31 agosto 2011

O que é o tempo?

Lee Smolin

Qualquer criança sabe o que é o tempo. No entanto, a certo momento ela acaba se deparando, pela primeira vez, com os paradoxos que estão por trás da nossa noção cotidiana do tempo. Lembro-me de que, quando criança, fui assaltado, repentinamente, pela dúvida a respeito de o tempo acabar ou continuar indefinidamente. Ele deve acabar pois, caso contrário, como poderíamos conceber a infinidade da existência prolongando-se à nossa frente, se o tempo fosse ilimitado? Mas, se ele acaba, o que acontece depois?

Tenho estudo o que é o tempo durante grande parte da minha vida adulta. Mas preciso admitir desde já que não estou mais próximo de uma resposta do que estava quando comecei. Na verdade, mesmo depois de todo esse estudo, realmente acho que não podemos nem responder a uma questão simples como: “Qual é a natureza do tempo?”. Talvez o que de melhor eu tenha a dizer sobre o tempo é explicar como o mistério foi se aprofundando para mim à medida que me defrontava com ele.
[...]

Fonte: Brockman, J. & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

29 agosto 2011

La pecera


1.
El pez, en la gran
burbuja del mar,
respira a fondo
los fondos turbios de aire.
Bajo un color
de sal y soles
apenas se mueve.
Es una espesa
partícula de luz;
la perla en su vitrina.
Mi ojo celebra al pez
sobre su altar de espumas.

2.
En el oxígeno del cuarto
miro cómo te mueves
entre las sombras
azules de tu piel,
aletas de una transparencia,
alas del agua,
vuelo en esta pecera.
Vuelo en los ojos del pensamiento.
Aquí respiras,
aquí te guardo,
aquí te doy de vivir
bajo el cristal redondo de mi amor.
Eres el pez azul
en el puño cerrado de mi mano.

3.
El pez descansa.
En la pecera,
su luz dibuja
un cielo acuático.
No hay un átomo
de chapoteo
ni la pendiente de una onda
Todo es silencio
en este oxígeno.

4.
Abres los ojos
después de muchas
horas de sueño.
Miras el cuarto
que de algún modo
también es sueño,
ojos cerrados,
cuerpo dormido,
luz guarecida
en su caverna.
La habitación
respira toda
junto contigo.
La luz, en ella,
también respira;
aire en el vidrio
inexplicable
de esta pecera.
Abres los ojos,
salta la luz,
soplas la rueda
de esta burbuja.
La habitación
respira sueños
junto contigo.

5.
En la pecera
de la luz de la lámpara
repito mi buceo inútil.
Estrello las narices contra el vidrio,
pongo el ojo en la boca
de la botella oceánica,
asomo la cabeza por arriba
de la línea del agua;
una aleta dorsal
dibuja círculos,
un dorso interrogante se hunde
sin respuesta en el piélago
de la burbuja de cristal;
tiburón de mí mismo
me machuco la cara.
Peces y perplejos dan la vuelta
mis pensamientos.

Fonte (partes 1 e 3, em português): Costa, H. 1992. Antologia de poesia hispano-americana atual. Revista USP 13: 186-205.

27 agosto 2011

Almanaque

Gil de Carvalho

Nascemos por aqui.
De patas vermelhas
Vigiando o mar.
Guardam-no soldados
E uma guarita, mítica.

Tivéssemos chegado
À praia da primeira
Vez e ouvido teríamos
Os cicios de neve brunida.
Um pormenor certamente
Do nosso apego ao tempo.

Sobre cancelas, embrumadas,
A maquinaria, a pique
Cambaleia sobre a espuma.
Segue-a uma cegonha,
Depois outra.
O Negro Mar.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1998.

25 agosto 2011

Onda verde


E. Phillips Fox (1865-1915). Green wave, Manly. 1914.

Fonte da foto: Artabase.

23 agosto 2011

Vou-me, ó bela, deitar na dura cama


Vou-me, ó bela, deitar na dura cama,
de que nem sequer sou o pobre dono:
estende sobre mim Morfeu as asas,
e vem ligeiro o sono.

Os sonhos, que rodeiam a tarimba,
mil coisas vão pintar na minha idéia;
não pintam cadafalsos, não, não pintam
nem uma imagem feia.

Pintam que estou bordando um teu vestido;
que um menino com asas, cego e loiro,
me enfia nas agulhas o delgado,
o brando fio de oiro.

Pintam que entrando vou na grande igreja;
pintam que as mãos nos damos, e aqui vejo
subir-te à branca face a cor mimosa,
a viva cor do pejo.

Pintam que nos conduz doirada sege
à nossa habitação; que mil Amores
desfolham sobre o leito as moles folhas
das mais cheirosas flores.

Pintam que desta terra nos partimos;
que os amigos, saudosos e suspensos,
apertam nos inchados, roxos olhos
os já molhados lenços.

Pintam que os mares sulco da Bahia,
onde passei a flor da minha idade;
que descubro as palmeiras, e em dois bairros
partida a grã cidade.

Pintam leve escaler, e que na prancha
o braço já te of’reço, reverente;
que te aponta co dedo, mal te avista,
amontoada gente.

Aqui, alerta!, grita o mau soldado;
e o outro, alerta estou, lhe diz gritando.
Acordo com a bulha... Então conheço,
que estava aqui sonhando.

Se o meu crime não fosse só de amores,
a ver-me delinqüente, réu de morte,
não sonhara, Marília, só contigo,
sonhara de outra sorte.

Fonte: Gonzaga, T. A. 2000. Tomás Antônio Gonzaga, 4ª edição RJ, Agir. Poema publicado em livro em 1802.

21 agosto 2011

Transcendendo os limites

Philip Zimbardo

[...]
Creio que um dos fatos mais interessantes e importantes que ocorreram, no início da minha carreira, foi o encontro com Leon Festinger, justamente antes da teoria da dissonância cognitiva ser publicada [...]. Festinger chegou a Yale para dar uma palestra e um dos aspectos básicos e novos da sua abordagem foi a sua consideração dos modos pelos quais o comportamento afeta o pensamento, as atitudes e os valores. Até aquela época, todo meu treinamento em abordagem behaviorista supunha que o comportamento fosse o produto final, e observávamos todas as coisas que o influenciavam. Mas ele abriu todo um novo reino de especulação vendo o outro lado da relação causal. Quando comecei a fazer pesquisa naquela área, vi que havia toda uma outra dimensão de significado inerente à abordagem da teoria da dissonância. Os modelos tradicionais de comportamento humano eram modelos que subjugavam a integridade dos seres humanos às exigências das condições de estímulo externo e às ordens das condições biológicas internas. Meu trabalho de estender a teoria da dissonância ao reino do controle cognitivo da motivação foi importante por me fazer entender que é através da nossa intervenção cognitiva que os seres humanos transcendem os limites da sua biologia e as restrições do seu meio ambiente. Assim, vi nas implicações do controle cognitivo da motivação uma espécie de humanismo muito diferente daquele que os terapeutas humanistas falavam nessa época. Comecei a ver que o modo pelo qual um indivíduo define a realidade pode ser a dimensão mais importante da realidade; quer dizer, a realidade cognitiva, social pode, de fato, determinar não só o modo de a pessoa perceber o mundo, mas se ela está ou não fisiologicamente estimulada, se um dado evento é visto ou não como uma recompensa ou suborno, se ela está motivada a abordar algo ou a afastar-se, e se um estímulo é doloroso ou irrelevante.
[...]

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

19 agosto 2011

Como sinto o coração mais forte nas situações miseráveis

Charles

como sinto o coração mais forte nas situações miseráveis
uma casa estranha onde me pergunto que que eu tô fazendo aqui
onde eu posso dizer qualquer coisa ou pular pela janela
que seria como se nada tivesse acontecido
ou talvez um ai histérico se juntasse aos gritinhos da mesa de jogo
e depois de trocado o disco tudo continuasse tranqüilo
e descesse suave como o vinho que se bebe
nada quebra nada
a solidão me pertence mais estupidamente como o anel da coluna partido

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano. ‘Charles’ é pseudônimo de Charles Ronald de Carvalho.

17 agosto 2011

O senhor do abismo

Francesco Santoianni

Diz a lenda que um dia Buda decidiu reunir todos os animais da Terra, prometendo aos que aparecessem uma recompensa proporcional à sua onipotente e milagrosa serenidade. Como a cabeça dos animais estava tomada pelas preocupações do momento, a maior parte recusou o convite do divino Mestre. Apenas doze animais apareceram, sendo o primeiro o rato. Para agradecer aos doze bichos que atenderam o apelo, Buda ofereceu um ano a cada um. A partir daquele momento cada ano seria dedicado a um animal: teria seu nome, sua marca e influenciaria para sempre o caráter e o comportamento dos homens nascidos naquele período. O primeiro foi o ano do rato, que deveria se repetir a cada doze anos por vinte e cinco séculos, transmitindo aos ‘homens-ratos’ astúcia, grande inteligência e criatividade, emotividade, prudência alternada com confiança – talvez excessiva – em si mesmos, ciúmes, intensa sexualidade, gula, avareza alternada com momentos de esbanjamento, espírito de destruição, intuição.

Animal com tendência yin, o rato é um arquétipo nas religiões do Extremo Oriente: provém do norte e pertence ao solstício de inverno, vive trezentos anos e fica branco após ter vivido cem. Pródigo com aqueles que o apreciam, é o símbolo da riqueza e da prosperidade (jamais se hospeda em casas em que há escassez de alimentos), mas é difícil alcançar seus domínios, pois é o senhor das forças ocultas, do mundo subterrâneo. Símbolo de feitos noturnos e clandestinos, o rato provoca temor e ambição. Aos que não o temem, porém, oferece seu maior dote: a segunda visão.
[...]

Fonte: Santoianni, F. s/d [1993]. Todos os ratos do mundo. SP, Best Seller.

15 agosto 2011

Paz

Dirk Rafaelsz Camphuysen

Muita luta aqui lutareis,
Muita cruz e dor sofrereis,
Santos costumes guardareis,
Caminho estreito tomareis
E muita reza rezareis,
Enquanto aqui permaneceis:
Assim, depois, em paz sereis.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Poema datado do início do século 17.

13 agosto 2011

Via Calimala


Telemaco Signorini (1835-1901). Via Calimala. 1889.

Fonte da foto: Wikipedia.

12 agosto 2011

Quatro anos e dez meses no ar

F. Ponce de León

Nesta sexta-feira, 12/8, o Poesia contra a guerra completa quatro anos e dez meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 140.938 visitas foram registradas ao longo desse período.

Desde o balanço mensal anterior – Quatro anos e nove meses no ar – foram aqui publicados textos dos seguintes autores: Chrissie Hynde, Colin A. Ronan, Fernando Assis Pacheco, Guilherme de Almeida, Jean Itiberé, Nikolaas Tinbergen, Nilo Aparecida Pinto, Olegário Mariano, Oren Harman e Paio Soares de Taveirós. Além de outros autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Hippolyte Boulenger e Theodore Robinson.

10 agosto 2011

Canção de mim mesmo


30.
Todas as verdades esperam em todas as coisas,
Elas não apressam o tempo de sua entrega nem resistem a ele,
Elas não precisam do fórceps obstétrico do cirurgião,
O insignificante é tão grande para mim como tudo o mais,
(O que é maior ou menor do que um toque?)

A lógica e os sermões nunca convencem,
A umidade da noite cala mais fundo em minha alma.

(Apenas aquilo que se prova para todo homem e mulher é real,
Só aquilo que ninguém nega é real.)

Um minuto e uma gota de mim estabelecem meu cérebro,
Acredito que os torrões encharcados se tornarão amantes e luzes,
E um compêndio de compêndio é a carne de um homem ou de uma mulher,
E um cimo e uma flor ali são o sentimento que eles têm um pelo outro,
E eles estão para se ramificar, ilimitadamente, por força daquela lição até que se torne onípara.
E até que um e todos nos deliciarão, e nós a eles.

31.
Creio que uma folha de relva não faz menos que a jornada diária das estrelas,
E a formiga é igualmente perfeita, e o grão de areia, e o ovo da garriça,
E a raineta é uma obra-prima para o altíssimo,
E um corredor de amoras pretas adornaria os salões do céu,
E a mais estreita junta de minha mão faz qualquer máquina parecer desprezível,
E a vaca ruminando com sua cabeça volúvel supera qualquer estátua,
E uma ratazana é um milagre suficiente para dobrar os joelhos de sextilhões de infiéis.

Percebo que incorporo gnaisse, carvão, musgo de fios longos, frutas, grãos, raízes comestíveis,
Sou todo revestido com figuras de quadrúpedes e aves,
Estou distante do que deixei atrás de mim por bons motivos,
Mas chamo de volta qualquer coisa quando desejar.

Em vão a velocidade ou a timidez,
Em vão as rochas plutônicas enviam seu velho calor contra a minha abordagem,
Em vão o mastodonte se recolhe embaixo de seus próprios ossos pulverizados,
Em vão os objetos de mantêm a léguas de distância e assumem formas diversas,
Em vão o oceano se assenta em depressões e os grandes monstros se escondem,
Em vão o urubu faz sua casa no céu,
Em vão a cobra desliza pelas plantas rasteiras e os troncos,
Em vão o alce se recolhe para as pastagens mais recônditas da floresta,
Em vão o mergulhão navega para o norte extremo em Labrador,
Eu sigo rápido, galgo até o ninho na fissura do penhasco.

32.
Penso que eu poderia mudar-me para viver com os animais, eles são tão plácidos e independentes,
De pé, eu olho para eles por muito e muito tempo.

Eles não suam nem se lamentam de sua condição,
Não se deitam e rolam acordados no escuro chorando por seus pecados,
Não me deixam enjoado discutindo seus deveres perante Deus,
Nenhum está insatisfeito, nenhum está ensandecido com a mania de possuir coisas,
Nenhum se ajoelha diante do outro, nem para os de sua espécie que viveram há milhares de anos,
Nenhum é respeitável ou infeliz na terra toda.

Então eles mostram seus laços familiares para mim e eu os aceito,
Eles me trazem sinais de mim mesmo, exibem-nos com clareza em sua posse.

Fico imaginando em que paragens encontraram esses sinais,
Terei passado por lá há muito tempo, terei sido negligente ao deixá-los cair?

Eu sigo adiante como então, como agora e como sempre,
Juntando e mostrando sempre mais e com velocidade,
Infinito e omniforme, e semelhante a esses entre eles,
Não muito exclusivo para com aqueles que alcançam minhas lembranças,
Escolhendo aqui um que eu amo, e agora vou com ele em termos fraternos.

Uma gigantesca beleza de garanhão, jovem e sensível às minhas carícias,
Cabeça com testa alta, orelhas bem separadas,
Patas lustrosas e ágeis, cauda arrastando-se no chão,
Olhos cheios de brilhante travessura, orelhas bem talhadas, movendo-se flexivelmente.

Suas narinas se dilatam à medida que meus calcanhares o abraçam,
Seus membros bem modelados tremem de prazer quando corremos e voltamos.

Eu te uso apenas por um momento, e depois te renuncio, garanhão,
Que necessidade tenho de teus passos se eu mesmo galopo com eles?
Mesmo quando estou em pé ou sentado passo mais rápido do que tu.

Fonte: Whitman, W. 2006. Folhas de relva. SP, Martin Claret. O poema todo está arranjado em 52 seções e foi originalmente publicado em 1855. As quatro primeiras seções podem ser lidas aqui.

08 agosto 2011

O enterro da cigarra

Olegário Mariano

As formigas levaram-na... Chovia...
Era o fim... Triste Outono fumarento!
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula carpia.

Quando eu a conheci, ela trazia
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.

Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas... que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!

Pobre cigarra! quando te levavam,
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...

Fonte: Lenko, K. & Papavero, N. 1979. Insetos no folclore. SP, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas. Poema publicado em livro em 1920.

06 agosto 2011

Criminal

Chrissie Hynde

Look at me
high upon the hill
You could say
I’m on top of the world
Baby – I’m blue
all because of you
I can see this city
crumble all around me
press me to your chest
block out the view
oh, whoa whoa whoa

You made me
some kind of criminal
you put me out-law
because I loved you

In my time
one thing I’ve learned
If you play with fire
you get burned
Oh, baby, it’s true
I got burned by you
I put everything I had
into a bag
and trusted you to do
what you didn’t do
oh, whoa whoa whoa

You made me […]

The first thing I think when I wake up
When can I see you?
The last thing I think when I’m drifting off
When will I see you?

Oh, look at me
I’m addicted still
At first I refused,
now I just swallow the pill
Oh, baby, won’t you
fix me like you used to?
I could spend my time in hell
I might as well
’cause hell is where I’m bound to dwell
Without you
oh, whoa whoa whoa

You made me […]

Fonte: encarte que acompanha o álbum Packed! (1990), dos Pretenders.

04 agosto 2011

O preço do altruísmo

Oren Harman

[...]
Esta é a história atemporal da busca pelas origens da caridade. É um conto de animais e homens, de natureza e política, de bondade verdadeira e falsas aparências. Seus personagens são numerosos e pitorescos: o anarquista russo, príncipe Peter Kropotkin; o ‘discípulo do diabo’ Thomas Henry Huxley; o mago matemático de origem húngara e pai da teoria dos jogos, Johnny von Neumann; o polímata inglês e o ‘último homem a conhecer tudo que há para conhecer’, J. B. S. Haldane; o psicólogo ‘orwelliano’ B. F. Skinner; o pai da teoria da informação, Claude Shannon; ‘o darwinista mais ilustre desde Darwin’, Bill Hamilton; John D. Rockefeller, Vladimir Illych Lênin, Adolf Hitler, Franklin Roosevelt, Richard Nixon, os Beatles e muitos outros.

Todavia, mais do que uma história pessoal de homens, esta é também uma crônica coletiva da humanidade. Desde suas origens humildes, em alguma sopa primordial, passando por colônias amebóides, formigas, cervos armados com chifres e primatas pensantes, a história da busca pela bondade escala todos os caminhos, desde oceanos e selvas até as disputas titânicas ao longo do século 20 entre sistemas de governo e economias. Da promessa de democracia e mercados livres ao comunismo e à esperança de igualdade, das lutas de libertação e do perigo do individualismo à embriaguez do nacionalismo e da uniformidade, a aventura para solucionar os segredos do altruísmo é uma viagem épica. De babuínos brigando em árvores à Revolução Russa, à Alemanha nazista, à bomba atômica, à neurogenética do século 21 e às imagens atuais do cérebro – eis a ascensão da humanidade, a viagem sisifiana de volta ao paraíso do Jardim do Éden.

É também o conto trágico da alma torturada de um homem, George Robert Price, a linha que faltava, e agora está costurada, na tapeçaria de uma história maior. Mais do que qualquer outra pessoa, Price chegou mais perto de ver quanto sacrifício poderia surgir da triagem implacável da evolução, mesmo se a sua penetrante análise matemática jamais pudesse dizer a ele se o desprendimento era de fato puro e genuíno. Incapaz de encontrar na ciência a resposta para esse que é o maior dos dilemas humanos, ele foi procurar em outros lugares. O que ele encontrou serve de lição a todos aqueles que vieram antes ou depois dele.
[...]

Fonte: tradução livre de Harman, O. 2010. The price of altruism: George Price and the search for the origins of kindness. NY, Norton.

02 agosto 2011

Cena rural


Hippolyte Boulenger (1837-1874). Josaphat Valley at Schaarbeek. 1868.

Fonte da foto: Wikipedia.

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