Por que havemos de ser unicamente humanos, limitados em chorar?
Não encontro caminhos fáceis de andar. Meu rosto vário desorienta as firmes pedras que não sabem de água e de ar.
E por isso levito. É bom deixar um pouco de ternura e encanto indiferente de herança, em cada lugar.
Rastro de flor e estrela, nuvem e mar. Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido: a sombra é que vai devagar. Fonte: Meireles, C. 1993. Poesia completa: volume único. RJ, Nova Aguilar. Poema originalmente publicado em 1945.
E já passou não quer passar E já choveu não quer chegar E me lembrou qualquer lugar E me deixou não sei que lá
Não quer chegar e já passou E quer ficar e nem ligou E me deixou qualquer lugar Desatinou, caiu no mar
Caiu no mar, Nena Pipo, cadê você? Dora, cadê você? Pablo, Lilia, cadê você?
Beira Rio Duas Barras Morro Velho Ponte Nova Maravilha Buracada Sumidouro Olho-d’Água
Não quer chegar...
Caiu no mar, Pedro Chico, cadê você? Lino, cadê você? Zino, Zeca, cadê você?
Vista Alegre Cruz das Almas Maroleiro Asa Branca Bom Sossego Santo Amaro Poço Fundo Montes Claros Cachoeira Mambucaba Porto Novo Água Fria Andorinha Guanabara Sumidouro Olho-d’Água Fonte: encarte que acompanha os LPs do álbum duplo Clube da esquina 2 (1978), de Milton Nascimento.
Eu nunca sonhei com você Nunca fui ao cinema Não gosto de samba Não vou a Ipanema Não gosto de chuva Nem gosto de sol E quando eu lhe telefonei Desliguei, foi engano. Seu nome eu não sei Esqueci no piano As bobagens de amor Que eu iria dizer Não, Lígia, Lígia
Eu nunca quis tê-la a meu lado Num fim de semana Um chope gelado Em Copacabana Andar pela praia até o Leblon E quando eu me apaixonei Não passou de ilusão O seu nome rasguei Fiz um samba-canção Das mentiras de amor Que aprendi com você É, Lígia, Lígia
E quando você me envolver Nos seus braços serenos Eu vou me render Mas seus olhos morenos Me metem mais medo Que um raio de sol Lígia, Lígia Fonte: álbum Sinal fechado (1974), de Chico Buarque. Há uma outra versão algo diferente para esta letra.
1. O pano ergueu-se, Régine inclinou-se e sorriu; sob as luzes do grande lustre, manchas rosadas borboleteavam por cima dos vestidos multicores e paletós escuros; em cada rosto havia olhos e, no fundo de todos esses olhos, Régine inclinava-se e sorria; o fragor das cataratas, o troar dos aludes enchiam o velho teatro; uma força impetuosa arrancava-a da terra e lançava-a ao céu. Inclinou-se novamente. O pano desceu e ela sentiu na sua mão a de Florence; largou-a com vivacidade e encaminhou-se para a saída. – Cinco chamadas ao palco, muito bem – disse o diretor. – Para um teatro de província, é bom. Ela desceu os degraus que conduziam ao foyer. Esperavam-na com flores; de chofre, ela voltou à terra. Quando estavam sentados no escuro, invisíveis, anônimos, não se sabia quem eram; era possível imaginar-se diante de uma assembléia de deuses; mas logo que a gente os via um por um, achava-se em frente de pobres-diabos sem importância. [...]
2. – E que fim levou o seu faquir? – disse Laforêt. Régine encheu, sorrindo, os copos de porto. – Ele vai ao restaurante duas vezes por dia, usa ternos comprados feitos e é tão enfadonho quanto um empregado de escritório. Curei-o demasiado bem. Roger virou-se para Dulac. – Em Rouen encontramos um pobre iluminado que se acreditava faquir. Régine resolveu curá-lo. – E conseguiu? – perguntou Dulac. – Ela consegue sempre o que empreende – disse Roger. – É uma mulher perigosa. Régine sorriu. – Desculpem-me um instante, vou ver em que ponto está o jantar. [...]
3. Durante um instante, Régine permaneceu imóvel à entrada do quarto; abarcou num olhar o cortinado vermelho, as vigas do teto, a cama estreita, os móveis de madeira escura, os livros arranjados na prateleira; depois fechou a porta e avançou até o meio do estúdio. – Eu me pergunto se Fosca vai gostar desse quarto – disse ela. Annie ergueu os ombros. – Para que tanto trabalho com um homem que olha as pessoas como se fossem nuvens? Não verá nada. – Exatamente, é preciso ensiná-lo a ver – explicou Régine. [...] Fonte: Beauvoir, S. [1991?] Todos os homens são mortais. SP, Círculo do Livro.
Us, and them And after all were only ordinary men Me, and you God only knows it’s not what we would choose to do
Forward he cried from the rear and the front rank died And the General sat, and the lines on the map moved from side to side
Black and blue And who knows which is which and who is who Up and Down And in the end it’s only round and round and round
Haven’t you heard it’s a battle of words the poster bearer cried Listen son, said the man with the gun There’s room for you inside
I mean, they’re not gunna kill ya, so if you give ’em a quick short, sharp, shock, they won’t do it again. Dig it? I mean he get off lightly, ’cos I would’ve given him a thrashing – I only hit him once! It was only a difference of opinion, but really... I mean good manners don’t cost nothing do they, eh?
Down and Out It can’t be helped but there’s a lot of it about With, without And who’ll deny that’s what the fightings all about
Get out of the way, it’s a busy day And I’ve got things on my mind For want of the price of tea and a slice The old man died Fonte: álbum The dark side of the moon (1973), do Pink Floyd.
Ela cantava além do gênio do oceano. A água não formava mente ou voz, Como um corpo todo corpo, agitando As mangas ocas; essa mímica, no entanto, Era um grito constante, constantemente um grito Que não era nosso, embora o entendêssemos, Inumano, do verdadeiro oceano.
O mar não era máscara. Nem ela. O canto e a água não eram contraponto Ainda que ela ouvisse o que cantava, Pois que seu canto era palavra por palavra. Talvez em cada frase sua transpirasse Água rangente, vento resfolegante; Mas não era mar nem ela que ouvíamos.
Pois era ela a autora do seu canto. O mar, com seu capuz eterno e gestos trágicos, Não era mais do que um cenário para seu canto. E perguntamos: de quem é esse espírito? Sabendo que era aquele que buscávamos, Que era preciso perguntá-lo ouvindo o canto.
Se fosse só a escura voz do mar A se elevar, mesmo com a cor de muitas ondas; Ou só a voz exterior do céu E nuvem, de coral murado em água, Ainda que clara, seria ar profundo, Fala arquejante de ar, som estival A repetir-se num verão sem fim, Só som. Mas era mais que isso, Mais que a voz dela até, e as nossas, entre Mergulhos sem sentido de água e vento, Distâncias teatrais, sombras de bronze Amontoadas no horizonte, atmosferas Montanhosas de céu e mar.
Era a voz dela Que aguçava o céu ao máximo ao morrer Ela media-lhe da solidão a hora. Ela era a única artífice do mundo Em que cantava. E, ao cantar, o mar, Fosse o que fosse antes, se tornava O ser do canto dela, a criadora. E nós, Ao vê-la esplêndida e sozinha, compreendemos Que nunca houve para ela outro mundo Senão aquele que, ao cantar, ela criava.
Ramon Fernandez, me diga, se souber, Por quê, ao fim do canto, quando íamos Rumo à cidade, por que as luzes vítreas, As luzes das traineiras ancoradas, Pensa no ar do entardecer, predominavam A noite e parcelavam todo o mar, fixando Regiões feéricas, pólos de fogo, Dispondo, aprofundando, enfeitiçando a noite.
Ah, pálido Ramon, abençoado ímpeto De ordem, ânsia do criador de ordenar Palavras do mar, de portais flagrantes, Estrelados, de nós mesmos, nossa origem, Em espectrais demarcações, sons mais pungentes. Fonte: Stevens, W. 1987. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1935.
[...] Na análise causal, usualmente faz-se uma distinção entre causas necessárias e suficientes. Se algo é uma causa necessária de um efeito, ao evitarmos a causa evitamos também o efeito. Uma causa suficiente, em contraste, pode ser eliminada sem que o efeito seja evitado, porque alguma outra causa pode tomar seu lugar. Porém, se estiver presente uma causa suficiente, inevitavelmente o efeito decorrerá dela. Nessa análise simples, no entanto, as enfermidades cardiovasculares e o câncer não são causas necessárias nem suficientes da morte. Contrair uma ou outra dessas doenças não é garantia de que se morrerá em conseqüência dela e tampouco sua ausência confere imortalidade. [...]
Portanto, deve haver uma causa da morte como um fenômeno, como algo distinto dos casos individuais, que são mais bem entendidos como “agentes”. Agentes são caminhos alternativos de mediação de alguma causa básica, uma causa que opera sempre, ainda que através de caminhos diferentes. Se a causa não operar através de um agente, operará através de outro. Nesse sentido, a causa da morte está em que os organismos vivos são aparatos eletromecânicos, compostos de partes físicas articuladas, as quais, por razões puramente termodinâmicas, acabam por se descartar e deixam de funcionar. [...]
A mesma distinção entre causas e agentes é relevante para os problemas da poluição e do manejo de detritos. Quando iniciativas legais ou de pressão popular logram proibir um determinado processo industrial que envenena os trabalhadores ou que resulta na acumulação de detritos não-degradáveis, a indústria adota um processo diferente, em que outros venenos ou outros detritos são produzidos e outros recursos são consumidos. A produção de papel consome árvores e lança sulfitos na água e no ar. A substituição do papel por plásticos consome petróleo e cria um produto final não-degradável. Os mineiros já não morrem de doenças pulmonares adquiridas nas minas de carvão à medida que o carvão foi sendo substituído pelo petróleo. Em vez disso, eles morrem de câncer, induzido pelos produtos das refinarias. Sulfitos, encostas desmatadas e depósitos de materiais não-degradáveis não são as causas da degradação das condições da vida humana. São apenas seus agentes. A causa é a racionalidade estreita de um esquema anárquico de produção desenvolvido pelo capitalismo industrial e adotado pelo socialismo industrial. Nesse caso, como em todos os demais, a confusão entre agentes e causas impede uma confrontação realista com as condições da vida humana. Fonte: Lewontin, R. C. 2002. A tripla hélice. SP, Companhia das Letras.
Triste Bahia! oh! quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado, Rica te vi eu já, tu a mim abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh! Se quisera Deus que, de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! Fonte: Spina, S. 1995. A poesia de Gregório de Matos. SP, Edusp.
Nightswimming deserves a quiet night. The photograph on the dashboard, taken years ago, turned around backwards so the windshield shows. Every streetlight reveals the picture in reverse. Still, it’s so much clearer. I forgot my shirt at the water’s edge. The moon is low tonight.
Nightswimming deserves a quiet night. I’m not sure all these people understand. It’s not like years ago, the fear of getting caught, of recklessness and water. They cannot see me naked. These things, they go away, replaced by everyday.
Nightswimming, remembering that night. September’s coming soon. I’m pining for the moon. And what if there were two side by side in orbit around the fairest sun? That bright, tight forever drum could not describe nightswimming.
You, I thought I knew you. You I cannot judge. You, I thought you knew me, this one laughing quietly underneath my breath. Nightswimming.
The photograph reflects, every streetlight a reminder. Nightswimming deserves a quiet night, deserves a quiet night. Fonte: álbum Automatic for the people (1992), do R.E.M.
Este findou aqui sua vasta carreira de rato vivo e escuro ante as constelações a sua pequena medida não humilha senão aqueles que tudo querem imenso e só sabem pensar em termos de homem ou árvore pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube) o milagre das patas – tão junto ao focinho – que afinal estavam justas, servindo muito bem para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar atrás de repente, quando necessário
Está pois tudo certo, ó “Deus dos cemitérios pequenos”? Mas quem sabe quem sabe quando há engano nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer que não era para príncipe ou julgador de povos o ímpeto primeiro desta criação irrisória para o mundo – com mundo nela? Tantas preocupações às donas de casa – e aos médicos – ele dava! Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam? Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar e passou nela a roda com que se amam olhos nos olhos – vítima e carrasco
Não tinha amigos? Enganava os pais?
Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido e agora parado, aquoso, cheira mal.
Sem abuso que final há-de dar-se a este poema? Romântico? Clássico? Regionalista?
Como acabar com um corpo corajoso e humílimo morto em pleno exercício da sua lira? Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1957.
Por la calle voy chilando el collar de mi pasión por la calle voy contando las monedas de mi amor por la calle voy buscando la humedad de la razón por la calle voy tirando la envoltura del dolor por la calle voy volando como vuela el ruiseñor por la calle voy cantando con mi traje mi canción
Esto de jugar a la vida es algo que a veces duele
En mi casa mi familia se adormila en su sillón en mi casa se ha quedado a vivir la tradición en mi casa las paredes se respetan como a un dios en mi casa hay una iglesia que se llama comedor en mi casa a mis padres yo les hablo con su voz pero a veces en mi casa el silencio es lo mejor
Esto de jugar...
En tu casa yo me pierdo yo me encuentro y al fin soy en tu casa yo deshago con mis manos una flor en tu casa yo inauguro hasta el ultimo rincón en tu casa yo me ahogo con el agua de tu voz en tu casa hay señales que me dicen donde estoy pero a veces en tu casa yo me encuentro y no soy
Esto de jugar...
Y de nuevo en la calle me remiendo la ilusión y de nuevo en la calle yo me muerdo el corazón y de nuevo en la calle yo me vuelvo aparador y me ofrezco en barata sin abono sin fiador y de nuevo en la calle yo me creo lo que soy y pintandome de bueno voy cantando mi canción
Esto de jugar... Fonte: álbum América do Sol 3 (1980), coletânea de vários autores e intérpretes.
1. Que busco, infausta lira, Que busco no teu canto, Se ao mal, que cresce tanto, Alívio me não dás?
A alma, que suspira, Já foge de escutar-te: Que tu também és parte De meu saudoso mal.
2. Tu foste (eu não o nego) Tu foste em outra idade Aquela suavidade, Que Amor soube adorar;
De meu perdido emprego Tu foste o engano amado: Deixou-me o meu cuidado; Também te hei de deixar.
3. Ah! De minha ânsia ardente Perdeste o caro império: Que já noutro hemisfério Me vejo respirar.
O peito já não sente Aquele ardor antigo: Porque outro norte sigo, Que fino amor me dá.
4. Amei-te (eu o confesso) E fosse noite, ou dia, Jamais tua harmonia Me viste abandonar.
Qualquer penoso excesso, Que atormentasse esta alma, A teu obséquio em calma Eu pude serenar.
5. Ah! Quantas vezes, quantas Do sono despertando, Doce instrumento brando, Te pude temperar!
Só tu (disse) me encantas; Tu só, belo instrumento, Tu és o meu alento; Tu o meu bem serás.
6. Vai-te; que já não quero, Que devas a meu peito Aquele doce efeito, Que me deveste já.
Contigo já mais fero Só trato de quebrar-te: Também hás de ter parte No estrago de meu mal.
7. Não saberás desta alma Segredos, que sabias, Naqueles doces dias, Que Amor soube alentar.
Se aquela ingrata calma Foi só tormenta escura, Na minha desventura Também naufragarás.
8. Nise, que a cada instante Teu números ouvia, Ou fosse noite, ou dia, Jamais não te ouvirá.
Cansado o peito amante Somente ao desengano O culto soberano Pretende tributar.
9. De todo enfim deixada No horror deste arvoredo, Em ti seu tosco enredo Aracne tecerá.
Em paz se fique a amada, Por quem teu canto inspiras; E tu, que a paz me tiras, Também te fica em paz. Fonte: Costa, C. M. [1986?] Poemas de Cláudio Manuel da Costa. SP, Cultrix. Poema originalmente publicado em 1768.
O Poesia contra a guerra completou nesse sábado, 20/1, exatos 100 dias no ar. De 12/10/2006 até ontem, o contador instalado no blogue registrou 2.112 visitas e 3.577 page views. Em valores médios, isso significa pouco mais de 21 visitas por dia e quase 1,7 page view por visita.
Aproveito a oportunidade para reunir aqui o nome de todos os 110 autores (sem incluir pessoal ou material da casa) que já foram publicados no blogue (alguns mais de uma vez), a saber:
A. K. Dewdney, Adélia E. Oliveira, Adélia Prado, Ademir Antônio Bacca, Aldir Blanc, Alan Sokal, Allan Bloom (2), Alphonsus de Guimaraens, Antoine de Saint-Exupéry, Arnold J. Toynbee, Ascânio Lopes, Atahualpa Yupanqui, Augusto dos Anjos; Bárbara Lia, Belchior (2), Bob Dylan (2), Bono (2); Cacaso, Carlos Drummond de Andrade (2), Carlos Fernando, Carmen L. Oliveira, Castro Alves, Cat Stevens (ou Yusuf Islam), Cecília Meireles (2), Chico Buarque, Cláudio Lucci; Daniel J. Boorstin, Dewey Bunnell, Dorival Caymmi; Elizabeth Bishop, Elomar (2), Ernest Mandel; Federico García Lorca (2), Fernando Brant (2), Fernando Pessoa (2), Ferreira Gullar (2), Florbela Espanca; Gildo Magalhães, Godofredo Guedes, Graham Nash; Hannah Arendt, Heinz Dieterich; Ian Anderson; J. D. Salinger, James Taylor, Jared Diamond, Jeffrey M. Mason, João Cabral de Melo Neto (2), João Ricardo, John Horgan, John Lennon (2), John Tyler Bonner, Jorge de Lima, Jorge de Sena, Jorge Luís Borges, Joyce, Júlio Verne (2); Leonard Cohen, Luciano Berio, Luiz Alberto Machado, Luiz Ruffato; Manuel Bandeira, Márcio Borges (2), Mário de Sá-Carneiro, Mário Quintana, Marshall Berman, Miguel de Cervantes, Miguel Hernández, Milton Nascimento, Murilo Antunes, Murilo Mendes, Murilo Rubião; Noam Chomsky (2);Osvaldo Faria, Othon M. Garcia; Paul K. Feyerabend, Paul McCartney, Paul Simon, Paulo César Pinheiro, Peter Gabriel (2), Phil Collins; Rainer Maria Rilke, Régis Bonvicino, Roger Waters (2), Rolando Alarcón, Ronaldo Bastos, Ronaldo Cagiano, Roseana Murray, Rossana Dalmonte, Ruy Guerra; Silvia Rubião, Silvio Rodríguez, Stefan Kunze, Steve Hackett, Stuart Pimm, Susan McCarthy; Teresa Parodi, Thiago de Mello, Tomás Antônio Gonzaga; Uwe Kraemer; Victor Jara, Vinicius de Moraes, Violeta Parra (2), Virna Teixeira, Vital Farias, Vitor Ramil, Viviane Forrester; Walter Freitas, William Carlos Williams e Wilton Cardoso.
No mesmo período, foram reproduzidas obras dos seguintes pintores: Amedeo Modigliani, Andrew Wyeth, Caravaggio, Claude Monet, Diego Velázquez, Edward Hopper, Frida Kahlo, Gustav Klimt, Henri Rousseau, Jan van Eyck, Leonardo da Vinci, Paul Cézanne, Pieter Bruegel, Rafael, Sandro Botticelli, Vincent van Gogh e William Blake.
(...) P. [Dalmonte] – Seria interessante saber por que razão, a partir da morte de Beethoven, começou-se a falar e a escrever tanto sobre música.
R. [Berio] – Talvez porque a música deixou de ser uma atividade objetiva destinada a preencher funções sociais específicas e tornou-se, pelo menos nas intenções, veículo de expressões e idéias pessoais. A música viu-se conscientemente transportada para o universo dos signos, como se diz hoje, e das idéias. O compositor, como pintor e poeta, tornou-se um “artista” cujos ideais e cuja visão do mundo pareciam menosprezar a quinquilharia artesanal da profissão musical. Criou-se uma distância entre idéia e prática musical e o músico consciente teve que explicar e preencher essa distância para um público diferente, um público que pagava e queria não apenas ouvir uma sinfonia, mas reouvi-la. Apareceu então a Estética que veio em auxílio de quem falava e escrevia sobre a música e arte, tanto ontem como hoje. O compositor começou a falar de seu trabalho e de suas idéias a partir do momento em que deixou de fazer música de maneira direta, deixou, ou quase, de ser um músico prático, de ser executante e de tocar cotidianamente um instrumento. Chopin e Brahms, grandes pianistas, não nos deixaram escritos. Messiaen, grande organista, também não (a sua Technique de mon langage musical é estranha até no título). Mas Schumann (que feriu um dedo e não podia mais tocar piano), Berlioz (que tocava guitarra muito mal), Wagner e Schoenberg (que certamente não eram virtuoses de seus respectivos instrumentos, piano e violoncelo), deixaram-nos uma quantidade significativa de escritos. Penso que sobre esse assunto (que se resume da distinção capitalista entre trabalho intelectual e trabalho manual) valeria a pena fazer pelo menos uma tese acadêmica numa faculdade de Sociologia – sem esquecer que a partir de Beethoven todos os aspectos do processo criativo, até os mais ínfimos, começaram a ter um preço: os manuscritos do compositor, os óculos do compositor, o cartão postal do compositor, a cama do compositor, seu boletim escolar, sua casa, sua cadeira, seus hábitos e, naturalmente, suas entrevistas.
Tentar definir a música – que em todo caso não é um objeto mas um processo – é quase como tentar definir a poesia, ou seja: trata-se de uma operação felizmente impossível, considerando a futilidade de querer estabelecer a fronteira entre o que é música e o que não é, entre poesia e não-poesia. Com a diferença, porém, de que na poesia a distinção implícita entre língua e literatura, entre língua falada e língua escrita, torna mais fácil a definição dessa fronteira. Talvez a música seja justamente isto: a procura de uma fronteira constantemente deslocada. Nos séculos anteriores, por exemplo, a “fronteira” tonal delimitava territórios precisos e profundos. Hoje os territórios são vastíssimos, as fronteiras muito mais móveis e de natureza diversa. Aliás, muitas vezes, o objetivo da pesquisa musical e da criação não é sequer a definição de uma fronteira perceptiva, expressiva e conceitual, mas antes sua eliminação, ou seja: a eliminação como ação “vanguardística”. E neste caso, paradoxalmente, torna-se fácil responder à sua pergunta: a música é tudo aquilo que se ouve com a intenção de ouvir música. (...) Fonte: Berio, L. & Dalmonte, R. [1981?] Entrevista sobre a música. RJ, Civilização Brasileira. Sobre a música de Beethoven, clique aqui.
Quantas enchentes carregaram de nós o que era melhor do que restou?
Há tribunal para os holocaustos modernos?
A guerra é em nós, mais que os tributários algozes da violência. O homem e seu pequeno evangelho de desgraças cuida de seus jardins sinistros de onde vemos a rosa expandida num cogumelo assassino manchando a Mesopotâmia.
Estou também triste como aquele bedel de paletó azul que atravessa a Esplanada com sua rotina imutável, em meio a estatísticas que não nos eternizarão.
Sou tão pouco e breve como o cobrador do Grande Circular em sua geografia de léguas sempre iguais.
As horas consomem-nos e não ganhei o beijo da mulher, o abraço dos filhos, porque a noite chegou antes, o corpo tem urgências e o salário uma incógnita.
Entra dia, sai dia, é aquela mediocridade envernizada a redigir expedientes que jamais serão considerados na História do Brasil.
Cada minuto é um suceder burocrático de coisas que não me bastam de braços recolhidos e palavras cansadas.
Cada funcionário em sua estação de trabalho (esses currais envidraçados habitados por fantasmas) repete bovinamente suas tarefas e nem imagina que do outro lado do mundo tantos morrem por nossa culpa sob o delírio tecnocrata de uma batalha desigual.
Lá fora o chumbo das nuvens desconhece o sofrimento dos que vendem os filhos nos sinais de trânsito.
E eu tentando conciliar os litígios dos homens que devem tanto e outras contas sem rosto e sem nome que dormem e já conhecem o novo século, mas a fome dos homens não quer saber de mísseis, internet e fmi.
Se eu tivesse a chave do cofre, às favas esse hospício e suas ilusões matemáticas, verteria leite e mel nos interstícios da África
mas, minha imaginação não vale nada, não evita a multa de trânsito, as palafitas às margens do Tietê nem o que é compulsório, como a morte, as elites, o pfl e a cpmf.
Se meu instinto sentasse praça eu não estaria mais no banco dos réus (como a sociedade aviltada pelas humilhações quotidianas) e cada um dos meus pares – esses cadáveres adiados em seus currais de vidro – não venderia as férias para viver o amanhã. Fonte: poema publicado aqui com o devido consentimento do autor, a quem agradeço pela cortesia.
Não basta o sopro do vento Nas oliveiras desertas, O lamento de água oculta Nos pátios da Andaluzia.
Trago-te o canto poroso, O lamento consciente Da palavra à outra palavra Que fundaste com rigor.
O lamento substantivo Sem ponto de exclamação: Diverso do rito antigo, Une a aridez ao fervor, Recordando que soubeste Defrontar a morte seca Vinda no gume certeiro Da espada silenciosa Fazendo irromper o jacto
De vermelho: cor de mito Criado com a força humana Em que sonho e realidade Ajustam seu contraponto.
Consolo-me da tua morte. Que ela nos elucidou Tua linguagem corporal Onde el duende é alimentado Pelo sal da inteligência, Onde Espanha é calculada Em número, peso e medida. Fonte: Mendes, M. 2001. Tempo espanhol. RJ, Record. Obra originalmente publicada em 1959. Poemas de García Lorca já foram publicados neste blogue; ver, por exemplo, aqui.
I read the news today oh boy About a lucky man who made the grade And though the news was rather sad Well I just had to laugh I saw the photograph. He blew his mind out in a car He didn’t notice that the lights had changed A crowd of people stood and stared They’d seen his face before Nobody was really sure If he was from the House of Lords. I saw a film today oh boy The English Army had just won the war A crowd of people turned away But I just had to look Having read the book. I’d love to turn you on. Woke up, fell out of bed Dragged a comb across my head Found my way downstairs and drank a cup, And looking up I noticed I was late. Found my coat and grabbed my hat Made the bus in seconds flat Found my way upstairs and had a smoke, Somebody spoke and I went into a dream. I read the news today oh boy Four thousand holes in Blackburn, Lancashire And though the holes were rather small They had to count them all Now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall. I’d love to turn you on. Fonte: capa do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.
Acreditava que eram assinalados. Asas invisíveis. Halos transparentes de translúcida luz. A espada – lapiseira grafite número cinco. Em muros escreviam de forma arcaica, Redondas letras apinhadas em versos. Filósofos, deuses, anjos perdidos. Caminhavam em calçadas íngremes. Coração em sorrateiras nuvens. Extraviada do passado, Seguia os poetas. Prevendo – os anjos. Prevendo – os deuses. Não reconheci a porção humana. De carne e mágoa. Nem a aura triste Do século das hecatombes. Cada paixão – pedra. Decepções empilhadas – um túmulo. A lápide – um manual de sepultar o coração. Meu livro seria sal Se narrasse as mágoas Punhais no peito Cravados por anjos. De olhos cinzas, Verdes e negros. “color de té”, como diria Neruda. “color de adiós” Já não cantava As violetas na tarde, Rubros amanheceres. A aproximação de Marte. Riso-sol de meninos. Despida de sonhos e sandálias Cruzei vales, desertos e pontes. Ancorei na praia Com areia de mármore. Tarde cinza. Mar! Certeza azul: O poeta é mar! Reflexo dos céus. Inconstante. Não sabe se vai ou fica E violenta a areia Em eternas ondas. Esconde sua beleza Em um verde colérico. Em maremotos. Extensão serena ou triste. Plácido ou rancoroso. A música e a ardência de sal Tudo esconde... Abismos de luz. Algas e pérolas. Diante do sol e sal. Abracei cada amante antigo, Suas almas-abismos-de-cores. E sepultei, na areia, as dores. Abri asas – fênix. Todo poeta-mar Necessita de uma ave Que deslize suas asas em riste E o toque com ternura de espumas. A canção ecoa, ruge, alça nuvens. Alcança a alada poeta Em liberdade no azul sereno. Assim nascem os poemas Na abstração Na ausência Na doçura de asas roçando espumas. O poeta-mar inquieto Ninguém domina Mas, sua alma sonha Mulheres aladas Soltas na correnteza Do vento, Flanando livres Entre as nuvens. Fonte: poema publicado na revista literária Ontem choveu no futuro (2005) e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.
No número crescente de universidades medievais havia poucas bibliotecas institucionais, mas os professores continuavam a precisar de livros. Era possível obtê-los de mercadores de livros itinerantes, fonte pouco merecedora de confinça sobre a qual os professores não tinham nenhum controle. Alugar manuais, geralmente mediante um preço fixo por caderno, era um privilégio valioso que podia enriquecer a universidade e proibir a circulação de textos heréticos. O catálogo mais antigo da Universidade de Paris, de 1286, enumera uns 138 títulos diferentes para alugar. Em Bolonha e noutros lugares, era exigido a cada professor que fornecesse ao “estacionário” da universidade uma cópia das suas lições, para poderem ser transcritas e alugadas ou vendidas. Chamava-se-lhe “estacionário” simplesmente porque, ao contrário dos mercadores de livros itinerantes, permanecia num lugar. Os mercadores ainda negociavam em livros proibidos, e foram eles que possibilitaram a grande circulação das traduções proibidas da Bíblia que John Wycliffe fez para inglês. Mas o “estacionário” continuou durante muito tempo a ser a fonte autorizada de fornecimento de manuais e material de escrita, e operou também como biblioteca circulante. (...)
Então, quando a própria imprensa se tornou uma instituição estabelecida, os impressores organizaram as suas guildas e tentaram limitar as edições, a fim de manterem a estabilidade dos postos de trabalho. Em Inglaterra, um decreto da Câmara Estrelada de 1587 limitava as edições a 1.250 exemplares, apenas com algumas, poucas, excepções. Mais ou menos por essa altura, a própria Stationer’s Company limitava as edições a 1.500 exemplares, tendo como única excepção obras como gramáticas, livros de orações, estatutos e proclamações, calendários e almanaques. Na Europa, durante os séculos 17 e 18, uma primeira edição só excedia os 2.000 exemplares quando se tratava de bíblias e obras de uma popularidade invulgar, como Le siècle de Louis XIV, de Voltaire, ou a Enciclopédie, de Diderot. (...)
[O filósofo alemão] Leibniz foi um marco da transição das coleções reais e eclesiásticas destinadas à minoria privilegiada para a biblioteca pública ao serviço de todos. No século seguinte, as suas visões seriam concretizadas na surpreendente carreira do imigrante italiano Sir Anthony Panizzi (1797-1879), nacionalista italiano apaixonado e enérgico homem de acção. Forçado a fugir da sua Brescello natal, no ducado de Modena, onde aderira a uma sociedade secreta que conspirava contra os ocupantes austríacos, fora condenado à morte à revelia. Encontrou refúgio em Inglaterra, onde foi nomeado primeiro professor de Literatura Italiana da Universidade de Londres. Como não aparecessem estudantes, abandonou o cargo honorífico para se integrar nos quadros do Museu Britânico em 1831. Nos 35 anos seguintes, dominou e revigorou esse lugar para fazer dele o modelo de uma biblioteca nacional no estilo moderno, indo ao encontro do público leitor. (...) Fonte: Boorstin, D. 1989. Os descobridores, 2a edição. RJ, Civilização Brasileira.
A tarde morria! Nas águas barrentas As sombras das margens deitavam-se longas; Na esguia atalaia das árvores secas Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas, Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos, As trevas rasteiras com o ventre por terra Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mais funda nas águas Lavava-se a galha do escuro ingazeiro... Ao fresco arrepio dos ventos cortantes Em músico estalo rangia o coqueiro.
Sussurro profundo! Marulho gigante! Talvez um – silêncio!... Talvez uma – orquestra... Da folha, do cálix, das asas, do inseto... Do átomo – à estrela... do verme – à floresta!...
As garças metiam o bico vermelho Por baixo das asas, – da brisa ao açoite –; E a terra na vaga de azul do infinito Cobria a cabeça co'as penas da noite!
Somente por vezes, dos jungles das bordas Dos golfos enormes daquela paragem, Erguia a cabeça surpreso, inquieto, Coberto de limos — um touro selvagem.
Então as marrecas, em torno boiando, O vôo encurvavam medrosas, à toa... E o tímido bando pedindo outras praias Passava gritando por sobre a canoa!... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Fonte: Alves, C. 1990. Poemas, 8a edição. RJ, Agir. Poema originalmente publicado em livro póstumo, A cachoeira de Paulo Afonso, de1876.
Vendedor de sonhos tenho a profissão viajante de caixeiro que traz na bagagem repertório de vida e canções
E de esperança mais teimoso que uma criança eu invado os quartos, as salas as janelas e os corações
Frases eu invento elas voam sem rumo no vento procurando lugar e momento onde alguém também queira cantá-las
Vendo os meus sonhos e em troca da fé ambulante quero ter no final da viagem um caminho de pedra feliz
Tantos anos contando a hitória de amor ao lugar que nasci tantos anos cantando meu tempo minha gente de fé me sorri tantos anos de voz nas estradas tantos sonhos que eu já vivi Fonte: encarte que acompanho o LP do álbum Yauaretê (1987), de Milton Nascimento.
Nesta sexta-feira (12/1), o Poesia contra a guerra completa exatos três meses no ar. O contador instalado no blogue assinala que estamos às vésperas de atingir a marca de duas mil visitas. (No fim do expediente de ontem, 1.913 visitas haviam sido registradas.)
Ao longo desse terceiro mês, foram publicados aqui pela primeira textos dos seguintes autores: A. K. Dewdney, Ademir Antônio Bacca, Alphonsus de Guimaraens, Arnold J. Toynbee, Augusto dos Anjos, Cláudio Lucci, Dewey Bunnell, Florbela Espanca, Gildo Magalhães, Graham Nash, James Taylor, Jorge de Lima, Jorge de Sena, Luiz Alberto Machado, Mário Quintana, Miguel de Cervantes, Othon M. Garcia, Paul K. Feyerabend, Paul Simon, Phil Collins, Ruy Guerra, Silvia Rubião, Steve Hackett, Tomás Antônio Gonzaga, Uwe Kraemer, Virna Teixeira, Viviane Forrester e William Carlos Williams.
Isso tudo além de textos de autores que já haviam sido publicados nos meses anteriores. Cabe registrar ainda a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Caravaggio, Frida Kahlo, Henri Rousseau, Leonardo da Vinci, Pieter Bruegel, Rafael e Sandro Botticelli.
Dois comentários finais sobre a visitação: foram necessários 51 dias para atingir a marca do primeiro milhar de visitas (ver Mil visitas), enquanto serão necessários – ao que tudo indica – pouco mais de 40 dias para completar o segundo. Houve, portanto, aumento no ritmo de visitação: a média diária subiu de menos de 20 para quase 25 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia continua sendo de 52 (em 11/12), mas temos agora um novo recorde negativo: em 25/12, foram apenas seis visitantes.
You walk into the room With your pencil in your hand You see somebody naked And you say, “Who is that man?” You try so hard But you don’t understand Just what you’ll say When you get home
Because something is happening here But you don’t know what it is Do you, Mister Jones?
You raise up your head And you ask, “Is this where it is?” And somebody points to you and says “It’s his” And you say, “What’s mine?” And somebody else says, “Where what is?” And you say, “Oh my God Am I here all alone?”
Because...
You hand in your ticket And you go watch the geek Who immediately walks up to you When he hears you speak And says, “How does it feel To be such a freak?” And you say, “Impossible” As he hands you a bone
Because...
You have many contacts Among the lumberjacks To get you facts When someone attacks your imagination But nobody has any respect Anyway they already expect you To just give a check To tax-deductible charity organizations
You’ve been with the professors And they’ve all liked your looks With great lawyers you have Discussed lepers and crooks You’ve been through all of F. Scott Fitzgerald’s books You’re very well read It’s well known
Because...
Well, the sword swallower, he comes up to you And then he kneels He crosses himself And then he clicks his high heels And without further notice He asks you how it feels And he says, “Here is your throat back Thanks for the loan”
Because...
Now you see this one-eyed midget Shouting the word “NOW” And you say, “For what reason?” And he says, “How?” And you say, “What does this mean?” And he screams back, “You’re a cow Give me some milk Or else go home”
Because...
Well, you walk into the room Like a camel and then you frown You put your eyes in your pocket And your nose on the ground There ought to be a law Against you comin’ around You should be made To wear earphones
Because... Fontes: álbum Highway 61 revisited (1965), de Bob Dylan, e o livro A estrada revisitada (1992, Iglu Editora), de Isabel Bing.
Guerra é esforço, é inquietude, é ânsia, é transporte... É a dramatização sangrenta e dura Da avidez com que o Espírito procura Ser perfeito, ser máximo, ser forte!
É a Subconsciência que se transfigura Em volição conflagradora... É a coorte Das raças todas, que se entrega à morte Para a felicidade da Criatura!
É a obsessão de ver sangue, é o instinto horrendo De subir, na ordem cósmica, descendo À irracionalidade primitiva...
É a Natureza que, no seu arcano, Precisa de encharcar-se em sangue humano Para mostrar aos homens que está viva! Fonte: Anjos, A. 2004. Eu e outras poesias, 46a edição. RJ, Bertrand. A primeira edição do livro foi publicada em 1912.
Gonzaga: podias não ter dito mais nada, não ter escrito senão insuportáveis versos de um árcade pedante, numa língua bífida para o coloquial e o latim às avessas.
Um coração maior que o mundo – uma das mais raras coisas que um poeta disse.
Talvez que a tenhas copiado de algum velho clássico. Mas como a tu disseste, Gonzaga! Por certo
que o teu coração era maior que o mundo: nem pátrias nem Marílias te bastavam.
(Ainda que em Moçambique, como Rimbaud na Etiópia, engordasses depois vendendo escravos.) Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1969.
As velas do Mucuripe vão sair para pescar Vou mandar as minhas mágoas pras águas fundas do mar Hoje à noite namorar sem ter medo da saudade sem vontade de casar
Calça nova de riscado Paletó de linho branco que, até o mês passado, lá no campo ainda era flor Sob o meu chapéu quebrado, o sorriso ingênuo e franco de um rapaz novo, encantado com vinte anos de amor
Aquela estrela é bela Vida-vento-vela leva-me daqui Fonte: álbum Manera Fru Fru manera (1973), de Fagner.
(...) Da janela da sala de embarque posso ver nosso próximo avião. Com toda a reluzente beleza exigida pelos vôos supersônicos, ele é um símbolo da tecnologia no final do século 20. Essa tecnologia, relembro a mim mesmo, depende quase inteiramente da ciência, e a ciência – em especial a ciência física – depende quase inteiramente da matemática. É como se eu fosse voar para Atenas pelo simples poder da matemática. As pás das turbinas girarão em círculos, a força de retropulsão da descarga a jato produzirá um impulso igual e contrário para frente, os componente da estrutura metálica resistirão à tensão proporcionalmente a seus cortes transversos e o fino ar da estratosfera deslizará sobre asas matematicamente otimizadas para promover a elevação, igualando exatamente a gravidade.
Em parte, lembro a mim mesmo, é disso que se trata nesta viagem: do poder da matemática, de sua espantosa aplicabilidade na ciência e na tecnologia. O vôo vindouro é apenas o primeiro passo numa longa viagem. Tenho compromissos marcados na Turquia, na Jordânia, na Itália e na Inglaterra, para me encontrar com diversos pensadores, alguns eminentes, alguns desconhecidos. Espero que eles lançem um pouco de luz sobre a questão que estou examinando: qual é a verdadeira natureza da matemática.
Trata-se de uma questão desoladoramente vaga, é claro, mas pensei em duas perguntas mais explicitamente focalizadas, as quais, se respondidas, muito contribuirão para resolver a primeira: 1.Por que a matemática é tão incrivelmente útil nas ciências naturais? 2.A matemática é descoberta ou é criada?
Não consigo escapar à sensação de que essas duas perguntas estão relacionadas, talvez muito de perto. O modo exato como se relacionam, entretanto, não sei dizer. Responder a essas duas perguntas e, com um pouco de sorte, compreender de que modo elas se relacionam constituem o objetivo de minha busca. (...) Dewdney, A. K. 2000. 20.000 léguas matemáticas. RJ, Jorge Zahar.
(...) Esprema a vil calúnia, muito embora entre as mãos denegridas e insolentes os venenos das plantas e das bravas serpentes;
Chovam raios e raios, no meu rosto não hás de ver, Marília, o medo escrito, e medo perturbado, que infunde o vil delito.
Podem muito, conheço, podem muito, as fúrias infernais, que Pluto move; mas pode mais que todas um dedo só de Jove.
Este deus converteu em flor mimosa, a quem seu nome deram, a Narciso; fez de muitos os astros, qu’inda no céu diviso.
Ele pode livrar-me das injúrias do néscio, do atrevido, ingrato povo; em nova flor mudar-me, mudar-me em astro novo.
Porém se os justos céus, por fins ocultos, em tão tirano mal me não socorrem; verás então, que os sábios, bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo, tu, formosa Marília, bem o sabes: um coração..., e basta, onde tu mesma cabes. (...) Fonte: Gonzaga, T. A. 2000. Tomás Antônio Gonzaga, 4a edição RJ, Agir. Trecho referido como Lira II, da Parte II.
Enche o meu peito, num encanto mago, O frêmito das coisas dolorosas... Sob as urzes queimadas nascem rosas... Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago Em mim? Eu oiço bocas silenciosas Murmurar-me as palavras misteriosas Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade, Dispo a minha mortalha, o meu burel, E já não sou, Amor, Sóror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor, Boca a saber a sol, a fruto, a mel: Sou a charneca rude a abrir em flor! Fonte: Espanca, F. 1996. Poemas de Florbela Espanca. SP, Martins Fontes. Poema originalmente publicado em 1931.
There ain’t no more cane on the Brazos They ground it all up in molasses Captain don’t you do me like you done your poor shine Well they drove that poor Billy ’til he went stone blind
You want to come on the river in 1904 You could find many dead men on most every road If you going on the river in 1910 They was driving the women like they drive the men
Why don’t you rise up you dead men Help me drive my road
Well there’s some in the building And there’s some in the yard There’s some in the graveyard And there’s some going home
Why don’t you wake up your people And lift up your heads You may get your pardon But you may end up dead Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Naked thunder (1991), de Ian Gillan. Existem outras versões e algumas polêmicas em torno dessa canção, a começar pelo título.
Fim da tarde, boquinha da noite com as primeiras estrelas e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas e lá detrás da igreja surge a lua cheia para chorar com os poetas.
E vão dormir as duas coisas novas desse mundo: o sol e os meninos.
Mas ainda vela o menino impossível aí do lado enquanto todas as crianças mansas dormem acalentadas por Mãe-negra Noite. O menino impossível que destruiu os brinquedos perfeitos que os vovós lhe deram: o urso de Nürnberg, o velho barbado jagoeslavo, as poupées de Paris aux cheveux crêpes, o carrinho português feito de folha-de-flandres, a caixa de música checoeslovaca, o polichinelo italiano made in England, o trem de ferro de U. S. A. e o macaco brasileiro de Buenos Aires moviendo da cola y la cabeza.
O menino impossível que destruiu até os soldados de chumbo de Moscou e furou os olhos de um Papai Noel, brinca com sabugos de milho, caixas vazias, tacos de pau, pedrinhas brancas do rio...
“Faz de conta que os sabugos são bois...” “Faz de conta...” “Faz de conta...” E os sabugos de milho mugem como bois de verdade...
e os tacos que deveriam ser soldadinhos de chumbo são cangaceiros de chapéus de couro...
E as pedrinhas balem! Coitadinhas das ovelhas mansas longe das mães presas nos currais de papelão!
É boquinha da noite no mundo que o menino impossível povoou sozinho!
A mamãe cochila. O papai cabeceia. O relógio badala.
E vem descendo uma noite encantada da lâmpada que expira lentamente na parede da sala...
O menino pousa a testa e sonha dentro da noite quieta da lâmpada apagada com o mundo maravilhoso que ele tirou do nada...
Chô! Chô! Pavão! Sai de cima do telhado Deixa o menino dormir Seu soninho sossegado! Fonte: Lima, J. 1997. Jorge de Lima: poesia, 5a edição. RJ, Agir. Poema originalmente publicado em 1927.
O vento é um inveterado ledor de tabuletas. E, com toda aquela sua pressa, é exatamente o contrário do leitor apressado: não salta uma só que seja, não perde nenhuma delas, lê e passa – que o seu destino é passar – mas guarda uma lembrança vertiginosa de todas, principalmente das verdes, das vermelhas, das de azul mais forte, sem esquecer, ó Van Gogh, as tabuletas amarelas.
Sabes? Passa no vento a alma dos pintores mortos, procurando captar, levar (para onde?) as cores deste mundo.
Que este mundo pode ser que não preste, mas é tão bom de ver! Fonte: Quintana, M. 2006. O caderno H, 2a edição. SP, Globo. Obra originalmente publicada em 1973.
Tenho nos olhos quimeras com brilho de trinta velas Do sexo pulam sementes explodindo locomotivas Tenho os intestinos roucos num rosário de lombrigas Os meus músculos são poucos pra essa rede de intrigas Meus gritos afro-latinos implodem, rasgam, esganam E nos meus dedos dormidos a lua das unhas ganem E daí?
Meu sangue de mangue sujo sobe a custo, a contragosto E tudo aquilo que fujo tirou prêmio, aval e posto Entre hinos e chicanas entre dentes, entre dedos No meio destas bananas os meus ódios e os meus medos E daí?
Iguarias na baixela vinhos finos nesse odre E nessa dor que me pela só meu ódio não é podre Tenho séculos de espera nas contas da minha costela Tenho nos olhos quimeras com brilho de trinta velas E daí? Fonte: encarte que acompanha os LPs do álbum duplo Clube da esquina 2 (1978), de Milton Nascimento.
Old Friends, Old Friends Sat on their park bench Like bookends. A newspaper blown though the grass Falls on the round toes Of the high shoes Of the Old Friends.
Old Friends, Winter companions, The old men Lost in their overcoats, Waiting for the sun. The sounds of the city, Sifting through trees, Settle like dust On the shoulders Of the Old Friends.
Can you imagine us Years from today, Sharing a park bench quietly? How terribly strange To be seventy.
Old Friends, Memory brushes the same years. Silently sharing the same fears.
Time it was and what a time it was, It was a time of innocence, A time of confidences. Long ago it must be, I have a photograph, Preserve your memories, They’re all that’s left you. Fonte: encarte que acompanha os LPs do álbum duplo The concert in Central Park (1981), de Simon & Garfunkel. Canção originalmente gravada em 1968.
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. Fonte: Pessoa, F. 1980. O Eu profundo e outros Eus, 21a edição. RJ, Nova Fronteira.
Se você com muita calma usar sua raça vai surpreender A surpresa para muitos é uma arma pra se esconder Se esconder não é tão bom pra viver, pra morrer
Se você lembrar que tudo é relativo vai compreender Mas a compreensão por vezes tão sensata vai lhe conter Se conter não é tão bom pra viver, pra morrer
Se você tentar despir essa colagem vai se perder E a perda de si próprio é quase um passo pra conceder Conceder não é tão bom pra viver, pra morrer, pra nascer
Somos homens sem lugar homens velhos com raça à espera de algum descuido e com cuidado gozamos paz
Somos homens bons demais sufocados pelo mal só queremos acreditar que isso tudo pode acabar Fonte: álbum Elis (1977), de Elis Regina.