired that I couldn’t even sleep So many secrets I couldn’t keep Promised myself I wouldn’t weep One more promise I couldn’t keep
It seems no one can help me now I’m in too deep There’s no way out This time I have really led myself astray
Runaway train never going back Wrong way on a one way track Seems like I should be getting somewhere Somehow I’m neither here nor there
Can you help me remember how to smile Make it somehow all seem worthwhile How on earth did I get so jaded Life’s mystery seems so faded
I can go where no one else can go I know what no one else knows Here I am just drownin’ in the rain With a ticket for a runaway train
Everything is cut and dry Day and night, earth and sky Somehow I just don’t believe it
Runaway train never…
Bought a ticket for a runaway train Like a madman laughin’ at the rain Little out of touch, little insane Just easier than dealing with the pain
Runaway train never…
Runaway train never comin’ back Runaway train tearin’ up the track Runaway train burnin’ in my veins Runaway but it always seems the same Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Grave Dancers Union (1992) do Soul Asylum.
A queima de hidrocarbonetos – principalmente combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural) – é ainda hoje a mais importante fonte de energia a movimentar os negócios em escala planetária. Esse processo resulta na emissão de subprodutos indesejáveis, notadamente o dióxido de carbono, ou gás carbônico. A emissão de dióxido de carbono de origem antropogênica (resultante das atividades humanas) aumentou muito a partir de meados do século 18, com a Revolução Industrial. De lá para cá, a proliferação de máquinas e motores à explosão transformou a queima de combustíveis fósseis em uma quase-necessidade – e, claro, em um negócio bastante lucrativo.
Estima-se hoje que aproximadamente 7,7 gigatoneladas (uma gigatonelada, Gt, equivale a um bilhão de toneladas) de dióxido de carbono antropogênico sejam lançadas a cada ano na atmosfera. Desse total, 5,7 Gt derivam da queima de combustíveis fósseis; as 2 Gt restantes provêm do desflorestamento, principalmente em países tropicais, como o Brasil. Para onde vai toda essa fumaça?
Moléculas de dióxido de carbono atmosférico estão constantemente fluindo para a biosfera, os solos e os oceanos. A biota de terra firme, por exemplo, absorve anualmente cerca de 102 Gt de carbono da atmosfera na forma de CO2, devolvendo 50 Gt via respiração e outras 50 Gt via decomposição. Trocas semelhantes ocorrem entre os oceanos e a atmosfera, com um saldo líquido em favor dos oceanos. Se parássemos por aqui, a contabilidade global estaria mais ou menos equilibrada, pois a absorção líquida de carbono por parte da biosfera e dos oceanos é compensada ao longo do tempo pela entrada na atmosfera do dióxido de carbono oriundo da atividade vulcânica.
O problema é que ao longo dos últimos 250 anos a emissão de quantidades crescentes de dióxido de carbono antropogênico passou a desequilibrar os fluxos naturais. Até meados do século 20, no entanto, poucos cientistas levavam a sério a hipótese de que atividades humanas pudessem de fato provocar mudanças na composição química da atmosfera e que estas, por sua vez, seriam capazes de alterar de modo significativo o clima da Terra. [...]
Efeito estufa e aquecimento global são termos relacionados, mas não são sinônimos nem deveriam ser confundidos entre si. Efeito estufa é um fenômeno natural, observado em todos os planetas do sistema solar cuja superfície é coberta por uma camada permanente de gases (atmosfera). A composição química da atmosfera, notadamente a concentração de CO2, tem papel decisivo na intensidade do efeito estufa, sendo, contudo, variável de um planeta para outro. O dióxido de carbono é um gás transparente à luz do Sol, mas é capaz de reter o calor (radiação infravermelha) liberado pela superfície terrestre. Assim, quanto maior o teor de CO2, mais intenso deverá ser o efeito estufa exercido pela atmosfera terrestre, o que significa que a temperatura da superfície do planeta será mais elevada. Como a presença de CO2 acentua o efeito estufa, dizemos que ele é um gás-estufa. [...]
O aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, e sua origem estaria relacionada com as emissões de gases-estufa promovidas por atividades humanas ao longo dos últimos 250 anos. Ao contrário do que se imaginava 50 anos atrás, sabemos agora que as emissões antropogênicas podem alterar – de fato, já estão alterando – a composição química da atmosfera. Com isso, mudaremos também seu comportamento, como a capacidade de reter ou refletir radiação. Em resumo, podemos dizer que o processo de aquecimento global é resultado de uma intensificação de origem antropogênica de um mecanismo natural chamado efeito estufa. [...] Fonte: Costa, F. A. P. L. 2007. Primórdios do aquecimento global. Ciência Hoje 238: 76-78.
O mundo me condena E ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome Deixando de saber Se eu vou morrer de sede Ou se eu vou morrer de fome
Mas a filosofia Hoje me auxilia A viver indiferente assim Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo Que você me diga Que a sociedade É minha inimiga Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba Muito embora vagabundo
Quanto a você Da aristocracia Que tem dinheiro Mas não compra alegria Há de viver eternamente Sendo escrava dessa gente Que cultiva a hipocrisia Fonte: álbum Sinal fechado (1974), de Chico Buarque. Canção originalmente gravada em 1933.
Ontem no baile Não me atendias! Não me atendias, Quando eu falava.
De mim bem longe Teu pensamento! Teu pensamento Bem longe errava.
Eu vi teus olhos Sobre outros olhos! Sobre outros olhos, Que eu odiava.
Tu lhe sorriste Com tal sorriso! Com tal sorriso, Que apunhalava.
Tu lhe falaste Com voz tão doce! Com voz tão doce, Que me matava.
Oh! não lhe fales, Não lhe sorrias, Se então só qu’rias Exp’rimentar-me.
Oh! não lhe fales, Não lhe sorrias, Não lhe sorrias, Que era matar-me. Fonte: Mello, M. A., org. 2003. Poesia sempre. RJ, José Olympio. Poema originalmente publicado em 1846.
Nesta quinta-feira, o Poesia contra a guerra completou nove meses no ar. Até o final do expediente de ontem (11/7), o contador instalado no blogue indicava que 10.428 visitas já haviam sido registradas.
Desde o balanço mensal anterior, “Oito meses”, foram cerca de 63,6 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia continua igual a 113, alcançado em 18/6.
Ao longo do último mês, foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Afonso Henriques Neto, Albano Martins, Blue Balliett, Carl Sandburg, Christopher Lasch, Daniell Rezende, Djavan, Gianni Rodari, Lou Andreas-Salomé, Pablo Milanés, René Goscinny, Shel Silverstein, Simon Singh, Thereza Christina Rocque da Motta e Wolfgang J. Junk. Além de outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.
Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Francis Bacon, Hokusai, Marc Chagall, Rembrandt e Ticiano. Por fim, publiquei também um desenho do meu filho caçula, Noé.
Era uma vez uma árvore... ... que amava um menino. E todos os dias o menino vinha, juntava suas folhas e com elas fazia coroas de rei; com elas brincava de rei da floresta. Subia em seu grosso tronco, balançava-se em seus galhos, comia suas maçãs. E brincavam de esconder. Quando ficava cansado, o menino repousava à sua sombra fresquinha. O menino amava a árvore... profundamente. E a árvore era feliz. Mas o tempo passou. O menino cresceu. E a árvore muitas vezes ficava sozinha. Um dia o menino veio e a árvore disse “Menino, venha subir no meu tronco, balançar-se nos meus galhos, comer as minhas maçãs, repousar à minha sombra e ser feliz.” “Estou grande demais para brincar”, o menino respondeu. “Quero comprar muitas coisas, eu quero me divertir e preciso de dinheiro. Você tem algum dinheiro que possa me oferecer?” “Sinto muito”, disse a árvore, “mas eu não tenho dinheiro. Tenho apenas minhas folhas e tenho minhas maçãs. Mas leve as maças, Menino. Vá vendê-las na cidade. Então terá o dinheiro e você será feliz.” [...] Fonte: Silverstein, S. 2001 [1964]. A árvore generosa, 8a edição. RJ, Record.
4. Na manhã seguinte, a srta. Hussey tinha um brilho extra.
Ela concordou que a visita ao museu não tinha exatamente funcionado. Encontraram três rolos de pergaminho religiosos e a carta com o selo vermelho, nada mais. A srta. Hussey disse que tinha gostado da procura. Não parecia nada aborrecida.
– Querem saber, um dos meus pintores favoritos interessava-se por cartas e deu-lhes importantes destaques em muitos dos seus quadros. Talvez por isso pensei que veríamos mais do que vimos. É engraçado como podemos projetar as coisas.
Ela mudou de assunto, e disse com voz de repente muito séria:
– E então? Vocês chegaram a alguma conclusão sobre comunicação?
Petra levantou a mão.
– Talvez isso seja difícil de estudar. Que tal trabalharmos em alguma coisa ligada à arte? – Ela tinha gostado de explorar o Instituto de Arte. Tinha certeza de que encontrariam outro assunto que valesse a pena investigar.
Denise disse:
– Achei algumas obras de arte grosseiras. Quero dizer, grande parte era sangrenta e violenta ou gente gorda e nua, ou simplesmente antiguidades tediosas, só gente bem-vestida. Quero dizer, ninguém poderia me fazer viver com alguns daqueles quadros.
Houve um murmúrio de aprovação. Denise fungou feliz.
– Duvido que você algum dia tenha de viver com um deles, Denise – comentou a srta. Hussey, cruzando os braços. Então ficou imóvel e olhou para o teto. Vendo que ela não se movia, todos ficaram quietos.
– Querem saber – pronunciou-se a srta. Hussey afinal –, Picasso disse que a arte é uma mentira, mas uma mentira que diz a verdade. – Começou a andar de um lado para outro. – Mentiras e arte... um problema antigo. Assim, se trabalharmos com a arte – disse devagar –, teremos de descobrir outra coisa primeiro: o que faz de um objeto uma obra de arte?
Denise revirou os olhos, mas permaneceu quieta.
– Quero que vocês façam o seguinte: comecem escolhendo um item em casa que vocês acham que é uma obra de arte. Pode ser qualquer coisa. Não peçam conselho a ninguém. Tem de ser sua opinião. Descrevam o objeto para nós, sem dizer o que é. E dessa vez não vou deixar que escapem do anzol. – Sorriu. – Vamos ler algumas das suas idéias em voz alta. [...] Fonte: Balliett, B. 2004. Procurando Vermeer. RJ, Rocco.
Quem te pode escapar, se de ti prisioneiro Pelo grave olhar que sobre ele lançaste? Se a mim envolveres, eu não fugirei Sabendo que nunca deixarás de destruir!
Sei que tens de visitar tudo o que há sobre a terra, onde nada é imune à tua passagem: E seria bela a vida sem ti. Mesmo assim – também tu mereces ser vivida. Fonte: Halévy, D. 1989 [1944]. Nietzsche: uma biografia. RJ, Campus. Clique aqui para ler sobre LAS.
El tiempo, el implacable, el que pasó, siempre una huella triste nos dejó, qué violento cimiento se forjó, llevaremos sus marcas imborrables.
Aferrarse a las cosas detenidas es ausentarse un poco de la vida. La vida que es tan corta al parecer cuando se han hecho cosas sin querer.
En este breve ciclo en que pasamos cada paso se da porque se siente. Al hacer un recuento ya nos vamos y la vida pasó sin darnos cuenta.
Cada paso anterior deja una huella que lejos de borrarse se incorpora a tu saco tan lleno de recuerdos que cuando menos se imagina afloran.
Porque el tiempo, el implacable, el que pasó, siempre una huella triste nos dejó. Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Mercedes Sosa (1987), de Mercedes Sosa. Canção gravada pelo autor em 1976.
Ainda estou estudando os verbos e o mistério de como eles se ligam aos substantivos. Ando mais desconfiado do que nunca dos adjetivos. Esqueci o significado de 20 ou 30 dos meus poemas escritos 30 ou 40 anos atrás. Ainda prefiro vários poemas simples publicados há muito tempo, que continuam a agradar às pessoas simples. Escrevi segundo métodos diferentes e em diversos estados de espírito e raramente tive medo de viajar por terras e mares onde encontrei novos cenários e novos cantos. Durante a vida toda estive tentando aprender a ler, a ver e a ouvir e a escrever. Aos 65 anos, comecei a escrever meu primeiro romance, e durante os quatro anos e onze meses que demorei para terminá-lo, ainda estava viajando, ainda procurando. Gosto de pensar que quando prosseguir escrevendo aparecerão frases realmente vivas, com os verbos vibrando e os substantivos proporcionando cor e ressonâncias. Com a graça de Deus, vou viver até os 89, como Hokusai, e dando o meu adeus às paisagens terrenas, poderia parafrasear: “Se Deus me deixasse viver mais cinco anos, eu teria sido um escritor”. Fonte: Campbell, L.; Campbell, B. & Dickinson, D. 2000. Ensino e aprendizagem por meio das inteligências múltiplas, 2a edição. Porto Alegre, Artmed.
No meio do expediente de ontem, terça-feira, o Poesia contra a guerra superou a marca das dez mil visitas. Do dia 18/6 – ver “Mais de nove mil visitas” – até o fim do expediente da última segunda-feira (2/7) ocorreram em média cerca de 67,5 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia continua igual a 113, alcançado em 18/6.
Joãozinho Boavida (o que há que não lhe aconteça?) chegou um dia no país dos homens de ponta-cabeça.
Pessoas bastante ordeiras, de idéias e costumes sãos, mas que ao andar preferiam, em vez dos pés, usar as mãos.
Que seguiam para casa, para o cinema ou para o bar, de cabeça rente ao chão, pernas na perpendicular.
Como acrobatas de circo, lá se iam, passo a passo, nunca perdendoo equilíbrio e nunca sentindo cansaço.
Perguntou-lhes Joãozinho: “Por que andam dessa maneira? É promessa, juramento ou simplesmente brincadeira?”
Responderam: “Não senhor. Andamos assim ao revés por questão de economia: É que pensamos com os pés.” Fonte: edição No. 158 (junho de 2005) da revista Ciência Hoje das Crianças.